Esturjão, história, caviar e extinção

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Esturjão, história, caviar e extinção

Ele pode ser imenso, descende de dinossauros, e nada na Terra há mais de 200 milhões de anos. Embora seja muito procurado, resiste até hoje mas está criticamente ameaçado de extinção. A espécie já era conhecida dos povos antigos, entre os quais, cartagineses, gregos, romanos e, sobretudo, persas. Suas excepcionais qualidades para culinária o marcaram, e os nobres aproveitaram. Por exemplo, o rei inglês Eduardo II (1307-27)  decretou que todo e qualquer esturjão deveria ser entregue aos senhores feudais. E… ái daquele que se atrevesse comê-lo….

imagem de esturjão nadando
O peixe jurássico. Imagem, Pinterest.

 Esturjão é um fóssil

“Os esturjões, relacionados, ao peixe-espada (família Polyodontidae) ordem Acipenseriformes são fósseis. Apareceram, pela primeira vez, em rochas  do Jurássico Médio (cerca de 174 a 163,5 milhões de anos atrás). Entretanto, outros defendem que evoluíram de grupo anterior. Possivelmente, paleonisciformes no final do Siluriano (cerca de 419 milhões de anos atrás).” Assim ensina o verbete da Britânica.

Espécies

Existem atualmente duas famílias de esturjão conhecidas, a acipenseridae e a polyodontidae, que compreendem um total de seis gêneros e 27 espécies vivas.

Segundo o WWF, os esturjões são o grupo de espécies mais ameaçadas do mundo. ‘Esses gigantes gentis existem desde a idade dos dinossauros, mas agora estão à beira da extinção devido à pesca excessiva, ao florescente comércio ilegal de caviar e à perda de habitat’.

E a ameaça vem do fato de que o caviar é considerado uma das três maiores iguarias do mundo, e um dos produtos mais caros da vida selvagem.

Esturjões podem ser encontrados em águas costeiras e interiores em todo o hemisfério norte. Eles geralmente não atingem a maturidade sexual até se aproximar de uma década de vida. E, para os países da área de distribuição, é uma importante fonte de rendimento e emprego, bem como elemento importante da alimentação.

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O esturjão do Mar Cáspio produz o que se afirma ser o caviar da mais alta qualidade. Entretanto, as populações têm diminuído devido, entre outros fatores, à degradação dos habitats e à sobre-exploração, incluindo a pesca ilegal. Das 27 espécies 85% estão atualmente à beira da extinção (WWF, 2017).

Peso, tamanho, e tempo de vida

Em quase todas as listas dos maiores peixes de água doce a espécie ocupa as três primeiras posições. Em primeiro, esturjão Beluga, em segundo, o Kaluga, da Rússia e China (até 1,500 kg). Finalmente, em terceiro, o esturjão Branco. Seu habitat é a costa oeste dos Estados Unidos, e ele pode chegar até 6 metros, e pesar 1.100 kg.

imagem de esturjão capturado or russos em 1932
Este foi capturado em 1932. Em esturjão com este tamanho, 1227 kg, não se encontra mais.

Ovas do esturjão se transformam na grande paixão: o caviar

Desde sempre, as ovas tornaram-se algoz do peixe. Elas são consideradas ‘iguarias’, servidas em festas e casamentos de abastados. Faz inveja aos olhos ocidentais, tal qual, sopa de barbatanas de tubarão para os asiáticos.

Não por outro motivo, ambas espécies estão ameaçadas. Hoje, com o esturjão em perigo o caviar branco tornou-se raridade. A variedade do albino Beluga vem do Mar Cáspio, principalmente, em áreas não poluídas perto do Irã. Um quilo vale mais de US$ 25 mil dólares.

 imagem de uma lata de caviar albino
Caviar iraniano Almas pode custar até US$ 25 mil dólares o quilo. (Foto: azuereazure com)
imagem de mapa do mar cáspio e países ao redor
Fronteiras complicadas…Ilustração: BBC.

Produção e comércio

Ao tempo da União Soviética, durante a maior parte do século XX, revela o Hakai Magazine, havia  quase monopólio sobre o comércio de caviar. Os burocratas em Moscou sabiam muito bem o seu valor. Como um país pobre que precisa de moeda estrangeira para sustentar sua economia embrionária, a URSS estava ansiosa para monetizar mink, ouro, diamantes – qualquer coisa que chamasse atenção no Ocidente. Por causa de sua associação com a nobreza russa, que passou ansiosamente por toda a Europa antes da Revolução Russa de 1917, caviar caiu nessa categoria.

Para a Hakai Magazine, governo soviético, quando existia, era um pouco de uma tábua de salvação para o esturjão selvagem. Enquanto o Canadá e os Estados Unidos declaram “áreas de conservação” ou “parques nacionais” para proteger espécies de esturjões nativos, os soviéticos estabeleceram os zapovedniki, zonas proibidas que restringiam totalmente o acesso do público.

Reserva Natural da Biosfera de Astrakhan

Um dos primeiros zapovedniks da União Soviética – a Reserva Natural da Biosfera de Astrakhan – cobre um território onde o poderoso rio Volga se esvazia no Mar Cáspio da Ásia Central em uma miríade de canais pantanosos, principal território de colocação de ovos para esturjão que retorna do grande mar interior.

O Irã também controla uma enorme faixa do Mar Cáspio, mas nunca foi um garantidor da conservação do esturjão. O Kontrol soviético foi, portanto, fundamental para manter as cinco espécies endêmicas da região: o persa (Acipenserpersicus), o Danúbio (A. gueldenstaedtii), estrelado (A. stellatus), fringebarbel (A. nudiventris) e – o mais valioso de todos – abeluga (Huso huso).

Com a decadência do comunismo soviético na década de 1980 e o colapso total até o final de 1991, o país tornou-se o que o escritor franco-russo Emmanuel Carrére chamou de “um paraíso para hooligans engenhosos”. Logo parecia que qualquer pessoa com uma passagem de avião para Astrakhan, Rússia, um barco e uma faca poderia saquear estoques de esturjão.

A criação do esturjão

A pesca definhou, quase desapareceu. A exportação de caviar  selvagem foi proibida. Mas, o comércio de algo tão raro e valioso não pode parar. Ou pode? Não, por isso mesmo, a aquicultura tomou o lugar da pesca. Hoje, a China responde por 85% da produção mundial.
Estados Unidos, Canadá, França e Itália tornaram-se produtores significativos desde que a União Soviética entrou em colapso. E a China, a partir do início dos anos 2000, tentou elevar todos os seus produtos de exportação lançando a maior e mais cara iniciativa de caviar de esturjão do mundo, atraindo os melhores endossantes como o chef de celebridades Eric Ripert.
Em seguida, os principais produtores são Rússia e União Europeia.

A produção do caviar

Por último, o processo de transformação das ovas não-fertilizadas e frescas, em caviar de qualidade (salgadas não-pasteurizadas), é complexo. Globalmente, ovas retiradas da fêmea viva são, imediatamente, peneiradas. Em seguida, lavadas e escorridas; triadas (segundo consistência, tamanho e cor) e, depois, salgadas em tempo máximo de 15 minutos.

Pelo processo considerado complexo e delicado há quem defenda o boicote. E explicam, a fêmea  é transportada até uma mesa, atordoada, é lavada e seu ventre aberto enquanto viva. Em seguida, o saco de ovas é extraído, lavado e, imediatamente, pesado.

Tradicionalmente, a fêmea é  morta depois. Em seguida, encaminhada para processamento (com vista à comercialização).

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Tráfico ilegal de esturjões

Os esturjões  da bacia do Danúbio são um dos mais ameaçados. Por causa do persistente comércio ilegal de caviar da Bulgária e, sobretudo, Romênia, segundo recém-publicado relatório TRAFFIC do WWF.

imagem de esturjão beluga
Um beluga ou esturjão europeu (Huso huso) capturado em 1922 no estuário do Volga. Ele tinha cerca de sete metros, um dos maiores já capturados. (Foto:ourplnt.com/)

Produção mundial

Estudo da IUCN Species Survival Commission…

  tabela com dados da produção mundial de caviar

Aumento do tráfico na região do baixo Danúbio

Em 2024 o WWF revelou em relatório que o crime contra a vida selvagem segue ameaçando a sobrevivência de espécies de esturjão criticamente ameaçadas.

‘Uma análise documenta 395 casos de pesca ilegal de esturjão e comércio na Bulgária, Romênia e Ucrânia, com 1.031 indivíduos afetados entre 2016 e 2023, confirmando que as atividades ilegais continuam a empurrar as quatro espécies de esturjão restantes no Danúbio mais perto da extinção’.

mapa mostra tráfico do esturjão
Imagem, WWF.

Beate Striebel, líder da Iniciativa Global Sturgeon da WWF, disse que “os países europeus intensificaram os esforços para combater ameaças de longo prazo às espécies de esturjão em ao mesmo tempo, reintroduziu milhares, mas essas medidas serão em vão se não conseguirmos acabar com a caça furtiva e o tráfico no Baixo Danúbio.”

Assista ao vídeo, How the world’s best Caviar Factory makes billions of Dollars every year

How does international fish trade help reduce rural poverty?

Subsídios à pesca no mundo: insustentáveis

Comentários

15 COMENTÁRIOS

  1. Os dois maiores peixes de água doce do mundo vivem no Brasil. “A piraíba é o maior peixe de couro de água doce do mundo, enquanto o pirarucu é o maior entre as espécies com escama”, afirma o zootecnista Eduardo Gomes Sanches, diretor do Museu de Pesca de Santos (SP).4 de jul. de 2018

  2. Acho legal o batalhão de defensores de tudo por conta do que matérias para ficarem politicamente corretos. Queria ver se manteriam sua opiniões vivendo em Caracas, Haiti ou países miseráveis africanos. Ser defensor dos animais estando obeso é fácil; queria vê-los com suas opiniões estando em saco de osso e a parede do estômago colabado.
    A população mundial só faz crescer e deveríamos ter melhor controle sobre os estoques disponíveis, mas o vil metal seduz a todos. Vejam as besteiras de consumos em Brasília e nas capitais onde pretensos governadores querem menus dignos de marajás.

  3. O direito não existe. É uma abstração da mente humana, que alguns usam para impor seus interesses sobre os de outros. Por isso há as políticas públicas ambientais. Para proteger as outras pessoas de idiotas como você, que querem sobrepor seus próprios prazeres / lucros / vaidades/ etc ao interesses do coletivo.

  4. na minha opiniao,jamais deveria matar um animal para satisfazer a vontade de um ser humano,sabendo que um crime ambiental,acabando com a especie deste peixe,pois tirando os ovarios esta matando,milhares de pequenos peixinho,que deixaria de existir,deveria ser crime de morte,para que sacrificasse um animal indefeso

  5. Felix não se trata aqui de um direito inalienável seu ou de qualquer outro ser humano, trata-se de bom senso. Nos humanos temos todo tipo de alimento, do mais básico como o pão aos mais sofisticados, como o caviar, mas nem por isso, fazendo uso do nosso direito inalienável, podemos para matar a nossa vontade de pão, matar o padeiro. Este peixe/animal marinho está em extinção, acredito que tanto você quanto eu, apesar de apreciar o que dele é tirado, podemos buscar nos alimentar de outra forma que não provoque a sua extinção, quanto a sermos “comidos” ao morrermos, isso não se trata de extinção mas de decomposição.

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