Conheça o raro peixe regaleco, o ‘peixe do Apocalipse’
O regaleco (Regalecus glesne) é um peixe marinho tão raro que, quando aparece, provoca alvoroço onde quer que seja avistado. Além disso, ele carrega uma variedade de nomes populares, como peixe remo, peixe do Apocalipse e peixe do juízo final. Esse animal pode ter inspirado o mito da serpente marinha, uma criatura gigantesca que, nos séculos 15 e 16, aterrorizava as tripulações de navios, sendo descrita como uma imensa cobra capaz de virar embarcações e devorar tripulações inteiras de uma só vez. Os nomes ‘Apocalipse’ e ‘juízo final’ derivam da sinistra reputação que o regaleco tem no folclore moderno, onde é visto como um presságio de desastres naturais, como terremotos e tsunamis. Por essas razões, ele certamente merece um post exclusivo.
Características e habitat do raro regaleco
Segundo o Museu da Flórida, este peixe invulgar é possivelmente uma fonte de lendas de monstros marinhos, uma vez que o seu corpo em forma de fita pode atingir 11 metros de comprimento em alguns casos. O seu corpo longo, achatado e afilado é de um prateado brilhante, com uma barbatana dorsal ao longo de todo o comprimento, que utiliza para nadar e virar. É um peixe de águas profundas, filtrador, que passa o tempo flutuando verticalmente na coluna de água para se camuflar. Alimenta-se de plâncton, crustáceos e lulas, extraindo-os da coluna de água através de brânquias especialmente desenvolvidas, localizadas na boca.
Espécie oceânica que vive a grandes profundidades
O regaleco não tem valor comercial devido ao seu habitat em águas profundas e à má qualidade da sua carne, que é gelatinosa e geralmente considerada não comestível. É uma espécie oceânica, onde vive a grandes profundidades, até 1.000 m, mas mais tipicamente a profundidades de 200 m. Ele já foi observado nadando numa posição vertical, o que se acredita ser um método de procura de presas. Por fim, é o peixe ósseo mais comprido que existe, e pode atingir até 250 kg.
Apesar da pesca industrial não se interessar pela espécie, é comum as variadas artes de pesca trazerem muitas vezes o regaleco como pesca incidental.
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Monstros marinhos são frutos da avistagem de animais reais
O regaleco não está sozinho na categoria ‘inspiração de monstros marinhos a partir da observação de animais reais’. Outros dois são a baleia narval, origem do mito do Unicórnio.
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Outro caso bem conhecido, é a inspiração da lenda das sereias, criatura meio-humana e meio-peixe, que encantava marinheiros desde priscas eras. O mito provavelmente teve origem na avistagem de algum dos tipos de peixes-boi que existem no mundo, como vacas-marinhas, manatins ou lamantins, que constituem uma espécie de mamíferos aquáticos, não por acaso, batizada como sirênios.
Plínio, o Velho, em sua História Natural, referiu-se a “nereídeos” que eram sereias meio-humanas e meio-peixes, e “sirens” foram destaque na mitologia grega, criaturas que atraíram marinheiros para suas mortes (na Odisseia de Homero). Cristóvão Colombo foi outro ícone da história que também relatou avistamentos de sereias quando partiu em 1492.
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Todas as fontes consultadas repetem uma mesma característica que faz deste peixe algo tão especial: a enorme dificuldade da avistagem da espécie em seu habitat. Normalmente são vistos quando algum animal morre e acaba na praia, ou chega a ela por desorientação. Mesmo assim, as aparições são extremamente raras.
Em agosto de 2024, na Califórnia, houve outro encontro entre mergulhadores e o raro peixe. Imediatamente após, o Washington Post publicou Rare ‘doomsday’ oarfish emerges off San Diego coast, exciting scientists (O raro peixe regaleco, “do juízo final” emerge ao largo da costa de San Diego, entusiasmando os cientistas).
O Los Angeles Times também repercutiu
O Los Angeles Times também repercutiu em, A 12-foot-long harbinger of doom washed ashore in San Diego (Um prenúncio da desgraça com 12 pés de comprimento deu à costa em San Diego).
O jornal destacou as palavras de Ben Frable, gerente da Coleção de Vertebrados Marinhos da UC San Diego Scripps Institution of Oceanography: “Sempre foi um peixe de interesse, este longo e belo peixe prateado”, disse Frable, mencionando seus grandes olhos e crista vermelha, semelhante a uma juba, acima da cabeça. “Definitivamente parece fantasioso; evoca a mitologia da serpente do mar.”
O jornal encerra a matéria alertando os leitores para que ajudem em novas descobertas agindo como cidadãos cientistas. As autoridades recomendam que qualquer pessoa que encontre uma criatura marinha única alerte e notifique a Instituição Scripps de Oceanografia em scrippsnews.ucsd.edu ou (858) 534-3624.
A propósito, a lenda de cada aparição ser um prenúncio de más notícias, ou desgraças como terremotos ou tsunamis, vem do Japão. Contam que antes do último grande tsunami, muitos destes peixes apareceram próximos às praias. Foi o suficiente para aumentar o leque de nomes populares, e da fama do peixe.
Assista ao vídeo do Shedd Aquarius, já visto por 6 milhões de pessoas
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Imagem de abertura: Instagram
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