Declaração de amor aos Oceanos, Economist

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Declaração de amor aos Oceanos pela revista inglesa The Economist

Este site não se cansa de falar que o maior problema dos oceanos é a imensa e generalizada ignorância do público a respeito dos serviços que eles prestam à humanidade, e o tratamento imundo, porco, desigual,  que devolvemos a ele. Por isso hoje destacamos uma matéria de The Economist, uma declaração de amor aos oceanos já que ela organiza todos os anos o World Ocean Summit, onde a comunidade mundial discute seus problemas.

O site Mar Sem Fim nasceu para procurar contribuir. Sabemos que somos uma migalha; que nossa contribuição é mínima. Sabemos que a guerra está perdida. Mas adoramos segurar a bandeira. Temos a sensação que a vida tem sentido. No Brasil fomos os primeiros a levar a degradação e imundice que causamos ao litoral para a televisão, o veículo de massa com a maior audiência neste país de analfabetos que sabem ler, mas não conseguem compreender. É tão perverso que uma expressão foi criada para defini-los: analfabetos funcionais.

A  dramática ignorância do brasileiro comum: nosso problema maior

Aqui, na “ordem e progresso”, maior mentira que nos impuseram, apenas 8% das pessoas têm capacidade de compreender aquilo que leram. Quer situação mais dramática? Como ter ordem e progresso com esta calamidade pública?

Navegando pela costa brasileira e apontando os horrores que provocamos com nossa ocupação

Desde 1967 frequentamos a costa brasileira. Tivemos o privilégio de vê-la ainda desocupada. Linda. Pujante! Depois, nos anos 70 abriu-se a estrada BR 101, a estrada federal litorânea. Ao invés de abrir o litoral para a luz, a rodovia contribuiu para a instauração da idade das trevas na zona costeira. Desde então a destruição não cessa.

declaração de amor aos oceanos, imagem de mapa da rodovia BR 101
Depois dela entramos na idade das trevas no litoral

Mudando o foco

Horrorizado com a situação, o que era lazer se tornou trabalho. Em vez de navegar para fugir do caos urbano, ter paz e desfrutar bons momentos proporcionados pelo ângulo mar-> terra, de quem navega; em vez de terra-> mar, de quem vai à praia; passamos a produzir documentários mostrando a importância dos ecossistemas marinhos e a destruição  que  impomos.  São mais de 70 horas de documentários. Alguns, 45 horas, são analógicos, com tecnologia da época, mais antiga; mas outros contém 25 horas  em Full HD. E todos disponibilizados neste site, na NetFlix, na televisão aberta. O assunto veio à tona. Ambientalistas e ONGs passaram a olhar para o mar com outros olhos. Diversas ações foram criadas e, aos poucos, mais pessoas começaram a se engajar ainda que sejam pouquíssimas se comparadas aos 200 milhões da população.

O papel da imprensa

Ela é fundamental, nos referimos ao que se chama de “grande imprensa”, uma diferenciação importante na época da tecnologia desenfreada que criou a internet, trazendo o mundo para dentro de  nossas casas mas, ao mesmo tempo, dando voz, via redes sociais, à legião de imbecis a que se referiu o doutor honoris causa em comunicação e cultura pela Universidade de Turim (Itália), Umberto Eco. Para o pensador italiano,

o drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade

A frase acima é o mais puro reflexo do mundo que vivemos. Por isso a ‘grande imprensa’ é importante. Alguém tem que fazer o contraponto. Mas ela está à beira da morte. Perdeu leitores e anunciantes. A crise econômica sem precedentes que atravessamos jogou a pá de cal. A ‘grande imprensa’ enfraqueceu, ficou pequena. E não consegue cobrir  e informar mais que as fofocas de Brasília ou o escandaloso Lava- Jato. O mar, e os serviços que prestam à humanidade, ficaram de fora. Assim, nem os formadores de opinião conseguem saber o que se passa no litoral,  local que todos adoram frequentar, e que o ‘progresso’ em forma de estradas permitiu visitar. O litoral, as praias, são justamente onde começa a cadeia de vida marinha de mais de 90% de todas as espécies.

Quais são os ecossistemas onde começa a cadeia de vida marinha?

Praias, zonas de arrebentação, manguezais, costões rochosos, estuários, corais, restingas, dunas, o mar profundo. E como lidamos com eles? Destruindo-os impiedosamente seja por ignorância, seja por comodismo e omissão.

declaração de amor aos oceanos, imagem de casa construída em cima de dunas
Construir em cima de dunas dá nisso

Quais serviços nos prestam os oceanos?

Eles produzem mais de 50% do oxigênio que respiramos através da fotossíntese produzida pelo estoque mundial de fitoplâncton, algas minúsculas que raramente enxergamos. Sua massa total é muito menor do que a das plantas dos continentes. Ainda assim  todos os anos as algas levam para o fundo dos oceanos 50 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (em grande parte produzido por nossos carros…) o gás causador do efeito estufa,  transformando-o em matéria orgânica, ou seja, alimento para os habitantes dos oceanos.

declaração de amor aos oceanos
Vai querer um costão? Ilhabela, SP

A quantidade de dióxido de carbono hoje é tão grande que conseguimos a façanha de mudar o pH da água dos oceanos, antes alcalina, agora mais ácida. Esta acidez está matando os recifes de corais, o mais importante ecossistema marinho a ponto de ser o habitat de três, em cada quatro tipos de peixes.

declaração de amor aos oceanos, imagem de construção em cima de corais
Construção em cima de corais, procedimento comum no Nordeste

Os oceanos regulam o clima na Terra através da interação entre as correntes marinhas e a atmosfera. Nos dão proteínas. São vias de ligação para 90% do comércio mundial; 111.000 mil navios frequentam suas rotas transportando 1 bilhão de toneladas de carga de um continente para o outro. Eles ainda nos dão minerais como o petróleo, o gás, sal, ouro, platina, areia, cascalho, ferro, cobalto, a lista não para.

O que fazemos com este formidável prestador de serviços?

Os atulhamos de plástico, a cada minuto 8 toneladas de plástico são jogadas nos oceanos; matamos 90% de todas as grandes espécies marinhas, justamente as melhores matrizes; por ano assassinamos cem milhões de tubarões, predadores de topo de cadeia  responsáveis pela manutenção do equilíbrio no ecossistema marinho, se alimentando de peixes e invertebrados que estejam menos aptos à sobrevivência, garantindo a saúde dos estoques pesqueiros de todo o mundo.

Especulação imobiliária

As cidades, e as casas de segunda residência dos ricos, aqueles que podem se informar, crescem em cima dos manguezais aterrados; em costões rochosos que não podem por lei serem ocupados; os ricos ‘privatizam’ praias e até lâminas do mar; constroem em cima de dunas que assim deixam de prestar seu principal serviço como repositório da areia da praia, outro importante ecossistema, comida frequentemente por ressacas, e assim por diante.

declaração de amor aos oceanos
Os ‘ricos” privatizam até a lâmina do mar em Unidades de Conservação federais marinhas, como esta na APA de Cairuçu

The Economist e a declaração de amor ao mar

Impossibilitado, por problemas de saúde, de fazer novos documentários no momento, nos dedicamos a pesquisar na Internet e na imprensa internacional sobre as questões marinhas; e também mantemos contato frequente com nossas fontes, professores da academia, moradores do litoral, ambientalistas e outros. Então, produzimos matérias a respeito e as publicamos neste site e nas redes sociais. E ficamos felizes ao perceber que não estamos sozinhos. Há outros apaixonados produzindo conteúdo de qualidade. Foi o que encontramos nesta estupenda matéria da revista inglesa The Economist, uma declaração de amor aos oceanos. A matéria é enorme e dá detalhes sobre todos os problemas aqui apontados, e outros. Impossível traduzi-la. E além disso, seu formato é espetacular. É preciso vê-lo no original. Recomendamos vivamente àqueles que dominam o inglês que a leiam, guardem, espalhem. Felizmente a imprensa europeia está sobrevivendo e produzindo maravilhas como esta.

Aqui está o link para o World Ocean Summit, de The Economist, verdadeira declaração de amor aos Oceanos

World Ocean Summit, uma declaração de amor de The Economist, aos oceanos.

Explore the Ocean.  

 imagem da capa da revista the economist com declaração de amor aos oceanos
Declaração de amor aos oceanos

Gramas marinhas, entre os mais ameaçados ecossistemas

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