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Virada de ano em praias deixa rastro de lixo

Virada de ano em praias deixa rastro de lixo mesmo com a covid-19

Já está se tornando uma tradição macabra o rastro de lixo plástico, o pior de todos, deixado nas praias na virada de ano. Nesta, mesmo com a covid-19 em pleno afloramento, não foi diferente. Isso demonstra que falhamos. É difícil acreditar que mesmo com os alertas sobre a pandemia de plástico que assola os oceanos, tanto na mídia tradicional, quanto nas redes sociais, eles não foram capazes de gerar mudanças de hábitos da população. Como justificar as imagens indecentes que aparecem nas redes sociais? O que falta para que as pessoas acordem da letargia?

Virada de ano em praias deixa rastro de lixo

A virada de 2019×2020  foi muito pior. A covid ainda estava em gestação… Mas o mais assustador é que em 2020 dois assuntos dominaram a mídia. A covid-19, por motivos óbvios, consequência direta da zoonose; outro que predominou foi a relação ‘promíscua’ da nossa superpopulação com o meio ambiente. No mundo inteiro foi assim.

No Brasil o tema ambiental rivalizou com o da peste. Ao lado da covid-19, o assunto mais discutido na imprensa e redes sociais foi a ‘questão ambiental’. Durante os 365 dias do ano, foram raros os que não repercutiram os problemas ambientais e suas consequências.

Mas nem mesmo a descoberta de que já foram encontrados microplásticos em fezes humanas e até na placenta de mulheres grávidas impediu o rastro de lixo plástico nas praias em que houve aglomerações.

Nesta virada de ano algumas praias foram a ‘grande’ sensação. O balneário de Camboriú, em Santa Catarina, foi um deles, mesmo sendo uma praia frequentada por uma maioria rica, com poder aquisitivo acima da média, o rastro de lixo foi manchete.

Outras, em razão do isolamento, foram poupadas. Mas nem todas tiveram a mesma sorte.

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São Conrado foi uma delas. Uma forte tempestade durante os dias 31 de dezembro e 1º de janeiro levou para a praia um ‘tsunami’ de plástico tão impressionante que um vídeo viralizou nas redes sociais e foi compartilhado pelo campeão de surf Kelly Slater do outro lado do mundo.

Balneário de Camboriú, Santa Catarina

Já escrevemos aqui sobre nossa impressão a respeito do balneário de Camboriú onde foram erguidos alguns dos prédios mais altos do Brasil. A paisagem foi destruída implacavelmente. Este site não conhece outra praia brasileira com tamanho adensamento. A muralha de concreto vai de uma ponta a outra da praia.

O superadensamento será o epitáfio de Camboriú. Os prédios foram construídos de tal forma perto da linha do mar, e tão altos, que impedem a insolação e a circulação do vento tornando o interior do  balneário uma  fornalha. O que mais impressiona é que o local cresceu em razão de sua beleza natural. Foi isso que atraiu os turistas e despertou a mais intensa especulação que se tem notícia.

Mas apesar dos proprietários de apartamentos serem da classe mais alta, a sujeira provocada na virada eclipsou até a altura dos prédios. Réveillon deixou rastro de lixo na praia em Balneário Camboriú, foi a manchete do site www.nsctotal.com.br em matéria de Dagmara Spautz do primeiro dia do ano.

Camboriú, o retrato de nossa falência. Imagem, Divulgação, Prefeitura de Balneário Camboriú.

O Réveillon pode ter sido diferente em Balneário Camboriú, com as restrições impostas pela pandemia e sem a queima de fogos. Mas uma tradição nada honrosa se manteve intacta: o lixo deixado na faixa de areia.”

“O lixo se foi com o trabalho de quem varou a madrugada. Com reforço no número de trabalhadores, a Praia Central já estava livre de lixo quando chegou a manhã. Mas ficou o registro fotográfico, mostrando que o ano novo estreou com ‘mais do mesmo’ quando o assunto é cuidado com o meio ambiente.”

‘Mais do mesmo’ até quando? Dagmara ainda fez questão de ressaltar em seu texto que ‘havia lixeiras disponíveis em toda a orla’.

São Conrado, Rio de Janeiro, a ‘Cidade Maravilhosa’

Como dissemos, a pandemia da covid-19 fez diminuir o número de pessoas em praias na virada de ano. Segundo o G1, ‘com o isolamento o lixo recolhido das praias (cariocas) cai até 91% durante a semana’.

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Segundo a matéria ‘a Comurb, empresa de limpeza urbana, costumava recolher 120 toneladas de detritos das areias de segunda até sexta-feira durante o verão. E mais 341 toneladas nos fins de semana’.

Ou seja, 461 toneladas de lixo por semana apenas nas praias cariocas! A covid-19 foi a responsável pela diminuição de 91% deste total.

Menos mal. Mas ainda assim, segundo o site ciclo vivo, ’39 toneladas de lixo foram coletadas apenas em Copacabana!’

Mas o lixo não é apenas largado displicentemente nas praias. Ele também pode vir dos bairros vizinhos. Foi o que aconteceu quando uma tempestade varreu a região dias 31 e 1º. O resultado de turistas na praia, e tempestade no bairro, foi arrasador.

São Conrado, Cidade Maravilhosa. Será? Imagem, Instagram Instituto Mar Urbano/Reprodução.

“Meu Deus do céu, o que é isso! Um tsunami de plástico.” Foi esta a reação do pessoal do Mar Urbano ao filmarem a praia de São Conrado dia 2 de janeiro.

Foram estas as imagens que viralizaram e foram reproduzidas por Kelly Slater. Assista às imagens do tsunami de plástico em São Conrado.

São Paulo não ficou atrás

E chegamos ao Estado mais rico da federação. Em São Paulo não foi diferente. Onde houve aglomeração, restou uma montanha de lixo. Em uma das praias mais badaladas do litoral norte paulista, Maresias, frequentada por gente rica, o resultado em nada difere dos acima mostrados.

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Nesta praia o fotógrafo Aleko Stergiou nos fez o favor de registrar o que restou da ‘comemoração’, do quê exatamente, não se sabe.

É de envergonhar qualquer um.

E isso aconteceu apesar da proibição de comemoração na virada de ano. Imagine se as praias não fossem interditadas.

Sugestões para efetiva mudança

Se o lixo de São Conrado é oriundo da classe mais desfavorecida, a que mora em favelas como a Rocinha entre outras, o de Santa Cataria e São Paulo veio das elites. Pessoas abastadas que podem ter uma segunda residência, ou frequentar praias caras e badaladas.

Portanto, não se trata de problema ligado apenas à pobreza.

PIB por PIB, Brasil e Ruanda

PIB por PIB, o do Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking mundial; Ruanda, na África, o 140º lugar (indexmundi.com). Ainda assim Ruanda lidera o banimento de plástico no mundo.

As Nações Unidas nomearam a capital do país, Kigali, a cidade mais limpa do continente africano, graças em parte a uma proibição de 2008 de plástico não biodegradável.

Em limpeza, Kigali deixa qualquer cidade brasileira no chinelo.

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Falência da educação

O que fica evidente nestas imagens é a falência da educação no País de Macunaíma. Não somos educadores, portanto o que vem a seguir deve ser lido com precaução. Mas as fotos nos fizeram lembrar de uma das ‘lives’ de que participamos em 2020.

Às tantas, veio a pergunta sobre educação ambiental. Ressalvando que não sou do ramo disse que, se fosse minha a decisão, discutiria com quem de direito a possibilidade de mais uma matéria no currículo escolar: educação ambiental desde o ciclo básico.

A importância de campanhas públicas

Mas apenas a educação não basta. É imperativo campanhas sistemáticas do poder público sobre os problemas de saúde provocados pelo descarte inadequado de lixo, algo como se fez no auge da AIDS com as campanhas pelo uso da camisinha.

Ruanda não tem educação melhor que a nossa a despeito do país ser um ‘brinco’ em termos de limpeza. O que fez a população local mudar? Respondemos de imediato: conscientização, seguida por responsabilização e fiscalização de cada parte.

Lá houve pressão e vontade política, aqui, não há mais que protestos em redes sociais mais antenadas. E não basta convocar artistas famosos ou sanitaristas para sugerirem cuidado com o lixo, há que dar voz também à nova realidade que se impôs, e chamar os ‘influenciadores’ que moram nas favelas e conseguiram por mérito próprio projeção nacional.

A responsabilidade da indústria do plástico

Outra questão que se mostra evidente, é cobrar a parte dos produtores de plástico. A indústria do plástico é pujante no Brasil. Somos o quarto maior produtor mundial.

Mas aqui a indústria diz que o problema não é dela. Como não? O problema é de todos, dos produtores aos consumidores passando pelo poder público.

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Enquanto não houver políticas públicas também responsabilizando o setor, estaremos cobrindo o sol com a peneira. Exemplos, mundo afora, já o provaram.

Quando dissemos que ‘o lixo plástico, é o pior de todos’ é porque estudamos mais este problema de nossa geração, o site está repleto de matérias é só pesquisar. Desde a sua invenção nos anos 50 do século passado, menos de 10% de todo o plástico produzido no mundo foi reciclado.

Assim, uma vez que o material é de dificílima reciclagem, restam poucas políticas públicas que não envolvam o recolhimento de parte do total produzido pela indústria, além de estímulos para que ela mude sua produção e use materiais menos letais ao meio ambiente.

É pedir muito?

As novas, e as futuras gerações, pagarão a conta

Quanto às campanhas, e a sugestão de nova disciplina nas escolas, consideramos indispensável não apenas pelo lixo que se espalha em ambientes marinhos ou terrestres, mas pelo fato de enfrentarmos o maior desafio para a civilização moderna, a mudança climática e consequente rapidez do desaparecimento de habitas naturais.

Sabemos que a mudança de clima nada mais é que um instantâneo de nossos hábitos insustentáveis. E quem vai pagar a conta por nosso egoísmo são os pequenos que agora começam a estudar.

Não foi por falta de aviso

Faz alguns anos que o cientista brasileiro Carlos Nobre, representante do País no IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima), fez a seguinte declaração:

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Nunca, em toda a história da vida na Terra, uma espécie alterou tanto o planeta, e em uma escala tão rápida, quanto a humanidade. Mudamos os cursos de rios, alteramos a composição química da atmosfera e dos oceanos, domesticamos plantas e animais a ponto de sermos considerados uma força tectônica” no planeta. Esse impacto é tão forte que alguns cientistas estão propondo mudar a época geológica – deixaríamos o holoceno, que começou com o fim da era do gelo, e passaríamos ao antropoceno, a época dominada pelo homem.

Alguém duvida?

Imagem de abertura: Prefeitura de Balneário Camboriú.

Fontes: https://vejario.abril.com.br/cidade/impressionante-onda-lixo-sao-conrado-video/?fbclid=IwAR0tiFcRscOnLqYbvxsBHLB8fZtsi0uc1sm7_vVqDkXaxBW7ESQR8H6kLmE; https://www.nsctotal.com.br/colunistas/dagmara-spautz/reveillon-deixou-rastro-de-lixo-na-praia-em-balneario-camboriu?fbclid=IwAR2-OT6HcvW-Q5-VC-3v9FDYLgdMSIN_B7zrcpNcg9ivGLUQ271cWG-SVqE; https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/26/com-isolamento-lixo-recolhido-das-praias-do-rio-cai-91percent-durante-a-semana.ghtml; https://ciclovivo.com.br/planeta/meio-ambiente/praias-ficam-repletas-de-lixo-apos-virada/; https://www.instagram.com/p/CJkBwTuJ3qw/; https://www.indexmundi.com/g/r.aspx?v=65&l=pt.

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