Turismo náutico é mal aproveitado no Brasil

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Turismo náutico é mal aproveitado no Brasil

O turismo é uma atividade que cresce sem parar contribuindo para a economia ao gerar empregos e renda, desenvolvimento regional, entrada de moeda estrangeira e, se bem feito, ainda contribui para a preservação cultural e ambiental. Com o passar dos anos as pessoas começaram a procurar muito mais que apenas os grandes centros. Assim, surgiu o turismo religioso, o cultural, o turismo de negócios, e o ecoturismo, entre muitos outros. E é neste último setor que o País perde mais. O Brasil tem quase tudo que os ecoturistas procuram: a maior biodiversidade entre todos os países, o rio mais famoso cercado pela floresta mais emblemática e debatida globalmente,  paisagens de tirar o fôlego, um belíssimo litoral com cerca de 8,5 mil quilômetros, além de cerca de 30 mil km de rios navegáveis. Temos um patrimônio imbatível, contudo, o turismo náutico é muito mal aproveitado.

Marina para barcos de recreio
Acervo MSF.

Turismo náutico é o maior setor da Economia Azul da União Europeia

Segundo o site da União Europeia, o turismo costeiro e marítimo é o maior setor da Economia Azul da UE em termos de emprego. As áreas costeiras da UE são destinos muito procurados por viajantes. Mais da metade da capacidade de acomodações está localizada em regiões com fronteira marítima.

Os especialistas italianos Riccardo Spinelli e Clara Benevolo destacam que o turismo náutico movimenta entre 20 e 28 bilhões de euros anualmente. Cerca de metade desse valor vem de serviços relacionados, como reparos, aluguel de embarcações e atividades complementares.

Na Europa, o setor conta com apenas três meses de alta temporada, durante o verão, que vai de julho ao final de agosto. No Brasil, no entanto, as condições climáticas permitem explorar o turismo náutico ao longo de todos os 12 meses do ano.

Turismo costeiro e marítimo no mundo, indústria de US$ 9,5 trilhões

Mudando da Europa para o mundo, os número são mais que eloquentes. Matéria do Fórum Econômico Mundial mostra que o turismo costeiro e marítimo representa pelo menos 50% do total do turismo global – uma indústria de US$ 9,5 trilhões que gera cada 1 em 11 empregos.

A matéria confirma a capacidade do turismo de contribuir com a preservação ambiental ao realçar que ‘o sucesso econômico do setor de viagens e turismo, agora e no futuro, é fortemente dependente da natureza do ecossistema. O turismo costeiro depende de um oceano saudável para fornecer água limpa e belas paisagens’.

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Potencial do turismo náutico no Brasil

O Brasil tem imenso potencial para o turismo mas, pelo excesso de nossas mazelas como a (in) segurança pública, a indigna divisão de renda, carência de infraestrutura, excesso de burocracia, etc, a participação do setor no PIB é ínfimo, 00,2%, segundo o Sebrae.

Entretanto, matéria de Marcelo Barros no Defesa em Foco sugere que ‘em 2025, o setor de turismo náutico deve consolidar seu papel como um dos motores econômicos mais promissores do Brasil’.

Barros destaca alguns pontos que sustentam seu otimismo para 2025: ‘O turismo náutico tem se consolidado como um dos principais motores da Economia do Mar no Brasil, movimentando não apenas o setor turístico, mas também áreas correlatas. Entre outras, a construção naval, serviços especializados, hotelaria e gastronomia. Segundo dados da Marinha do Brasil, em 2023 havia mais de 1,23 milhão de Carteiras de Habilitação Amadora (CHA) ativas, um aumento significativo de 6,4% em relação ao ano anterior. Esse crescimento reflete diretamente no aumento da demanda por embarcações, infraestrutura de marinas e serviços de manutenção’.

Para uma população de 200 milhões de pessoas, 1,23 milhão com carteira de habilitação náutica é uma migalha, mas demonstra o potencial de crescimento. Seja como for, o setor da construção naval de barcos e lanchas privadas tem tido um enorme crescimento.

Setor náutico arrecada R$ 1 bi em impostos em 2022

Segundo a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos), o setor náutico arrecadou R$ 750 milhões em impostos em 2021, valor que passou para R$ 1 bilhão em 2022. O faturamento também cresceu entre os anos citados, foi de R$ 2 bilhões para R$ 2,5 bilhões. Ainda de acordo com a Associação, o número total de empregos diretos e indiretos gerados no segmento foi de 85 mil para 100 mil entre os anos apresentados.

A pandemia da Covid deu o empurrão que faltava para o setor da construção naval de barcos privados. Assim como milhares de pessoas mudaram-se para cidades menores, do interior, onde podiam manter o trabalho virtual, as vendas de barcos dispararam neste período. De acordo com Gabriela Lobato Marins, CEO da BR Marinas, o brasileiro descobriu o mar durante a pandemia e não abandonou mais o barco.

Marinha do Brasil registrou 690 mil embarcações em 2019

Em 2020, em plena pandemia, o setor náutico registrou um crescimento de 20%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caía quase 5%.

O setor faturou R$ 761 milhões em 2020, contra R$ 634 milhões em 2019, o que significa um crescimento de 20%. No mesmo período, o número de barcos registrados, ativos, foi de 670 mil para pouco mais de 690 mil.

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Desenvolvimento autossustentável’

O Sebrae publicou a matéria Brasil: um paraíso pouco explorado do turismo náutico, em que mostrou alguns números do setor.

A área de serviços/marinas gera em torno de três postos de trabalho por barco acima de 25 pés; 

Um barco gasta, em média, 8% de seu valor de compra por ano, em manutenção;

90% da produção mundial de equipamentos náuticos de recreio está concentrada nos países que mais investiram no turismo náutico, cujo desenvolvimento está diretamente ligado ao fomento e desenvolvimento da indústria náutica (na qual a média de criação de empregos é de sete por barco produzido);

Estudo recente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo mostrou que uma instalação de apoio náutico com 300 embarcações tem impacto de R$ 141 milhões por ano na economia local e garante 780 postos de trabalho. 

O que falta para o turismo náutico se desenvolver mais

Com muito trabalho, a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e Seus Implementos) conseguiu uma relevante diminuição de impostos que até então era um dos empecilhos. Atualmente, a carga do IPI é de 10% e a do ICMs varia entre 3,5% e 7% nos polos produtores.

O maior gargalo hoje é a falta de infraestrutura, em outras palavras, marinas. De acordo com Eduardo Colunna, presidente da Acobar, em entrevista para a revista Náutica, ‘a infraestrutura náutica, base para o crescimento do mercado, é o ponto fraco. De acordo com o número de embarcações registradas pela Marinha do Brasil, existe no país um déficit de 55.580 vagas para embarcações em instalações de apoio náutico’.

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Segundo o último levantamento feito pela Acobar, o País soma acerca de 480 estruturas regulares de apoio náutico, entre iates clubes, marinas e garagens náuticas, que oferecem cerca de 39.000 vagas secas e 7.000 vagas molhadas.

A região sudeste concentra aproximadamente 50% da frota de embarcações de esporte e recreio e 52% das estruturas de apoio náutico do País. Para atender à demanda reprimida, é necessário um investimento privado de R$ 2,5 bilhões, segundo estudo realizado pela Lidera Consultoria.

A falta de infraestrutura náutica e o mercado internacional

Esse déficit de marinas para a frota nacional revela outro problema ainda maior. O Brasil permanece fora da rota da comunidade náutica mundial, que navega pelo planeta por dois motivos principais. O primeiro é o excesso de burocracia em cada entrada ou saída de porto, e o segundo é a carência de portos adequados, especialmente marinas. Trata-se de um mercado no qual o país poderia competir com vantagens significativas, já que não nos faltam beleza natural nem a fama de sermos um ‘povo alegre’ e ‘acolhedor’. Vale destacar que existem cerca de 34 milhões de barcos privados no mundo.

De acordo com o Precedente Research, a receita global de aluguel de barcos atingiu US $ 8,39 bilhões em 2024 e está previsto para chegar a cerca de US$ 16,92 bilhões até 2033.

mercado mundial de aluguel de barcos
Os números falam por si.

O Scientific Journal Of Marine Research publicou estudo no qual demonstra que o turismo náutico representa um importante setor econômico e recreativo para os países do Mediterrâneo.

Croácia, França, Grécia, Itália e Espanha são alguns dos países que lutam por um lugar de destaque  nesse lucrativo setor.

Para entrar neste mercado, além de mais marinas, é preciso menos burocracia. Qualquer barco estrangeiro que entra no Brasil sofre um massacre de nossa burocracia estatal. Já cruzei com vários destes barcos, cujos comandantes estavam irritadíssimos com a demora, e a falta de informação oficial. No entanto, quando eu mesmo cheguei embarcado no Chile e Argentina, não demorei mais que meia hora para regularizar minha situação.

Programa Mar Sem Lixo, de São Paulo, merece cópia

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