Saiba como o Estado dos EUA combate a erosão costeira
Há anos este site alerta para a erosão costeira em várias regiões do litoral. Até hoje o País não tem um plano nacional para enfrentar o problema. A erosão na orla é comum no mundo todo, mas o aquecimento global agravou a situação. O aumento do nível do mar e a força crescente dos eventos extremos nos colocaram em estado crítico. Antes mesmo dessa intensificação, o Mapbiomas mostrava que o Brasil perdeu 15% de suas praias e dunas desde 1985. Por outro lado, o geógrafo Dieter Muehe alerta que a erosão já afeta 60% do litoral. Em alguns casos, cidades quase desapareceram, como Atafona, no norte do Rio de Janeiro, tema comum de reportagens internacionais.

Mesmo assim, ressacas violentas como as de julho de 2025 não despertaram o interesse da mídia por matérias mais reflexivas, muito menos por alguma ação do Ministério do Meio Ambiente, apesar das centenas de vídeos impressionantes que surgiram nas redes sociais.

Não aproveitamos o desastre de julho para um debate nacional
Das duas, uma: ou o Mar Sem Fim está “fora de órbita” ao pedir esse debate, ou a mídia brasileira e o Ministério do Meio Ambiente estão. Para tirar a dúvida, pesquisamos o que outros países fazem. Descobrimos que, mais uma vez, estamos muito atrás das ações dos mais ricos, como os Estados Unidos.
O país serviu de exemplo não por ser a maior economia do mundo, mas por planejar a longo prazo e levar a questão ambiental a sério — ao menos até Donald Trump assumir a presidência.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaOs litorais dos dois países têm várias semelhanças. O tamanho imenso é uma delas. A vocação para o turismo é outra. Ambos sofrem com o avanço do clima descontrolado. Mas há uma grande diferença: os EUA começaram a enfrentar o problema em 1926.
Ao divulgar as variadas visões e estratégias, nossa esperança é contribuir para o debate que quase inexiste por aqui.
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Como no Brasil, praias são a principal atração turística nos EUA
Segundo a American Shore and Beach Preservation Association – ASBPA -, criada em 1926, as praias são o principal destino turístico dos EUA. Metade dos americanos passam férias nelas. O turismo litorâneo gera US$ 520 bilhões por ano, sendo US$ 240 bilhões em gastos diretos e US$ 36 bilhões em impostos. Cada US$ 1 investido em nutrição de praias retorna cerca de US$ 3.000 em produção econômica, US$ 1.400 em gastos diretos e US$ 200 em impostos. As praias também protegem a infraestrutura contra tempestades.
No Brasil não há tantas estatísticas como nos EUA. Ainda assim, segundo o Jornal da USP, a economia azul já representa 2,9% do PIB e 1,07% dos empregos diretos. Uma pesquisa do Ministério do Turismo em 2024 mostra que 35% dos brasileiros planejavam viajar para o litoral entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. Isso equivale a 59 milhões de pessoas. A expectativa é que o turismo movimente R$ 148,3 bilhões, com gasto médio de R$ 2.514 por viajante.
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Cores do Lagamar, um espectro de esperançaBelém faz história: COP30 celebra o oceanoMudança climática, oceanos e as três verdades de Bill GatesAté aqui podemos dizer que estamos em um honroso empate. Porém, ao analisar o motivo da criação da ASBPA, em 1926, começamos a perder feito.
‘A necessidade de um esforço organizado para combater a erosão’
A ASBPA foi fundada em 1926 por indivíduos que reconheceram a necessidade de um esforço organizado para combater a erosão. Outro motivo, segundo o site da entidade, é que faltava a experiência necessária para projetar programas abrangentes de proteção.

A formação da ASBPA seguiu uma série de eventos na década de 1920, que parecem ter começado em Nova Jersey em 1922. A legislatura de Nova Jersey financiou uma investigação sobre problemas de erosão da praia naquele estado. Esta investigação envolveu o governo federal, e em resposta Congresso aprovou a Lei Pública 71-250, que resultou na criação do Beach Erosion Board (Corpo de Erosão Costeira).
U.S. Beach Improvement and Protection Act
Em 1936, a Associação apoiou uma medida conhecida como U.S. Beach Improvement and Protection Act (Lei de Melhoria e Proteção das Praias dos EUA), aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente.
Coastal Engineering Research Center
Finalmente, em 1963 a responsabilidade passou a ser do Coastal Engineering Research Center (Centro de Pesquisa de Engenharia Costeira). Este é o breve resumo das medidas do Estado norte-americano para enfrentar o problema da erosão costeira. Por aí se vê o quanto estamos atrasados.

Vale destacar a missão Centro de Pesquisa de Engenharia Costeira: Promover o conhecimento de engenharia através da estimulação e orientação de pesquisas no campo da engenharia costeira; em cooperação com comitês profissionais, interpretar os resultados de tal pesquisa; disponibilizar informações e recomendações resultantes da pesquisa; e reconhecer a excelência na engenharia costeira.
Até 2100 metade das praias do mundo pode desaparecer em razão da erosão costeira
Mesmo com todo este aparato, as praias dos Estados Unidos enfrentam severo risco e não estão isentas do problema, ao contrário. Segundo o Washington Spectator aproximadamente 36% das praias enfrentam a erosão. As praias da Califórnia têm um potencial severo de erosão, com alguns estudos prevendo que até 70% podem desaparecer até o final do século. No mundo esta porcentagem é de 50%, ou seja, metade das praias hoje existentes devem desaparecer até o final do século.
Antes de encerrar vale lembrar que, no recente post sobre a forte ressaca de julho de 2025, comentamos quais medidas são tomadas no Brasil e nos EUA para mitigar o estrago da erosão praia por praia.
O Brasil não pode mais deixar o assunto apenas na mão de prefeitos de municípios costeiros sob pena de perdermos grande parte de nosso litoral onde moram, segundo o IBGE 2022, cerca de 111,2 milhões. Isso significa 54,8% do total da população. O problema social, e o prejuízo financeiro seriam impagáveis pelo País.
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