Projeto Tamar completa, em 2020, 40 anos de sucesso
O litoral do Brasil é frequentado por cinco, dos sete tipos de tartarugas marinhas: tartaruga-cabeçuda, tartaruga-verde, tartaruga-oliva, tartaruga-de-couro e tartaruga-de-pente. Aqui, desde a região Sul, até a Nordeste, as fêmeas fazem seus ninhos. Hoje é difícil ir ao litoral e não ver pelo menos uma tartaruga marinha. Mas, lá pelos anos 80 do século passado, era raro encontrá-las. Nosso tema: Projeto Tamar completa 40 anos. Este é um tema maravilhoso a ser abordado, um grande caso de sucesso, especialmente em ano tão ruim para o meio ambiente no Brasil. Não bastasse o terrível acidente com óleo no Nordeste, temos hoje uma administração que ainda não compreendeu que a conservação não é obstáculo ao progresso, ao contrário.
Por que é tão difícil preservar as tartarugas marinhas?
Porque ‘apenas uma em cada mil tartarugas marinhas chegam a fase madura, que se inicia por volta dos 30 anos. Por esta razão, a sobrevivência das espécies depende da sua capacidade de conseguir gerar um volume grande de novas vidas a cada ano’.
Ciclo de vida
De acordo com o site do Tamar, “os filhotes rompem os ovos após um período de incubação que varia de 45 a 60 dias. Dependendo do calor da areia. Em movimentos sincronizados, emergem em conjunto, retirando a areia até alcançarem a superfície. E correm em grupo para o mar.”
Maiores ameaças
“Redes de pesca, anzóis, desenvolvimento costeiro, degradação de áreas de desova, fotopoluição e poluição dos oceanos, além das mudanças climáticas, são as principais ameaças às tartarugas marinhas. E podem interromper o início da recuperação das populações das cinco espécies que ocorrem no Brasil.”
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemPirataria moderna, conheça alguns fatos e estatísticasMunicípio de São Sebastião e o crescimento desordenadoFrota de pesca de atum gera escândalo e derruba economia de MoçambiqueComo proteger as tartarugas marinhas
“Cuidar das praias, apagar as luzes onde houver desovas, pescar de forma responsável. E deixar os filhotes livres para chegarem ao mar e as fêmeas para desovar.
Como nasceu o Projeto Tamar
Um grupo de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), pioneira em oferecer o curso de oceanologia no Brasil, decidiu fazer um levantamento em todo o litoral do País, incluindo as ilhas de Fernando de Noronha, Atol das Rocas e Abrolhos, em 1980.
PUBLICIDADE
Quando estavam no Atol das Rocas, presenciaram cenas fortes de pescadores matando enormes tartarugas marinhas. Naquela época já havia pressão sobre estes animais migratórios mundo afora. E, em consequência, demanda para trabalhos em defesa das tartarugas marinhas.
Durante dois anos os estudantes esmiuçaram o litoral brasileiro. Descobriram vários pontos de desova que nem mesmo seus professores conheciam. Nascia o Projeto Tamar que até hoje trabalha na pesquisa, proteção e manejo das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no País.
Leia também
Projeto Tamar continua firme e forte, entenda a polêmicaTartarugas gigantes viviam na Amazônia pré-históricaTartarugas marinhas albinas: conheça os curiosos filhotes‘Foi pedido que o Brasil fizesse alguma coisa’
A oceanógrafa Neca Marcovaldi, coordenadora de pesquisa e conservação do Projeto Tamar e uma das fundadoras da iniciativa declarou: “Depois dessas expedições, tomou-se conhecimento de uma maior ocorrência das tartarugas na costa brasileira, porque nem os nossos professores sabiam. Todos os trabalhos acadêmicos naquela ocasião reportavam outros países.”
“E daí foi pedido que o Brasil fizesse alguma coisa. Na Austrália, na Costa Rica, nos Estados Unidos já tinham iniciativas. E os animais são migratórios, vão de um lugar para o outro, o que demanda um trabalho integrado.” Neca conta que “veio então o convite para que os estudantes da Furg fizessem um mapeamento das espécies que desovavam no Brasil e apontassem quais os principais problemas.”
Fêmeas e seus ovos eram alimento no litoral
O mapeamento realizado pelo pessoal da FURG mostrou que as fêmeas e seus ovos eram alimento fácil para os nativos do litoral. Muitas das que escapavam, acabavam em redes e artefatos de pesca. O ciclo de vida era interrompido com frequência no litoral do País.
Era preciso um trabalho de conscientização junto às comunidades do litoral. Esta foi uma das providências do Projeto Tamar, que continua até hoje. Aos poucos, os nativos deixaram as tartarugas em paz. Pelo menos uma das causas do desaparecimento cessou, a ação do Tamar foi bem sucedida. Mas a pesca incidental, infelizmente, continua a fazer suas vítimas.
As bases do Projeto Tamar
As três primeiras foram estruturadas na Praia do Forte, Bahia; em Regência, no Espírito Santo, e Pirambu, em Sergipe. Hoje, tanto os locais com estrutura física como os que têm apenas profissionais em atuação, são 25 pontos da costa brasileira são monitorados. Ubatuba, em São Paulo, é um deles. Outro, bem mais distante, fica na Ilha de Trindade. Neca diz que “depois de um tempo monitorando as praias a pé e a cavalo, conseguimos a doação de um jipe. Mas não tínhamos dinheiro para o combustível. Então a primeira ajuda da Petrobras foi abastecer nossos veículos. Foi uma construção passo a passo”.
A Petrobras passou a patrocinador desde então. No início, este patrocínio possibilitou que o Tamar se estruturasse. Foi fundamental. Mas, atualmente, 70% do orçamento vem de recursos próprios, gerados a partir da bilheteria de seus centros de visitação, e da venda de produtos, entre outras fontes de renda.
Base da Praia do Forte
De acordo com o Correio Brasiliense, “Estima-se que as unidades abertas ao público recebam juntas, cerca de 1,5 milhão ao ano. O mais estruturado é o Museu do Tamar, na Praia do Forte. Construído em 1982 em um terreno cedido pela Marinha, ele conta com tanques, painéis informativos e estrutura audiovisual, entre outros atrativos. É um dos cinco museus mais visitados do Nordeste brasileiro. Os ingressos custam R$ 28, com a meia-entrada para os casos definidos em lei ao valor de R$14. Também há preços promocionais para grupos familiares.”
PUBLICIDADE
A sustentabilidade financeira do Tamar
Neca Marcovaldi disse ao jornal que “essa questão da sustentabilidade financeira é super importante porque a primeira geração de tartarugas protegidas demorou 30 anos para se formar. Então temos que ter um compromisso com um futuro que não é tão próximo. Para isso, é importante que se consiga manter as atividades a longo prazo. Sempre valorizando os parceiros, mas também enxergando a necessidade de autonomia e independência”.
As populações de tartarugas marinhas hoje
Revista Veja: “De acordo com o Tamar, as cinco espécies vêm experimentando recuperação de suas populações, embora a tartaruga-de-couro e a tartaruga-pente ainda estejam consideradas em estado crítico, conforme a lista vermelha de espécies ameaçadas elaborada pela União Internacional Para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Entre as outras quatro, algumas são classificadas como em risco de extinção e outras como vulneráveis.”
40 milhões de tartarugas marinhas protegidas
A pagina do Tamar no Face Book tem a seguinte informação assinada por Guy Marcovaldi, coordenador nacional do projeto: “Em breve o Tamar vai completar 40 anos (2020) e atingir a marca de 40 milhões de tartarugas marinhas protegidas. Podemos inclusive dizer que a tartaruga de número 40 milhões já existe e navega em uma viagem transcontinental rumo às praias brasileiras.”
Para nós é motivo de felicidade um post como o Projeto Tamar completa 40 anos de sucesso. E mais uma prova que vale a pena trabalhar em prol da biodiversidade marinha. Parabéns ao Tamar.
Imagem de abertura: Projeto Tamar
Fontes: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2019/12/14/interna-brasil,814129/tamar-comemora-40-anos-com-40-milhoes-de-tartarugas-soltas.shtml; https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/projeto-tamar-40-milhoes-tartarugas-soltas/; https://www.facebook.com/ProjetoTamar/photos/a.1097901386946090/2377547998981416/?type=1&theater; https://www.tamar.org.br/.