Fazendas de algas marinhas, finalmente algo sustentável
Ao longo destes últimos anos temos mostrado aos leitores que infelizmente as fazendas marinhas que procuram cultivar peixes são um colossal fracasso. Problemas como poluição, uso intensivo de antibióticos, farinha de peixe como ração, apenas acirram as dificuldades que afetam a cadeia de vida marinha. Segundo os especialistas, ainda vai levar muitos anos de experimentos e altas doses de tecnologia para talvez superar estes impeditivos. Contudo, uma delas é de fato sustentável. E só por isso, merece comentário. Nos referimos às fazendas que cultivam algas marinhas.
Algas marinhas absorvem melhor as emissões de CO2 do que árvores
Não são apenas as algas marinhas que são superiores na absorção de CO2, um dos gases de efeito estufa. Como já comentamos, todas as plantas marinhas são superiores às terrestres neste sentido.
Estudos indicam que, quilo por quilo, os manguezais sequestram quatro vezes mais carbono do que as florestas tropicais. A maior parte é armazenada no solo sob as árvores.
E não são apenas os manguezais, mas as algas, as gramas marinhas, e os pântanos salgados em geral. A UNESCO confirma: ‘O total de depósitos de carbono por quilômetro quadrado nesses sistemas costeiros pode ser até cinco vezes maior do que o carbono armazenado em florestas tropicais. Sua capacidade de absorver (ou sequestrar) o carbono pode chegar a uma proporção até 50 vezes maior do que na mesma área de floresta tropical’.
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A bem, da verdade, o cultivos de certos frutos do mar, especialmente os organismos filtrantes como ostras, mexilhões, e vieras são, da mesma forma, sustentáveis.
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Algas marinhas e a contribuição com a mitigação do aquecimento
A NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration informa que ‘O cultivo de algas marinhas nos EUA decolou nos últimos anos. Há dezenas de fazendas no litoral da Nova Inglaterra, Noroeste do Pacífico e Alasca. Os agricultores cultivam vários tipos delas para aproveitá-las em sushi, salsas, molhos, saladas, temperos e outros produtos alimentícios.’
A agência encerra informando que ‘cultivo de algas marinhas é o setor de aquicultura que mais cresce.’ Contudo, sobre os benefícios ambientais, diz a NOAA:
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A Time corrobora as informações e acrescenta: ‘As algas marinhas podem desempenhar um grande papel na luta contra as mudanças climáticas, absorvendo as emissões de carbono, regenerando os ecossistemas marinhos, criando biocombustíveis e plásticos renováveis, bem como gerando proteínas marinhas.’
Produção dobrou na última década
Segundo a Time, ‘ Até recentemente, esta indústria centenária cultivava principalmente algas marinhas para alimentação na Ásia, sendo a China o maior produtor mundial, respondendo por 60% do volume global. Mas, na última década, a produção global de algas dobrou – com um valor estimado de US$ 59,61 bilhões em 2019 – à medida que cresce o interesse como fonte de alimento, opção de sumidouro de carbono e produto renovável de consumidores, agricultores, pesquisadores e líderes empresariais.’
Para encerrar, a Time destaca outras vantagens: ‘Ao contrário do plantio de árvores, as algas marinhas não requerem água doce ou fertilizantes e crescem a um ritmo muito mais rápido do que as árvores, expandindo-se até sessenta centímetros por dia.’
Uma boa solução para o Brasil
O mar brasileiro é rico em biodiversidade, mas pobre em biomassa pesqueira. Temos apenas dois pontos na costa que escapam a este raciocínio, a foz do Amazonas, pelos nutrientes que o maior rio do mundo traz, e a costa Sul, entre o Chuí e Itajaí, beneficiada pela corrente fria das Malvinas, que igualmente aporta grande quantidade de nutrientes.
No resto do litoral brasileiro a pesca é pobre e mal sustenta as comunidades nativas. Pior que a pobreza em biomassa é a danosa ocupação que estamos impondo. Os municípios costeiros crescem para cima dos berçários marinhos, como o manguezal.
Além disso, a poluição aumenta cada vez mais em razão da pobreza do saneamento básico no País, e da força da especulação imobiliária no litoral que não poupa os ecossistemas. Uma das soluções que o Estado poderia tomar, seria encomendar planos à academia e, eventualmente, facilitar via subsídios, ou preço mínimo, para que aos poucos os nativos da costa brasileira não morram de fome, ou não continuem eternamente se tornando párias ao venderem suas posses a preço de banana para especuladores, perdendo inclusive a saída para o mar.
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Alguns dados da produção mundial
Segundo estudo publicado em 2022, na springer.com, ‘Mais de 291 espécies de algas marinhas estão sendo cultivadas comercialmente em todo o mundo. O cultivo responde por 95% da colheita mundial e atinge uma produção de 31,2 milhões de toneladas por ano, com um mercado de US$ 11,7 bilhões.
Contudo, fazendas de algas não são a panaceia, como lembra a Time. ‘ainda há dúvidas sobre se as algas marinhas podem ser dimensionadas globalmente como uma estratégia de compensação de carbono para combater as mudanças climáticas.’
‘Os ganhos com o sequestro de CO2 por algas marinhas podem ser revertidos se não forem usados corretamente. Se as algas forem cultivadas apenas com o objetivo de absorver carbono sem serem colhidas, elas apodrecerão e liberarão o CO2 que capturaram de volta à atmosfera.’
Contudo, é para isto que o Estado financia universidades públicas, ou seja, para que os acadêmicos estudem estes gargalos e proponham soluções. No Brasil já existem algumas criações de algas, mas são incipientes. Uma coisa, entretanto, é certa: não há hoje, mesmo, futuro para os milhares de pescadores artesanais do País. É preciso que estudem outras atividades. A criação de algas bem poderia ser uma delas.
Assista ao vídeo da NOAA sobre as fazendas de algas