Evento extremo devasta Petrópolis mais uma vez
Em 2011 morreram 918 pessoas com as chuvas em toda a Região Serrana. Em 2022, até o momento em que este post foi escrito, mais 136 pessoas perderam a vida enquanto outras 213 estão desaparecidas, tudo por puro descaso quanto ao ‘novo normal’ que as mudanças climáticas nos impõem. Até quando os gestores políticos continuarão a ignorar que vivemos a época dos eventos extremos que tendem a se agravar com o passar do tempo? Evento extremo devasta Petrópolis mais uma vez.
De 2011 para 2022, omissão do poder público provoca mais mortes e prejuízos bilionários
Vai, barracão
Pendurado no morro
E pedindo socorro
A cidade a seus pés
…
Barracão de zinco
Tradição do meu país
Barracão de zinco
Pobretão, infeliz
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E pedindo socorro. Pedindo socorro desde 1953! Mas nossos gestores continuam os mesmos. Os mais pobres invariavelmente pagam com a vida pelos anos de descaso.
Áreas de risco
Sem outra opção que não seja se instalar em áreas de risco, escalando os morros e neles dependurando-se até que as chuvas, cada vez mais fortes, façam sua parte tragando casas, famílias, e sonhos. Ainda recentemente foram vários os Estados devastados pela omissão. O sul da Bahia, em novembro de 2021, foi devastado quando mais de meio milhão de vidas foram afetadas, e 24 pessoas morreram.
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Enquanto isso, a crise hídrica nos custou R$ 16,8 bilhões até outubro, segundo dados do Ministério das Minas e Energia. E não foi por falta de aviso. As questões do clima talvez tenham sido um dos assuntos mais discutidos em 2021, não só pela realização da mais importante conferência internacional desde a Rio 92, a COP 26, como pelos inúmeros eventos extremos que desestabilizaram todos os continentes ao longo do ano.
Todos frutos dos eventos extremos continuamente ignorados por aqui.
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Também não falta informação produzida aqui mesmo. ‘Um estudo do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do IBGE, publicado em 2018, com base no Censo de 2010, contabilizou pelo menos 6,2 milhões de pessoas morando em áreas sujeitas a deslizamentos de terra no país’.
Mas no País de Macunaíma…
2022: evento extremo devasta Petrópolis mais uma vez
Segundo o jornal O Globo, depois da tragédia de 2011, ‘o governo federal disponibilizou R$ 2,7 bilhões para as prefeituras da Região Serrana, mas apenas cerca da metade foi usada’, e conclui o jornal, ‘Além disso, o governo do Rio gastou R$ 7,6 milhões ano passado na rubrica Recuperação da Região Serrana, o que representa 24% da dotação inicial no orçamento’.
O Globo lembra ainda que ‘Em 1990, um estudo identificou 66 áreas de alto risco na região central. Pós-tragédia de 2011, a prefeitura elaborou um Plano de Redução de Risco (PMRR)’.
O jornal ouviu o professor de Engenharia Geotécnica da Coppe/UFRJ Maurício Ehrlich: “A cidade continua a avançar por espaços que não deveriam ser ocupados, ressaltando que as prefeituras têm dificuldades para cumprir etapas para realizar as obras. Esses recursos são administrados pela Caixa Econômica. E há uma série de exigências em termos de projetos e planejamento. Muitas prefeituras têm dificuldades.”
Desde 2011, tudo que Petrópolis fez foi implantar um Sistema de Alerta e Alarme por Sirenes. E, mesmo assim, não em todos os locais perigosos.
Em conversa com a CNN, a Gerente de Clima no World Resources Institute (WRI), organização não governamental ligada ao meio ambiente, Caroline Rocha, afirmou que os eventos climáticos adversos serão cada vez mais frequentes no Brasil e no mundo, caso a temperatura média global continue subindo.
Segundo a CNN, ‘Os dados utilizados pelo WRI, que fazem parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mostram que, até o momento, o aquecimento global gerou uma alta de 1,2°C no planeta’.
Catástrofes inevitáveis
‘“Com as mudanças climáticas, essas catástrofes são inevitáveis, e vão continuar acontecendo. A situação ainda pode piorar, em todo o mundo. Se hoje presenciamos um cenário absurdo, no futuro pode ser muito pior. Lugares como Petrópolis precisam ter isso em mente. Os eventos climáticos que costumeiramente acontecem na cidade não serão mais exceção e sim a regra. E o governo desses locais precisa melhorar a infraestrutura de forma urgente. É apenas um pedaço do problema ambiental no mundo”, ressaltou Caroline Rocha’.
E conclui a CNN, ‘Um levantamento feito pela CNN mostra que mais de 150 pessoas morreram nos últimos cinco meses de chuva no Brasil. Foram pelo menos quatro estados atingidos pelas catástrofes ambientais: Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e São Paulo’.
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A CNN ouviu o professor da Coppe e do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG) Marcos Freitas: ‘as mudanças climáticas também devem gerar uma escassez hídrica em determinadas áreas. Ele cita a situação do Sul do Brasil, que registra a pior seca dos últimos 70 anos’.
“Os modelos climáticos indicam um aumento na intensidade e a frequência dos eventos adversos. Não teremos somente mais chuvas intensas e mais fortes, como também as secas, que devem registrar uma alta de casos”, disse o professor da Coppe.
Tendência é piorar
Infelizmente, como demonstram os cientistas, a tendência é de piora. Não só pela violência dos eventos extremos, mas porque o poder público prepara medidas ainda mais perigosas: em São Paulo, por exemplo, o CONSEMA, Conselho Estadual do Meio Ambiente, subordinado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente-SMA, prevê que TODOS os municípios do Estado possam realizar o licenciamento ambiental, mesmo os menores, sem a infraestrutura necessária, através de ‘consórcios’ entre os vários municípios de igual porte.
Se o licenciamento já é ignorado quando feito pelos Estados, imagine o que pode acontecer quando a responsabilidade passar aos prefeitos dos pequenos municípios sem infraestrutura, e sem noção do ‘novo normal’ que ceifa vidas e provoca prejuízos às carradas?
Como, então, devemos avaliar a gestão pública das cidades no Brasil? Responda quem puder.
Imagem de abertura: Wilton Junior/Estadão.
Fontes: https://oglobo.globo.com/rio/tragedia-em-petropolis-apos-chuvas-de-2011-prefeituras-da-regiao-serrana-usaram-so-50-dos-recursos-disponibilizados-25398321; https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/para-especialistas-tragedia-em-petropolis-e-a-ponta-do-iceberg-de-mudancas-climaticas/.
A comoção pelas mortes desviou o foco para os deslizamentos e áreas de encostas mal ocupadas; mas o problema é muito maior e atinge também a população ribeirinha, que perdeu tudo e precisa começar a vida do zero absoluto, sem lenço, para enxugar as lágrimas e sem documento, para ao menos serem reconhecidas como cidadãos.
Parabéns pela reportagem e muito bem lembrada a música ” Barracão ” e o compositor Oldemar Magalhães fez outra música “favela amarela” pois o prefeito do RJ pintou na favela as casas de amarela e a música diz ” favela amarela ironia da vida, pintem a favela façam aquarela da miséria colorida, procure compreender seu doutor a felicidade não tem cor, não tem não senhor”.
É devastador o descaso com essas tragédias anunciadas. Os prejuízos causados pelos eventos climáticas, que por sua vez estão se intensificando, são muito maiores que o investimento necessários para se preveni-los e mitigá-los – investimento em educação, obras de recuperação e prevenção e medidas de fiscalização e controle. Pouco ou nada é feito por pura indiferença do poder público, egoísmo, visão eleitoreira e não visão de pertença ao que é comum a todos. A tendência é piorar como bem aponta a matéria, e a pergunta é: até quando a crise ambiental será sistematicamente negligenciada?