Seca na Amazônia provoca morte em massa de botos, tucuxis e peixes-boi
Aquecimento global descontrolado, forte evento El Niño, e ‘contribuição’ do aquecimento do Atlântico não poderiam gerar outra coisa: seca na Amazônia, caos. A Defesa Civil diz que 520 mil pessoas podem ser afetadas, 17 municípios estão em estado de emergência. Há risco de desabastecimento. Alguns rios já não permitem navegação de barcos grandes. Como levar comida à população? O rio Amazonas tem uma descida média diária de 25 cm. Há falta de água potável em municípios. Tudo isto está provocando a morte em massa de botos-cor-de-rosa, tucuxis (outra espécie de boto) e peixes-boi, os três ameaçados de extinção.
O caos na Amazônia ameaça a biodiversidade
Apesar de esforços de pesquisadores e ambientalistas, as duas espécies de golfinho de água doce da Amazônia, o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o tucuxi (Sotalia fluviatilis) podem estar em risco de extinção.
Mas não pense que o parágrafo acima tem a ver com a seca. Este é um trecho do post Matança do boto cor-de-rosa: animal está em situação crítica, publicado em 2019.
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Nele, comentávamos que ‘antes, a pesca incidental era o maior problema, agora a matança do boto cor-de-rosa é consequência da pesca de outro peixe. Em algumas regiões a perda na população já chega a 50%. De alguns anos para cá, muitos caboclos passaram a usar pedaços do mamífero como isca na pesca de pequenos peixes. Especialmente a de piracatinga, um peixe carnívoro, tipo de bagre, também conhecido como urubu d’água.‘
Finalmente, muitos botos morrem também por crendices populares. Se você for ao mercado Ver-o-Peso, verá o sexo de botos, fêmeas e machos, secos e à venda. Porque, diz a ‘sabedoria’ popular, seriam afrodisíacos. Juntando tudo, em 2018 a revista da FAPESP publicou a matéria A crítica situação dos golfinhos na Amazônia.
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Entre outras, o texto alertava que ‘Um levantamento feito de 1994 a 2017 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, a 500 quilômetros a oeste de Manaus, indica que a população dessas duas espécies se reduz à metade a cada 10 anos, apesar de a captura ser proibida.’
‘Mito do bom selvagem’
Pois é, e ainda tem gente que acredita no ‘mito do bom selvagem’…(no Ver-o-Peso, você também verá ‘cachos’ de cavalos-marinhos – ameaçados de extinção – à venda pelos mesmos motivos do sexo de botos. E se chegar perto de um vendedor qualquer, e cochichar dizendo querer comprar cobras vivas, qualquer tipo desde que da Amazônia, será levado num cantinho onde há cestos repletos delas. Só a polícia ambiental e o Ibama não sabem).
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E note que até este ponto, não tratamos ainda da seca de 2023. Apenas elencamos algumas notícias mais ou menos recentes, para situar o leitor leigo.
Quem mata estes botos para pescar o bagre conhecido como urubu d’água são os próprios ribeirinhos. E eles não matam apenas para fazer iscas. Muitos ribeirinhos os matam por raiva, para evitar competição. Porque os botos entram em pequenos rios à procura de peixes, os mesmos peixes que alimentam os miseráveis que lá vivem.
Segundo o site do governo do Amapá, “até 7 mil botos eram mortos por ano no Amazonas, usados como isca para a pesca da piracatinga, antes da moratória interministerial (2015) até julho de 2020, pela Secretaria de Aquicultura e Pesca.”
Assista ao vídeo da matança de botos cor-de-rosa
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Nova espécie de boto, descoberta em 2018, já estava ameaçada
Posto isto, vamos agora comentar…
A seca na Amazônia já matou ao menos 110 botos em poucos dias
Segundo Giovanni Dolif, meteorologista do Centro de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), ‘A seca está fora do normal e deve piorar nos próximos meses. O El Niño tem uma grande contribuição nisso, assim como a distribuição da temperatura das águas do Atlântico Tropical.’
O portal cabloco.com.br informa que a seca é pior nas cidades situadas nas calhas do Alto Solimões e Baixo Amazonas.
O ciclo de vida dos botos da Amazônia
Como tudo que é ruim pode piorar, saiba que o processo evolutivo dos botos é longo. As fêmeas só atingem a maturidade sexual aos 10 anos. Só costumam ter um filhote por vez, e o período de gestação dura cerca de 12 meses.
Faça uma doação
Em 29 de setembro recebemos um WhatsApp de Nathalie Gil, da Sea Sheperd, direto do Amazonas. A ONG apelou por um pedido de doações nas redes sociais (clique no link para doar) para tentarem salvar alguns indivíduos.
O texto da página de doações diz o seguinte:
“A Amazônia está enfrentando uma das piores secas na sua história. Como consequência, botos, tucuxis e outras espécies se encontram em águas rasas, enfrentando calor extremo, em uma água potencialmente contaminada, e muitos estão morrendo.”
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“Mais de 110 botos já foram encontrados mortos na região de Tefé, e o número vem crescendo drasticamente! Ajude os botos da Amazônia! Todas as doações serão destinadas para recursos necessários e ao Instituto Mamirauá e parceiros, que estão liderando a atuação para a proteção dos botos no local.”
(Atenção: em 9 de outubro falei novamente com Nathalie que atualizou o número. Até esta data já foram 140 animais mortos).
“Em aliança pelos botos da Amazônia: Instituto Mamirauá, Sea Shepherd Brasil, LAPCOM USP, Instituto Baleia Jubarte, Instituto Aquasis, Instituto Aqualie, WWF Brasil, GRAD, Instituto Tamanduá e outros, além de voluntários e a comunidade local.”
Faça sua parte. Contribua para amenizar o sofrimento dos cerca de 25 milhões de brasileiros que lá vivem, entrando em contato com a Defesa Civil do Amazonas e, de maneira idêntica, com o apelo da Aliança pelos botos da Amazônia.
Assista ao vídeo Seca do rio causa morte de boto-cor-de-rosa e peixe-boi no Amazonas
Mais informações sobre botos da Amazônia?
Quem quiser mais informações sobre os botos da Amazônia, entre no site www.mamiraua.com.br, é show de bola!