Amazônia em junho bate novo recorde de desmatamento
A Amazônia continua a ser desmatada mês após mês, desde o início do governo Bolsonaro. Nos seis primeiros meses de 2021 o desmatamento foi 17% maior que no mesmo período do ano passado. Nosso maior ativo, a biodiversidade, nunca foi tão maltratada como agora. A destruição dos biomas terrestres segue em ritmo forte apesar de mal termos entrado no período das secas. Depois do desmatamento começa o pior momento do ano: as queimadas; voltarão com a intensidade assustadora de 2020? É provável que sim. Post de opinião, Amazônia em junho bate novo recorde de desmatamento.
Amazônia em junho bate novo recorde de desmatamento
Segundo O Estado de S. Paulo, dados do sistema Deter, do INPE, mostram que a área sob alerta de desmatamento foi de 1.062 km2, a maior para o mês desde 2016. Sendo que os últimos quatro meses foram de alta recorde.
Briga com o INPE
Outra matéria do mesmo jornal, de 13 de julho, dá conta de que a perseguição ao INPE continua. Depois da polêmica que resultou na exoneração do diretor Ricardo Galvão, em 2019, o governo tentou sufocar o órgão com corte de verbas.
Não satisfeito, agora decidiu excluir o INPE da atribuição de divulgar dados sobre alertas de incêndios e queimadas, nos informa André Borges. A partir de agora quem fará o trabalho é o Inmet – Instituto Nacional de Meteorologia, vinculado ao ministério da Agricultura.
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Assim é a mente patética e tosca do presidente. Se a informação não o agrada ele troca aquele que o informa. É ridículo especialmente porque a esta altura é sabido, aqui e no exterior, que as ações ilegais continuam em razão da falta de fiscalização, e impedimento de usar o recurso da multa.
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Audiências de reconciliação
Antes de ser eleito Bolsonaro repetiu à exaustão que “as multas do Ibama vão acabar.” Depois de eleito, seu ‘ministro’ do Meio Ambiente baixou deliberadamente a fiscalização e ainda criou as ‘audiências de reconciliação’. Elas valem, desde outubro de 2019, para indivíduos e empresas acusados de crimes ambientais.
Só que, de acordo com a Agência Reuters, ‘já existe um acúmulo de 17 mil multas que deixaram de ser cobradas à espera de audiências, segundo documentos internos vistos pela Reuters e confirmados por duas fontes do Ibama e do ICMBio’.
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O cientista foi ouvido pelo jornalista André Borges e declarou: “Como brasileiro, fico muito triste com essa notícia. Sempre tive muita preocupação com cerceamento de dados. O trabalho feito pelo Inpe nessa área é reconhecido mundialmente.”
Não gosta da notícia? Troque o portador
Para Galvão, “essa mudança, claramente, é para controlar a informação. É a única razão de fazer isso. É algo muito preocupante, espero que a sociedade brasileira científica reaja fortemente contra isso.”
Perda de controle na Amazônia
Na verdade o governo perdeu totalmente o controle sobre a região Amazônica. Muito disso deve-se à atuação do ‘ex-ministro’ do Meio Ambiente que decepou o que restava dos recursos humanos no Ibama e ICMBio, as autarquias que desde sempre cuidaram da floresta.
Seguindo as diretrizes do chefe, o ‘ex-ministro’ exonerou a maioria das chefias nas duas autarquias e os substituiu por militares de São Paulo sem qualquer experiência nas funções. Além disso, não foram feitos novos concursos para repor os funcionários que saíram. O déficit de pessoal é calculado em três mil funcionários.
Gangues ilegais dão as cartas na Amazônia
As gangues de desmatadores, grileiros e garimpeiros ilegais hoje dão as cartas na maior floresta tropical do planeta. Não por outro motivo no início de junho invasores lotearam a Flona do Jacundá em Rondônia e criaram até mesmo um canal no YouTube!
O escárnio chega a a tal ponto que, estimulados pela leniência governamental, no mesmo mês garimpeiros investiram contra uma Base do ICMBio em Maracá, Roraima, fazendo reféns e roubando equipamento apreendido.
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Enquanto isso, o mundo assiste ao espetáculo de camarote. A imagem externa do Brasil, que já chafurdava na lama, está ainda mais prejudicada desde que o bom senso voltou ao concerto das nações com a eleição de Joe Biden.
Nova atuação de militares na Amazônia
O vice-presidente, responsável pelo Conselho da Amazônia, já iniciou mais uma operação no modelo de Garantia da Lei e da Ordem que segue até agosto, quando prometeu uma redução de 12% no desmatamento (em comparação ao ano passado), a Operação Samaúma’. Muito provavelmente, será outro fracasso igual ou maior que a operação Verde Brasil 2.
Verdade que em 2021 Hamilton Mourão não terá mais o insólito ‘ministro’ que bombardeou a Verde Brasil 2 demonstrando o caótico nível do ministério, uma terra de ninguém onde um faz e outro desfaz a bel prazer. Três mil militares já estão na região da Amazônia. A ver o que conseguem.
Este site não tem grandes esperanças. A simples presença dos militares não inibe os malfeitores que são especialistas tarimbados. Os militares simplesmente não têm a expertise que tinham os funcionários do Ibama e ICMBio.
Focos de incêndio voltam ao Pantanal
Enquanto a floresta é desmatada na região Norte, no Centro-Oeste o Pantanal volta a ser duramente castigado pelo fogo. Há risco de que as chamas atinjam o Parque Nacional da Serra da Bodoquena, um dos hotspots da região.
Segundo Cássio Bernardino, do WWF, ‘pela primeira vez verificamos os focos de calor superiores aos de 2020’.
Sem falar no incêndio que desde 9 de julho consome o Parque Nacional das Emas, no sudoeste de Goiás. O fogo começou quando a própria equipe perdeu o controle ao construírem aceiros (para combater o fogo…).
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Apesar de mais de 70 pessoas combaterem o fogo as chamas já atingiram mais de 20 mil, dos 132 mil hectares do parque. Infelizmente este incêndio está longe de acabar.
O Parna das Emas é tão especial que foi considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Ainda estamos em julho. O que esperar dos próximos meses? Mais devastação, é o que apontam as evidências.
Enquanto isso, no Hemisfério Norte a luta é contra o aquecimento global
Enquanto isso acontece em Pindorama, e o presidente se diverte em passeios de moto, a União Europeia, Inglaterra, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e outros países, calibram a diminuição de suas emissões de gases de efeito estufa, visando a próxima reunião do clima na Escócia.
A reunião está marcada para novembro. O auge da seca no Brasil acontece no mesmo período. Até lá muito da Amazônia, Cerrado, e Pantanal terão ardido.
Bolsonaro está só. No Brasil, e no exterior. E é com este cartão de visitas que vamos nos apresentar, em novembro, em Glasgow.
Imagem de abertura: Vinícius Mendonça/IBAMA
Fontes: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,alertas-de-desmate-da-amazonia-em-junho-batem-novo-recorde,70003773881; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,mourao-levara-3-mil-militares-a-amazonia-e-promete-queda-de-12-no-desmatamento,70003770567; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,governo-exclui-inpe-de-divulgacao-de-dados-sobre-incendios-no-pais,70003777012; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,governo-do-ms-pode-decretar-emergencia-para-facilitar-controle-de-incendios-no-pantanal,70003776156; https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2021/07/02/governo-bolsonaro-obstrui-multas-ambientais-vitais-para-proteger-a-amazonia.htm.
Para as consequências desse e outros descasos ambientais não haverá vacina. O equilibrio entre aquilo que precisamos e temos para sobreviver está quebrado. O irônico é que temos as tecnologias necessárias para produzir com equilibrio ambiental. No entanto, não estamos lidando com aqueles que pensam no futuro e sim dando campo para o imediatismo, mesquinhez e o crime, não tendo nada de ligação com um desenvolvimento sustentável, inteligente. O país não ganha absolutamente nada com isso, apenas menos verde e amarelo em sua bandeira, pois tanto a madeira quanto o ouro escoan pelo submundo do crime, não ajudando os cofres do Brasil e de sua população. Sobrará aos nossos descendentes apenas a vontade de deixar as estátuas e nossas fotos de ponta cabeça nos altares da irresponsabilidade.