Explicações científicas por trás do ciclone bomba

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Explicações científicas por trás do ciclone bomba, com o professor Mario Quadro

Junho de 2020 se despediu do sul do Brasil deixando um rastro de 13 mortes, muita destruição e prejuízos monumentais.  Foi a consequência de mais um evento extremo, previsto desde a década de 80, mas não levado a sério como deveria. O que aconteceu especialmente em Santa Catarina, mas também nos outros Estados do sul, é algo que vai se tornar rotina. Cada vez com maior intensidade e frequência.

imagem da destruição provocada pelo ciclone bomba em Santa Catarina.
Destruição implacável. Imagem, Prefeitura de Chapecó/Divulgação.

Para entender mais sobre sua formação, o Mar Sem Fim foi atrás de um especialista oriundo da região, o professor Mário Quadro. Apesar do assunto dramático, a conversa correu leve, saborosa, e abordou várias questões.

Como anda a meteorologia brasileira vis-a-vis os países mais adiantados do mundo, até quanto avançamos?

As novidades tecnológicas a serviço da previsão de tempo

Hoje temos cobertura muito maior, as estações oficiais avançaram bastante para o monitoramento do tempo. Outra parte que contribuiu para melhor precisão vem das previsões numéricas, novidade recente, a primeira que o Brasil recebeu foi entre 93 e 94. Os Estados Unidos sempre estiveram mais preparados.

Ele também lembrou de outras novidades da tecnologia que minimizam esta incapacidade de nossos gestores e as consequências do aquecimento global: os alertas em SMS para a população. ‘Foi um bom avanço, mas não basta’.

E o que é um ciclone bomba? Ele explica os três tipos, os ciclones extratropicais, os ciclones tropicais, ‘e um intermediário que chamamos ciclone subtropical. O ‘bomba’ nasceu do primeiro.

Explicações científicas por trás do ciclone bomba

O ciclone bomba se intensifica muito rapidamente. E provoca grande aumento de vento. Eles são mais frequentes no sul, mas podem acontecer em outras regiões do Brasil.

O mito de que no Brasil não há eventos catastróficos não colabora para maior prevenção. Trata-se, como dissemos, de mito. Mas que ainda persiste. Por sua insistência investe-se menos do que deveria em prevenção. O caso de Santa Catarina é emblemático. O governo do Estado declarou que os prejuízos ultrapassam R$ 600 milhões de reais. Mário Quadro levanta a bola: ‘se parte destes R$ 600 milhões fossem aplicados em prevenção, quanto teríamos economizado?.

Os estragos de furacões e ciclones bomba

Foi outra parte interessante da conversa, que girou em torno da preparação de algumas cidades e Estados norte-americanos. Sabendo, por exemplo,  das falhas geológicas sobre as quais algumas foram erguidas, como o Estado da Califórnia, os gestores prepararam as cidades.  Investem em ciência e tecnologia, e logram minimizar seus impactos.

O último terremoto de lá, em 2018, alcançou 7.1 na escala Richter. E nenhum prédio desabou. Porque as leis obrigam, e os alvarás de construção só saem quando os engenheiros demonstram claramente as medidas tomadas.

Mas se as cidades de lá estão protegidas contra terremotos, nem sempre escapam da destruição mortal dos ciclones. Por que a diferença? Mário Quadro explica que ‘os ciclones são extremamente pontuais em seus alvos’. ‘Numa mesma cidade, destroem um bairro inteiro, mas deixam o quarteirão vizinho incólume’. Para o professor, para mitigar esta questão ‘é preciso mais investimentos na previsão’, mesmo lá, no país mais rico do mundo.

Conheça o professor Mário Quadro

Graduado em Meteorologia pela Universidade Federal de Pelotas (1990), mestrado em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (1994) e doutorado em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (2012). Atualmente é Coordenador do Curso de Mestrado Profissional em Clima e Ambiente e professor do Curso de Meteorologia do Instituto Federal de Santa Catarina.

imagem do professor Mario Quadro
O professor Mario Quadro. Imagem, Divulgação/UOL.

Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Meteorologia Sinótica, atuando principalmente nos seguintes temas: Análise do Sistema Zona de Convergência do Atlântico Sul e Assimilação de Dados para Modelos de Mesoescala. Tem larga experiência na área de desenvolvimento de aplicativos meteorológicos adquiridos em diversos centros de Meteorologia do Brasil, tais como CPTEC/INPE, onde trabalhou com operacionalização de Modelos Climáticos, SIMEPAR e EPAGRI/CIRAM. 

Imagem de abertura: Prefeitura de Chapecó/Divulgação

Ouça o podcast com a pesquisadora Letícia Lotufo: Fármacos, riqueza desconhecida da Amazônia Azul

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