Egípcios e a navegação, potência marítima ao tempo dos faraós

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Egípcios e a navegação: seus avanços tornaram possíveis as pirâmides

Antes de mais nada, o país das pirâmides, também, foi pioneiro em outra área: a navegação. Foram um dos povos que mais avançaram, em seu tempo, na arte da construção naval e marinharia. Não fosse isso, não existiriam pirâmides, templos, e outras obras de arquitetura que sobrevivem até hoje. Definitivamente, a navegação é tão importante para os egípcios a ponto de ser registrada em hieróglifos. Antes deles, a grande potência marítima era a Fenícia.

Batalha do Delta
Batalha do Delta entre o Egito e os Povos do Mar, por volta de 1175 aC, quando o faraó egípcio Ramsés III repeliu uma grande invasão marítima. Ilustração de Igor Dzis.

Hieróglifos egípcios registram a  vela quadrada 

A princípio, a navegação pelo rio Nilo era vital. Tão importante, que a cena de um barco à vela subindo o Nilo acabou estampada em hieróglifos.De antemão, o historiador Paul Johnson explica:

nos hieróglifos egípcios o determinativo ‘para o norte’ manifesta um simples barco, enquanto que, ‘para o sul’, um barco a vela

imagem de hieróglifo com barco à vela

A vela triangular

Mas, eles também experimentaram a vela triangular, ainda que, usada com vento a favor. Porém, a vela triangular era usada de ponta-cabeça a parte maior ficava acima do mastro, a menor, abaixo,  não era usada em contravento.

mapa do antigo Egito
Imagem, Ancien Egypt.

Apesar desta imagem, mais uma vez, Paul Johnson “…os egípcios logo desenvolveram as muito eficientes velas triangulares, que acolhem a suave, entretanto, permanente brisa do norte; essas velas ainda são muito utilizadas em nossos dias”.

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leme de barco egípcio cerca de 1900 a.C
Leme de barco egípcio cerca de 1900 a.C. do Império Médio que passou a ter um só remo como leme.

Pela descrição, entretanto, essas seriam as velas latinas cuja ‘invenção é atribuída aos árabes‘. O Mar Sem Fim procurou gravuras antigas de barcos egípcios usando as triangulares contra o vento. Mas, não achamos, a não ser, o desenho abaixo com o subtítulo “Navios de Guerra’.

O mistério das velas triangulares de contravento

Ao que parece, os primeiros a usarem velas latinas, ou seja, triangulares, foram árabes.

imagem de barco egípcio
Egípcios e a navegação

egiptólogo Moacir Santos (PPGH – UFF), entrevistado pelo Mar Sem Fim, explica que as velas triangulares surgiram no Reino Antigo, entre 2575 e 2134 a.C.

Entretanto, este tipo de vela coexistiu, tal qual, as de forma retangular mais antigas. E continuaram em uso até a época romana.

Egiptólogo Steve Vinson,

o modelo triangular foi banido dos registros no Reino Médio, a partir de 2040 a.C.

Por falar na época romana, Cleópatra célebre figura da história antiga, e última faraó do Egito, fez diversas viagens marítimas à Roma, algumas em companhia de seu amante, Júlio César, outras para visitá-lo.

Egito não foi uma talassocracia

Contudo, alguns especialistas consideram que o Egito não foi uma talassocracia, como os fenícios, os gregos ou os romanos. Este é o caso do historiador português, José Varandas.

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Em seu saboroso As grandes batalhas navais do mundo antigo, Ed. Esfera dos Livros, Varandas diz que ‘apesar de não ser a civilização marítima mais importante e hegemônica do Mediterrâneo na Antiguidade, o Antigo Egito não deixa de ocupar um lugar relevante no contexto dois sistemas navais e da sua evolução tecnológica e histórica.’

Não foi uma potência naval dominante

‘Não foi uma potência naval dominante, nunca afirmou o seu sistema político e militar enquanto talassocracia, mas, pelo menos a partir de 1.100 a.C, embarcações egípcias sulcavam as águas do mediterrâneo Oriental, percorrendo rotas estabelecidas que ligavam os portos comerciais da ilha de Creta aos do Delta do Nilo.’

‘Os navios faraônicos subiam, de maneira idêntica, a costa, em direção ao Norte, sobre águas fenícias e micênicas…os engenheiro navais egípcios podiam sempre comparar métodos de construção de outras culturas marítimas, já que observavam com atenção, nos seus portos, as embarcações que vinham do Norte, do Egeu, ou do Levante ou do Ocidente, com outras soluções e inovações tecnológicas.’

Depois de reclamar que historiadores do Egito Antigo não se debruçam sobre a questão marítima, Varandas encerra com uma pista: ‘Com exceção dos escassos estudos sobre a batalha do Delta, travada cerca de 1.175 a.C entre Ramsés III e os ‘Povos do Mar’, a investigação sobre a história marítima e naval do Antigo Egito tem sido frustrante.’

Por outro lado, pensamos nós, isso significa que muito ainda está por ser descoberto também sobre este aspecto, com os avanços da arqueologia submarina.

Egípcios dominaram a arte da navegação e construção naval

A princípio, os antigos egípcios se destacaram, primeiro, no desenvolvimento de embarcações fluviais pela importância do rio Nilo, então a maior ‘estrada’ do mundo antigo e razão de ser do país dos faraós. Depois,  com o passar dos tempos, vários tipos de barcos e navios foram construídos para a pesca, comércio, transporte (especialmente de pedras para as pirâmides), procissões e, sobretudo, viagens.

desenho de barco egípcio

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O Nilo proporcionou excelente meio de transporte. Personagens icônicos, como Cleópatra, fizeram várias viagens ao logo do rio, algumas das quais, com seu amante. Todos os cantos da cidade e da região podiam ser alcançados por barcos.

Apesar dos barcos para a pesca, o renomado Paul Johnson diz (História Ilustrada do Antigo Egito, pag. 171), “…os egípcios possuíam elaboradas leis dietéticas, que os diferenciavam de outros povos. A carne de porco, tida como suja, era proibida, assim como, surpreendentemente, o peixe”.

E prossegue, “…a palavra ‘proibido’ tinha como determinativo o hieróglifo para peixe.” Enquanto isso, o país dos faraós exportava peixe salgado…

egípcios e a navegação .
Linda imagem, publicada na Ancient Egypt, retratando a vida perto das Pirâmides 4.600 anos atrás. Se você olhar de perto, poderá ver estruturas de templos, pescadores transportando suas capturas e mercadorias transportadas de barco.

Paul Johnson (pag. 177) “…marinheiros, remadores e barqueiros constituíam uma parte significativa da população total. Supostamente, todas viagens eram feitas pela água não havia outras estradas comparáveis.”

O barco mais antigo do mundo é egípcio

Acima de tudo, o barco mais antigo do mundo, cerca de 4500 anos, foi encontrado na pirâmide de Quéops.  Alguns, acreditam que o faraó deveria usá-lo após a morte.  Mas, o primeiro registro de um navio a vela, entretanto, é retratado em um pote egípcio que remonta a 3200 a.C.

imagem do barco de Khofu ao tempo dos Egípcios e a navegação
Egípcios e a navegação

Antes de tudo, um dos notáveis avanços dos na construção de barcos foi o uso de peças de madeira que se encaixavam, e o uso de cordas para juntar partes.

Quando o barco de Quéops foi achado, entretanto, estava desmontado. Tinha mais de 1.200 peças. Consequentemente, foi preciso muita pesquisa para reconstruí-lo. Então, perceberam que a embarcação não utilizava nenhum tipo de metal para sua fixação.

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Nesse sentido, os operários da antiguidade fizeram uso das cordas de linho o que, sem sobre de dúvida,  atesta maestria na construção naval.

Assim, com este avanço abria-se o caminho para a criação de uma das mais fascinantes civilizações da história. Segundo Paul Johnson, o período dos faraós “foi a primeira grande época cosmopolita da história mundial.”

O primeiro registro de um barco

O primeiro registro de um navio à vela, contudo, remonta a 3200 a.C retratado em pote egípcio. Barcos feitos de madeiras nativas ou coníferas do Líbano. 

ilustração de navio à vela retratado em pote egípcio

O cedro era importante como material de construção naval. Além disso, também usavam veleiros com  vela quadrada Contudo, os navios militares evoluíram gradualmente.

Desenho do cotidiano do Antigo Egito com destaque ao rio Nilo
Desenho do cotidiano do Antigo Egito com destaque ao rio Nilo. Imagem, historicaleve.com.

Os tipos de barcos egípcios

Mais de 120 imagens de barcos egípcios antigos foram descobertos adornando o interior de um edifício em Abydos.

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imagem do interior de um edifício em Abydos

Antes de mais nada, o edifício data de mais de 3800 anos e foi construído perto do túmulo do faraó Senwosret III. 

foto de escavação no Egito

Os barcos Abydos, entretanto, foram descobertos no ano de 2000,  uma frota  de 14 unidades. Tinham cerca de 25 metros de comprimento, dois a três metros de largura e, além disso, cerca de sessenta centímetros de calado. Levavam 30 remadores. 

Tipos de embarcações no antigo Egito

Principalmente, três tipo para diferentes fins foram feitos no antigo Egito. As jangadas de junco simples, usada, principalmente, para caçar em pântanos. 

navio egípcio Khufu
O navio Khufu, intacto em tamanho real que foi selado em um poço no complexo da pirâmide de Gizé, por volta de 2500 a.C. A imagem mostra o original em exposição no museu Giza Solar.

Eventualmente, barcos de madeira mais fortes para longas excursões oceânicas, bem como, transporte de blocos de pedras pesando muitas toneladas. 

Para uso na construção de navios oceânicos, contudo, os egípcios importaram cedro de áreas costeiras do Líbano moderno ou da Síria. Johnson, “o Egito exportava linho, papiro, peixe salgado e milho (História Ilustrada do Antigo Egito, pag. 123).”

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O milho e o Egito

Apesar de maioria das fontes informarem que o milho se originou no México, 9000 anos atrás, Johnson não costuma enganar-se. Depois de correio do leitor, Samuel Haddad Carvalho (ver abaixo em Comentários), pesquisamos, e achamos a gravura abaixo.

gravura de egípcios
Agricultores de milho – Pintura feita na Tumba de Nakht. (Fonte:http://antigoegito.org)

Ainda sobre as origens do milho, Paul Johnson, ao explicar ‘o alfabeto hieroglífico’, mostra (pag. 244) como eram as medidas do milho ao tempo dos faraós:

Imagem de hieróglifo mostrando medidas do milho no antigo egito
Legenda: Medidas do Milho (baseada no mito do olho de Hórus, estilhaçado por Seti). Ao lado: Mas estas frações somam apenas até 63/64.

“…Os egípcios navegavam para Chipre, onde se abasteciam de cobre, e Creta…comerciantes e embarcações, talvez, tenham navegado para o Egeu e ao longo da costa da Turquia. O Egito, contudo, também maior potência mineira da época exportava ouro: foi esse metal que sustentou o ‘Império’, transformando-o, na principal potência mundial.”

Barcos de papiro

O terceiro tipo, era feito com papiro. Em consequência, foram usados para atividades diárias como caça ou cerimônias religiosas. Eram feitos de feixes de juncos unidos, amarrados juntos em forma de casco longo e fino.

imagem demarco feito de papiro
Egípcios e a navegação

Barcaças usadas no transporte de pedras

As barcaças (barcos de fundo plano) usadas, especificamente, para transporte de pedras calcárias, granitos, e outras rochas  para a construção de monumentos, a partir de pedreiras ao longo do Nilo perto de Aswan e Tura. 

http://www.reshafim.org.il/ad/egypt/timelines/topics/riverboats.htm

A estimativa, era de 80 metros de comprimento e 27 de largura. O carregamento e o desembarque, portanto,  atraíam multidões de espectadores como diz a inscrição ‘as pessoas de Afrodópolis e as duas Terras inteiras estavam reunidas neste lugar’. 

Os navios de guerra

Os barcos egípcios, sobretudo, desempenharam papel crítico no transporte de pessoal, incluindo, tropas e diplomatas. A necessidade de uma marinha eficiente foi reconhecida por faraós como Senefru que tinha uma frota de 40 navios. 

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Assim, a marinha egípcia participou da guerra e apoiou forças terrestres durante os tempos de expansão do império, como contra Mitanni e Hittitas do norte da Síria, durante as últimas partes da era do Novo Reinado em, aproximadamente, 1450 a.C. 

Desenho de antigos barcos egípcios
Afinal, quem inventou as velas latinas triangulares: árabes, ou egípcios?

Navios de guerra altamente manobráveis, com garras na proa para afundar inimigos

Uma combinação de leme de direção, remos e velas quadradas, tornaram os navios de guerra e altamente manobráveis. 

Os projetos de casco incluíam, entre outras, armas levantadas para se defender contra arqueiros, plataformas elevadas para disparar setas e, especialmente, garras dianteiras para afundar navios.

Barcos e comércio

Nos tempos pré-dinásticos o Egito teve contatos com a Mesopotâmia, embora, provavelmente, de pouca importância econômica. Em seguida, com a Núbia e, depois,  cidades do deserto do Sinai anexadas durante o Reino Antigo. 

antigo navio egípcio
Antigo navio egípcio.

A África, era alcançada por via terrestre através de Kush, e por navios através do Mar Vermelho e do Golfo de Aden. A Arábia também tinha conexões terrestres e navais. As cidades do Levante, acima de tudo, Byblos foram acessadas principalmente por navio, novamente, desde o Reino Antigo.

Creta, onde encontraram artefatos egípcios (Knossos) exigia, entretanto, navegação em mar aberto. Assim, marinheiros confiavam nas estrelas ao penetrar um mar sem características conhecidas.

Egípcios e a navegação: rotas usadas

De acordo com o quora.com, o antigo Egito, conhecido por ter comercializado com civilizações indianas tão remotas quanto o 3º Milênio a.C. Lápis Lazúli, então na moda, vinha Afeganistão e na Índia.

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Barco egípcio

Esse tipo de comércio, de baixa escala, continuou até a conquista por Alexandre da Pérsia. Em consequência, isso levou a um aumento no comércio do mar vermelho. Os Mauryas na Índia e os Ptolomeus no Egito se corresponderam e trocaram embaixadores no século III a.C. Ashoka, até mesmo, enviou pregadores budistas para proselitismo no Egito.

Aliás, o  Farol de Alexandria, uma das sete maravilhas do mundo antigo, foi  construído durante o Reino Ptolomaico, na ilha de Faros, pelo arquiteto grego Sóstrato de Cnido. Ele tinha entre 120 e 137 metros de altura e funcionava a base de fogo.

Entretanto, o comércio continuou a aumentar nos séculos seguintes. O rei Ptolomeu VIII, por sua vez,  enviou Eudoxus, de Cyzicus, para explorar o mar árabe e estabelecer rota para a Índia.

mapa com rotas de navegações egípcias
Egípcios e a navegação. As rotas. (Ilustração: www.quora.com)

Os fenícios e, especialmente, gregos começaram a lidar com o comércio egípcio no período tardio, ampliaram os contatos do país em todo o Mediterrâneo. Hoje, milhares de anos depois, sobraram as…

Felucas, e suas velas latinas, barcos tradicionais dos descendentes dos faraós

Eles são os  barcos tradicionais egípcios ainda hoje usados no Nilo…São os descendentes dos outros modelos que você viu acima.

imagem de fleumas no Nilo

Assista a animação sobre os barcos egípcios

The Nile Boats of Ancient Egypt - Episode 50

Conheça a saga de outro povo navegador de antes de Cristo: os polinésios

Comentários

11 COMENTÁRIOS

  1. Perdoe-me, mas vou me envolver na polêmica do milho. De fato, a origem do milho é americana, especificamente a América do Norte, embora já fosse cultivado nas três Américas à época da chegada dos europeus. Estudos recentes baseados em análises de DNA levam à suposição de que ele foi desenvolvido artificialmente por agrônomos ancestrais a partir do teosinto (também chamado de dente-de-burro), uma gramínea comum no México. Foi “criado” aqui, então, nas Américas.

    Um dos grãos cultivados pelos antigos egípcios era o painço. Esse vegetal é conhecido em Portugal também pelo nome de milho-miúdo, e no Brasil há quem o chame de milho-painço. Mas o painço não tem nada a ver com o milho, o nosso milho.
    Acredito que aí está a origem do engano, na tradução do idioma original de suas fontes para o português.
    Abraços.

  2. Achei as informações excelentes para um trabalho que estou desenvolvendo sobre os egípcios antigos. Gostaria de fazer uma pequena observação! No capítulo “Tipo de embarcações do antigo Egito” está afirmando que “o Egito exportava linho, papiro, peixe salgado e milho.” Só pra constar que o milho foi apresentado ao mundo somente após a chegada dos europeus ao continente Sul Americano. As civilizações pré-colombianas da América do Sul tinham nele sua base alimentar! Por favor, não pensem que quero desmerecer esse ótimo trabalho. Abraços.

    • É verdade, Samuel, vou checar a fonte desta informação…Samuel, chequei. Paul Johnson insiste que o milho era exportado ao tempo dos faraós. E, em seu livro, achei um hieróglifo que mostra as “medidas do Milho”. Encontrei também um desenho numa tumba mostrando agricultores de milho no Egito Antigo. Por isso deixo sua informação, confirmo que a maioria das fontes dizem que o milho é originário do México mas, algum engano deve haver. Paul Johnson é um dos mais respeitados historiadores ingleses. E as imagens falam por si. Abraços

      • Não poderia ser uma tradução equivocada de corn? Pois pode ser usada para definir cereais em geral, sem conotação para o milho (mayze) americano e sim para cereais (plantas cujas sementes possuem gérmen e farelo, de modo bem simplista) como o trigo, sorgo e outras gramíneas.

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