Energia nuclear e aquecimento global, escolha de Sofia?
A escolha que fica depois de lermos ‘We Can’t Solve Climate Change without Nuclear Power‘ (em tradução livre, ‘Não conseguiremos resolver as alterações climáticas sem energia nuclear’), é mesmo a escolha de Sofia? O artigo foi publicado em maio de 2019, assinado por Daniel B. Poneman, no Scientificamerican. No momento em que o mundo sob a liderança de Joe Biden decide finalmente combater o aquecimento global, com países diminuindo suas projeções de gases de efeito estufa, o artigo fica ainda mais atual. Aquecimento global e energia nuclear é o tema que repercutimos hoje.
‘Energia renovável e tecnologias de captura de carbono são importantes – mas não nos levarão até lá’
O texto de Poneman começa com este pontapé. Ele explica: “Energia renovável, tecnologias de captura de carbono, medidas de eficiência, reflorestamento e outras medidas são importantes. Mas não nos levarão até lá. A ameaça existencial da aniquilação nuclear não desapareceu quando a Guerra Fria terminou. Agora enfrentamos uma segunda ameaça existencial da mudança climática. Diante dessas ameaças gêmeas, a liderança nuclear norte-americana é tão crítica em 2019 quanto em 1954.”
‘Energia nuclear é a maior fonte de energia livre de carbono’
“A energia nuclear é a maior fonte de energia livre de carbono nos EUA (e no mundo, acrescentamos) por uma margem enorme. Ela tem um papel importante a desempenhar no enfrentamento do desafio climático global.”
“Mas também devemos estar vigilantes quanto à possibilidade de as armas nucleares caírem nas mãos de terroristas ou de regimes desonestos. A ameaça da proliferação nuclear no exterior não deveria nos levar a abandonar a energia nuclear em casa. A liderança nuclear norte-americana sempre foi fundamental para orientar o uso seguro e responsável da energia nuclear civil em todo o mundo.”
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“A liderança americana em tecnologias nucleares é igualmente importante quando se trata do desafio climático. Já se passaram três anos desde o Acordo Climático de Paris. Mas o mundo já está muito aquém de seus compromissos coletivos para reduzir as emissões.”
“Mesmo que todas as nações atingissem 100% das reduções prometidas em Paris, o mundo não chegaria nem perto do objetivo de limitar a elevação da temperatura a 2ºC em relação aos níveis pré-industriais. Na maioria dos cenários, cujo alvo é de 1,5ºC, a energia nuclear teria que dobrar. Aumentos projetados em energia renovável e planos para investir em tecnologias de captura de carbono, medidas de eficiência, reflorestamento e outras, são importantes mas não nos levarão até lá.”
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Aquecimento global e energia nuclear, conclusão da Agência Internacional de Energia
A Agência Internacional de Energia concluiu que atingir a meta de 2ºC exigirá a duplicação da contribuição da energia nuclear para o consumo global de energia em meados do século.
No final de 2018 o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima chegou a uma conclusão semelhante. Para o IPCC, na maioria dos cenários consistentes com a meta de 1,5ºC, a energia nuclear teria que mais que dobrar.
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“Ela é formada por 98 reatores. São o carro-chefe do setor de energia limpa. Fornecem um quinto da eletricidade no país. “Infelizmente”, escreve Poneman, “nos últimos anos, seis reatores foram desligados prematuramente e outros 12 devem ser fechados nos próximos sete anos.”
“Republicanos e democratas em estados como Illinois, Nova York e Nova Jersey tomaram medidas para estabelecer “créditos de emissão zero” para que os mercados reflitam melhor o valor da energia livre de carbono, como nuclear e renovável. Mas as soluções estatais são um substituto imperfeito para o que deveria ser uma ação federal e nacional para reformar esses mercados. Preservar os reatores existentes pode não parecer excitante, mas é um primeiro passo crítico se levarmos a sério o desafio climático.”
648 milhões de galões de gasolina representam um reator a menos
“Considere que, para cada reator que fecha prematuramente, nossas emissões de dióxido de carbono aumentam em cerca de 5,8 milhões de toneladas por ano. Segundo a Calculadora de Equivalências de Efeito Estufa da Agência de Proteção Ambiental, isso equivale às emissões da queima de mais de 648 milhões de galões de gasolina – o equivalente a encher um estádio da NFL com gasolina e incendiá-lo.”
“Para compensar, precisaríamos plantar mais de 95 milhões de árvores. Ou instalar painéis solares em um milhão de residências. E descobrir uma maneira econômica de armazenar a eletricidade, de modo que ela esteja disponível dia e noite.”
Aquecimento global e energia nuclear: novos projetos aprovados
“É revelador que, apesar da política polarizada do dia, dois projetos de lei que promovem a liderança norte-americana em energia nuclear foram aprovados no Congresso em 2018. Foram eles, a Lei de Capacidades de Inovação de Energia Nuclear, e a Lei de Inovação e Modernização de Energia Nuclear. Juntos, parceiros públicos e privados podem conduzir uma nova geração de reatores nucleares menores, mais baratos e mais seguros, que satisfaçam as crescentes demandas de energia do mundo. Reduzindo as emissões de carbono e reduzindo os riscos de proliferação.”
Aquecimento e energia nuclear têm outros defensores
E, agora, como ficamos? Problemas, sabemos que existem. Basta lembrar Fukushima. Mas não apenas. Recentemente foram verificados nos locais mais remotos do planeta níveis altos de radiação provenientes dos testes nucleares.
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Daniel B. Poneman não está só em suas conclusões. Recentemente, em entrevista a este site o cientista Ricardo Galvão respondeu à pergunta: o que seria melhor, ou menos ruim, mais hidrelétricas na Amazônia ou energia nuclear? A resposta de Galvão não foi diferente dos argumentos aqui apresentados.
Bill Gates, defende a energia nuclear
O bilionário fundador da Microsoft, Bill Gates, acaba de ter seu livro Como Evitar Um Desastre Climático publicado no Brasil, pela Companhia das Letras. Nele, Gates discute as soluções que temos em mãos, e as inovações que são necessárias para a imprescindível descarbonização.
Sobre a energia nuclear ele diz: “Eis a grande vantagem da energia nuclear, é a única fonte energética livre de carbono capaz de fornecer eletricidade confiável noite e dia, em todas as estações do ano, praticamente em qualquer lugar da Terra, que se mostrou capaz de funcionar em larga escala.”
Energias solar e eólica combinadas geram 7% da energia elétrica mundial
“Os Estados Unidos geram cerca de 20% de sua eletricidade em usinas nucleares, a França apresenta a maior proporção mundial, 70% de sua eletricidade a partir de energia nuclear.” E conclui Gates, “lembre que as energias solar e eólica combinadas, por sua vez, fornecem cerca de 7% da energia elétrica gerada no mundo todo.”
Por apenas este trecho pode parecer que Bill Gates seja contrário às energias renováveis geradas pelo sol ou pelo vento, ao contrário, é um grande defensor. Ele apenas lembra que são energias intermitentes, dependendo do local em que estejam, da força dos ventos em determinada época do ano, e da duração do dia no caso da energia solar.
E conclui: “É difícil prever um futuro em que descarbonizaremos nossa rede elétrica a custos acessíveis sem o uso de energia nuclear. Em 2018, pesquisadores do Massachusetts Institute of Tecnology analisaram quase mil possibilidades para chegar à emissão zero nos Estados Unidos; todos os caminhos mais baratos envolviam o uso de uma energia limpa e permanentemente disponível – como a energia nuclear. Sem uma fonte deste tipo, chegar à eletricidade de carbono zero custaria bem mais.”
Os problemas das usinas nucleares
Para Bill Gates, “não é segredo que a usina nuclear tem seus problemas. É muito cara de ser construída atualmente. Erros humanos causam acidentes. O urânio, combustível empregado, pode ser convertido para uso em armamentos. O resíduo radiativo é perigoso e complicado de armazenar.”
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“Acidentes famosos em Three Mile Island, nos Estados Unidos, Tchernobil, na antiga União Soviética, e Fukushima, no Japão, chamaram a nossa atenção para estes riscos. Problemas reais levaram a estes desastres, mas, em vez de trabalhar para solucioná-los, simplesmente paramos de tentar fazer o setor progredir.”
Em seguida ele provoca: “Imagine se todos chegassem a um consenso e dissessem: Ei, os carros estão matando as pessoas. Eles são perigosos. Vamos parar de dirigir e desistir desses automóveis.”
“Isso seria ridículo, claro. Fizemos o exato oposto: usamos a inovação para tornar os carros mais seguros. A energia nuclear mata muito menos gente do que os carros. Aliás, mata muito menos gente do qualquer combustível fóssil. Mesmo assim, deveríamos aperfeiçoá-la, da mesma forma como fizemos com os carros, analisando os problemas um por um e nos propondo a resolvê-los com inovação.”
E você, acha que é esta a escolha que teremos de fazer?
Imagem de abertura – The Ecologist
Fonte – https://blogs.scientificamerican.com/observations/we-cant-solve-climate-change-without-nuclear-power/?redirect=1; Como Evitar Um Desastre Climático, de Bill Gates, Cia. das Letras,.
Segue um ponto de vista pra complementar a reflexão dos leitores. Não deixem de procurar diferentes pontos.
https://www.nextbigfuture.com/2019/05/nuclear-is-still-cheaper-and-safer-than-solar-and-wind.html?amp
Nao há escolha de Sophia: energia nuclear é imprescindível para se conter o aquecimento abaixo de 2 graus centígrados. É uma das fontes mais seguras e limpas que existe e seu único azar é ter no nome “nuclear ou atômica”. Se usinas nucleares tivessem surgido antes da bomba sua imagem seria outra. Mesmo considerando Chernobyl e Fukushima, a energia nuclear provocou muito menos fatalidades ou sequelas que qualquer outra fonte em uso. Fukushima provocou zero fatalidades (ou uma, dependendo do critério) e Chernobyl provocou menos de 100 mortes diretas e nenhum impacto mensurável na flora e fauna da regiāo. Em que pese o crescimento de eölica e solar a nuclear ainda domina de longe a produçāo mundial de energia limpa, de carbono. O IPCC recomenda a manutenção e expansão do parque nuclear porque sabe da sua necessidade na guerra contra o aumento da concentração de CO2 na atmosfera. Usinas a carvão e a gás natural provocam quase 1 milhão de mortes prematuras por ano. Sem falar custos indiretos ligados a serviços hospitalares, perda de qualidade de vida, absenteísmo, etc.
Em minha opinião o uso de energia nuclear será a ecolha de Sofia e final. Ahh e os acidentes nucleares e radiaçõe? No Brasil um empresas privada (VALE) se arvorou no DIREITO de matar cerca de umas 400 pessoas e por ataccado com descasos e jamais saberemos quantas outras foram assassinadas em acidentes que jamais chegaram ao conhecimento das mídias e a vergonha, se veiculam que barragens podem estourar como se fossem fogos de artificios. Adicionem-se aos assassinatos legais os ditos ilegais que devem passar tranquilamente de 120.000 por ano e mais algumas dezenas de milhares por total omissão do Estado Brasileiro.
Então por que temer usinas nucleares que não ocuparão milhares de alqueires de terras produtivas transformados em lagos imundos e contaminados? As usinas nucleares são portáteis ou seja podem ser instaladas em grandes locais de consumo e sem os milhares de quilômetros de cabos para transmissão. Alguns pseudos cientístas que se escoram em instituições que pouco conhecimentos detem e/ou desenvolvem e fazem terrorismos seguramente para atenderem interesses de quem os sustentam.
Acham que teremos furacões suficientes para acionarem os geradores eólicos? Acham que cobriremos o país inteiro com placas fotovoltáicas ou absorveremos energias das marés sem que façamos controle de natalidade e outros programas que tornem humanos mais úteis???
Para complementar seu ponto:
https://www.nextbigfuture.com/2019/05/nuclear-is-still-cheaper-and-safer-than-solar-and-wind.html?amp
Muita boa reflexão. Não existe solução perfeita, mas já existem dados e modelos suficiente para escolhas utilitárias que encontrem um ponto socialmente aceitável entre o risco e o benefício. Infelizmente o apoio popular será muito difícil para decisões que tragam risco no prazo de vida dos decisores ao prejuízo ou de gerações futuras ou de populações afetadas que não participam da decisão. Mesmo populações com maior acesso a informação tem optado por apoiar escolhas anti-nucleares e pró carbono como recentemente ocorreu na Alemanha onde as usinas nucleares estão em fechamento precoce e grandes investimentos tem sido feito em gás oriundo da Rússia.
Assumindo uma escolha utilitarista pró nuclear, a grande questão é… quem será a Sofia ?
Obrigado por divulgar esse interessante estudo. No entanto, a matéria não traz a reflexão que o título sugere, apenas reafirma o dilema e traz a opinião do autor no último parágrafo. Que tal complementar a matéria com entrevistas e pesquisas? Vamos a campo? Que tal complementar com um overview do panorama nacional? Saudações.
A Energia elétrica proveniente de um reator nuclear deveria ser melhor entendida antes de ser demonizada. Esta tecnologia evoluiu e já está chegando na sua geração 4, a qual utiliza de forma bastante eficiente o lixo nuclear, tem segurança passiva (que não depende de ação humana, e nem de máquinas, para se desligar sozinha) e, o melhor, não serve nem como desculpa para produzir bombas. Muito já se aprendeu com os erros do passado.
Paixões cegam as pessoas e nos levam para um abismo. O Piauí acaba de instalar a maior usina de energia fotovoltaica da América Latina, serão 600 GWh por ano ocupando uma área de 690 hectares. Neste caso, parece que ninguém está fazendo as contas ambientais de forma completa.
Além dos problemas associados com o balanço energético do sistema, são ridículos 9,92 Watts por hora e por m2. Menos de 10 Wh/m2, comparativamente a uma geração de forma regular e contínua. Isto significa menos de 10 Wh por m2 de área verde transformada em deserto, ou em área sombreada se preferirem. Sem árvores, ou plantas, estamos diminuindo a capacidade de sequestro de carbono que uma área verde seria capaz de realizar.
Testes nucleares e bombas não dependem da existência de muitos ou poucos reatores nucleares geradores de energia elétrica, são coisas distintas que sempre são misturadas para obtenção de efeitos políticos, seja para demonizar ou para justificar a indústria armamentista.
Não é uma escolha de Sofia, é consertar o terrível erro que foi condenar a geração de energia por reação nuclear baseando-se nas condições de segurança que tínhamos no passado e não pensando nas do futuro. Sabem as pessoas que são contra as vacinas? Ou as que pensam que a terra é plana? Foi o que aconteceu, a ignorância venceu o bom senso. Uma pena, hoje pagamos todos por uma decisão pouco científica tomada nas passeatas e manifestações anti-nucleares (e anti-americanas) e não nos meios acadêmicos..
Acho muito oportuno a criação do caderno “mar sem fim” pois possibilita que pessoas, como eu, não tem conhecimento tão vasto quanto cientistas e ambientalistas detêm a respeito do assunto das mudanças climáticas que começam a assolar a vida humana nesse planeta.
Enfim, gostaria de saber porque a comunidade científica ainda não adentrou no maior e mais importante debate do assunto, que é o estrago que nós humanos estamos causando aos oceanos?
Segundo consta em estudos, os mares são os maiores responsáveis pela preservação da vida na terra e de onde, provavelmente surgiu a primeira forma de vida no nosso planeta.
Como referência desse assunto sugiro o documentário Seaspiracy (Netflix) e não só por esse documentário, já leio e acompanho antes disso, vários estudos de pesquisadores (exemplo Silvya Earle e outros)