Navio encalhado no Maranhão, mais problemas no maltratado litoral brasileiro
Nem bem acaba um problema no litoral, e já vem outro em seguida. O navio encalhado no Maranhão, em 24 de fevereiro de 2020, é o problema da vez. O MV Stellar Banner havia saído do terminal de Ponta da Madeira, porto de Itaqui, e pretendia tomar o rumo da China onde entregaria sua carga de 294,8 mil toneladas de minério de ferro. O navio foi fretado pela Vale, a mesma que matou dois cursos d’água: o rio Doce, e o Paraopeba. A mesma empresa, por negligência de seus diretores, provocou a morte de centenas de pessoas nos acidentes de Mariana, e de Brumadinho, ambos em Minas Gerais.
Um monstro de ferro, com nada menos que 340 m de comprimento
Mas o monstro de ferro, com nada menos que 340 m de comprimento por 55 metros de largura, não foi muito longe. A cerca de 100 quilômetros da costa encalhou em um banco de areia e adernou, ameaçando naufragar. Além das quase 300 mil toneladas de minério de ferro, ele carrega em seus porões quatro milhões de litros de óleo combustível. Segundo o site jus.com.br “O acidente ocorreu após o navio ter sofrido uma colisão em um banco de areia com profundidade 20 metros.” E mais: “Com o elevado risco ambiental presente, o Comandante decidiu encalhar o navio em um ponto distante cerca de 65 milhas náuticas a fim de melhor avaliar o ocorrido, salvaguardar a tripulação, o navio e planejar as ações futuras.
Navio encalhado no Maranhão
Em 30 de março de 2020 a Marinha do Brasil informou que a primeira medida para mitigar o acidente, a retirada do óleo combustível, foi realizada com sucesso. Esta medida era fundamental para evitar um desastre ecológico de grandes proporções. A próxima etapa será a retirada de pelo menos parte da carga.
O navio Stellar Banner foi afundado
Em junho de 2020, depois da retirada do óleo, e da verificação da condição do casco, a Marinha do Brasil decidiu-se pelo afundamento. Para a MB, “a decisão veio após análise dos relatórios sobre as inspeções estruturais feita pela empresa responsável pelo navio, com apoio de mergulhadores contratados e de veículo submarino operado remotamente. Antes do naufrágio forçado, no entanto, serão retirados da embarcação os resíduos de óleo, objetos flutuantes e contaminantes. A parte da carga, que ficará no navio, não oferece riscos seja à vida marinha ou à vida humana e deverá permanecer em concordância com as autoridades ambiental e marítima.”
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Ficam no ar várias perguntas ainda sem respostas. A primeira é que até agora não se sabe como um navio que saía do porto conseguiu encalhar. No porto em questão, como em todos os outros, há um trajeto demarcado por boias para que os navios evitem justamente o encalhe. O que levou o Stellar Banner a encalhar, imperícia do comandante, da praticagem, ou outra falha técnica?
Das 294,8 mil toneladas de minério de ferro em seus porões, o site www.noticiasdemineracao.com informa que (maio, 2020) a Marinha retirou 40 mil toneladas. Ao assistir ao vídeo, abaixo, repare na cor do mar. Aquilo é produto da carga restante.
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Desde que o acidente aconteceu, a dona da embarcação de triste memória em acidentes ambientais, a Vale, não se pronunciou, muito menos a Marinha do Brasil. Outra questão que permanece, é se a Marinha teve tempo suficiente para retirar os outros fluídos dos enormes motores deste tipo de navio. Sabe-se que foi retirado o óleo combustível mas, e o resto? Não houve explicação.
O Mar Sem Fim ligou para o 4º Distrito Naval, responsável pela área do acidente para saber os motivos que levaram ao encalhe. Mas, apesar da insistência, não recebemos qualquer resposta. Até hoje a opinião pública não sabe o que levou ao encalhe e consequente acidente ecológico em nossas águas territoriais.
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A seguir, os detalhes do acidente.
Minério de ferro para a China
A embarcação MV Stellar Banner, operada pela empresa sul-coreana Polaris, que levava minério de ferro da Vale para a China, tem uma área equivalente a mais de três campos de futebol! Por aí se vê o tamanho da encrenca que, mais uma vez, envolve a mesma companhia que está se tornando a NÚMERO UM em acidentes ecológicos, embora desta vez, aparentemente, a culpa não seja dela.
A Vale assinou o atestado de óbito de 19 pessoas, e do rio Doce, quando do acidente de Mariana em novembro de 2015. Até hoje ninguém foi condenado pelo acidente. Talvez por isso mesmo, em 25 de janeiro de 2019 a empresa protagonizou o maior acidente entre mineradoras do mundo: Brumadinho matou 270 pessoas, e mais um rio, o Paraopeba.
Navio encalhado no Maranhão, ‘mais uma agressão a um paciente já debilitado’
O Mar Sem Fim entrevistou o professor Alexander Turra, Professor Titular do Departamento de Oceanografia Biológica da USP, cuja linha de pesquisa são os usos, impactos e gestão de recursos e ecossistemas marinhos.
Ao perguntarmos quais os efeitos de mais este acidente, não titubeou: “é mais uma agressão a um paciente já debilitado”. Para ele, neste primeiro momento o mais importante é ‘combater o óleo’, referindo-se aos 4 milhões de litros de óleo combustível que movem o navio.
‘É cada vez mais frequente algum tipo de negligência não intencional no litoral’
A frase acima foi mais uma que pinçamos da entrevista de Alexander Turra. Para o professor, ‘este é mais um problema num caldo que já conta com Mariana, a sobrepesca, e tantos outros’. E ele pergunta: ‘com que cuidados estão fazendo a avaliação das coisas que acontecem no mar?’
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Quem responde é o próprio Alexander Turra, ao lembrar que o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, instituído em 2016, repousa no fundo de alguma gaveta do Ministério do Meio Ambiente, cujo titular, acrescentamos, duvida que exista. Turra ainda lembrou de outro, o O Procosta, Programa Nacional para a Conservação da Linha de Costa, de 2018, que também dorme em berço esplêndido.
Na verdade, o MMA engavetou todos os planos que havia sobre o litoral.
O minério de ferro do MV Stellar Banner
O professor Turra explicou que as 294,8 mil toneladas de minério de ferro são um tipo de rocha semi processada. Um tipo de sedimento enriquecido de ferro, ‘que destoa do ambiente marinho’ e que tem alto grau de toxidade. Se o material for para o fundo do mar ‘haverá decantação, como se fosse um aterro, provocando morte instantânea da vida marinha porventura atingida‘.
Assista ao vídeo do afundamento do navio
Assista a este vídeo no YouTube
Imagem de abertura: Marinha do Brasil
Fonte: https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,oleo-ja-atinge-raio-de-quase-1-quilometro-ao-redor-de-navio-que-esta-afundando,70003213850; https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2020/03/retirada-do-oleo-de-navio-encalhado-no-ma-foi-concluida-diz-marinha.shtml; https://www.noticiasdemineracao.com/seguran%C3%A7a/news/1386678/marinha-retira-cerca-de-40-mil-toneladas-de-minerio-da-vale-do-stellar-banner; https://jus.com.br/artigos/84322/o-acidente-com-o-mv-stellar-banner-o-preco-de-uma-colisao.
Achei muito triste acontecer no nosso país, no nossa mar. Quantas vidas foram esmagadas por esse navio ao afundar. Vidas marinhas! Triste!
Muito triste!
Só lamento. :(
Gostaria que alguém me explicasse algo: se o navio encalhou e adernou em um bando de areia, quando foi afundado, a que profundidade ficou? O banco de areia era só do tamanho do navio? Depois que foi puxado foi para águas profundas?
Meus caros, quando o incidente ocorreu a noticia que vi e li é que o navio começou a adernar e o capitão o conduziu ao banco de areia para encalhar propositalmente. A ser verdade, a primeira questão está respondida. Não houve imperícia, mas sim uma decisão correta, capaz de mitigar riscos. Se foi possível fazer um naufrágio controlado isso se deve a esta decisão do comandante. Como eu disse, isso foi o que li na época em veículos de credibilidade. Peço ao colunista checar este dado.
Sei, por ouvir falar, que muitos navios que estavam em companhias falidas foram resgatadas pelos comandantes desempregados para navegar ( NÃO ESTOU ME REFERINDO NO NAUFRÁGIO EM FOCO) cascos simples, viagens absurdas entre Macapá e o sul do país, manutenção precária…. sob os olhos de quem deveria licenciara-los, de quem deveria contrata-los e de quem deveria fiscaliza-los. Tem mais pelicano sabendo disso do que macaco cego surdo e mudo….
Mais uma irresponsabilidade da Vale. Aqui em Minas a empresa nos leva nosso minério a preço de banana e não nos devolve nada, ou melhor, meia dúzia de empreguinhos e mais nada. Comparem os royalties que ela paga e o que as empresas de petróleo pagam. Retiram tudo e nada deixam, a não ser mortos!!! Uma verdadeira vergonha nacional. Enquanto não responsabilizarmos de fato seus administradores nada mudará. Tem algum diretor preso pelas mortes de Mariana e Brumadinho? E já apuraram os responsáveis pelo “äcidente” do navio? Meus Deus!!!!! Até quando?????
Não sei a autoria da música “É O AMOOORRR”, mas podemos direcionar para as coisas “NORMAIS” que vivemos aqui e cantarmos “É O BRASILLLL…” SERÁ QUE UM DIA NUM FUTURO DISTANTE OS BRASILEIROS APRENDERÃO A SER GENTE????
Minério de ferro, tem em sua constituição química predominância da hematita, óxido de ferro, na forma divalente, Fe2O3. As impurezas contidas, conhecida como ganga, representam no mínério de ferro brasileiro, que é um dos mais puros do mundo, cerca de 3 a 5%. Basicamente esta ganga contém SiO2, P2O5, MnO et alii. O estudo de Impacto Ambiental, que infelizmente existirá, decorrente deste afundamento técnico, deve ser feito com base científica que é a melhor metodologia, usando fatos e dados. Agradeço a vossa atenção. Saludos de Bertioga-SP.
Eu vi a filmagem do resgate do “Mar sem fim” na Antártica. Uma pena que no nosso litoral a preocupação com o prejuízo ambiental não seja tão relevante. Não seria ruim se escrevesse sobre o que foi feito e o que teria que ser feito se tivesse ocorrido vazamento do combustível lá. Como sempre parece que nossa Marinha é despreparada e lerda demais para qualquer resposta.