Missão no Ártico: termina a maior de todas expedições
Talvez seja o local do globo que mais chama a atenção de cientistas e pesquisadores hoje. A calota polar está se desfazendo aos poucos em razão do aquecimento global. O Ártico esquenta ao dobro da taxa média do resto do planeta, o que preocupa a comunidade acadêmica. Na verdade, novas pesquisas falam em quatro a sete vezes mais. A queda de neve que normalmente reabastece as geleiras da Groenlândia a cada ano não consegue mais acompanhar o ritmo do derretimento do gelo. Cientistas acreditam que o gelo da calota polar terá seu fim, nos verões, a partir de 2040, ou seja, amanhã. Foram estes os motivos que levaram à expedição que agora terminou. Missão no Ártico: termina a maior de todas com duração de um ano.

Missão no Ártico: termina a maior de todas
Em setembro de 2019, sem imaginar que teríamos uma pandemia mortal pela frente, o navio de pesquisas Polarstern, um quebra-gelo, zarpou da Noruega.

A expedição, com um contingente rotativo de cerca de 100 cientistas, técnicos e tripulantes teve que lutar não só contra as intempéries, mas com a crise provocada pelo novo coronavírus.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaSem falar que o Ártico, ao contrário da Antártica, não é um continente, mas apenas uma calota de gelo sob o mar. E esta calota dá calafrios aos pesquisadores porque diminui de tamanho a cada ano que passa. Até o fim deste século eles acreditam que não haverá mais gelo na região.
Projeto MOSAIC
O projeto foi organizado pelo Alfred Wegener Institute na Alemanha, ao custo de US$ 150 milhões, e teve participantes de 19 outros países. O navio de pesquisas Polarstern ficou todo este tempo à deriva, sendo levado pelas correntes e pelo vento enquanto os pesquisadores estudavam os arredores.
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Segundo o New York Times “os pesquisadores disseram que as informações coletadas sobre o oceano, gelo, nuvens, tempestades e ecossistemas do Ártico seriam inestimáveis para ajudar os cientistas a entender a região, que está esquentando mais rápido do que qualquer outra parte do planeta.”
Ao todo cerca de 600 pessoas participaram. A expedição foi abastecida por outros navios e aviões durante o período. Mais de 70 instituições de pesquisa foram envolvidas.
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Enquanto o navio Polarstern encontrava-se fortemente preso ao gelo os pesquisadores saiam em campo onde armavam seus equipamentos de medição, num raio de 40 km ao redor do navio, muitos via controle remoto. E sempre com a placa de gelo se movendo.

O foco do MOSAIC foram as observações diretas in situ dos processos climáticos que unem a atmosfera, o oceano, o gelo marinho, a biogeoquímica e o ecossistema.
Ainda recentemente o Mar Sem Fim mostrou que o degelo na Groenlândia está próximo do ponto de não retorno. Em razão disso, convidamos o glaciologista brasileiro Jeferson Simões que explicou mais detalhadamente em nosso podcast.
Mudanças dramáticas no sistema climático do Ártico
De acordo com o site do projeto “As mudanças dramáticas no sistema climático do Ártico e a rápida retirada do gelo marinho do Ártico afetam fortemente o clima global. A incapacidade dos modelos climáticos modernos de reproduzir as mudanças climáticas do Ártico é um dos problemas mais urgentes para a compreensão e previsão das mudanças climáticas globais.”

Outra questão que intriga os cientistas são as muitas espécies que povoam o gelo e o oceano do Ártico. O que permanece um grande mistério, entretanto, é como eles sobrevivem sob uma cobertura de neve fechada, especialmente na escuridão que dura meses na noite polar. Na primavera, quando o gelo se quebra, o sol retorna e há água aberta novamente, a vida no Ártico virtualmente explode.
A água fica verde com algas. Com os nutrientes se multiplicando durante o inverno sem serem controlados por nenhum organismo, o florescimento de algas que se segue representa um verdadeiro banquete para o agora próspero zooplâncton, krill e microorganismos. Eles se alimentam das algas e assim estabelecem um novo ciclo de vida.
Para os pesquisadores “O que permanece obscuro, entretanto, é como seu metabolismo funciona, que porcentagem de sua população sobrevive ou se esses organismos usam a pouca luz restante, talvez até da lua, para fazer a fotossíntese.”
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Repete-se o paradoxo. Enquanto de um lado a morte está à espreita; de outro a vida marinha, ainda incompreendida, floresce apesar de nossa forte pegada.
A questão é, até quando resistirá?
Imagem de abertura: www.mosaic.expedition.org.
Fontes: https://www.nytimes.com/2019/09/19/climate/mosaic-expedition-arctic.html?action=click&module=RelatedLinks&pgtype=Article; https://www.nytimes.com/2020/10/12/climate/mosaic-arctic-expedition-climate-change.html?campaign_id=54&emc=edit_clim_20201014&instance_id=23127&nl=climate-fwd%3A®i_id=91955602&segment_id=40984&te=1&user_id=b71b4a33397786aaa2444aad1304ea43.











Excelente texto, grato! Apesar de uma quantidade massiva de evidências dos danos já causados ao meio ambiente pelos humanos, e sua projeção ainda crescente, inacreditável que ainda estamos “patinando” para uma reversão (plenamente possível) da situação e das projeções decorrentes do aquecimento global. Será que conseguiremos?