Por que as praias são ecossistemas tão essenciais?

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Por que as praias são ecossistemas tão essenciais?

O verão pode ser o momento ideal para refletir sobre algo que costuma passar despercebido: a função das praias no equilíbrio ambiental. Elas não existem apenas para refrescar os seres humanos. Muito antes de servirem como cenário de lazer, as praias já desempenhavam um papel fundamental no ecossistema marinho — desde os primórdios da Terra.

Você já parou para pensar como as praias se formaram? Ou qual é o seu papel na complexa engrenagem que conecta mar, terra, clima e vida marinha?

praias como ecossistemas
É nas praias que as tartarugas desovam…Acervo MSF.

Como as praias se formam

As praias se formam a partir de material erodido que o mar transporta de outros lugares e deposita na costa — geralmente, areia. Mas de onde vem essa areia e como ela se forma?

Ela se forma a partir da fragmentação de rochas, um processo que leva milhares ou até milhões de anos, causado pelo intemperismo e pela erosão. Minerais como quartzo (sílica) e feldspato, mais resistentes, demoram mais para se decompor e, por isso, são comuns na composição da areia, como já explicamos.

praia baiana
Acervo MSF.

Entretanto, a formação das praias não depende apenas da areia mineral. Subprodutos de seres vivos também têm papel fundamental nesse processo. Microfósseis, fragmentos de conchas, algas calcárias e pedaços de corais se somam aos grãos de rocha, enriquecendo a composição da praia.

Depois que se formam, os grãos avançam em direção à costa levados pelas ondas, marés e correntes marinhas. Eles costumam se acumular em áreas mais protegidas, como baías ou enseadas, onde o mar exerce menos força.

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A água funciona como um excelente meio de transporte para esse material solto — que, em grande parte, é o que compõe as praias. E assim começa um processo que pode levar eras até criar o cenário que hoje chamamos de litoral.

As praias como ecossistemas

O estudo de cientistas, Brazilian sandy beaches: characteristics, ecosystem services, impacts, knowledge and priorities (Praias arenosas brasileiras: características, serviços ecossistêmicos, impactos, conhecimento e prioridades), mostra que as praias arenosas constituem um ecossistema fundamental.

Segundo os autores, elas fornecem bens e serviços socioeconômicos e desempenham um papel importante tanto na manutenção das populações humanas quanto na conservação da biodiversidade.

aves se alimentando na praia
Acervo MSF.

Biota, ou a parte viva de um ecossistema

As praias abrigam uma biota — a parte viva de um ecossistema — bastante diversificada. As comunidades biológicas que vivem nas praias arenosas são formadas, em sua maioria, por pequenos organismos. A estrutura dessas comunidades depende fortemente de fatores físico-químicos como a energia das ondas, o regime de marés, a inclinação da praia, o tamanho dos grãos de areia, a salinidade da água e a concentração de oxigênio dissolvido.

Por isso, a composição da vida marinha muda de uma praia para outra. Alterações no ambiente, tanto naturais quanto provocadas por ações humanas, afetam diretamente a estrutura e o funcionamento dessas comunidades.

Uma explicação mais simples e voltada ao público leigo é da especialista Mônica Dorigo, da Universidade Federal de Alagoas.

Segundo ela, as praias são áreas de encontro entre o mar e o continente, e têm um papel importante na proteção da linha de costa, onde ocorrem movimentos naturais de avanço e recuo do mar.

Grande concentração de vida

Dependendo da dinâmica local das correntes e marés, pode haver uma grande concentração de vida, com a presença de bivalves, crustáceos, outros invertebrados, peixes da zona de arrebentação e até aves migratórias. Esses organismos fazem parte da cadeia alimentar marinha e muitos são utilizados diretamente pelo ser humano.

esquema de praias como ecossistemas
Desenho de Mônica Dorigo.

Praias são ecossistemas animados

Em resumo, as praias são ecossistemas vivos, dinâmicos, com grande parte da vida oculta aos olhos humanos. Contudo, elas costumam ser vistas de forma simplista pela maioria das pessoas.

Basta olhar as imagens da virada do ano em nossos 17 Estados litorâneos para perceber que o modo como usamos e ocupamos as praias é, claramente, insustentável no longo prazo.

O Brasil já perdeu 15% de suas praias

De acordo com o MapBiomas, o Brasil já perdeu cerca de  15% de suas praias  entre 1985 e 2020. O mesmo estudo, baseado em imagens de satélite, alerta: preservar praias e dunas é fundamental para controlar a erosão costeira e proteger a biodiversidade da faixa litorânea.

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É hora de rever hábitos

É hora de rever hábitos. Muitos brasileiros adoram a praia, mas desconhecem seu funcionamento e importância. Em pleno século 21, o uso de praias como estradas na Região Sul, Nordeste e Norte não se justifica mais.Tampouco faz sentido manter o superadensamento urbano nas praias do Sudeste, um problema que se espalha por todas as regiões.

Construir apenas depois da faixa de areia

É preciso, urgentemente, respeitar a mobilidade natural da praia e construir apenas depois da faixa de areia, preferencialmente atrás da primeira fileira de vegetação. Sem isso, não há futuro sustentável possível para nosso litoral.

Os brasileiros, que tanto gostam de frequentar as praias, fariam bem em conhecer melhor sua importância ecológica. Em pleno século 21, o uso de praias como estradas na Região Sul, Nordeste e Norte não se justifica mais.

Também é urgente repensar o superadensamento nas praias do Sudeste, problema que se repete em outras regiões. O essencial é respeitar a mobilidade natural das praias, evitando construções sobre a faixa de areia e recuando as obras para além da primeira linha de vegetação.

No Brasil, a valorização exagerada da chamada vista para o mar levou — e continua levando — à ocupação descontrolada de áreas que exigem preservação.Isso é crime ambiental, mesmo que raramente fiscalizado ou punido. As consequências são visíveis: perda de biodiversidade, erosão costeira, colapso de infraestruturas e ameaça ao próprio uso das praias pelas gerações futuras.

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