Agenda Verde avança, uma ótima notícia

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Agenda Verde avança, uma ótima notícia

Finalmente as boas notícias na área ambiental, até recentemente ausentes da mídia, começam a se tornar menos tímidas. Neste início de dezembro somam-se à eleição de Joe Biden no País mais rico do mundo e vice-campeão em emissões,  o cerco internacional aos veículos movidos a diesel e gasolina. Isso confirma que, para grande parte das economias mundiais, a maior ameaça à vida na Terra é o aquecimento global. Sem dúvida que a pandemia foi uma novidade terrível, mas ela tem data para acabar. O aquecimento, se o mundo não agir agora, não. A Agenda Verde avança, isto é uma ótima notícia.

infográfico sobre crescimento da agenda verde
Ilustração, https://news.umich.edu/.

Agenda Verde avança, uma ótima notícia

Em post recente sobre as eleições nos Estados Unidos mostrávamos que as promessas de emissão neutra por vários países foram além da expectativa. Não basta que alguém que desacredite no aquecimento deixe o cenário mundial pela porta dos fundos como aconteceu a Donald Trump. Era preciso mais. E este ‘mais’ nos chegou através de variados anúncios.

A sustentabilidade veio para ficar. Talvez precisássemos de um susto tremendo e global como tem sido com a covid-19. Mas entre os terríveis malefícios da pandemia houve ao menos um benefício. O mundo percebeu sua vulnerabilidade, independente do continente de cada país, ou de sua riqueza: foram todos atingidos com igual violência. E isto parece ter acordado do sono profundo as ações concretas que mal saíam das gavetas apesar dos alertas da ciência.

Agenda Verde e a Comunidade Europeia, Japão, Estados Unidos e até China

Ainda em dezembro a Comunidade Europeia anunciou que se tornará o primeiro continente neutro em emissões de carbono até 2050, lançando o chamado Green New Deal, ou ‘Pacto Verde’. Na sequência foi a vez do Japão. O primeiro-ministro Yoshihide Suga fez a promessa idêntica em seu primeiro discurso ao Parlamento logo depois da posse.

A China, o segundo maior emissor, e ainda com sérios problemas econômicos apesar do crescimento extraordinário de sua economia nas últimas décadas, prometeu a neutralidade para 2060. E, no país de Tio Sam, um negacionista foi pra casa enquanto Biden sinalizava ajudar o Brasil a manter suas florestas tropicais com até US$ 20 bilhões de dólares. Mas esta ajuda é apenas parte do plano norte-americano.

Joe Biden na Casa Branca sinaliza combate ao aquecimento

Ao anunciar seus primeiros planos de governo, e sua equipe, mais uma enxurrada de boas novas. Biden escolheu John Kerry para ser uma espécie de ministro do meio ambiente que até então não havia nos USA. E Kerry tem bom passado na área. Como secretário de Obama, foi ele quem costurou o Acordo de Paris na época em que era discutido.

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Em seguida, Biden também anunciou emissões neutras até 2050. Como disse o jornalista Flávio Tavares em artigo recente no Estado de S. Paulo,  ‘o espanto e o pavor criados pela covid-19 nos levaram, inconscientemente, a “esquecer” o perigo maior, para o qual não existe vacina obtida em pesquisa de laboratório’.

Flávio fez um rápido retrospecto dos alertas e ações mundiais sobre o perigo que paira na atmosfera do planeta maltratada por nosso estilo de vida, e que começou aqui mesmo no Brasil: “Na Conferência Mundial do Meio Ambiente de 1992, no Rio de Janeiro, 2030 marcava o ano máximo da “grande virada” para assegurar a vitalidade do planeta. As reuniões posteriores, já no século 21, remarcaram o prazo para 2050.”

Para além destas notícias, outros países apertam o cerco contra os emissores internos. A França acaba de criar o crime de ecocídio, criminalizando emissores internos, enquanto na Nova Zelândia o governo da primeira-ministra, Jacinda Ardern, deve declarar uma emergência climática em uma medida simbólica para aumentar a pressão pelo combate ao aquecimento global.

Melhor para o Brasil, até recentemente, líder na Agenda Verde

Estas medidas internacionais reforçam a posição brasileira cuja matriz energética é a mais limpa que existe na Terra com cerca de 37% produzida por  hidrelétricas, biomassa e outras, enquanto no mundo a porcentagem de energia limpa mal chega aos 20%. Ponto pra nós no novo normal que vem aí. É uma tremenda vantagem competitiva no cenário que se desenha.

E além disso, como se sabe, a maior porção das florestas tropicais do planeta, fundamentais como sumidouro de carbono ficam dentro de nossas fronteiras apesar de nunca antes terem sido tão ameaçadas. Mas ainda é tempo. Basta termos um governo não negacionista para o nosso futuro mostrar luzes verdes no horizonte.

Mas tem mais. Começa agora com mais empenho…

O cerco aos combustíveis fósseis

O Estado de S. Paulo em matéria de 5 de dezembro, assinada por Cleide Silva tem o sugestivo título ‘Cerco ao carro a gasolina cresce no mundo e pressiona petroleiras’.

No texto Cleide Silva explica porquê: ‘Vários países vêm anunciando prazos para o fim das vendas de veículos novos movidos a combustível fóssil, e empresas mais focadas em ‘energia limpa’ ganham espaço nas bolsas; para analistas, porém, gasolina e diesel ainda têm longa sobrevida’.

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O primeiro parágrafo diz tudo: ‘A Inglaterra anunciou, no mês passado, a antecipação, de 2035 para 2030, da proibição de venda de novos carros movidos a gasolina ou diesel’.

‘O Japão também deve anunciar em breve uma proibição parecida, que entraria em vigor em meados de 2030. A China prevê colocar em vigor essa regra em 2035’.

‘Nos Estados Unidos, o Estado da Califórnia informou em setembro que, também a partir de 2035, veículos novos movidos a gasolina ou diesel estarão fora do mercado. Com o avanço das discussões ambientais em todo o mundo, as limitações a esses carros deve aumentar cada vez mais. E isso tem colocado grande pressão sobre a indústria do petróleo’.

Como se sabe, os combustíveis fósseis são os maiores vilões do aquecimento. A transição já começou. Resta esperar que seja concluída o mais breve possível já que hoje, como diz a matéria, ‘a gasolina e o diesel movem cerca de 90% dos novos carros vendidos no mundo’.

Outras variantes demonstram que a transição para a economia limpa está em campo

Outro aspecto positivo é o ‘novo’ conceito econômico que ganha as manchetes, conhecido pela sigla ESG ou Environmental, Social and Governance  (Boa Governança Ambiental Social). É o lado bom da pandemia se mostrando.

Este conceito já é realidade no mercado financeiro envolvendo bancos centrais, fundos de pensão, seguradoras, e investidores mundo afora. Não por outro motivo, o Brasil assiste inerte a uma grande fuga de capitais em 2020. Como financiar nosso futuro sem ele?

Outra boa nova, e  motivo de comemoração, é que os principais bancos brasileiros, Itaú, Bradesco e Santander, anunciaram em dezembro que ‘vão usar recursos próprios para financiar cadeias produtivas na Amazônia, como anunciou O Estado de S. Paulo na primeira a semana de dezembro. Começa a acelerar o possível desenvolvimento sustentável da Amazônia, conforme já comentamos.

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Portanto, todas são medidas que vão ao encontro dos agentes econômicos que já tomaram um lado nesta questão. O único lado que nos resta: a boa governança ambiental.

 “O cerco está se fechando para que os países reduzam o uso de combustível fóssil”

Esta é uma declaração de Jaime Andrade, sócio da PwC Brasil, e que consta da matéria de Cleide Silva. A jornalista elenca alguns acontecimentos recentes que explicam a declaração de Andrade.

“Em outubro, um acontecimento do mercado financeiro acabou se transformando num marco desse novo mundo mais preocupado com questões ambientais. A NextEra, uma das maiores geradoras globais de energia solar e eólica, ultrapassou, em valor de mercado, a ExxonMobil, que já foi a maior empresa privada do mundo (depois, a Exxon voltou a ficar à frente).”

Mercado automotivo e a Agenda Verde

E mais: “No mercado automotivo, essa diferença fica ainda mais evidente. A fabricante de carros elétricos Tesla valia, na sexta-feira, US$ 567 bilhões. Isso é mais do que o valor, somado, de Toyota, Volkswagen, GM, Ford e Fiat Chrysler – empresas em que o carro movido a combustível fóssil ainda é majoritário.”

Na área de produção de automóveis não estamos tão adiantados quanto na matriz energética. Mas avançamos. A matéria do Estado cita  o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, que ‘ lembra que todas as matrizes das montadoras instaladas no Brasil estão ampliando a produção de automóveis eletrificados e as subsidiárias locais estão atentas a isso. “Sabemos, no entanto, que nossa velocidade (de troca dos carros a gasolina e diesel por elétricos) não será igual à da Europa, por exemplo.”

É verdade. Neste caso seremos mais lentos. Mas se fizermos a lição de casa e cessarmos a destruição ambiental, além de aproveitarmos a eleição de Biden para nos aproximarmos da maior economia mundial, não faltarão recursos para nos ajudar na tarefa. Precisamos apenas uma virada na política suicida adotada por quem já nos transformou em párias mundiais.

Felizmente, a reação a esta política negacionista cresce em Pindorama. Seja por bem, seja para não ficarmos isolados no concerto das nações, alguma mudança há de vir de Brasília. Os próximos meses serão cruciais.

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Não é ruim, nem desabonador, mudar quando percebemos o erro. O mundo parece ter percebido. Quanto à nós, o futuro próximo dirá.

Ilustração de abertura: https://news.umich.edu/.

Fontes: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,cerco-ao-carro-a-gasolina-cresce-no-mundo-e-pressiona-petroleiras,70003541018; https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,talvez-so-biden-nos-possa-salvar,70003538884; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,principais-bancos-privados-do-pais-vao-financiar-cadeia-produtiva-da-amazonia,70003543728.

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Comentários

1 COMENTÁRIO

  1. Visões do todas as opiniões são fundamentais.
    “Este pode ser o livro sobre ambientalismo mais importante jamais escrito,” disse um dos pais da moderna ciência climática, Tom Wigley:
    Apocalypse Never, why environmental alarmism hurts us all, de Michael Shellengerber.

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