Viagem da Kika, os canais da Patagonia, relato Nº 13

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Viagem da Kika, os canais da Patagonia, relato Nº 13

Navegar pelos canais chilenos é uma viagem por águas abrigadas através de uma paisagem patagônica de extrema beleza e ainda selvagem. Ao sul da região dos lagos, entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico, existe uma rede intricada de ilhas e canais. Partimos de Puerto Montt (latitude 41˚) no início de outubro e chegamos em Ushuaia (latitude 54˚) no final de novembro, percorrendo mais de 1.000 milhas. Anne-Flore Gannat e Lenno Visser fizeram todo o trajeto conosco. Nesta etapa da viagem da Kika, os canais da Patagonia.

imagem dos canais da Patagonia.
A paisagem dos canais da Patagonia.

Zarpando de Puerto Montt

Zarpamos de Puerto Montt navegando entre a Ilha de Chiloe e o continente, nesta região as fazendas de salmão são a principal atividade econômica, empregando mão de obra local mas trazendo uma série de problemas para o meio-ambiente. Ancoramos em Melinka para dormir, um povoado numa ilha com grande fluxo de trabalhadores devido à indústria do salmão. Seguimos pelo Canal Moraleda até Puerto Aguirre, onde nosso amigo Santiago Salas encomendou locos, ouriços e centollas fresquinhos. A fartura e variedade de frutos de mar é irresistível, no entanto nunca se deve comer um bivalve sem prévia análise devido ao risco mortal de ingerir uma concha infectada pela maré vermelha.

imagem de Puerto Mount.
Puerto Mount.

Laguna San Rafael

A Laguna San Rafael é o único ponto onde os canais são interrompidos por apenas alguns quilômetros e é necessário sair para o mar aberto a fim de contornar a Península de Taitao, atravessar o Golfo de Penas e prosseguir pelo Canal Messier em águas abrigadas, convém aguardar uma janela com condições meteorológicas favoráveis.

imagem dos tripulantes do Antartic.
Tripulantes do Antartic.

Aqui começam os campos de hielo, extensas áreas de gelo permanente acumulado durante milênios no cume da cordilheira. Na era glacial todos os canais estavam tomados pelo gelo. Entramos no fiorde que conduz até o Glaciar Tempanos acompanhados por um grupo de golfinhos e atracamos o Antarctic diretamente no costado do gelo, amarrando em duas rochas sobressalentes, depois saímos para caminhar sobre a geleira. Difícil explicar com palavras a dimensão destas massas de gelo, as formas e cores que adquirem e os ruídos que emitem, são uma manifestação majestosa da natureza.

Cotopaxi da Angostura

Num baixio chamado Cotopaxi da Angostura Inglesa avistamos o ex-vapor Capitan Leonidas encalhado com todo seu casco aparente. Era final de tarde com a lua cheia nascendo e pássaros sobrevoando, parecia uma cena de filme. Ancoramos para dormir numa pequena baía chamada Abra Chica, cuja entrada é um gargalo possível de ultrapassar somente com maré alta, a bolina do Antarctic permite acessar lugares de pequeno calado.

Paso del Indio

Na margem ocidental do Paso del Indio está Puerto Edén, onde vivem os últimos descendentes dos índios Kewesqar. Fazem 6.000 anos seus ancestrais habitavam desde o Golfo de Penas até o Estreito de Magalhães, se locomoviam em canoas, viviam da pesca, caça e coleta de alimentos e se abrigavam sob peles, cortiça e folhas.

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imagem do comandante Georges e seu Antartic.
O comandante Georges e seu Antartic.

Mais adiante fomos até o Glaciar Pio XI, o maior de todos, infelizmente o gelo está recuando rapidamente.

As fazendas de salmão ainda não chegaram até aqui devido ao isolamento. Encontramos pescadores de centollas que nos ofereceram algumas gratuitamente, gente simples que passa seis meses em suas embarcações pescando os enormes caranguejos, os quais entregam vivos para um intermediário que passa esporadicamente.

imagem de Adriana Mattoso
Adriana Mattoso, tripulante desta etapa.

Puerto Natales

Para chegar em Puerto Natales é preciso navegar por um labirinto de canais, todos bem sinalizados. O pequeno porto está próximo da divisa com a Argentina. Em frente à cidade montanhas com picos nevados, nas ruas mochileiros e outros aventureiros com destino às famosas Torres del Paine. Aqui embarcaram nossas amigas Adriana Mattoso e Valéria Mendonça e seguiram viagem conosco até Ushuaia.

imagem de pescadores de centoja
Pescadores de centoja.

Estreito de Magalhães

Chegamos no Estreito de Magalhães na sua extremidade ocidental, esta importante passagem que une os oceanos Atlântico e Pacífico foi descoberta em 1520 pelo grande explorador português Fernão de Magalhães, no comando de uma frota patrocinada pela coroa espanhola. Dos cinco barcos que partiram dois chegaram até a Ásia e apenas um retornou à Espanha, foram os primeiros europeus a atravessarem o Pacífico, mas esta é outra história. Magalhães avistou fogo na margem sul do Estreito, a qual batizou de Terra do Fogo.

imagem da Isla Santa Ines.
Isla Santa Ines.

Cordilheira Darwin

Visitamos o glaciar na Isla Santa Ines e seguimos para o sul até o Canal Brecknock. Na Cordilheira Darwin da Ilha Grande de Terra do Fogo existem vários glaciares dos quais visitamos alguns. Seguimos pelo Brazo Noroeste até o Canal Beagle onde se encontra Ushuaia. Em 1826 o Comandate Fitz Roy foi designado pela Marinha Real inglesa para cartografar a região, Beagle era o nome de sua embarcação. Alguns anos depois retornou levando a bordo o naturista Charles Darwin, quem ao longo da viagem de cinco anos ao redor do mundo recopilou toda a informação que depois desenvolveria sua teoria de evolução das espécies.

glaciar Tierra del Fuego
Glaciar Tierra del Fuego.

O fogo que Magalhães avistou eram os índios nativos da Terra do Fogo. Os Yamana navegavam pelos canais com suas canoas e nelas acendiam uma fogueira para se aquecer. Nas montanhas próximas ao Atlântico habitavam os índios Onas, exímios caçadores de guanacos.

Leia o diário de bordo anterior

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