Parque Nacional do Superagui, litoral do Paraná, virtudes e problemas

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Parque Nacional do Superagui, Litoral Norte do Paraná

Parque Nacional do Superagui, Paraná: entenda

O Parque Nacional do Superagui, litoral Norte do Paraná, ” tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico ( definição do site do ICMBio).”

Em termos de ecossistemas o Parque abriga Mata Atlântica, mata de restinga, praias, dunas e manguezais.

Município: Guaraqueçaba.

Características do Parque Nacional do Superagui, Paraná

Bioma: marinho/costeiro.

Criação: 25 de Abril de 1989.

Área total: 33.860, 3600 hectares.

Municípios: Guaraqueçaba, Paraná.

Tipo: Proteção Integral.

Plano de Manejo: apesar de ter mais de vinte e cinco anos o parque ainda não conta com plano de manejo.

Lista de espécies protegidas:

Papagaio-de-cara-roxa

Gavião -Pomba.

Sabiá-Pimenta:

Jaó-do-litoral.. 

Mico-leão-da-cara-preta.

Ouriço-do-mar.

Onça-Parda.

Trinta-Réis-Real.

Mapa do Parque Nacional do Superagui,Paraná:

imagem de mapa do Parque Nacional do Superagui, Paraná
A ilha de Superagui, das Peças, do Pinheiro e do Pinheirinho fazem para da UC.Parque Nacional do Superagui, lit. Norte do Paraná

Parque Nacional do Superagui, Paraná: caderno de Anotações

Criado em 1989, o Parque foi ampliado em 1997 até atingir os atuais 33.8 mil hectares. O motivo foi a descoberta de aves marinhas migratórias na Praia Deserta (ilha de Superagui), e a constatação de que a área em que viviam os mico-leões-da-cara-preta, endêmicos e ameaçados de extinção, era maior do que se supunha.

imagem da praia praia-Deserta, Parque Nacional do Superagui, Paraná
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Praia Deserta, Superagui, uma das últimas não ocupadas do Brasil.
imagem de maçarico no Parque Nacional do Superagui, Paraná
Os Maçaricos vêm do Alasca para se alimentar.
imagem de Mico-leão-da-cara-preta no Parque Nacional do Superagui, Paraná
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Endêmico e ameaçado de extinção.

Estes primatas não são os únicos animais ameaçados na área da UC. Eles estão na companhia do papagaio-de-cara-roxa, o bugio, e a suçuarana.

 imagem de mico-leão saltando noParque Nacional do Superagui, Paraná
Mico-leão-da-cara-preta

Fandango, riqueza cultural

A região esconde outras riquezas além da biodiversidade vegetal e animal: a cultural, representada pelo Fandango que é considerado Patrimônio Imaterial do Brasil, pelo IPHAN, ainda cultuado e praticado no Norte do Paraná e Sul de São Paulo.

O Fandango não está sozinho. A técnica centenária da construção e uso de diversos tipos de embarcações típicas recebe a mesma consideração pelo IPHAN.

De origem Ibérica, a dança do Fandango era praticada na península europeia para comemorar o final de algum trabalho em mutirão.

 imagem de instrumentos-do-fandango no Parque Nacional do Superagui, Paraná
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Instrumentos do Fandango produzidos pelo Mestre Juari Aparecido Pereira, da comunidade de Abacateiro.

Isolamento dos caiçaras

Os caiçaras são, ao lado de algumas comunidades amazonenses, e indígenas, as populações mais isoladas deste país. No caso dos primeiros, a situação é mais dramática pela proximidade que se encontram dos grandes centros (a ilha do Superagui fica a apenas 150 quilômetros de Curitiba), ao contrário das amazonenses espalhadas nos confins de 60% do território brasileiro ainda pouco ocupado.

Os suíços e a colonização da região

O litoral norte do Paraná tem uma curiosidade. Em geral se diz que o caiçara “é fruto da miscigenação entre o português, o índio e, posteriormente, o negro”. No caso do Lagamar paranaense, nem tanto. A colônia do Superagui foi fundada em 1852 pelo cônsul suíço em São Paulo, a partir da compra de uma área de 35 hectares em Guaraqueçaba. Pouco depois da aquisição a primeira leva de imigrantes arribou na região. Entre eles estava o pintor William Michaud que trocou os Alpes pelo manguezal definitivamente. Hoje grande parte dos nativos descende destes europeus. Com pele clara, grande parte deles têm olhos azuis.

imagem de seu-antonio no Parque Nacional do Superagui, Paraná
Parque Nacional do Superagui, Paraná Seu Antônio, ‘çaiçara’ que vive sozinho na praia Deserta.

Os restos mortais de Michaud, que deixou como herança um livro de pinturas da região, estão enterrados numa pequena igreja de 1852, erguida ao lado da vila de Superagui.

imagem da igreja no Parque Nacional do Superagui
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Igrejinha de 1852. Ao lado fica o cemitério onde estão os restos mortais de Michaud.

Por viverem em região onde estradas não existem, e pela pobreza extrema, o principal meio de transporte dos caiçaras são os barcos.

imagem de canoa de-bordadura no Parque Nacional do Superagui, Paraná
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Linda canoa de bordadura.

População desconhece os parques nacionais marinhos

Superagui é o segundo parque nacional que visitamos.

Plano de Manejo e os Parques Nacionais Marinhos

Superagui, com vinte e cinco anos de idade, ainda não tem  seu Plano de Manejo. Equivale a uma grande metrópole não ter um plano diretor durante todo este tempo. Sem ele, impera a improvisação. O atual chefe do Parque, Marcelo Bresolin, promete o plano para “daqui há cinco anos.”

imagem de canoa de-bordadura no Parque Nacional do Superagui
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Detalhe da popa da canoa de bordadura no Parque Nacional do Superagui

É lamentável que isto aconteça.

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Duas canoas de bordadura (esq.) e uma de pau (dir.), tradicionais em Superagui.

Fracasso

O fracasso destes Parques Nacionais é fruto de política equivocada, falta de investimentos e ausência de infraestrutura. Em razão disto não há divulgação pelo poder público.

 imagem de papagaio de cara-roxa-Parque Nacional do Superagui
Papagaios-de-cara-roxa chegando na ilha dos Pinheiros.

Política ambiental brasileira: equívoco atrás de equívoco

Em resumo: um enorme desperdício e uma prova de que nossa política ambiental não evolui com o tempo, ao contrário, regride ao não aprender com os próprios erros, ou os acertos de outros países. Tanto o Parque Nacional do Superagui, como o da Lagoa do Peixe são deslumbrantes. O primeiro tem vinte e cinco anos de existência. O segundo, dezoito. Ainda assim permanecem desconhecidos. Apenas mil pessoal visitam o Parque Nacional da Lagoa do Peixe a cada ano, e de cinco a dez mil, visitam o Parque Nacional do Superagui.

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Parque Nacional do Superagui, Paraná. Pesca do camarão do gerival.

Lagamar e Parna do Superagui

O Parque Nacional do Superagui tem como atrativos o Lagamar, o mais rico criatório de vida marinha do Atlântico Sul. Ele é formado por manguezais ainda em bom estado, coalhado de baías, ilhas cobertas de mata atlântica, e canais protegidos do mar aberto. É frequentado por grandes grupos de botos-cinza, ideais para serem navegados por pequenas embarcações.

imagem da-mata-atlântica no Superagui, Paraná
Parque Nacional do Superagui e a Mata Atlântica

Em seu entorno dezenas de comunidades de pescadores artesanais sobrevivem utilizando suas lindas canoas com as quais pescam, criam ostras, catam siris e caranguejos, em meio a uma paisagem exuberante cercada.

 imagem da serra do mar Parque Nacional do Superagui
Onde quer que você vá a Serra do Mar está sempre à vista em Superagui.

Biodiversidade e beleza cênica do litoral- ativos nacionais

O que o Brasil tem, mais que a maioria dos outros países, é a sua beleza e riqueza natural. Nosso litoral, com suas múltiplas formações como ilhas, praias, costões, e a Serra do Mar .

imagem da serra-do-mar-e-por-do-sol--Parque Nacional do Superagui
Parque Nacional do Superagui, Paraná. Sempre majestosa a Serra do Mar emoldura o quadro de Superagui.

Potencial dos Parques Nacionais

Um estudo do PNUMA – Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente mostra que os parques brasileiros (do interior e zona costeira) têm potencial para gerar entre 1,6 a 1,8 bilhões de reais em turismo para as regiões onde estão inseridos. Mas, para chegarem a este ponto, é preciso trabalho e investimento.

Todos os anos 280 milhões de turistas visitam os parques norte-americanos

Dados do ICMBio de 2013 mostram que, de janeiro a setembro do ano passado, os 10 Parques nacionais mais visitados receberam 3,9 milhões de pessoas. Uma merreca se comparados aos 280 milhões de turistas que visitaram os parques americanos no mesmo período.

Desapontamento até agora

Superagui marca o final de nossas visitas às Unidades de Conservação da região Sul do Brasil por isto esta reflexão. Mesmo não conhecendo todas as UCs do Sudeste, Nordeste e Norte, a expectativa não é promissora.

 imagem de botos-cinza nos canais de Superagui
Botos-cinza nos canais de Superagui.

UCs do Paraná

Chegamos ao Paraná e nos deparamos com a pobreza da estrutura das UCs do estado.

A ESEC de Guaraqueçaba tem apenas um analista ambiental: o próprio chefe, Luiz Faraco. Apesar de dispor de lancha com motor de popa, uma pequena canoa de alumínio, muitas vezes falta verba para gasolina. Já a APA de Guaraqueçaba, imensa com seus 282 mil hectares, tem apenas três analistas ambientais.

Salva-se a única UC federal mantida e gerida pela iniciativa privada, a RPPN  Salto Morato.

 imagem de matão-em salto-morato-
Mata Atlântica da RPPN Salto Morato, única UC federal marinha mantida pela inciativa privada.

Parque Nacional do Superagui, Litoral Norte do Paraná

De Parque tem apenas o nome, e dois analistas: o atual chefe, Marcelo Bresolin, e Guadalupe Vivekanando. Marcelo reclama da falta de uma equipe maior, com pelo menos cinco analistas.

O único ponto positivo que percebi ao visitar a UC do Superagui é o fato dela ter conseguido segurar a especulação imobiliária tão comum no litoral do Paraná, como de resto, no litoral do Brasil.

Na ilha de Superagui não se repetiu a situação da ilha das Peças, ou da ilha do Mel, onde os caiçaras mais uma vez cederam à tentação. Venderam  suas posses para que turistas construíssem casas de veraneio, ou Pousadas (em número maior que o possível para área frágil, caso notório da ilha do Mel), sendo empurrados para o interior.

imagem da Pousada-Willian -Michaud-no Superagui
Superagui tem muitas pousadas.

Turismo em Superagui

É de base comunitária. Os próprios moradores recebem os visitantes. Muitos fizeram obras para melhorar seus terrenos construindo banheiros e churrasqueiras, transformando-os em áreas de camping. Outros optaram por abrir parte de suas casas como Pousadas.

Falta infraestrutura

O lixo jogado nas praias foi a maior reclamação que ouvi. Culpa da prefeitura, dizem. Perguntei a um morador se já tinha se reunido para reclamar, exigir direitos, estas coisas. Resposta patética: “não conheço a prefeita. Ela só aparece aqui de 4 em 4 anos…”, ou seja, nas eleições. No resto do tempo fica quietinha em Guaraqueçaba, bem longe daqui.

 imagem de barcos pesqueiros em frente à Barra do Superagui
Barcos pesqueiros defronte à Barra do Superagui.

No entorno da Unidade existem 13 comunidades, as mais conhecidas são Ararapira, Ariri e Ilha das Peças. Dentro da área do Parque estão outras cinco: Colônia, Abacateiros, Canudal, Vila Fátima, e Barbados, esta última é um foco de revolta constante contra o Parque e suas chefias.

Visitei Barbados sem a presença do chefe justamente por causa desta briga que toma proporções perigosas. Poucas vezes vi tamanha revolta entre os moradores e uma área protegida.

imagem de barco na Barra de Superagui
Barra de Superagui: saindo para pescar de madrugada.
 imagem do-painel-solar
As comunidades contam com painéis solares. Barbados se revoltou.

ICMBio não tem condições

Pelos constantes atrasos nos planos de manejo, pela falta de verba permanente do ICMBio, não acredito que o Instituto Chico Mendes tenha condição de gerir não só estas, mas também as Unidades de Conservação do interior do país que têm os mesmos problemas.

As UCs e a iniciativa privada

A meu ver a única solução seria passar a gestão delas para a iniciativa privada. É preciso explorar esta possibilidade. O exemplo da RPPN Salto Morato salta aos olhos. Ela é a única UC federal marinha do Sul que funciona a contento, cumprindo suas funções. Motivo? Ela foi implantada, e é gerida, pela inciativa privada. Daqui para a frente vou levantar este assunto nas próximas viagens.

Só 1,5% da zona costeira “protegida”

E falta ainda criar muitas outras. Como se sabe, o Brasil é signatário do acordo das Metas de Aichi que propõe que os países separem ao menos 10% de sua zona costeira, e águas territoriais, em áreas de preservação. Neste ambiente temos só 1,5% com este tratamento. Cedo ou tarde virão outras.

Assista a um pequeno vídeo que mostra diversos aspectos do programa que gravamos na região. A bordo da canoa estávamos eu, o cinegrafista João Nunes, o piloto e o chefe da UC, Marcelo Bresolin.

Assista ao programa completo do Parque Nacional do Superagui

Serviços:

Para chegar ao Parque Nacional do Superagui é preciso ir para Curitiba e, de lá, descer a serra da Graciosa. O passeio começa aqui: a serra é uma beleza. Você pode ir de carro mas recomendo que faça a viagem de trem pela Serra Verde Express. A estrada de ferro, construída no tempo do Segundo Império, é cercada por cachoeiras, penhascos de tirar o fôlego, e muita Mata Atlântica. A descida não leva mais que uma hora e o ponto final é a cidade de Morretes, famosa pela culinária cuja especialidade é o Barreado.

De Morretes para Paranaguá vá de taxi. O trajeto dura cerca de uma hora. A estação de Morretes fica defronte uma praça onde não é difícil pegar um taxi.

Em Paranaguá pegue um barco da empresa Abaline ( 41- (41) 3425-6325 / 3455-2616). Mais informações sobre horários e tarifas. Também é possível chegar via Guaraqueçaba. Neste caso a viagem de Morretes até Guaraqueçaba é feita por estrada de terra. São 90 quilômetros. Há ônibus que fazem o trajeto uma vez por dia, demorando seis horas para chegar. De Guaraqueçaba é possível chegar a Superagui em barcos de linha, ou alugando uma canoa caiçara.

Barra do Superagui é uma vila com várias pousadas e áreas para camping. A melhor época do ano é o Inverno. Não é tão quente, chove menos que no Verão, e o colorido mais vivo realça a beleza da paisagem. Há trilhas demarcadas até a Praia Deserta, passando em meio a mata de restinga repleta de  orquídeas e bromélias coloridas.

Uma das possibilidades para camping é o de Rubens Castanho Cunha, um divertido caiçara que fez boas melhorias no jardim de sua casa, equipado com banheiros e churrasqueiras para receber os turistas. Além do mais, um bate-papo com Maurício é garantia de diversão e bom humor. Telefone para contato: 41 – 3482 7134.

Comentários

3 COMENTÁRIOS

  1. Olá!
    Sou nativa e professora na comunidade da Ilha do Superagui. Não entendi o porque você colocou a localização em Santa Catarina sendo que o Parque Nacional está situado no litoral norte do Paraná divisa com São Paulo.

    Grata!

    • Cleusa, muito obrigado por chamar minha atenção. É inacreditável. No texto estava sempre que era no Paraná. No título, e nas fotos, essa bobagem de Sta Catarina. O pior é que li e reli um monte de vezes e, mesmo assim, não percebi. Desculpe pelo meu deficit de atenção. Já está corrigido. Obrigado de novo, grande abraço e volte sempre!

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