Ilhas Faroe não foram colonizadas pelos Vikings, diz novo estudo
As Ilhas Faroe ficam no Atlântico Norte, mais ou menos no meio do caminho entre as Ilhas Britânicas, a Islândia, e igualmente próximas à Noruega. Ao todo são 18 ilhas, além de vários ilhotes menores. Trata-se de um território autônomo da Dinamarca, com pouco mais de 50 mil habitantes distribuídos em uma área de 1.399 km². O nome nórdico significa ilhas das ovelhas. Como mostra o mapa, elas ficam bem no centro das rotas marítimas de um dos povos antigos navegadores, admirados e estudados por seus extraordinários feitos náuticos até hoje: os Vikings. Por muito tempo, os cientistas acreditaram que eles foram os primeiros a colonizar as Ilhas Faroe, apesar de haver indícios (desde 2013) contrários. Contudo, agora um novo estudo confirma as evidências de que não seriam os Vikings os colonizadores originais.
O novo estudo sobre a colonização
O estudo publicado pela Communications Earth & Environment, ao contrário da maioria destes estudos que usam linguagem hermética, tem uma abertura que por si só é uma saborosa aula de história. ‘As Ilhas Faroe, localizadas entre a Islândia, a Noruega e as Ilhas Britânicas, foram um trampolim para a exploração viking através do Atlântico Norte.’
‘O consenso geral é que os nórdicos foram os primeiros humanos a colonizarem as Ilhas Faroé. E, portanto, as primeiras estruturas arqueológicas datam entre 800-900 d.C. Desse modo, é consistente com o momento de uma expansão nórdica mais ampla durante a Era Viking (800-1100 d.C), quando estabeleceram-se novos assentamentos nas Ilhas Faroe, Islândia, Groenlândia e além para a América do Norte.’ Descobriu-se, da mesma forma, que forma eles os primeiros a chegar aos Açores muito antes dos portugueses sequer saberem das existência do arquipélago.
E prossegue: ‘Apesar de quase todas as evidências arqueológicas que apontam para a ocupação nórdica inicial das Ilhas no século IX, há evidências indiretas que sugerem que as pessoas podem ter se estabelecido antes da fase desta colonização.’
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‘Assim, em 825’ diz o estudo, ‘um monge irlandês chamado Dicuil mencionou por escrito que algumas ilhas do norte haviam sido colonizadas por eremitas por pelo menos cem anos. Além disso, muitos nomes de lugares nas Ilhas Faroe derivam de palavras celtas. Além disso, marcas de túmulos celtas foram identificadas nas ilhas.’
Você sabe quem foram os Celtas?
Quem nos explica é o history.com: ‘A primeira menção aos celtas foi feita pelos autores gregos entre 540 e 424 a.C. Mas os insights mais valiosos são de autores romanos. À medida que o mundo romano se expandia, eles entraram em contato direto com os celtas em suas fronteiras ao norte.’
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Entretanto, apesar de longevos, algumas de suas lendas perduram até os dias atuais. Por exemplo, o rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda, ou igualmente, Tristão e Isolda, cuja saga tornou-se tema de Wagner.
Origem na Europa central entre 1200 a.C. e 500 d.C
‘Acredita-se que os celtas eram uma coleção de tribos que se originaram na Europa central entre 1200 a.C. e 500 d.C. Embora tribos separadas, eles tinham cultura, tradições, crenças religiosas e linguagem semelhantes em comum.’
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Um estudo sobre a flora da Ilha de AlcatrazesIlha Diego Garcia, última colônia britânica na África será devolvidaCorpo do capitão da Expedição de Franklin é encontrado canibalizadoContudo, em suas andanças, e é isto que importa para este texto, grande parte se fixou nas Ilhas Britânicas. Prossegue o history.com: ‘Acredita-se que os celtas chegaram às costas da Grã-Bretanha em aproximadamente 1.000 a.C. Ali viveram durante a Idade do Ferro, a Idade Romana e a era pós-romana. Seu legado continua até hoje, onde os exemplos da língua, cultura e tradições continuam a existir.’
Não nos esqueçamos que o País de Gales é visto como uma nação celta. Voltamos ao history.com: ‘ Seu legado permanece mais proeminente na Irlanda e na Grã-Bretanha, onde os traços de sua língua e cultura ainda são proeminentes hoje.’
Outra explicação do enraizamento dos Celtas nas Ilhas Britânicas nos vem do site do Museu Wales: ‘Na Escócia, o gaélico escocês também ainda é falado, embora não tanto quanto os falantes de galês. A filial local da BBC na Escócia é conhecida como BBC Alba, que é o nome celta da região. Também vale a pena notar que a origem da gaita de foles, um famoso instrumento musical da Escócia, também pode ser rastreada até os tempos celtas.’
Assim, voltamos ao estudo da Communications Earth & Environment.
Como grãos de cevada carbonizados levaram à questão da colonização?
Desde 2013 já havia estudos propondo esta revisão da colonização. Um deles foi publicado na revista ScienceDirect.com que analisou amostras de grãos de cevada carbonizados.
‘O debate sobre o início da colonização voltou à tona com a descoberta de alguns grãos de cevada carbonizados com idade média ponderada de 351-543 d.C. no sítio arqueológico À Sondum na ilha de Sandoy’
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‘O processamento da cevada, juntamente com o depósito antropogênico de cinzas em que os grãos foram encontrados, sugerem que alguma forma de assentamento humano existiu antes da chegada dos nórdicos. No entanto, não houve evidências arqueológicas adicionais para corroborar a chegada precoce de humanos às Ilhas Faroe.’
Ou seja, havia a sugestão. Porém, faltavam provas.
‘Evidências inequívocas, com base na análise de fezes antigas’
A partir de certo ponto, o novo estudo de dezembro de 2021, que confirma o anterior, deriva para a linguagem técnica e, mais uma vez, abusa do hermetismo. Desse modo, recorremos aos sites que repercutiram a descoberta, entre eles, o norwaytoday.info.
‘Lorelei Curtin, do American Lamont-Doherty Earth Observatory, principal autor do estudo, e colegas coletaram as evidências de núcleos de sedimentos retirados da bacia de Eiðisvatn, que abriga os restos de um antigo assentamento de fazenda de verão nórdico.’
‘Com base nesses núcleos de sedimentos, os pesquisadores identificaram a presença de moléculas lipídicas, também chamadas de biomarcadores fecais, que vêm das fezes.’
‘Os biomarcadores fecais têm uma assinatura distinta originária do trato digestivo de ovelhas. Como todos os mamíferos das ilhas foram inicialmente introduzidos por humanos, vestígios de cocô de ovelha são um claro indicador da presença humana.’
Segundo os pesquisadores, “A aparência inicial do DNA de ovelha e o aumento dos biomarcadores fecais antecedem o primeiro uso documentado do local de Argisbrekka pelos nórdicos em aproximadamente 300 anos.”
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‘Essas novas descobertas’, diz o norwaytoday.info, ‘validam certas dúvidas relacionadas à narrativa do povoamento nórdico, que se baseava principalmente na datação de estruturas arqueológicas.’
Arqueologia e estruturas dos celtas nas Faroe
‘Vários nomes de lugares nas Ilhas Faroé derivam de palavras celtas, assim como outras evidências arqueológicas. Algumas delas, as mais convincentes, estão na genética do povo faroense moderno.’
“Uma forte assimetria entre ascendência paterna e materna, com a linhagem paterna predominantemente escandinava, enquanto a linhagem materna é principalmente das Ilhas Britânicas”.
Para justificar os resultados acima, os pesquisadores sugerem algumas possibilidades, entre elas que “por volta de 800 d.C, os vikings já estavam ativos nas Ilhas Britânicas… Eles já eram influenciados pela cultura celta e poderiam ter trazido esposas das Ilhas Britânicas para as Ilhas Faroe.”
A propósito deste povo navegador, recentemente um mistério de mais de 500 anos pode ter chagado ao fim. O maior assentamento dos vikings descrito nos textos do início do século 12, era uma cidade e reduto militar de nome Jomsborg, na Ilha Wolin, no Báltico. Ali os guerreiros juntavam-se a uma ordem mercenária possivelmente mítica de nome Jomsvikings. Pesquisadores acharam restos de madeira que seriam das muralhas de Jomsborg.
O mistério dos primeiros habitantes
O título acima é do norwaytoday.info, que diz, ‘Assim, a pesquisa atual estabelece concretamente a existência de presença humana nas Ilhas Faroe muito antes de exploradores e invasores nórdicos começarem a navegar, o que leva à conclusão de que é improvável que os primeiros colonos eram vikings.’
‘Mas se eles não eram vikings, quem eram eles?’
‘No momento, isso permanece um mistério. Perfis genéticos, a etimologia de nomes de lugares e marcas de túmulos apontam para uma população celta. Ainda assim, evidências diretas de DNA não podem confirmar essas indicações.’