Defensores do oceano: cinco ativistas que alertam sobre as ameaças

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Defensores do oceano

Defensores do oceano: cinco ativistas que trabalham para alertar sobre as ameaças e proteger a biodiversidade marinha

por Renato Grandelle

Existem várias formas de combater a degradação dos oceanos e evitar a extinção de espécies cruciais para o ecossistema. Daniel Botelho fotografa operações de ambientalistas contra baleeiros. João Lara Mesquita denuncia a falta de planejamento das unidades de conservação do litoral brasileiro. Marcelo Szpilman mostra à população a importância dos tubarões e proporciona aos cientistas um local para estudar a biodiversidade marinha. Neca Marcovaldi já mapeou toda a costa do país em busca de ninhos de tartaruga e, em 35 anos, salvou 20 milhões de animais. Ricardo Gomes produziu um documentário sobre o desaparecimento de espécies nos últimos 15 anos das praias da Zona Sul carioca.

Conheça aqui a história de cada um deles e que recado seus trabalhos podem mandar à sociedade no Dia Mundial do Meio Ambiente.

Daniel Botelho: ‘Sou um fotógrafo de guerra’

Defensores do oceano, imagem de daniel-botelho
Defensores do oceano. Daniel Botelho

Enquanto você lê esta reportagem, o fotógrafo Daniel Botelho, de 34 anos, está mergulhando entre tubarões brancos em Gansbaai, na África do Sul. É uma ocasião especial: ele completa dez anos de carreira voltando ao ponto em que deu tudo começou. Além da missão sul-africana, Botelho comemora o sucesso de sua vida profissional com uma exposição no Museu do Louvre, em que antecipa algumas imagens que devem ser publicadas em um livro, previsto para o ano que vem. Outra função também merece espaço na agenda — há cerca de quatro anos, o brasileiro é embaixador da ONG Sea Shepherd, que combate o massacre a baleias e tubarões.

Acompanhei algumas operações em alto mar, onde o instituto ataca os caçadores de tubarões

 Os peixes são capturados para extração das barbatanas, e o resto do corpo é jogada no oceano. Também me deparo com a ação de baleeiros enquanto faço outras viagens, o que deflagra novas reações dos ambientalistas. Todas as ações são feitas em duas etapas. Uma é burocrática e ocorre dentro de escritórios. Eu estou na ponta oposta. Sou um fotógrafo de guerra.

Botelho chamou a atenção da ONG por seu registro de animais pouco conhecidos. O principal é o peixe-lua, que passa quase o dia inteiro em regiões de grande profundidade.

— Postei a foto de um deles na internet e ela foi compartilhada milhares de vezes. É, sem dúvida, o principal trabalho da minha carreira — conta. — Encontrei-o apenas em dois lugares, próximo à Indonésia e a San Diego, nos EUA. Nos próximos anos, vou continuar atrás dele. E, também, quero me dedicar mais ao flagrante de espécies mortas para o comércio ilegal.

João Lara Mesquita: ‘Legislação é um engodo’

Defensores do oceano, imagem de joao-lara-mesquita
Defensores do oceano. João Lara Mesquita

A Área de Proteção Ambiental (APA) de Cairuçu, na costa de Paraty, tem dez espécies ameaçadas de extinção, distribuídas entre cerca de 32 mil hectares, a área somada de suas mais de 60 ilhas. Fiscalizar uma região com essas proporções é um desafio. No entanto, se não há sequer um barco disponível, a missão torna-se impossível.

A precariedade da APA fluminense foi registrada pelo jornalista e navegador João Lara Mesquita, de 59 anos. Criador do Programa Mar sem Fim, ele começou, no ano passado, uma série de visitas às 62 unidades de conservação marinhas federais. A jornada começou no Rio Grande do Sul e, em dezembro, chegará ao Amapá, seu destino final.

O navegador recomenda que o governo abra as unidades para pesquisa científica, invista em projetos turísticos e regularize a situação fundiária de cada região, evitando ações do poder privado

— Visitei cerca de 35 unidades de conservação, e 30 ainda estão no papel. A legislação é um engodo — critica Mesquita, que exibe suas impressões em um programa dominical na TV Cultura. — O brasileiro deu as costas para o mar. Mais de 90% dos ecossistemas são costeiros, como os mangues, os costões rochosos e os corais, que ficam a até 100 metros da praia. Nossa ignorância sobre o oceano é brutal.

Marcelo Szpilman: um aquário para a ciência

Defensores do oceano, imagem de marcelo-spitzman
Defensores do oceano .Marcelo Szpilman

Baleias, peixes-bois e tartarugas sempre atraíram a atenção do biólogo marinho Marcelo Szpilman, de 54 anos. Mas nenhum chega aos pés dos tubarões. Além de comandar um projeto voltado exclusivamente para os grandes peixes, Szpilman vai colocá-los como a maior atração do Aquário Marinho do Rio, o primeiro grande empreendimento privado em construção na Zona Portuária.

— Teremos um tanque exclusivo para eles. Haverá espécies como o tubarão-lixa e o bambu. Estamos pensando em trazer o galhudo de Portugal — cogita o biólogo, diretor-presidente do Aquário. — Eles viriam de avião, porque transportá-los de barco demora muito.

Mais de 200 operários trabalham na construção do Aquário

Mais de 200 operários trabalham na construção do Aquário, que deve ser inaugurado em março de 2016. Em seus 28 tanques estarão 8 mil animais de 350 espécies. Cerca de 2 milhões de visitantes são esperados por ano. Além de atrair os curiosos, Szpilman quer também estimular a pesquisa científica.

— As universidades terão um local para estudar a reprodução e o comportamento dos peixes — comemora. — No mundo inteiro, 80% das pesquisas de recifes de corais são feitas em aquário. Agora, o Rio terá uma estrutura que dará suporte à ciência.

Neca Marcovaldi: 20 milhões de tartarugas na praia

Defensores do oceano, imagem de neca-marcovaldi
Defensores do oceano. Neca Marcovaldi

Trinta e cinco anos atrás, o governo brasileiro assinou um acordo internacional em que se comprometia a proteger as tartarugas marinhas — em nossa costa, estão cinco das sete principais espécies do mundo. Para cumprir a promessa, o poder público apelou para um grupo de estudantes que ensaiava a formação de um programa voltado para estes animais. Os oceanógrafos e biólogos que fundaram o Projeto Tamar, na Bahia, foram convidados a mapear o litoral do país, buscando as áreas de desova dos animais. Cofundadora do Tamar, Neca Marcovaldi, de 56 anos, percorreu a costa a pé e de barca.

Os ovos da tartaruga eram comidos, enquanto a casca rendia produtos decorativos

— Os ovos da tartaruga eram comidos, enquanto a casca rendia produtos decorativos, como joias e brincos. Precisamos convencer os pescadores da importância da preservação — lembra. — Agora, eles nos ajudam a fiscalizar o litoral.

À noite, a equipe de Neca procura fêmeas, tira tecidos para fazer análise genética e marca o local dos ninhos. O monitoramento já rende frutos: o Tamar chegou este ano à marca de 20 milhões de filhotes soltos no mar. Sem o programa, provavelmente as espécies já teriam sumido.

— A primeira geração protegida por nosso trabalho está voltando à praia para desovar — comemora.

Ricardo Gomes: mar à beira do colapso

Defensores do oceano, imagem de ricardo-gomes
Defensores do oceano. Ricardo Gomes

Quem assiste de longe ao despejo de fezes e esgoto pelo canal do Jardim de Alah imagina que o mar de Ipanema não está para peixe. Apesar do cenário deplorável, cinco mergulhadores resolveram chegar mais perto e viram que ainda existe vida abaixo do rastro de fedor.

Durante 15 anos, um pescador de polvo, um garimpeiro, um surfista, um barraqueiro da praia e um porteiro mergulharam em Copacabana, Ipanema e Arpoador, acompanhados pela câmera do biólogo marinho Ricardo Gomes. Os passeios resultaram no documentário “Mar urbano”, que será exibido hoje, às 13h30m, no canal Futura.

O quinteto capitaneado por Gomes flagrou a frenética vida oculta no fundo do mar

O quinteto capitaneado por Gomes flagrou a frenética vida oculta no fundo do mar daquele trecho da Zona Sul do Rio. Polvos acasalando, a briga de cardumes de anchovas, o ir e vir de sardinhas miúdas, águas-vivas, tainhas e tartarugas. No entanto, a diminuição da quantidade de espécies com o passar dos anos chamou a atenção do documentarista.

— Chegamos ao ápice, um momento em que precisamos decidir se as próximas gerações conseguirão presenciar a vida no mar. Desde o início da produção do filme, reparamos que há cada vez menos dias de água limpa — alerta Gomes, que também se preocupa com os efeitos do aquecimento global sobre o oceano. — Por exemplo, nos últimos dois verões a água esquentou tanto que matou metade dos corais da Baía de Angra dos Reis.

Ironicamente, parte da vida marinha adotou o início do cano de esgoto do Jardim de Alah como habitat.

— Por ser uma estrutura de concreto no meio da areia, o início do tubo vira um recife artificial, o que proporciona o surgimento de uma fauna marinha ao redor dele — conta o documentarista. — Mas é claro que o melhor seria construir uma estação de tratamento que não levasse esgoto in natura para a praia, como tem ocorrido há 30 anos. Só assim evitaríamos o colapso ambiental.

Fóssil marinho raríssimo é encontrado

Comentários

2 COMENTÁRIOS

  1. SENHORES DEFENSORES DO LITORAL BRASILEIRO, A PRAIA DE MOCOCA EM CARAGUATATUBA, LITORAL NORTE DE SÃO PAULO, ESTÁ DE LUTO, FOI FECHADA PELA PREFEITURA LOCAL, PARA CONSTRUÇÃO DE CONDOMÍNIO ( OBS) DE QUEM É NOSSO LITORAL, SOCORRO, MAIS DESMATAMENTO E ESPAÇO .SOCORRO A QUEM DE DIREITO.

    • Olá, Rosa, sinto saber disso. No momento não posso fazer grande coisa. Estou gravando programas em Maceió. Sugiro que vcs se reunam e façam barulho. Denunciem para os jornais, procurem ONGs, enfim, protestem. Conte com meu apoio mesmo que à distância.abraços

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