Grandes navegadores da história: William Bligh, o carrasco do Bounty
William Bligh (Plymouth, Devon, 9 de setembro de 1754 — Londres, 7 de dezembro de 1817) ingressou na vida marítima como aprendiz. Teve a sorte de navega5 com James Cook que pessoalmente o escolheu para ajudá-lo na confecção de cartas náuticas do então desconhecido Pacífico. Bligh é considerado um dos grandes navegadores da história. Anos depois recebeu o comando do H.M.S Bounty, celebrizado no cinema pelo filme ‘O Grande Motim‘.
A primeira versão é de 1935, e tem Charles Laughton no papel de Bligh, o comandante tirano; e Clark Gable como o amotinado Fletcher Christian.
Em 1962 outra versão foi para as telas, com Marlon Brando e Trevor Howard. Finalmente, nos anos 80, um terceiro filme sobre a viagem do Bounty contou com Mel Gibson (Christian), Anthony Hopkins (Bligh) e trilha sonora do Vangelis.
A história e o navio de William Bligh
Mercadores e aventureiros ingleses pediram ao rei que cultivasse fruta-pão em suas possessões das Índias Ocidentais (ilhas do Caribe), carentes de boa alimentação à época. Assim, um navio foi preparado para a missão, o Bounty, cujo comando foi entregue a William Bligh em abril de 1787.
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Chibatas na marujada, ordenava William Bligh
Três meses depois da partida, a vida da marujada já era um inferno. O próprio Bligh contou:
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…Atendendo a uma queixa julguei necessário castigar um marinheiro com duas dezenas de chibatadas por comportamento insolente e rebelde…
Vinte chibatadas por comportamento insolente?
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Conheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoNaufrágio com 3.300 anos muda compreensão da navegação no mundo antigoO último navio de Shackleton, o Quest, é encontradoNaquele tempo era assim que funcionavam as marinhas. Quem saísse da linha, na opinião do comandante, recebia chibatadas no lombo.
Tentando atravessar o Cabo Horn
Ao chegarem na região do Horn, em março de 1788, pegaram 30 dias seguidos de tempestades. Mais uma vez o Capitão tem a palavra:
…às 6h da manhã a tempestade excedeu tudo que eu conheça antes, e o mar, tangido por mudanças frequentes, tornou-se extremamente alto…
Do Cabo Horn ao Cabo da Boa Esperança
Um mês inteiro nestas condições de mar, frio intenso e sem avanços, fizeram com que Bligh mudasse a rota. Se não era possível chegar ao Pacífico via o Horn, seria através do Cabo da Boa Esperança. Bligh relata:
…às 5hs da tarde de 22 de abril soprando forte o vento de Oeste, ordenei guinada no leme a favor do tempo, com grande alegria de todos a bordo. Nossa lista de doentes subira para oito pessoas nesta ocasião…
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Cidade do Cabo
Exatamente um mês depois, avistaram o Cabo da Boa Esperança. Na Cidade do Cabo, já então uma possessão inglesa, pararam para reparos. William Bligh:
…o navio precisava ser calafetado por toda parte, uma vez que se tornara tão mal vedado que fôramos obrigados a usar bombas durante todo o tempo desde a partida do cabo Horn…
Em seguida a viagem prosseguiu até o Taiti, parando em várias ilhas e descobrindo outras no trajeto. Ficaram por lá durante cinco meses.
Os marinheiros se esbaldaram com as beldades nativas e respiraram aliviados por descer em terra escapando dos rigores do comandante e sua chibata.
Estavam embarcados há mais de ano quando estourou o motim.
O motim do Bounty
Era abril de 1789. Quantas chibatadas estalaram até chegarem a este ponto? Bligh não fala sobre isso. Mas detalhou a rebelião:
…pouco antes do amanhecer, em 28 de abril de 1789, o sr Christian, o chefe da disciplina, o ajudante do artilheiro, e Thomas Burkitt, marinheiro, entraram em meu camarote e me dominaram…Christian estava armado com um alfanje…Fui arrastado da cama e obrigado a subir ao convés…
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Bligh e mais 18 marinheiros foram colocados num bote de sete metros de comprimento. Antes de serem largados à deriva, receberam permissão para levar lonas, linhas, cabos, velas, 20 galões de água e 76 Kg de pão. E alguns bocados de carne de porco.
Um quadrante e uma bússola também foram entregues, cartas náuticas, não. O Bounty desapareceu em seguida.
A façanha de William Bligh, um dos grandes navegadores da história
Bligh foi largado à deriva na altura da ilha de Tofua, no meio do Pacífico, então mostrou que, apesar de tirano, era um excelente marinheiro.
Enfrentaram todo tipo de dificuldade. De tempestades tremendas a ataques de nativos em ilhas nas quais paravam para se reabastecer. Uma das borrascas foi relatada e dá amostra do que enfrentaram:
…às 9hs da manhã caiu uma tempestade violenta. O mar ficou muito encapelado, de modo que no fosso das ondas, a vela era inútil e, na crista, havia pano demais, mas não podíamos nos aventurar a ferrá-las inteiramente porque estávamos numa situação muito perigosa e difícil, o mar entrando pela popa do barco…
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5.800 Km nos Mares do Sul
Foram quase seis mil quilômetros até chegarem a Coupang, no Timor Leste. No trajeto descobriram outras ilhas ainda não cartografadas. Apenas um homem não conseguiu – um marinheiro com o nome de John Norton foi apedrejado até a morte por nativos durante uma tentativa frustrada de desembarcar para provisões na remota ilha de Tofua.
Entretanto, este foi um dos maiores feitos náuticos até então, e equivalente ao de Ernest Shackleton, que atravessou o Drake a bordo de um caíque reforçado.
O Bounty em Pitcairn
Enquanto Bligh navegava para Leste, Christian levou o Bounty para o oeste à procura de um porto seguro, ao deixar o Taiti, em 29 de setembro de 1789.
Junto com os amotinados seguiram várias taitianas. Ele teve a ideia de ir para a Ilha Pitcairn, que fora relatada em 1767, mas sua localização exata ainda não havia sido estabelecida na época. Christian a redescobriu em 15 de janeiro de 1790.
Ali Bounty foi incendiado e afundado para ‘apagar os rastros’ dos amotinados. Christian estabeleceu-se com Isabella; teve um filho chamado Thursday October Christian, e várias outras crianças.
A relação entre os amotinados e os nativos degenerou para violência extrema em setembro de 1793, quando cinco deles – Christian, Williams, Martin, Mills e Brown – foram mortos pelos taitianos em uma série de assassinatos planejados.
Christian foi morto enquanto trabalhava em sua plantação, primeiramente baleado, depois executado com um machado. Em 1794 estavam todos mortos.
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Dezoito anos depois, quando Pitcairn e os amotinados foram descobertos pelo navio Topaz, apenas um dos homens ainda estava vivo.
O regresso de Bligh para a Inglaterra
Bligh regressou para a Inglaterra em 1790. No início, foi considerado um herói. Mais tarde, durante o julgamento, boa parte dos testemunhos da corte marcial criticaram seu comportamento – a opinião pública tinha se voltado contra ele.
Blight morreu em 1817 aos 63 anos, e foi enterrado em Londres. Seu túmulo coberto com uma escultura de fruta-pão tornou-se atração turística.
Em 1957, o fotógrafo e explorador Louis Marden fez a extraordinária descoberta dos restos do Bounty, ainda visíveis em águas rasas nas margens de Pitcairn, mais ou menos intocados por um século e meio depois do naufrágio.
H.M.S Pandora
Mas o Almirantado enviou a fragata HMS Pandora, sob o comando do capitão Edward, para capturar os amotinados e levá-los de volta para julgamento.
Ele chegou ao Taiti em 23 de março de 1791. Poucos dias depois todos os catorze homens ainda vivos do Bounty se renderam ou foram capturados.
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“Caixa de Pandora”
Edwards não fez distinção entre aqueles que permaneceram no Bounty por vontade própria ou não; todos foram encarcerados em uma prisão construída no tombadilho superior do Pandora, apelidada de “Caixa de Pandora” em alusão ao mito grego. Na volta para a Inglaterra o navio encalhou na Grande Barreira de Corais.
Os homens presos na “Caixa de Pandora” foram ignorados enquanto a tripulação lutava para impedir que o navio afundasse. Edwards eventualmente deu a ordem de abandonar a embarcação e o armeiro começou a remover os grilhões dos prisioneiros, porém a fragata afundou antes que terminasse.
Apenas seis escaparam. Eles foram julgados e condenados à morte pela forca.
A travessia de Bligh no bote superlotado foi uma das grande façanhas da navegação. Ela só encontra paralelo 126 anos depois, quando Sir Ernest Shackleton atravessou o pior mar do mundo, o estreito de Drake, num bote semelhante ao de Bligh, o James Caird.
Assista ao vídeo da redesconta do HMS Bounty por Louis Marden
Assista a este vídeo no YouTube
Fonte principal: William Bligh, O Motim a Bordo do H.M.S Bounty, Ediouro.
Fonte secundária: https://pt.wikipedia.org/wiki/Motim_do_HMS_Bounty
Conheça a campanha que quer transformar uma ilha de lixo no oceano em um novo país
Dizem que o único sobrevivente em Pitcairn começou a ler a bíblia e acabou com a bebedeira. A ilha tornou-se um país cristão.
Mar sem fim sempre nos brindando com excelentes histórias. Mesmo as anteriormente publicadas. Ótimo este “vale a pena ver de novo” de hoje.
E a fruta pão, o que seria ou qual é o nome conhecido?
Segundo o ecycle, Odair, ‘A fruta-pão (Artocarpus altilis), também conhecida como jaca-de-pobre, é o fruto de uma árvore de origem asiática, que pode chegar a 20 metros de altura. As frutas podem ser consumidas cozidas, fritas, refogadas e assadas, em pratos salgados, ou in natura.’
Para saber mais clique no link: https://www.ecycle.com.br/fruta-pao/.
Excelente artigo. Vale a pena assistir a versão com mel gibson e anthony hopkins; tem uma bela trilha sonora; Liam Neeson e Daniel Day Lewis também estão no elenco. Uma dúvida: qual tipo de navio era o Bounty ? abraços
Tem um documentário da National Geographic que mostra a ilha de Pitcairn, Sharks of the Lost Island, inclusive fala que os habitantes são descendentes de amotinados. Bem interessante.
Depois que eu li uma reportagem muito interessante sobre o HMS Bounty aqui no Mar Sem Fim, eu comprei um livro a respeito e foi uma das melhores histórias que já li ! Agradeço ao autor dessa coluna !
A primeira vez vez que tomei conhecimento dessa história foi pelo filme de 1962 com Marlon Brando. Foi inesquecível pois fui ao Cine Metro, na época Passeio, RJ, com uma namoradinha do colégio. Por sinal o ator ficou tão marcado pela trama que terminou casado com a atriz principal e com ela teve pelo menos um filho. Também comprou uma ilha na região que se tornou uma espécie de hotel/spa e até recentemente era gerenciado pelo seu filho.
Existem três livros, que foram, inclusive, editados em português e largamente vendidos no Brasil, que narram em detalhes o mais famoso motim da história. Eles foram escritos por Charles Nordhof e James Norman Hall e ficaram conhecidos como a trilogia do Bounty. Os autores pesquisaram diligentemente a documentação do almirantado britânico e organizaram a história em três volumes: (a) a viagem de ida para o Tahiti e os detalhes do motim; (b) a viagem de retorno de Bligh e os não-amotinados a bordo de um pequeno escaler; (c) a chegada e colonização da Ilha de Pitcairn e todos os problemas que ocorreram até a morte dos amotinados. Eu comprei os três volumes em um um “sebo” em Curitiba na década de 1970. Vale a pena ler.
Bom dia, apenas uma pequena correção a primeira versão do Grande Motim não é a de 1935 e sim a de 1933 “In the Wake of the Bounty” que é o primeiro filme de Errol Flynn. Errol flynn faz o papel de Fletcher Christian. O filme -e australiano dirigido por Charles Chauvel.
Ao lado de Papillon,O Grande Motim é para mim o melhor livro que li e reli muitas vezes na vida.Tem todos ingredientes de uma boa história, com o handcap de ser verdadeira.
Essa historia é realmente muito interessante.
Motim tratado como motim. Forca para todos.
Gostei de saber que moro em lugar que fez parte dessa historia. Vivo atualmente em Dili/Timor Leste, e Kupang fica do lado indonesio da ilha que os dois paises, Indonesia do Timor Leste dividem.
Resposta para o idiota João Alves da Silva (primeiro comentário); ESTÁ DITO ‘todos os homens AINDA VIVOS,,,’ Leia e entenda direito pra depois dar palpite furado.
Meu pai foi o primeiro a me contar sobre o Bounty, pois havia visto o filme com Gable. Vi o filme com Gibson e Hopkins e gostei muito, talvez por isso esta estória no NYTimes tenha chamado minha atenção:
http://www.nytimes.com/2013/08/24/world/asia/tom-christian-descendant-of-bounty-mutineer-dies-at-77.html?hp&_r=0
Vale a pena ler.
Muito interessante e instrutivo. Obrigado.
Valeu, amigo, abraços