Balneário do Hermenegildo: construções em cima de dunas é estupidez. Ressaca destrói 80 casas
A maioria das pessoas que frequenta o litoral não têm a menor noção sobre onde podem, ou não, construir. A vontade de “ter vista pro mar”, o egoísmo de querer sua casa ‘pé na areia’, na frente das outras, e a ignorância quase absoluta sobre a função de cada ecossistema marinho está destruindo o litoral e causando enormes prejuízos. Foi o que aconteceu no Balneário do Hermenegildo, RS.
Ressaca destrói mais de 80 casas no Baleneário do Hermenegildo: entenda a função das dunas
Hermenegildo fica quase na divisa do Brasil com o Uruguai, a poucos quilômetros do Chuí. Quando foi loteado pela especulação imobiliária as casas foram construídas em cima de dunas. Dunas têm uma porção de funções.
Elas não estão onde estão por acaso, mas em razão dos elementos naturais de determinada região: ventos, marés, ressacas; e ainda as subidas e descidas do mar. Elas protegem a costa contra a erosão natural, asseguram a qualidade da água dos lençóis freáticos ao agirem como filtros da água da chuva. E ainda são um importante ecossistema para a flora e a fauna.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemVírus da gripe aviária mata milhões de aves mundo aforaArquipélago de Mayotte, no Índico, arrasado por cicloneAcidente com dois petroleiros russos ameaça o Mar NegroDunas são Áreas de Preservação Permanente, APPS, onde é proibido construir
Uma das funções das dunas é devolver a areia da praia que as ondas, ressacas, e a erosão natural tiram daquele espaço. O vento leva grãos de areia das dunas para o mar. As ondas do mar devolvem estes grãos para as praias, assim mantendo o que os acadêmicos chamam de ‘equilíbrio dinâmico’.
Ao impedirem que esta função continue, em razão da construção em cima das duas, o processo de erosão acelera. E quando vem as ressacas, a praia é “comida” sem ter a reposição natural.
PUBLICIDADE
Era o que vinha acontecendo no Baleneário do Hermenegildo. Desde minhas primeiras viagem pela costa brasileira, tenho visto e alertado sobre este problema. A primeira vez que estive no Hermenegildo fiquei impressionado.
Corria o ano de 2007, e as casas já estavam sendo tragadas pelo mar. Conversei com dois professores da FURG sobre o assunto. Lúcia Anello, e Lauro Barcellos. Eu queria saber, quais, na opinião deles, eram os maiores problemas do litoral do Rio Grande do Sul.
Leia também
Arquipélago de Mayotte, no Índico, arrasado por cicloneVila do Cabeço, SE, tragada pela Usina Xingó: vitória na JustiçaDesastres naturais e o custo para as seguradorasAmbos deram a mesma resposta: a ignorância das pessoas que andam de carro nas praias, como se elas fossem estradas, e não um importante ecossistema marinho; a pesca de arrasto; o reflorescimento na planície costeira gaúcha; e as construções irregulares na orla.
Quando perguntei qual exemplo de construções irregulares poderiam citar, ambos citaram o Balneário do Hermenegildo. Portanto, não é fato novo. Ao contrário. Não faltaram os alertas da comunidade científica. Mas os egoístas que ‘querem ter vista para o mar’ não deram ouvidos. O resultado veio agora.
100 casas destruídas: prefeitura de Santa Vitória dos Palmares pretende decretar estado de emergência
A ressaca foi demais para o Hermenegildo. As fotos falam por si. O pior é que isto não acontece só no Rio Grande do Sul. Em todo o litoral é assim, seja em Santa Catarina, em Atafona, no norte fluminense, ou na foz do São Francisco.
Mas, o mais impressionante, é que o poder púbico ignora a situação, e não age. Pior para nós. O prejuízo, pago com nossos impostos, será muito maior.
Conheça outros absurdos da especulação imobiliária na costa brasileira.
Ótima matéria. As respostas dos proprietários das casa que invadiram área costeira e ficaram incomodados com o obvio só mostra sua ignorância que acabam culpando o aquecimento global, os moles e, pasmem, o poder público em não ter impedido de fazer bobagem. Se forem no google eathe e olharem o balneáreo fica evidente que há uma faixa de 2 quadras que estão exatamente na posição onde deveria haver dunas. Inclusive recomendo que adicione esta imagem na reportagem,
Essas casas não foram construídas em lugares errados pois havia um grande cordão de dunas a frente de todas essas casas antigamente, já muitas fotos de 1970 80 comprovam, o que aconteceu foi uma erosão no ecossistema local e avanço periódico das marés, na descida da Santa onde a ressaca causou vários estragos, minha mãe lembra que havia dunas e tinha que caminhar bastante até chegar no mar!
Responsáveis por tudo isso nós sabemos quem são; são os políticos que nada fazem em nosso favor; não exercem as suas funções com a responsabilidade que deveriam, se vendem, se corrompem. O fim é esse aí. Onde estão os prefeitos, governadores e Ministério Público?
Boas Tarde
Não construimos casas em cima das dunas, basta ver vidêos de 1978 da RBS, o que de fato acontece é que com o avanço dos molhes do Porto de Rio Grande, mais o aquecimento global, associado ao polo magnético sul, grande massa de agua avança sobre o continente.
Olá, Maurício, obrigado pelo correio. Quando etive por aí entrevistei dois professores da FURG: Lucia Anelo, e Lauro Barcelos, diretor do Museu da FURG e oceanógrafo. Ambos citaram o Balneário do Hermenegildo como tendo sido erguido, muito tempo atrás, em cima de área de dunas. Talvez vc nem saiba, ou não se lembre, não sei. Mas o fato é que eles são reconhecidos por sua competência. E os dois disseram a mesma coisa. abraços, volte sempre!
Desculpe a demora. aqui as ressacas aceleraram tempos após o avanço dos molhes. Na Europa não se constrói ou avançam molhes sem estudos de impacto em uma área de 250 a 400km no entorno. Creio que até o próximo avanço eu possa entrar na justiça para impedir o avanço sem antes ter um bom estudo. uma das casas que ruiu ao mar foi a minha e jamais recebi a visita dos Doutos Professores citados.Abraços.
Maurício: É vero que construções que avançam para o mar, como os molhes de Rio Grande, causam, sim, aceleração da erosão.Obrigado pela mensagem. abs
Olá, sou de Santa Vitória do Palmar e sei – há muito tempo – dos problemas que as construções sobre as dunas estão trazendo. Porém, gostaria de fazer uma correção na matéria onde o senhor diz que a casa da foto tirada em 2014 por você mesmo foi destruída na última ressaca e que “foi inútil o gasto com o muro de pedras”. Essa casa, embora se localize bem a frente das outras, ou seja, mais próxima do mar, foi uma das poucas que permaneceu em pé na costa. Posso dizer ainda que a estrutura permaneceu praticamente intacta e afirmo que foi devido as contenções de pedra utilizadas há anos ao redor da construção recebendo manutenções periódicas.
Olá, Paloma, obrigado pela mensagem. Ok, então ela ficou de pé devido ao muro. Como todas as outras caíram imaginei, erradamente, que ela também havia caído. Agradeço pela correção. Apenas fico imaginando o custo desta manutenção…deve ter sido bem cara. E ela vai ter que continuar ad aeternum já que a casa foi erguida em local impróprio. Se pararem, a ressaca leva. Valeu a pena construir em local errado? Fica minha pergunta. Abraços, volte sempre.