Espécies aquáticas invasivas: prejuízos de bilhões de dólares

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Espécies aquáticas invasivas: prejuízos de bilhões de dólares

Já contamos neste espaço sobre as nefastas consequências de espécies invasivas de vegetais, ou animais, para a biodiversidade global. No Brasil há alguns casos emblemáticos. O mais conhecido e problemático até agora foi a chegada do mexilhão-dourado, provavelmente incrustado no casco de um navio vindo da Ásia, ou na água de lastro. Ele entrou no Brasil pelos portos do Sul, possivelmente Rio Grande, em 1988. Outros dizem que a entrada teria sido via o rio da Prata, na Argentina. O fato é que o animal contaminou toda a América do Sul. Primeiro ele se estabeleceu no Lago Guaíba. Hoje, o mexilhão já está espalhado por muitos rios do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. O molusco já contaminou o São Francisco, e há riscos de chegar até à bacia Amazônica. Nosso assunto são as Espécies aquáticas invasivas.

Esta foto da água-viva Mnemiopsis leidyi foi publicada no EurekAlert com a legenda: originária da costa leste americana, foi introduzido no Mar Negro no início dos anos 1980. Como resultado, os estoques de anchova caíram drasticamente. Em 2006, também foi detectada no Mar Báltico pela primeira vez.

Espécies aquáticas invasivas

O mexilhão-dourado se proliferou de tal forma que hoje muitas vezes entope as turbinas da usina Itaipu Binacional que têm que ser desligadas para a limpeza. Itaipu Binacional reconhece o problema.

A Itaipu empreende um programa que tem reduzido progressivamente a quantidade de larvas de mexilhão-dourado no reservatório da usina. O molusco é responsável pelo entupimento de encanamentos em equipamentos da hidrelétrica e também causa desequilíbrios ambientais.

Imagem de mexilhão-dourado espécie invasiva aquática
Imagem de mexilhão-dourado em turbina de usina. Foto do site http://revistaecologico.com.br, com a legenda: Organismo bivalve (tem duas conchas), o mexilhão-dourado obstrui e entope canos, turbinas e tubulações de sistemas de hidrelétricas e reservatórios de abastecimento de água.

Tem sido assim desde priscas eras. O professor Frederico Brandini, ex-diretor do Instituto de Oceanografia da USP, conta que o problema começou com as viagens marítimas:

Quando os espanhóis e portugueses (ou os Vikings? Ou os Fenícios? Não importa nesse contexto) chegaram do lado de cá, há mais de 500 anos, trouxeram um presente de grego para o ecossistema costeiro do continente americano: espécies exóticas.

No Brasil a nova vítima das espécies invasivas é o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha. Entre agosto e setembro de 2021 foram registradas 11 ocorrências do peixe-leão, espécie invasiva do Indo-Pacífico que contaminou todo o Caribe para depois descer ao sul, atravessar o Equador e agora encontrar abrigo nas águas de nosso mais conhecido parque nacional marinho.

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Espécies aquáticas invasivas: prejuízos de bilhões de dólares

De acordo com matéria do site EurekAlert, ‘Milhares de espécies exóticas estão atualmente documentadas em todo o mundo. Um quarto delas está em habitats aquáticos altamente vulneráveis.’

A matéria comenta o primeiro estudo global que levantou os custos econômicos das espécies aquáticas invasivas. O estudo foi liderado pelo GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research Kiel e contou com a participação de 20 cientistas de 13 países.

“Chegamos à conclusão de que as espécies aquáticas invasoras que se estabeleceram em seus novos habitats custaram pelo menos 345 bilhões de dólares desde os anos 1970”, disse o Dr. Ross Cuthbert do GEOMAR. Ele é o autor principal do estudo que agora foi publicado na revista Science of the Total Environment.

De onde vêm os custos?

Segundo o estudo, custos econômicos ocorrem, por exemplo, quando espécies invasoras dizimam estoques de peixes explorados comercialmente, espalham doenças mortais ou danificam infraestruturas.

“Bons exemplos incluem mexilhões invasores que obstruem os tubos de entrada de fábricas, usinas de energia ou estações de tratamento de água. Ou parasitas  que causam declínios catastróficos na pesca comercial”, explica o Dr. Cuthbert.

Foi exatamente o que aconteceu no mar de Barents quando os russos, nos anos 60, tentavam incrementar  a criação do crustáceo conhecido na época como “caranguejo Stalin”. Foi o caos para a pesca na região.

Para o estudo, a equipe utilizou casos registrados na literatura existente e os padronizou em um banco de dados abrangente.

Os invertebrados (62%) foram responsáveis ​​pela maior proporção dos custos que puderam ser detectados, seguidos pelos vertebrados (28%) e plantas (6%).

Os maiores custos foram relatados na América do Norte (48%) e na Ásia (13%), principalmente devido a danos a recursos como infraestruturas físicas, sistemas de saúde e pescas.

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“No entanto, nossos números são muito subestimados face às lacunas de conhecimento. Os custos nunca foram relatados por muitos países e nem conhecidas suas espécies invasoras, especialmente na África e na Ásia. Portanto, podemos presumir que os danos são realmente muito maiores”, aponta o Dr. Cuthbert.

E nós incluímos a América do Sul que também deveria estar na lista dos países que sequer têm estatísticas a respeito. Portanto, o custo deve ser mesmo muito superior ao apontado pela pesquisa.

A equipe do GEOMAR também identificou uma tendência clara de que os custos aumentaram significativamente nos últimos anos. Só em 2020, eles chegaram a pelo menos 23 bilhões de dólares americanos.

Imagem de abertura: GEOMAR

Fontes: https://www.eurekalert.org/news-releases/541136; https://www.geomar.de/en/news/article/invasive-aquatische-arten-verursachen-schaeden-in-milliardenhoehe.

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