Conheça os benefícios ambientais do cultivo de ostras
As ostras são moluscos bivalves filtradores que vivem em água salgada ou salobra. O termo ‘molusco bivalve’ designa um animal de corpo mole dentro de uma concha formada por duas partes. A ostra se alimenta filtrando a água do mar. Ela abre ligeiramente a concha e deixa a água passar pelas brânquias. Os filamentos funcionam como filtros e retêm partículas de alimento, como plâncton e algas, que seguem para digestão. Nesse processo, a ostra remove impurezas, excesso de nutrientes e sedimentos. Assim, ajuda a purificar a água do mar. O cultivo de ostras também amortece a força das ondas. Com isso, estabiliza a linha da costa contra a erosão e as tempestades.

A criação de ostras e as mudanças do clima
Estudos recentes mostraram que o cultivo de ostras ajuda a capturar carbono, um dos gases que provocam o aquecimento global. Por isso, muitos especialistas veem essa prática como uma solução natural e escalável para reduzir os impactos da mudança climática.

Um desses trabalhos saiu na revista Nature com o título Oysters, a sustainable blue food? (em tradução livre, Ostras, um alimento azul sustentável?). O estudo revelou que uma tonelada de ostras colhidas remove, em média, 3,05 kg de nitrogênio, 0,35 kg de fósforo e sequestra 70,52 kg de carbono do ambiente. Assim, o cultivo atua como remediador de nutrientes e sumidouro de carbono de curto prazo
O estudo mostra que a criação de bivalves não precisa de ração. Esses animais se alimentam sozinhos, filtrando partículas da água, como matéria orgânica, fitoplâncton e zooplâncton. Uma única ostra adulta consegue filtrar até 189 litros de água por dia.
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Estudo de caso: as fazendas de ostras da Irlanda
Segundo o site Happy Ecco News, as fazendas irlandesas estudadas capturaram quase 275 quilos de dióxido de carbono equivalente para cada tonelada de ostras produzidas. Esse armazenamento de carbono compensou 73% das emissões geradas pelas operações, vindas principalmente da eletricidade usada na classificação das ostras e do diesel consumido pelos barcos de colheita.
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A nível nacional, as fazendas de ostras da Irlanda poderiam remover quase 835 toneladas de carbono da atmosfera por ano. O tempo desse armazenamento depende do destino das conchas após a colheita. Algumas viram cal agrícola depois de trituradas. Outras retornam ao oceano, onde continuam a reter carbono.
Os benefícios ambientais da ostreicultura tornam as ostras uma proteína muito mais sustentável do que outras carnes. Cada quilo de proteína de ostra gera 5,71 quilos de emissões de dióxido de carbono equivalente, já contando o carbono que elas removem do ambiente. A carne bovina produz cerca de dez vezes mais emissões por quilo de proteína. O frango, quatro vezes mais do que as ostras
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A criação de ostras traz benefícios para o clima e para a proteção da costa, mas também enfrenta desafios. O principal é a qualidade da água. Como filtram a água do mar, dependem de um ambiente limpo para crescer e sobreviver. Poluentes vindos do escoamento agrícola, resíduos industriais e florescimentos de algas comprometem a qualidade da água e reduzem a saúde e a produtividade das ostras.
O aumento da temperatura dos oceanos e a acidificação prejudicam o crescimento das ostras e reduzem suas taxas de sobrevivência. Essas mudanças elevam a mortalidade e diminuem os rendimentos.
As ostras também são vulneráveis a várias doenças. Parasitas que prosperam em determinadas condições ambientais podem devastar fazendas inteiras.
Além disso, os criadores enfrentam predadores naturais como caranguejos, pássaros e estrelas-do-mar, que reduzem significativamente as populações.
Cultivo de ostras no Brasil
Segundo a Universidade Federal de Santa Catarina, em 2024 o Brasil alcançou a 13ª posição entre os maiores produtores globais de aquicultura. A atividade inclui o cultivo de moluscos, peixes, crustáceos, algas e outras espécies comerciais.
A mesma fonte aponta Santa Catarina como principal produtor de ostras, vieiras e mexilhões do Brasil. Em 2023, o estado respondeu por 93,2% da produção nacional. Paraná e São Paulo também se destacam no cultivo de ostras.
Em Santa Catarina a maior parte da produção se concentra em Florianópolis, Palhoça e São José. Nesse ano, a produção chegou a 1.731 toneladas, sendo 98,5% da espécie Crassostrea giga oriunda do Pacífico e chamada de ostra-do-pacífico, ou ostra-japonesa. O restante corresponde a ostras nativas, como a Crassostrea rhizophorae, também conhecida como ostra-de-mangue.
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O cultivo da exótica Crassostrea giga
A vantagem de cultivar uma espécie exótica está no fato de ser a mais produzida no mundo. Há mais conhecimento técnico e experiência acumulada.
A ostra brasileira, mesmo em ambientes controlados, pode levar mais de um ano e meio para atingir o tamanho de venda — cerca de oito centímetros e 25 gramas de carne. Já a espécie exótica atinge esse porte em apenas quatro meses.
Segundo a Agência Sebrae, o Rio Grande do Norte se destaca como o maior produtor de ostras nativas do País. A produção de ostras nativas no Estado saltou de 0,80 toneladas em 2020 para 152 toneladas em 2023, consolidando o Rio Grande do Norte como o maior produtor nacional da espécie.
O Boletim da Aquicultura em Águas da União 2023, divulgado pelo Ministério da Pesca em novembro do ano seguinte, mostra que a produção de moluscos bivalves foi de 7.201,63 toneladas. O crescimento do setor reflete diretamente na geração de emprego, com um posto de trabalho criado a cada 36 toneladas produzidas.
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