O Pampa Gaúcho absorve gases de efeito estufa

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O Pampa Gaúcho absorve gases de efeito estufa

Dos seis biomas brasileiros, o Pampa é o menor, o que menos desperta atenção do público e o único presente em um só Estado: o Rio Grande do Sul. Mesmo sendo destruído a uma velocidade impressionante, raramente alguém se manifesta em sua defesa. “Pampa” vem do quíchua e significa “região plana”. Ele ocupa apenas 2% do território nacional. Como já mostramos aqui, nos últimos 34 anos mais de 2 milhões de hectares de campos nativos viraram lavouras, pastagens e áreas de silvicultura, segundo o projeto MapBiomas. Agora, uma nova pesquisa traz uma boa notícia: o Pampa gaúcho absorve gases de efeito estufa — e ainda pode gerar lucro.

O pampa gaúcho
Imagem, ufsm.br.

O bioma compensa emissões de gases de efeito estufa

O pampa gaúcho é um prolongamento natural do pampa argentino e uruguaio. A geomorfologia do relevo onde ocorre é suavemente arredondada, formando as coxilhas. E, de acordo com agronews.tv.br, uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desenvolvida desde 2015, mostra que a pastagem natural do  Pampa gaúcho, quando bem manejada, pode compensar as emissões de metano produzidas pelo gado através da absorção de dióxido de carbono (CO2) pela pastagem.

Sequestro de carbono (CO2) de forma orgânica no Pampa Gaúcho

Segundo a pesquisadora Débora Regina Roberti, os resultados alcançados até o momento são suficientes para comprovar o sequestro de carbono (CO2) de forma orgânica no Pampa Gaúcho. O desafio agora é monetizar estas informações, tornando o processo algo lucrativo para o produtor rural.

Segundo matéria do site www.girodoboi.com.br a EMBRAPA desenvolveu estudo sobre os biomas brasileiros quando equipes de pesquisadores em pecuária e sistemas integrados estudaram protocolos de sistemas de produção a campo. As avaliações buscam entender a dinâmica do ciclo do carbono na atividade. Nesse sentido, o Bioma Pampa recebeu estudos para três protocolos: integração, emissões de metano pelos bovinos, e pastagem nativa.

18 toneladas de carbono por hectare

Leandro Volk fez uma estimativa de que, mantendo a altura indicada (da vegetação), teríamos 18 toneladas de carbono por hectare acumuladas nessa área. Em síntese, esse carbono seria da forragem disponível, das raízes no solo e do próprio solo. Analogamente, em sistema silvipastoril, uma árvore estoca 23 toneladas. Ou seja, não são só as árvores que imobilizam esse carbono. O pasto bem manejado e permanente também imobiliza.”

O maior problema é que a soja e a silvicultura estão tomando o seu ligar, em outras palavras, estão ‘comendo’ o pampa pelas bordas.

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Drenos de gases de efeito estufa

O  agronews.tv.br diz que o estudo que atesta que o Pampa gaúcho funciona como dreno de GEEs foi realizado pelo Laboratório de Micrometeorologia da UFSM e coordenado pela professora do Departamento de Física, Débora Regina Roberti.

Ilustração o pampa gaúcho
Ilustração, ufsm.br.

A partir da coleta de dados sobre trocas de carbono e metano nos ecossistemas, o grupo de pesquisadores coordenado pela professora concluiu que o bioma, em condições de manejo adequado, funciona como uma espécie de dreno de gases de efeito estufa.

O Pampa gaúcho ocupa uma área de 176.496 km² (IBGE, 2004). Isto corresponde a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro.  Mas a perda anual tem sido 125 mil hectares nos últimos seis anos, sem sinais de decréscimo. Isso corresponde a 175 mil campos de futebol por ano, o que deveria gerar comoção pública e ações rigorosas de fiscalização.

Mas, nenhum deles acontece de fato. A fiscalização é quase nula, e a comoção não acompanha o que se passa no bioma onde muitos dos animais já foram extintos ou não se encontram mais. Já estamos acostumados. No mar, o descaso acontece porque as pessoas não veem o que está debaixo d’água. Para ampla porção da população mundial, mar é sinônimo de lazer, praias, sol, férias ou feriados. Assim parece ser no Pampa, apesar da beleza e biodiversidade.

As paisagens naturais

As paisagens naturais se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais (agrupamentos de palmeiras conhecidas como butiás), banhados, afloramentos rochosos, etc.

pampa
Segundo o site coladaweb.com, Área de relevo plano, com baixas altitudes, onde dominam grandes extensões de vegetação herbácea.

Contudo, como mostramos,  o cultivo de soja e a silvicultura continuam como os principais fatores por trás do desmatamento da vegetação nativa, que tem uma das maiores biodiversidades por metro quadrado do Brasil.

Flora e fauna próprias

E, por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa gaúcho apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos de-porco, dentre outras).

E, no que diz respeito ao Rio Grande do Sul, ‘a qualidade da água, e dos alimentos, depende diretamente da conservação dos ecossistemas naturais. Sem a vegetação nativa, a polinização de muitas culturas agrícolas fica comprometida. A hidrografia dos pampas é formada pelos rios da Bacia do Uruguai e pela Bacia Secundária do Sudeste-Sul. A Bacia do Uruguai serve de limite entre as terras brasileiras, uruguaias e argentinas.

Quem sabe agora comece a mudar…

Se o Pampa só atinge o Rio Grande do Sul, ele se estende pela  América do Sul, onde os campos e pampas se estendem por uma área de aproximadamente 750 mil km2, compartilhada por Brasil, Uruguai e Argentina.

‘Características únicas da paisagem contribuem para o manejo adequado do gado’

Ainda segundo o agronews.tv.br, Conforme a pesquisa, a combinação entre o clima e as características únicas da paisagem contribuem para o manejo adequado do gado, que podem ajudar na elaboração de estratégias para a redução da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera.

Pampa
Imagem, Tadeu Vilani / Agencia RBS.

A pesquisadora Débora explica que, durante o inverno, em que há menor crescimento das pastagens, o Pampa gaúcho emite mais dióxido de carbono (CO2) do que absorve. No entanto, a quantidade de absorção dos gases no verão compensa a emissão do inverno e, em uma média anual, o local funciona como um absorvedor de CO2.

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Débora Regina Roberti, graduada em Física Licenciatura pela Universidade Federal de Santa Maria (1998), mestrado em Física pela Universidade Federal de Santa Maria (2001) e doutorado em Física, com estágio sanduíche no CNR Itália, pela Universidade Federal de Santa Maria (2005). Atualmente é professora associada III da UFSM.

Veja o resultado da pesquisa em live de Débora Regina Roberti

Imagem de abertura: coladaweb.com

Fontes: https://agronews.tv.br/pesquisa-revela-que-o-pampa-gaucho-absorve-gee-e-pode-ser-lucrativo/?fbclid=IwAR3UJjwXojBdwXuAv8ytdbRUi3_xsAeIBYqvhkeZDKsQs-IMopkR0DmjlFo; https://www.girodoboi.com.br/noticias/pastagem-nativa-bem-manejada-acumula-ate-18-t-de-carbono-por-hectare/?fbclid=IwAR05lYhsfNcerMHEeCOIypAuUh6qgAxx3RSHsKD8c_xwgYEfHRsfKbS6D_8.

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