Históricas praias do Dia D ameaçadas por erosão

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Históricas praias do Dia D ameaçadas por erosão

New York Times: À medida que a mudança climática acelera a erosão costeira na França,  como preservar a memória se os famosos locais de desembarque da invasão aliada desaparecerem? Pergunta feita em 6/06/23, 79 anos depois do maior desembarque em tempos de guerra. Quem diria que as praias do Dia D, local de heroísmo e sofrimento, poderiam sumir por nossa causa? Em outras palavras, por usos e costumes insustentáveis. Em 6 de junho de 1944, o rádio anunciou o Dia D. A operação havia sido adiada por 24 horas, devido ao mau tempo no Canal da Mancha. Por pouco, não foi suspensa. A maior frota já reunida com 6.500 navios atracou ao largo de um trecho com cerca de 100 quilômetros nas praias da Normandia. Cerca de 12 mil soldados pagaram com a vida ou sofreram ferimentos para que o mundo se livrasse do nazismo.

Praias do Dia D estão erodindo, Utah Beach
Foto de abertura do New York Times com a legenda: Cercas de madeira foram instaladas para ajudar a reter a areia na duna em frente ao Utah Beach Landing Museum em Ste.-Marie-du-Mont, França.Crédito…Andrea Mantovani para o New York Times.

Os litorais, mundo afora, estão desaparecendo

À primeira vista, só a grande maioria dos despreparados prefeitos dos municípios costeiros brasileiros não veem. Contudo, seja no Brasil, Espanha, França ou Inglaterra, a natural erosão costeira, acirrada por eventos extremos e construções que desafiam a lógica, estão desaparecendo.

Segundo Catherine Porter, autora do texto, ‘Na entrada esburacada de um antigo bunker alemão, você quase pode sentir o barulho de tiros de metralhadora. Olhando por cima do penhasco para o oceano, você vê claramente como os jovens americanos estavam expostos ao escalar as cordas naquela manhã de 6 de junho de 1944.

praias do Dia D, Utah, Normandia.
A TF1 fala sobre a Praia de Utah: praia de Utah, uma das cinco praias do desembarque de 6 de junho de 1944, um lugar carregado de história e cuja memória está congelada em um museu, está ameaçada pela subida das águas.

‘De todos os locais do Dia D, nenhum transmite o horror e o heroísmo daquele momento crucial durante a Segunda Guerra Mundial como Pointe du Hoc.’

‘Contudo, ele  está desaparecendo rapidamente. As inspeções revelaram que as ondas haviam mastigado uma cavidade de mais de dois metros e meio de profundidade em sua base.’

“Não há absolutamente nenhuma dúvida de que vamos perder mais do nosso penhasco”, disse Scott Desjardins, superintendente da American Battle Monuments Commission, que recebe cerca de 900.000 visitantes anualmente. “Sabemos que não vamos lutar contra a Mãe Natureza. Seja como for, o que assusta é a velocidade com que está acontecendo.”

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‘Memória e até a identidade também estão em risco’

Para Catherine Porter, ‘A mudança climática além da erosão afetam a costa francesa. Isso significa levantar questões preocupantes sobre direitos de propriedade, segurança e desenvolvimento sustentável. Entretanto, ao longo da faixa norte de praias e falésias na Normandia, onde 150.000 soldados aliados desembarcaram para enfrentar metralhadoras e o fascismo, a história, a memória e até a identidade de maneira semelhante estão em risco.’

Desse modo, mais uma vez questiona: ‘Quando estes locais acabarem, como a França contará para si mesma e para o resto do mundo o impacto daquele momento? Alternativamente, como salvá-los?’

Praia de Utah e o museu

Utah beach e o museu.
Segundo o www.claudegrandpeyvolcansetglaciers.com, A Normandia também está em perigo. O local de Utah Beach, uma das praias mais famosas do mundo, onde milhares de soldados desembarcaram na manhã de 6 de junho de 1944 está potencialmente ameaçado, em especial o museu responsável por esta terrível história.

“Se eu não tiver o local, perco a história do que aconteceu aqui”, disse Desjardins, olhando para as ondas batendo nos penhascos. “Você também pode ficar em casa no sofá e ler um livro.”

Além do prejuízo histórico haverá, igualmente, grandes perdas financeiras: ‘o trecho de 80 quilômetros que testemunhou a chegada dos Aliados leva a comemoração a um patamar exultante. O escritório de turismo da Normandia lista mais de 90 locais oficiais do Dia D, incluindo 44 museus, atraindo mais de cinco milhões de visitantes anualmente.’

A praia de Utah e o museu de frente para o mar
A praia de Utah e o museu de frente para o mar. imagem do museu.

O New York Times: lembra que ‘Tudo está ameaçado: dois terços dessas costas já estão erodindo, de acordo com o relatório de mudança climática da Normandia , e especialistas preveem que o pior virá com o aumento do nível do mar, aumento das tempestades e marés mais altas anunciadas pela mudança climática.

“A costa vai para o interior. Temos certeza disso”, disse Stéphane Costa, professor de geografia da Universidade de Caen e um dos principais especialistas locais em mudanças climáticas.

‘Governo francês já está declarando derrota’

O governo francês já está declarando derrota. Depois de séculos se defendendo contra as explosões do oceano com proteções pedregosas, ele agora impõe o princípio de “viver com o mar, não contra ele”. Comunidades ao redor do país, incluindo algumas ao longo das praias do Dia D, estão trabalhando em planos de adaptação, que incluirão a perspectiva de mudança.’

Nos últimos anos, diz a matéria, o Sr. de Vallavieille (diretor de um dos Museus e prefeito) recebeu permissão para encher a praia antes do museu com montes de areia. Contudo, a permissão  termina em 2026 e declara que só pode ser renovada se a instituição desenvolver um plano de longo prazo para se mudar – uma proposta que o Sr. de Vallavieille rejeita veementemente.

Memorial aos mortos nas praias do Dia D
Homenagem aos que lutaram e morreram. Imagem, www.calvados.tourisme.com.

Para ilustrar a descomunal força do mar, a autora cita um caso emblemático, com ajuda do governo americano. Em 2010, diz ela, engenheiros americanos gastaram US$ 6 milhões para proteger o bunker de observação na ponta de Pointe du Hoc. Desse modo, implantaram blocos de concreto na base do penhasco, ancorando-os no leito rochoso bem abaixo.

Sensores mostram que a construção funcionou. O bunker de observação não se mexeu desde então. No entanto, as ondas fortes consumiram todos os blocos de concreto abaixo.

Testemunhas ainda vivas do Dia D estão desconsoladas

Cécile Dumont, 92, é uma das poucas testemunhas do Dia D ainda viva. Ela considera Utah Beach um solo sagrado e gostaria que o museu permanecesse lá. Mas, ela admite, é improvável.

“O oceano vai levar tudo. Não teremos escolha”, disse ela de sua pequena casa de pedra em Ste.-Marie-du-Mont, cercada por roseiras e lembranças de uma longa vida.

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A France 3 também repercutiu o desmoronamento do afloramento rochoso de Pointe du Hoc .“É um fenômeno natural. É o ciclo da natureza e a natureza é sempre mais forte que o homem. Nada podemos fazer”, comenta o filósofo Olivier Gallion, diretor dos serviços técnicos da American Battle Monuments Commission, organismo americano que gerencia o local. “Nós vemos esse estímulo diminuindo com o tempo, infelizmente.”

falésia que desmoronou
O desmoronamento do afloramento rochoso de Pointe du Hoc. Imagem, © Amandine Pinault / France Télévisions.

Topo da falésia estava coberto de vegetação

Segundo a France 3, ‘Antes da guerra, o topo da falésia estava coberto de vegetação e arbustos. Para instalar suas peças de artilharia, os soldados alemães desnudaram o terreno. Nada detém a água que se infiltra no solo calcário.’

‘Com o tempo, Pointe du Hoc assumiu um caráter sagrado. Todos os anos, mais de 500.000 visitantes percorrem os buracos de projéteis. O pisoteio apenas acelerou a erosão.’

Segundo o www.claudegrandpeyvolcansetglaciers.com, ‘Meios de proteção são implementados, mas o prefeito se preocupa a cada tempestade. Com efeito, é durante as tempestades, sobretudo quando o coeficiente de maré é mais elevado, que a destruição da costa é mais significativa.’

‘Grandes meios são implementados para tentar lutar contra os elementos. 7.000 m3 de areia são despejados a cada dois anos para compensar a erosão da duna. A grama Marrom é plantada para consertá-lo. É um pouco como a luta de Davi contra Golias.’

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