Singapura aumenta seu litoral na contramão do mundo: entenda como
Achei interessante quando vi uma matéria sobre um pequeno país que está fazendo o oposto do mundo. Enquanto a maioria dos países à beira-mar perde terreno para a erosão, acirrada por eventos extremos e aumento do nível do mar, Singapura está aumentando o seu. Situada no Sudeste Asiático, a cidade-Estado tem uma área pequena, cerca de 618 km² de extensão, na maior ilha da península da Malásia, entre a Tailândia e Indonésia. E, além do feito de produzir milionários em série, é o único país até agora a conseguir aumentar seu território ‘alargando’ o litoral. Como é possível? Quem explica é a Bloomberg.
A luta contra os elementos para economizar US$ 50 bilhões em imóveis
Antes de mais nada, alguns dados sobre como este país, sem recursos naturais e que só conseguiu sua independência do Império Britânico em 1965, logrou ser hoje uma potência econômica.
Saiba que desde a independência Singapura cresce a uma média de 7,5% ao ano. Seu PIB per capita é 3,5 vezes maior do que o da Malásia, 2,2 vezes maior que o do Reino Unido e 6,6 vezes maior do que o do Brasil.⠀
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemA repercussão da retomada da análise da PEC das Praias pelo SenadoOutro navio de Vasco da Gama encontrado ao largo do QuêniaDecisão do STF proíbe criação de camarão em manguezaisLee Kuan Yew, primeiro-ministro que governou desde a independência até 1990, dá a receita: “Abandonamos o modelo de industrialização baseado no protecionismo. Enquanto a maioria dos países do Terceiro Mundo denunciava a exploração das multinacionais ocidentais, nós as convidamos para ir a Singapura. Conseguimos crescimento, tecnologia e conhecimento científico. Estes predicados dispararam nossa produtividade de uma maneira mais intensa e acelerada do que qualquer outra política econômica alternativa poderia ter feito.”
Não resisto em chamar a atenção para o Brasil estatizante de Lula da Silva. De acordo com o site Heritage, ‘A pontuação de liberdade econômica de Singapura é de 83,9, tornando a sua economia a 1ª mais livre no índice de 2023. Enquanto isso, no mesmo período, a pontuação do Brasil é de 53,5, ou o 127º lugar.
PUBLICIDADE
A façanha mais recente
Posto isto, vamos à mais recente façanha. De acordo com a Bloomberg, desde que conquistou a independência, Singapura tem batalhado para aumentar seu território, centímetro por centímetro, com muita dificuldade. Na ponta da península da Malásia, essa cidade-estado foi juntando areia pra expandir a beira do mar e ganhar terra do oceano.
Nesse tempo, Singapura cresceu em tamanho, ficando um quarto maior e ganhando mais do que o dobro do tamanho de Manhattan. E ainda querem mais: planejam crescer mais 4% até 2030. Isso é incrível, especialmente considerando que muitas outras áreas costeiras estão encolhendo por causa das mudanças climáticas.
“Não pretendemos perder permanentemente nenhum centímetro de terra”
A afirmação é de Ho Chai Teck, vice-diretor da PUB, a agência governamental que coordena o esforço para salvar a costa. “Singapura construirá uma linha contínua de defesa ao longo da costa. Isso é algo que levamos muito a sério” (é triste saber que Marina Silva permite acontecer o contrário).
Só para ter uma ideia, saiba que quase um terço do país está a menos de 5 metros acima do nível do mar! E olha só, segundo a Bloomberg, algumas das propriedades mais caras estão em áreas vulneráveis, tipo os arranha-céus em Marina Bay, conhecida por seu luxuoso shopping center e cassino, e as torres que abrigam bancos gigantes.
A Bloomberg estima, com base em dados da empresa de imóveis CBRE Group Inc., que as propriedades de alto padrão na cidade valem incríveis US$ 50 bilhões! E o professor Benjamin Horton, da Universidade Tecnológica de Nanyang em Singapura, explicou à agência de notícias:
“O valor real de cada metro quadrado é extraordinário. Este é um país mais suscetível à subida do nível do mar do que praticamente qualquer país do mundo.”
Desse modo, em 2019, o primeiro-ministro Lee Hsien Loong disse que Singapura precisaria gastar 100 bilhões de dólares (de Singapura) nos próximos 100 anos para se proteger contra a subida do nível do mar. Desde então, o governo destinou 5 bilhões de dólares (de Singapura) para um fundo de proteção costeira e contra inundações.
Um dia de passeio de bicicleta pelos caminhos costeiros de Singapura, diz a Bloomberg, irá levá-lo a passar por arranha-céus brilhantes e represas pitorescas, praias e manguezais – cenas diversas que deixam claro como o país deve adaptar cuidadosamente a sua abordagem.
PUBLICIDADE
A Marina Barrage
Uma das soluções é uma barragem chamada Marina Barrage (vale visitar o site da barragem). No interior, sete bombas gigantes drenam o excesso de água para o mar durante a maré alta e chuvas extremas.
Hoje, cerca de 70% da costa de Singapura já tem barreiras feitas pelo homem para proteção. Mas, com o aumento das tempestades tropicais e a elevação do nível do mar, eles vão precisar reforçar e melhorar essas defesas.
“Temos que olhar para isto de uma forma muito dinâmica”, disse Grace Fu, ministra da sustentabilidade e do ambiente (Acorda, Marina!), num evento de lançamento de um novo instituto de proteção costeira e contra inundações.
A Bloomberg diz que outras coisas que podem fazer são aumentar a altura dos diques nos reservatórios à beira-mar, usar comportas de maré que bloqueiam a água e criar mais aterros.
As empresas também estão fazendo sua parte. A imobiliária City Developments Ltd. colocou barreiras e sensores de nível de água no hotel St. Regis Singapore, no shopping Palais Renaissance e no arranha-céu Republic Plaza.
A importância dada ao manguezal (desprezado no Brasil) em Singapura
Na Reserva Sungei Buloh Wetland, as raízes dos manguezais têm todos os tipos de configurações. As árvores tropicais florescem nas águas salgadas das marés. Suas grossas raízes e troncos acima do solo quebram as ondas e retêm sedimentos – formando uma barreira natural à elevação do nível do mar.
Para proteger as praias direito, os manguezais precisariam ser bem extensos, com centenas de metros. Em Singapura, eles conseguem reduzir a altura das ondas de tempestade em mais de 75%. E, ainda por cima, essas florestas de mangue capturam até quatro vezes mais carbono do que as florestas tropicais (viu, Marina?).
PUBLICIDADE
O país trabalha em conjunto com as universidades que estudam o problema e sugerem soluções, como mostra o artigo Mangroves, a crown jewel of Singapore’s coastline (Manguezais, joia da coroa do litoral), da Universidade Nacional de Singapura.
Só que os manguezais sozinhos não dão conta do recado. Singapura está pensando em usar as árvores junto com outras barreiras, tipo revestimentos feitos de pedra ou concreto. Eles estão testando essa combinação no Parque Natural Costeiro de Kranji, perto da reserva de zonas úmidas, e na ilha Pulau Hantu, na costa sul.
Singapura incentiva o crescimento de mais mangais
Os paredões e revestimentos existentes em Singapura não limitam uma solução natural. Singapura incentiva o crescimento de mais habitats de mangais, diz Daisuke Taira, investigador de mangues do Centro de Soluções Climáticas Baseadas na Natureza da Universidade Nacional de Singapura.
Em Pulau Tekong, que é uma ilha no nordeste de Singapura, eles estão usando máquinas enormes. Os trabalhadores estão lá, firmando o solo e instalando uma rede de drenos e bombas que foram planejadas meticulosamente.
O equipamento coleta e canaliza a água da chuva para um lago. O excesso, então, é bombeado para o oceano. Este sistema, juntamente com os muros marítimos, e manguezais, permite a Singapura fazer algo extraordinário: recuperar terras que estão abaixo do nível do mar.
No fim das contas, é uma combinação de decisões políticas, ciência e investimentos bem-feitos na hora certa. Singapura largou na frente, e hoje dá exemplo. Enquanto isso, nos últimos quatro anos, muitos manguezais no Brasil foram aterrados por prefeitos sem noção, com apoio total da ganância imobiliária e conivência do governo.
PUBLICIDADE
Singapura e o ensino
Matéria do Fórum Econômico Mundial de 2015 perguntava desde o título: A Educação é o segredo do sucesso de Singapura? Primeiro parágrafo: “As conquistas de Lee Kuan Yew (o primeiro-ministro até 1990) têm sido objeto de muita discussão global desde sua morte. Mas um aspecto de seu sucesso tem sido pouco mencionado: os investimentos que ele e seus sucessores fizeram na educação. Sua estratégia, ele costumava observar, era “desenvolver o único recurso natural disponível de Singapura, seu povo”.
“Hoje, Singapura se classifica rotineiramente entre os melhores desempenhos em nível educacional, conforme medido pelo Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (PISA) da OCDE.”
Preste atenção na data do texto: 2015. Agora, saltemos para o resultado do PISA de 2022, coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, que acaba de ser divulgado. Antes, saiba que o PISA acontece a cada três anos, para avaliar e analisar o desempenho de estudantes de 81 países nas áreas de matemática, leitura e ciências.
Em 2022 o Brasil pontuou 379 em matemática, 410 em leitura e 403 em ciências. Com esses números, o País ocupa as 65ª, 52ª e 61ª posições nas áreas do conhecimento, respectivamente.
Segundo o site da OCDE, ‘Singapura obteve uma pontuação significativamente maior, em média, do que todos os outros países e economias que participaram do PISA 2022. Em matemática 575 pontos, leitura 543, e ciências, 561.
Acorda Brasil!
Assista a animação da Nasa sobre os motivos da subida do nível do mar
Assista a este vídeo no YouTube
Imagem de abertura: William Cho
O declínio do berçário da baleia-franca e um alerta aos atuais locais de avistagem
Brasil cultura mediocre e de desleixos com estes defeitos tem aversão a empenhos, país nato da preguiça.
Parabéns, tenho certeza que seu trabalho é lido por muitos.
Muito obrigado, Luiz Carlos, abraços
Poderíamos começar com uma população equivalente ?
Como sempre, acertivo e sensato em seus textos! Parabéns pelo bonito trabalho!
Eu tenho uma curiosidade muito grande sobre a origem de Singapura, colônia inglesa até 1965. Também já li que foi “rejeitada” pela Malasia por ser um “território inútil”. Seria – até onde conheço -, o único caso de um país (Malásia) botar fora parte de seu território. Isso realmente ocorreu? Para além disso nos resta admirar este maravilhoso e próspero país.
E alguém acredita que essas duas mulas conseguem aprender alguma coisa?
Belíssima iniciativa….!!!!