Manguezais e restingas: uma omissão do Ministério de Meio Ambiente
Passados nove meses de governo Lula, ainda não sabemos quais as políticas públicas para o litoral. Tudo que depreendemos é a volta ao protagonismo mundial na causa ambiental através do ‘desejo’ do governo de cessar o desmatamento até 2030. Enquanto isso, o bioma marinho não recebeu qualquer atenção sinalizando que será o ‘patinho feio’ de sempre. Enquanto Lula viaja e discursa sem parar, Marina Silva, a ministra do pomposo ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, está na muda, em silêncio sobre o bioma marinho. Nada de novo. É assim desde a redemocratização com a honrosa exceção do governo Michel Temer. Contudo, a apatia sugere ignorância e omissão na luta para atenuar o aquecimento do planeta, a maior ameaça ao ser humano hoje. Por suas qualidades excepcionais, surgiram programas mundiais que financiam o replantio de manguezais e restingas na Ásia, África, Oceania, e nas Américas do Norte e Latina .
Mangues, restingas e sua importância
Em todos os continentes em que existem, manguezais são a principal fonte de subsistência das comunidades costeiras. Para além disso, são o segundo mais valioso berçário marinho depois dos corais. Entre seus serviços ecossistêmicos está a estabilização da linha da costa, a prevenção à erosão e a contribuição para melhorar a qualidade da água do mar.
Por fim, suas copas são habitats de aves marinhas. Porém, o mais importante serviço dos mangais neste momento, é o fato deles armazenarem quatro vezes mais CO2 do que a mesma porção das florestas tropicais.
Como a vida marinha está ameaçada em escala global, assim como a erosão segue destruindo litorais mundo afora com o aumento do nível do mar e os eventos extremos, além da atmosfera estar saturada com a quantidade de dióxido de carbono, manguezais são replantados em toda parte, exceção ao Brasil que continua detonando seus mangues e restingas.
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As restingas também tem papel importante para fixar a linha da costa minimizando os estragos da erosão, ao mesmo tempo em que, como os mangues, filtram e melhoram a qualidade da água que flui do continente para o mar.
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Por sua importância, internacionalmente os mangues passaram a ser chamados carbono azul, ao mesmo tempo em que foram lançados programas globais, ignorado pelo Brasil, que investem em vários países para mitigar as mudanças climáticas por meio da restauração dos ecossistemas costeiros e marinhos.
Os mangues no Brasil
No mundo existem cerca de 80 tipos, mas no Brasil apenas três: o Mangue-branco (Laguncularia racemosa); o Mangue-vermelho (Rhizophora mangue); e o Mangue siriúba (Avicena schaueriana).
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O segundo país em extensão de mangues é o Brasil (o primeiro é a Indonésia). São cerca de 20 mil Km2 desta vegetação, que se estende desde o Amapá, até o Estado de Santa Catarina (algumas fontes colocam o Brasil como o terceiro maior manguezal atrás da Indonésia e Austrália).
Contudo, o MapBiomas (Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil) revela que entre 2001 até 2016 os manguezais perderam 20% de sua área, em parte por causa da expansão urbana.
Replantio de mangues mundo afora
Por seus serviços ecossistêmicos, manguezais e áreas úmidas em geral estão sendo replantados. E, muito melhor, gerando renda aos países que assim agem através dos créditos de carbono. Por falar neles, esta é outra gritante omissão do atual governo que até agora ainda não regulamentou este mercado que pode transformar o Brasil.
Replantio na África
Assim ocorre no Quênia, segundo nos informa Lindsey Jean Schueman, do www.oneearth.org, através do projeto da comunidade “Mikoko Pamoja”, que em suaíli significa “Manguezais Juntos”, que está ajudando os habitantes a ganharem a vida através da conservação com “créditos de carbono”.
A Nigéria é outro país africano que não perdeu tempo. Os mangais do país estão entre os mais degradados do mundo. No Dia Internacional para a Conservação do Ecossistema de Mangais de 2020, a Ministra de Estado do Ambiente da Nigéria anunciou o plano do governo para restaurar os mangais no Delta do Níger no âmbito do projeto “Mangue para a Vida”. O Projeto de Restauração visa melhorar a sustentabilidade costeira, aumentando a cobertura de mangais em 25%.
Na Oceania
As alterações climáticas trouxeram complicações à ilha de Papua Nova Guiné, na Oceania. A subida do nível do mar afetou os poços de água, erodiu as linhas costeiras, provocou mais inundações durante a época das monções e colocou aldeias em risco de serem “lavadas”. Um morador, Kala Carlos Alu, passou os últimos dez anos divulgando a importância dos manguezais. Ele liderou a luta que fez com que a Autoridade de Conservação, Meio Ambiente e Proteção (CEPA) de Papua Nova Guiné propusesse a realização de um de seus programas de replantio em Alewai durante o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Na Ásia
Karnataka, localizada no sul da Índia, Ásia, abriga mais de 300 hectares de manguezais distribuídos por três regiões costeiras. As comunidades indígenas de duas cidades à beira-mar, Karwar e Honnavar, desenvolveram um plano estratégico de conservação de manguezais com o governo local. O objetivo é estabelecer zonas de proteção, cotas de pesca e restringir o turismo dentro dos manguezais. Para o replantio, escolheram mais de 14 espécies de manguezais de rápido crescimento para reflorestar áreas danificadas.
A Action Aid, uma ONG internacional que trabalha contra a pobreza e a injustiça em todo o mundo, iniciou a campanha She Is The Answer, no Camboja, que ajuda as comunidades a resistirem às alterações climáticas. Um dos programas é um projeto de reflorestamento de manguezais em Kampot. A meta é plantar mais de 100 mil mudas de mangue ao longo da costa.
Na América Latina e Caribe
Segundo informação que consta no site da UNESCO, de outubro de 2022, manguezais serão restaurados em sete Reservas da Biosferas da América Latina e do Caribe. Fazem parte a Reserva da Biosfera Seaflower (Colômbia), Reserva da Biosfera da Península de Guanahacabibes (Cuba), Reserva da Biosfera Macizo del Cajas (Equador), Reserva da Biosfera La Encrucijada (México), Reserva da Biosfera Darien (Panamá) e Biosfera Noroeste Amotapes-Manglares. Reserva (Peru). O projeto conta com mais de 1 milhão de dólares em fundos fiduciários flamengos.
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Até a falida Cuba entrou na onda e não precisou investir seus recursos, apenas apresentar um projeto e conseguir, como todos os outros, investimentos de fundos privados preocupados com a crise ambiental. Assim, ao mesmo tempo em que protege sua linha costeira, o pequeno país contribui para repovoar um sem-número de espécies marinhas que dependem deste ecossistema.
O site da UNESCO explica o motivo de sua participação no replantio de manguezais mundo afora: ‘A UNESCO trabalhará com estas comunidades locais e com comitês de gestão nas reservas da biosfera participantes para restaurar as suas florestas de mangais. A educação será um componente forte do projeto; os jovens serão envolvidos para apoiar a implementação nas suas próprias comunidades.’
O que dirá Lula na abertura da Assembléia-Geral da ONU?
Como sempre acontece, o Brasil abre a Assembléia-Geral da ONU que acontece nesta terça-feira. O que dirá Lula? Como ‘fala pelos cotovelos’, sem necessariamente respeitar a história do País, é possível que nos coloque em enrascadas na política externa como tem acontecido.
Mas falará igualmente sobre o meio ambiente. Lula vai repetir pela enésima vez que ‘o desmatamento acaba em 2030’. Mais que isso, indignado, vai cobrar países ricos a financiarem os emergentes e pobres, ‘as maiores vítimas dos vilões’.
Contudo, com sua monumental incompreensão do mundo, não vai apresentar nenhum plano de seu País o mais biodiverso do planeta para restaurar florestas tropicais ou ecossistemas costeiros. E, assim, conseguir financiamento para tanto.
Lula vai apenas reclamar. Nada de novo no front…