Desastre ambiental escondido no mar da Califórnia desde a década de 40
Já dissemos inúmeras vezes que os mares do planeta há muito são usados para esconder o lixo da terra. Quase como varrer a sujeira para baixo do tapete. Foi o que aconteceu no litoral da Califórnia, muito próximo da costa de Los Angeles, menos de dez milhas. O segredo foi exposto devido ao trabalho de investigação de um cientista marinho da Universidade da Califórnia, David Valentine. Desastre ambiental escondido no mar da Califórnia é o tema de hoje.
Desastre ambiental escondido no mar da Califórnia
Em dois estudos, um de 2011 e outro de 2013, o pesquisador David Valentine da Universidade da Califórnia, confirmou visualmente a presença de cerca de 60 barris suspeitos de estarem cheios do inseticida proibido DDT.
Posteriormente, em março de 2021, os barris foram redescobertos durante um exercício de mapeamento, no qual os pesquisadores usaram imagens de alta resolução para escanear 15.000 hectares do fundo do oceano em profundidades de até 900 metros.
Foi então que tomaram ciência do tamanho do problema. Mais de 27.000 barris foram encontrados. De acordo com o site www.abc.net.au ‘muitos dos barris estão visivelmente vazando – e os cientistas dizem que pode haver algo em torno de algumas centenas de milhares de barris no total’.
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Segundo o abc,net.au, ‘esse corpo de água foi usado como depósito de lixo para inúmeras empresas petroquímicas ao longo do século 20, até que os Estados Unidos introduziram a Lei de Despejo Oceânico em 1972’.
O pesquisador David Valentine disse que “a prática de despejo de lixo nesta área já havia sido mencionada, embora perdida em arquivos empoeirados. Fomos as primeiras pessoas a ver o que estava acontecendo no fundo do mar, a 900 metros de profundidade.”
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Desastre ambiental: conheça o DDT
O DDT químico foi inventado em 1939 e usado durante a Segunda Guerra Mundial como pesticida, ajudando a proteger tropas de doenças transmitidas por insetos, como a malária.
Preocupação com a vida marinha
O professor Valentine disse estar preocupado com a possibilidade do produto químico estar concentrando a cadeia alimentar à medida que os barris de desintegram e liberam DDT no meio ambiente.
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Diz o Guardian que cientistas estão preocupados com a extensão do lixão, não apenas na costa de Los Angeles, mas nas águas do mar em todo o país, já que no passado as indústrias tratavam o mar como alternativa barata para aterros sanitários por décadas.
Rainer Lohmann, professor de oceanografia da Universidade de Connecticut, que não participou do projeto mas foi ouvido pelo Guardian, declarou: “Acho que se tivéssemos dinheiro e senso de propósito, encontraríamos muito mais desses locais, mas a questão é o que você faz com esses depósitos de lixo corroídos?”
A questão nos faz lembrar do mar Báltico, onde foram encontradas mais de 1,6 milhão de toneladas de armas nazistas, ali despejadas durante o conflito mundial. Como recuperá-las sem causar maior dano? O que fazer?
Ou mesmo dos testes nucleares feitos nos mares nos anos 50 e 60 que deixaram traços de radiação até mesmo no litoral do Brasil.
A história publicada no Los Angeles Times reabriu o interesse de pesquisadores
Segundo o Guardian, somente depois que o Los Angeles Times publicou as descobertas feitas em 2011 e 2013 é que começou a última missão de procura.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe do Scripps Institution of Oceanography, da Califórnia, em colaboração com a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA).
A missão foi a primeira de seu tipo a usar robôs do fundo do mar, imagens acústicas de sonar e análise de dados para mapear em detalhes dezenas de milhares de barris jogadas nos oceanos.
Solução?
“Nós simplesmente não sabemos”, diz um cientista ouvido pelo Guardian. E prosseguiu: “Algumas soluções teóricas, como retirar os barris ou contê-los com estruturas de cimento, seriam astronomicamente caras e talvez mesmo inviáveis.”
Para o professor Valentine, o próximo passo é entender todas as maneiras pelas quais o DDT e outros resíduos tóxicos estão alterando o ambiente marinho.
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“Não sabemos quanto desse material está sendo decomposto naturalmente em micro-organismos no sedimento, não sabemos com que rapidez ele pode ser enterrado nos estratos geológicos”
“Simplesmente não sabemos o suficiente para responder a essas perguntas e acho que precisamos de um esforço conjunto da comunidade científica com o apoio do governo federal e estadual para resolver essas coisas e ajudar a construir nossa base de conhecimento e definir essas metas.”
Imagem e abertura: David Valentine/UC Santa Barbara.
Fontes: https://www.abc.net.au/news/science/2021-04-30/barrels-leaking-insecticide-ddt-la-coast-dumping-ground/100100912?utm_campaign=news-article-share-control&utm_content=facebook&utm_medium=content_shared&utm_source=abc_news_web&fbclid=IwAR1yNWEdDENw8FNw9ZrXAy5FTd8leZRyKVx-p66Jv715sY4P2rxR7Y5sv4s; https://maremarinheiros.blogspot.com/p/desastre-ambiental-chocante-escondido.html; https://www.theguardian.com/environment/2021/apr/29/californias-legacy-of-ddt-waste-underwater-dump-site-uncovers-a-toxic-history.
Trágico! Os EUA gostam de cuidar da ecologia dos outros. Deveriam deixar de serem os maiores poluidores do planeta, depois palpitar sobre as florestas de outros países.