Pesca com arpão e compressor em Abrolhos
A pesca profissional com compressor é proibida no Brasil. Entre outras ela foi responsável pelo fim dos estoques de lagostas no Ceará. É uma modalidade perigosa. Causa sérios problemas de saúde aos pescadores que muitas vezes morrem em pleno mergulho devido à precariedade dos equipamentos. A fiscalização ineficiente por parte do Ibama contribui para que ela ainda aconteça com frequência no litoral do Brasil, inclusive numa área “protegida” como Abrolhos. Pesca com arpão e compressor em Abrolhos é o tema de hoje.
Matéria do Estadão.
Pesca com arpão e compressor em Abrolhos
Herton Escobar e Jonne Roriz – Enviados especiais a Caravelas
A crise mundial da pesca está forçando pescadores brasileiros a mergulhar cada vez mais fundo, literalmente, em busca dos melhores peixes. Na região dos Abrolhos, no extremo sul da Bahia, não são poucos os que se arriscam em altas profundidades, com apenas um arpão na mão e uma mangueira de ar entre os dentes, em busca dos grandes badejos e garoupas, entocados nos recifes, que nem as redes nem os anzóis conseguem puxar da superfície – e que praticamente já desapareceram de águas mais rasas, pescadas à exaustão ao longo das últimas décadas.
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Não são raros os relatos de mortes por afogamento. E de pescadores lesionados pelas bolhas de nitrogênio que se formam em seu corpo quando passam tempo demais no fundo e sobem rápido demais para a superfície. Se derem o azar de alguma bolha ficar alojada numa articulação, podem ficar com os movimentos comprometidos permanentemente, ou até paralisados. Em casos mais graves, as bolhas podem cair na circulação e bloquear o fluxo de sangue para o pulmão ou para o cérebro, causando embolias, que podem levar à morte.
Risco do motor ‘apagar’
Além disso, há sempre o risco de o motor apagar no meio do mergulho (cortando o bombeamento de ar), de a mangueira se romper ou ficar enroscada nos recifes. Ou até de uma baleia se enroscar nela e arrastar o mergulhador para longe, como já aconteceu com Zeca, um dos vários pescadores-mergulhadores com quem o Estado conversou na região.
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Mangueira rompeu…
Em um determinado momento, a mangueira se rompeu e ele ficou livre da baleia, mas também do seu suprimento de ar. Estava a uns 25 metros de profundidade. Soltou o cinto de lastro da cintura e subiu com o oxigênio que lhe restava nos pulmões. Calcula que demorou uns dois minutos para chegar à superfície; quase sem ar, mas vivo. “O pessoal do barco achava que eu tinha morrido”, conta.
Zona de risco
É normal os pescadores de compressor descerem a até 50 metros de profundidade – 10 a mais do que o limite padrão de segurança do mergulho recreativo com cilindro – e ficarem vários minutos caçando por lá, entre os recifes mais profundos que pontuam a plataforma continental de Abrolhos. Vale tudo para arpoar um bom badejo ou uma garoupa de bom tamanho.
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Custo-benefício
Além da paixão pelo fundo do mar, claro, há o estímulo financeiro para continuar mergulhando. “Tem várias artes de pesca, mas a de compressor é a que dá mais dinheiro”, compara Zeca. “Num dia ruim, você tira 50 quilos de peixe. Num dia bom, você tira 200 kg. Eu mesmo já tirei mais de 500 kg uma vez.”
Espécies mais caçadas
As espécies mais caçadas são os badejos, as garoupas, os vermelhos e dentões, que têm maior valor de mercado. Em águas mais profundas, onde há poucos abrigos para os peixes, é possível encontrar vários deles agregados em torno de uma única “pedra”, como os pescadores costumam se referir aos recifes que ocorrem de forma mais isolada em Abrolhos.
Pesca no Brasil
A atividade no Brasil não é fiscalizada, não há dados confiáveis sobre as quantidades retiradas do mar, não há quase nada. O que se sabe é que 3/4 dos recursos pesqueiros já estão sobre-explotados.
Assista ao vídeo da TV Estadão:
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Assista ao vídeo do Projeto Mar Sem Fim sobre Abrolhos.