Aquicultura avança: Brasil ganha primeira fazenda marinha
Em tempos de aquecimento global, é raro ver notícias positivas vindas da costa brasileira. Mas aqui vão duas — e estão diretamente ligadas. A primeira vem do sul da Bahia: em Alcobaça, a Prime Seafood, fundada em 2012, tornou-se a primeira fazenda marinha em terra do Brasil.
A empresa é responsável por metade das vendas de lagostas vivas no país. Mas seu maior feito é outro: o desenvolvimento de técnicas para criar a garoupa-verdadeira em tanques — espécie ameaçada de extinção e retratada nas notas de 100 reais. Parte da produção, cerca de 10%, é devolvida ao mar. A Prime Seafood também exporta para cerca de 100 países, com destaque para os Estados Unidos.

Conheça a garoupa-verdadeira
A garoupa-verdadeira é um peixe hermafrodita, de crescimento lento e maturação sexual tardia. Está no topo da cadeia alimentar e quase não tem predadores naturais — exceto o ser humano. Por isso, entrou na lista de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, na categoria “vulnerável”.
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Redemar Alevinos: pioneirismo em Ilhabela
A segunda boa notícia vem de Ilhabela. Fundada em 2008 por Pedro Antonio dos Santos e Claudia Kerber, a Redemar Alevinos foi a primeira empresa do Brasil a produzir alevinos de garoupa e bijupirá.
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Claudia, especialista em fisiologia e veterinária de peixes marinhos, teve papel decisivo. Graças a sua experiência, a empresa conseguiu adaptar suas técnicas a diferentes sistemas de cultivo — do pequeno ao grande produtor — em várias regiões do país.
O desafio da reprodução das fazendas marinhas
Um dos maiores obstáculos no cultivo da garoupa-verdadeira é seu ciclo reprodutivo. Cláudia Kerber explica: “A espécie é hermafrodita. Por volta dos 2 ou 3 anos, o peixe se manifesta como fêmea. Depois de cerca de 15 anos, algumas dessas fêmeas podem se tornar machos. São as chamadas fêmeas masculinizadas.”
Dominar esse ciclo não é simples. Por isso, a Redemar conta com apoio de instituições renomadas, como o Instituto Oceanográfico da USP, FAPESP, Instituto de Pesca, Embrapa, Universidade do Estado de Santa Catarina, Instituto de Biociências da USP e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Um esforço coletivo para viabilizar, de forma sustentável, a criação de uma espécie ameaçada.
Uma conquista com impacto no mar
Cláudia Kerber explica que a garoupa-verdadeira é uma espécie hermafrodita: “Ela tem ambos os sexos. Por volta dos 2 ou 3 anos, manifesta-se como fêmea. Após cerca de 15 anos, algumas dessas fêmeas podem se tornar machos — por isso, são chamadas de fêmeas masculinizadas.” Dominar esse ciclo reprodutivo, segundo ela, é um dos maiores desafios da aquicultura.
Mesmo assim, Cláudia e seu sócio Pedro Antonio dos Santos alcançaram um marco em 2019: repovoaram o mar em torno de Ilhabela com mais de 20 mil filhotes de garoupa. Agora, planejam expandir esse esforço e devolver a espécie a outras áreas do litoral brasileiro onde ela desapareceu.
A garoupa e a alma caiçara
Felipe Caranha, caiçara de Ilhabela e funcionário da Redemar, se emocionou ao falar sobre o projeto. “A garoupa é mais que uma odisseia para nós. É o peixe da vida do caiçara. Enquanto a pesca industrial destrói, a pesca artesanal cuida, valoriza e leva para a mesa da família.”
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Seu depoimento resume bem o que está em jogo: ciência, tradição e conservação caminhando juntas para restaurar um símbolo da cultura costeira brasileira.
Assista ao vídeo da Redemar Alevinos
Conheça a Prime Seafood, a primeira fazenda marinha terrestre do País
Autorizada pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura, a Prime Seafood começou a criar garoupas em 2020 com 2 mil alevinos. Em um ano, esses alevinos se transformaram em 1,5 tonelada de peixes. Para a safra seguinte, a expectativa é de 45 toneladas de garoupas, vendidas com cerca de 840 gramas após um ano de engorda. Os peixes são processados numa fábrica ao lado dos tanques, com boa parte sendo exportada para os Estados Unidos. Embora o custo de produção seja alto, 80% do valor de venda, espera-se uma redução significativa com o tempo e aperfeiçoamentos.

Treinar os pescadores nativos

Contudo, não conseguimos informações para saber quantos quilos de peixes são necessários para um quilo de ração. Esse é um desafio na aquicultura, especialmente para espécies carnívoras como a garoupa, ou o salmão, que demandam muitos peixes para produzir um quilo de ração. No entanto, vale destacar que a criação em terra, como a da Prime Seafood, evita problemas de poluição associados às fazendas de salmão em mar aberto.
Selos de qualidade da Prime Seafood
Imagem de abertura: www.fishtv.com
Assista ao vídeo da Prime Seafood
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Mas não criando peixes, e em terra firme.