Tubarões no Recife: 25º morto, saiba por quê
O Estadão trouxe, em 8 de junho 2018, uma triste matéria. Trata-se de ocorrência que se repete pela vigésima quinta vez: a morte de um banhista por ataque de tubarões no Recife. ‘Em menos de 60 dias’, diz, ‘dois ataques foram registrados’. Em seguida, a matéria explica as medidas preventivas que o governo de Pernambuco estuda tomar. O Mar Sem Fim aproveita o triste episódio para lembrar por que ele se repete unicamente na costa daquele estado. Nenhum dos outros 16 estados costeiros brasileiros registram qualquer fato semelhante.
Não adianta colocar placas…
Uma coisa é certa, são vários os problemas, e alguns deles não são mencionados em matérias da imprensa, e ou, pelas declarações de autoridades do estado.
Primeiro problema: não adianta apenas colocar placas. Elas alertam sobre o tubarão nas praias metropolitanas do Recife faz tempo. Se fossem eficazes, não estaríamos comentando a vigésima quinta morte.
É preciso que o governo de Pernambuco tome medidas eficazes, e não fique apenas no blábláblá, já tradicional após qualquer ataque. Depois que passa o choque, não se faz rigorosamente nada. Apenas as placas lá ficam, provando sua inutilidade até outra morte.
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Porque só no litoral de Pernambuco acontecem as mortes
Os estudiosos já explicaram ‘ene’ vezes o motivo dos tubarões no Recife. E a imprensa, no passado, repercutia as explicações. Um dos maiores especialistas do Brasil, é o professor Fábio Hazin, curiosamente da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
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Quando estivemos no litoral do Estado, em nossa primeira viagem, fomos na Universidade entrevistá-lo. Vamos aos fatos…
Os ataques só começaram em 1992
É, pois, acontecimento recente. Antes de 92 não havia ataques de tubarões no Recife, depois, sim. Por que os tubarões ‘decidiram atacar’ pós 92?
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O Porto de Suape
Recorremos ao diário de bordo de viagem: “As obras para a construção do Porto de Suape são gigantescas, seu impacto ambiental, também. Ainda que seja importante para a economia, gerando empregos, pagando royalties para as cidades atingidas, escoando a produção diretamente para mercados consumidores e, contribuindo para a economia e o progresso, me pergunto se seria mesmo necessário tanto impacto ambiental.”
“Mas o que importa, é que, para a construção do imenso porto e refinaria de Suape, grandes áreas de mangues vieram abaixo. O estuário era berçário das fêmeas de tubarão cabeça chata (uma das espécies dos ataques), que o usavam para parir filhotes.”
Destruição de mangues e ataques de tubarão
“Com a destruição do habitat, o tubarão procura um substituto para continuar seu ciclo de vida. Como os ventos predominantes são de sueste, os indivíduos que antes freqüentavam Suape sobem à costa, embalados pelas correntes.”
“O primeiro que encontram fica no do rio Jaboatão, na região metropolitana do Recife. Então, uma série de fatores em cadeia escapam de um ‘saco de maldades’ e dão sua contribuição.”
Matadouro de Jaboatão e Aterro da Muribeca
“Dois deles: o matadouro de Jaboatão, e o chorume do Aterro da Muribeca. Sobre eles, escreveu o professor Fábio Hazin: ‘…é razoável supor que o lançamento de sangue e vísceras no rio Jaboatão, o qual deságua no trecho da praia onde se verificaram 45 dos 46 ataques (até 2005), tem potencial importante de atrair tubarões’…
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E, mais adiante, dá um puxão de orelhas nas autoridades: ‘O lançamento deste tipo de dejetos diretamente em corpos d’água (rios do Brasil) possui um impacto ambiental tão deletério, que um manual da FAO afirma…’ e seguem várias recomendações do órgão da ONU sobre como, e aonde, despejar dejetos.”
Águas do Jaboatão
“Por fim o professor explica que as ‘águas do Jaboatão se espalham ao longo das praias mais importantes do Recife’. Talvez o nível da poluição seja forte demais, e eles deixam o estuário à procura de um local próximo.”
“Acabam nas áreas recifais, as mesmas que cercam as praias urbanas. Aqui encontram alimento em abundância, especialmente pela pesca de arrasto de camarão, praticada às vezes a cem, cento e cinqüenta metros da costa.”(o MSF esclarece que isso é proibido, mas como não existe fiscalização na costa brasileira).
Contribuição da pesca de arrasto para ataques
Diário de bordo do mar sem fim: “Como já contei, para cada quilo da espécie pescada as redes trazem mais 80% em fauna acompanhante que é devolvida ao mar, morta, e se transforma no almoço e jantar mais fácil que os tubarões-tigres (outra das espécies que atacam) e cabeças-chatas jamais encontraram.”
“Por isto eles ficam na área, mesmo depois das fêmeas parirem. Por se tratar de animais do topo da cadeia alimentar, são territorialistas, defendem com dentes, literalmente, o local onde se estabelecem e de onde pretendem tirar seu alimento.”
Governo do Estado deveria ser co-responsabilizado pelas mortes
Ao nosso ver, o governo do estado deveria ser responsabilizado. Se fôssemos parentes dos falecidos, processaríamos Pernambuco. Mas para livrarem a cara, depois de cada nova morte, governadores colocam placas espalhadas na orla, e que se dane o resto. Resultado? O ciclo se repete. E por que não tomam medidas mais duras?
Pernambuco não quer perder turistas…
Estadão: “A proposta de fazer interdições é vista com reticência pela gestão Paulo Câmara (PSB). “Essa ideia divide os técnicos e, pelo seu impacto econômico e social, não pode ser adotada sem maturidade, evidências científicas e um planejamento detalhado de cada etapa desse processo”, afirma o coronel Leodilson Bastos, presidente do Cemit.”
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Em outras palavras, Pernambuco não quer perder a renda do turismo que, ao invés de ser aplicada em carências públicas, como saneamento ou o fim dos aterros e consequentes chorumes, acaba nos bolsos de políticos que, com pouquíssimas exceções, não faz senão se apropriar dos dinheiros públicos. Tanto é verdade, que o…
MPF vai obrigar o estado a agir
Estadão: “O Ministério Público Estadual (MP-PE) também prepara ação para obrigar o governo a adotar uma série de recomendações de segurança. Entre elas está proibir banho de mar em determinados locais e orientar bombeiros que atuam como guarda-vidas a exercer poder de polícia e até prender por desobediência quem se negar a deixar zonas de risco.”
Não tenha raiva de tubarões
O episódio da vigésima quinta morte traz mais ameaças ao peixe mais importante dos oceanos. Muitos incautos ficam com raiva do animal, como se a culpa fosse dele, ou como se fosse um ‘assassino’.
Tubarões não são perigosos, homens é que são. Tubarões enxergam precariamente, ao verem uma ‘mancha na água’, avançam, afinal, são predadores do topo da cadeia. Como não têm pernas ou braços, abocanham. As mandíbulas dos tubarões são armas mortíferas.
Tubarões no Recife e suas poderosas prensas
Prensas poderosas, algumas abrigam até sete fileiras dos dentes mais pontiagudos e afiados de todo o reino animal. Com uma pequena bocada são capazes de cortar a carne e serrar o osso mais encorpado, dilacerando totalmente o membro.
Sempre que houve óbito nos ataques em Pernambuco, a causa foi a perda de sangue das vítimas (imediatamente soltas) por um único golpe. Portanto, se alguém não tem culpa nesta história, é o tubarão. O animal já é atacado demais. Tanto é verdade que, farto da omissão, o Ministério Público Estadual (MP-PE) se prepara para obrigar o estado a agir.
Eleições vêm aí e a Amazônia Azul
Ela está chegando. É nossa hora de agir. É preciso escolher o candidato com obstinado rigor. É nossa obrigação. Alguém em que você confie, cuja plataforma reflita os seus anseios, mas aceite um toque do mar sem fim: se concordar que o direito das futuras gerações (a um meio ambiente saudável) também está em jogo, acrescente à sua lista de exigências um candidato cuja plataforma seja explícita na proteção da Amazônia Azul, maior, mais rica, e mais depredada que a ‘Amazônia Verde’.
Fontes: https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,tubaroes-fazem-pernambuco-estudar-fechamento-de-praia,70002342351; http://www.trambiental.com.br/eia-rima.