Perfuração científica dos oceanos completa 50 anos, ela trouxe inúmeros benefícios à humanidade
Ao longo de meio século, a perfuração científica dos oceanos provou a teoria das placas tectônicas. Criou o campo da paleoceanografia (estudo da história dos oceanos no passado geológico). E redefiniu a forma como vemos a vida na Terra. E ainda por cima, revelou uma enorme variedade e volume de vida na biosfera marinha profunda. Muito mais resta a ser aprendido. Quando a perfuração científica dos oceanos começou, em 1968, a teoria das placas tectônicas era objeto de um debate ativo.
A teoria das placas tectônicas provada pela perfuração científica dos oceanos
Uma ideia-chave era que a nova crosta oceânica era criada nas cordilheiras do fundo do mar. Ali as placas oceânicas se afastavam. E o magma do interior da terra brotava entre elas. A única maneira de provar isso era analisando núcleos de sedimentos e rochas. No inverno de 1968-1969, o Glomar Challenger perfurou sete locais no Oceano Atlântico Sul, a leste e oeste da cordilheira do Atlântico Central. Tanto as rochas ígneas do fundo do oceano quanto os sedimentos subjacentes envelheciam em perfeita concordância com as previsões. Foi a confirmação que a crosta oceânica estava se formando nas cristas e as placas tectônicas estavam corretas.
Encontrando vida a 2.500 metros de profundidade
A perfuração científica do oceano também mostrou que existem quase tantas células em sedimentos marinhos quanto no oceano ou no solo. As expedições encontraram vida em sedimentos a profundidades 2.500 metros. Em depósitos no fundo do mar com 86 milhões de anos. E a temperaturas acima de 60º C (140 graus Fahrenheit, no original). A perfuração ainda ajudou a descobrir micróbios nas profundezas da crosta oceânica. E a sondar os riscos ocultos de terremotos e tsunamis.
Sumiço dos dinossauros, provado pela perfuração científica dos oceanos
Graças à perfuração científica do oceano, sabemos que a queda de um asteroide (em Yucatan, México) matou todos os dinossauros não aviários há 66 milhões de anos. Após o cataclisma uma nova vida colonizou a borda da cratera dentro de anos. E, depois de 30.000 anos, um ecossistema completo estava prosperando. Alguns organismos do oceano profundo sobreviveram ao impacto do meteorito.
‘Sabemos mais sobre a superfície da lua do que sobre o fundo do oceano da Terra’
O site https://www.inverse.com diz, “é impressionante, mas é verdade que sabemos mais sobre a superfície da lua do que sobre o fundo do oceano da Terra (já comentamos o assunto. Apesar de nosso futuro estar ligado aos oceanos, a comunidade científica mundial prefere investir na exploração de Marte). Muito do que sabemos veio da perfuração científica do oceano. Ou, a coleta sistemática de amostras do fundo do mar. Esse processo revolucionário começou há 50 anos. Aconteceu quando o navio de perfuração Glomar Challenger iniciou no Golfo do México em agosto de 1968 a primeira expedição do Deep Sea Drilling Project.”
Como se lê as amostras retiradas
Quem responde é Suzanne O’Connell, ex-diretora do Ronald E. McNair Post Baccalaureate Achievement Program: “No meu laboratório, meus alunos e eu trabalhamos com amostras principais dessas expedições. Cada um desses núcleos, que têm cilindros de 3 metros de comprimento e 5 cm de largura, é como um livro cuja informação está esperando ser traduzida em palavras. Manter um núcleo recém-aberto, cheio de pedras e sedimentos do fundo do oceano da Terra, é como abrir um baú de tesouro raro que registra a passagem do tempo na história da Terra.”
Acordo internacional expira em 2023
Revista Nature: “O acordo internacional que governa a perfuração científica do oceano expira em 2023. Pesquisadores das 26 nações que participam desse acordo, conhecido como Programa Internacional de Descoberta dos Oceanos (IODP), se reunirão em 2019, em Osaka, Japão. Eles discutirão como podem substituir o acordo. Os cientistas devem elaborar uma nova lista de objetivos científicos para a próxima fase da perfuração oceânica, de 2023 a 2050. Isso se puderem convencer as agências de financiamento a pagar pela pesquisa. Os países membros do IODP gastam coletivamente cerca de US$ 150 milhões por ano para enviar pesquisadores para expedições de perfuração. “As apostas são realmente altas se queremos continuar a perfuração científica do oceano além de 2023″, diz Anthony Koppers, geólogo marinho da Oregon State University em Corvallis.”
Integrated Ocean Drilling Program
Recentemente, ‘em 2012, o Brasil aderiu ao Integrated Ocean Drilling Program, que realiza expedições científicas em todo o mundo. Isso permitiu que cientistas brasileiros participassem na exploração do fundo do oceano nas imediações de uma fossa oceânica ao largo da Costa Rica. A perfuração do fundo do oceano para fins científicos foi proposta pela primeira vez em 1957. E começou na década de 60 do século XX. Atualmente o programa propõe o seguinte: ‘implementar tecnologias de perfuração oceânica de última geração, unir a comunidade internacional de investigação para explorar a Terra como um sistema. E contribuir para aperfeiçoar as futuras pesquisas e descobertas através da disseminação de dados e amostras armazenadas nos repositórios. Por fim, contextualizar cientificamente a compreensão global sobre os riscos geológicos e as alterações ambientais’.
Perfuração científica dos oceanos estuda as mudanças climáticas
Nature: “O novo plano que será discutido em Osaka prevê o envio de navios para perfurar orifícios espaçados regularmente nos oceanos do mundo, em um esforço sem precedentes para reconstruir o clima passado. E melhorar a compreensão dos pesquisadores sobre como a Terra poderá operar durante futuras mudanças climáticas. Outros objetivos incluem investigar como a vida pode ter surgido e evoluído na crosta oceânica. O que não está claro é qual dos 26 países membros do IODP comprará esses objetivos científicos. Depois que os pesquisadores aprovarem um plano final, as agências governamentais de financiamento terão que decidir quanto estão dispostas a investir no futuro da perfuração oceânica.”
Quem financia a perfuração científica dos oceanos
Nature: “A principal delas é a National Science Foundation dos EUA, que fornece a maior parte do financiamento de US$ 65 milhões do navio Joidies Resolution a cada ano. O navio começou a extrair núcleos geológicos em 1985 e é o cavalo de batalha da frota do IODP . Viaja ao redor do mundo, com uma equipe internacional de cientistas rotativa que explora tópicos que vão da história das monções indianas ao risco de terremotos na Indonésia.”
Assista ao vídeo e saiba mais sobre a perfuração científica dos oceanos
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Imagem de abertura: David Wong/Getty
Fontes: https://www.nature.com/articles/d41586-019-02551-2?fbclid=IwAR2xlBEd6Ps3uUgcC2M0xKr5F7xyLC8aJkG1WOpcQwNJOpeHHeH_sadwjn4; https://www.ige.unicamp.br/terraedidatica/v9_2/PDF92/TD_95-Passow.pdf; https://tos.org/oceanography/article/fifty-years-of-scientific-ocean-drilling; https://www.inverse.com/article/49336-50-years-of-scientific-ocean-floor-drilling; https://www.inverse.com/article/10608-researchers-drill-for-the-earth-s-mantle.
Façam o que fizerem, mas espero que as desgraças ocorram após eu ter partido desta para uma realmente melhor porque aqui, sempre poderá ficar pior.