Peixe-serra, espécie mais ameaçada entre tubarões e raias
Eles têm uma fisionomia única no mundo animal. Sua figura nos remete a um ser pré-histórico, com um longo focinho, ou rosto alongado, entalhado por dentes simétricos nos bordos externos. E o formato do corpo nos lembra um tubarão. A espécie faz parte da família das raias, os peixes cartilaginosos mais ameaçados de extinção em todo o mundo. Na verdade, são raias do gênero Pristis. O peixe-serra pede atingir até 7 metros de comprimento e pesar cerca de 600 kg. Trata-se de uma espécie ovípara que vive em águas tropicais e ambientes estuarinos do Atlântico, Índico, e Pacífico. Mas é mais uma espécie que caminha para a extinção.
Peixes-serra, uma espécie de raia
Os peixes-serra são mais uma icônica espécie desaparecida de mais da metade das áreas costeiras onde eram encontrados. Um novo estudo publicado na revista Science Advances mostra que a causa principal é a sobrepesca. Aos poucos os mares do planeta ficam mais sem graça com o desaparecimento das espécies mais interessantes e diferentes.
Na apresentação do estudo a revista alerta que ‘essas arraias semelhantes a tubarões, icônicas e ameaçadas de extinção, já foram encontradas em águas costeiras quentes de 90 países e agora estão extintas em mais da metade’.
E prosseguiu: ‘ A sobrepesca e a perda de habitat reduziram a ocupação espacial, levando à extinção local em 55 das 90 nações, o que equivale a 58,7% de sua distribuição histórica. Proibições de retenção e proteções de habitat são urgentemente necessárias para garantir um futuro para peixes-serra e espécies semelhantes’.
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Os peixes cartilaginosos como tubarões e arraias estão em perigo faz tempo. Ainda recentemente, publicamos um post mostrando que metade das 31 espécies de tubarões oceânicos do mundo, além da arraia jamanta, agora estão listadas como ameaçadas ou criticamente em perigo pela União Internacional para Conservação da Natureza.
O motivo é o mesmo, os excessos da pesca mundial. O resultado, aponta um estudo publicado na Nature, é que a população de tubarões e arraias caiu 70% em 50 anos.
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Agora mais uma destas espécies, o peixe-serra, entra para a lista das ameaçadas de extinção. O que preocupa os pesquisadores é a rapidez da perda de biodiversidade mundial. O que antes levava centenas de anos para acontecer, agora se multiplica com assustadora rapidez, seja em ambientes terrestres, seja nos oceanos.
Um ícone da vida marinha a caminho de entrar nos livros de história
A National Geographic, em matéria de 2019, assim descreve o animal: ‘Os peixes-serra são arraias grandes com extensões de nariz longas em forma de serra elétrica, chamadas de rostros, que usam para encontrar e atordoar as presas em águas turvas’.
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Apreendidos 230 kg de barbatanas de tubarões no CearáConheça o raro peixe regaleco, o ‘peixe do Apocalipse’Contaminação de tubarões por cocaína, RJ, choca a mídia estrangeira‘Eles são os mais ameaçados de extinção de todos os tubarões e raias – e de acordo com algumas medidas, de todos os grupos de peixes marinhos. Todas as cinco espécies de peixes-serra estão ameaçadas de extinção, apesar de já terem povoado em grande número as águas tropicais e subtropicais dos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico’.
Em breve este peixe, tão bonito quanto estranho, fará parte de livros que mostram como eram povoados os mares no passado. Ele tem alguns inimigos, entre eles sua lenta reprodução.
A NG explica: ‘Como peixes de crescimento lento, armados com uma lâmina de serra gigante, eles são suscetíveis ao emaranhamento em equipamentos de pesca nas águas costeiras rasas, estuários e leitos de rios onde vivem, bem como em águas mais profundas onde se alimentam’.
Mesmo com proteção legal em vários países, o fim dos peixes-serra parece questão de tempo. NG: ‘Eles têm proteção legal em 19 países, e seu comércio internacional é proibido pela Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Extinção (CITES), o tratado que regula o comércio transfronteiriço de animais selvagens. Como um dos principais predadores da cadeia alimentar, sua perda pode desestabilizar um ecossistema costeiro’.
Onde ainda resistem os peixes-serra
Os pesquisadores se perguntam como foi possível que um peixe tão grande e icônico pudesse sumir de quase 90 países onde conseguia se reproduzir. Eles agora concentram seus esforços em dois deles.
A National Geographic entrevistou Nick Dulvy, um ecologista marinho da Simon Fraser University em Vancouver. Para Nick ‘é difícil imaginar que algo que atinge o comprimento de sete metros tenha desaparecido sem que percebêssemos’.
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‘Mas’, acrescenta, ‘muito mais urgente é a questão de como as populações restantes de peixes-serra do mundo podem ser salvas’.
Flórida e Austrália, locais onde ainda podem ser salvos
Para Nick Dulvy, ‘existem duas fortalezas de peixe-serra no mundo: Flórida, onde o peixe-serra pequeno é encontrado, e o norte da Austrália, onde as outras quatro espécies do mundo (peixe-serra anão, peixe-serra estreito, peixe-serra de dente grande e peixe-serra verde) persistem’.
“Se nada mais acontecer na próxima década, esses serão os únicos dois lugares em que sobrarão peixes-serra”, diz Dulvy.
Segundo a matéria da National Geographic, ainda há quatro países que têm em suas águas o peixe-serra, Papua Nova Guiné, Bahamas, Brasil e Sudão, mas são países em desenvolvimento, ou pobres, onde as pesquisas nunca acontecem de maneira satisfatória.
Crendices pioram a situação do peixe-serra
Além da pesca incidental, outros inimigos da espécie são costumes arraigados que persistem ainda hoje. Segundo matéria da NG ‘além de suas nadadeiras serem algumas das mais valiosas no mercado de comércio de barbatanas, os dentes cravejados em seu rostro podem render várias centenas de dólares como esporas em lutas de galos na América Central e do Sul’.
Já não bastava apenas a insípida sopa de barbatanas de tubarão, agora, as brigas de galo também contribuem para a perda da biodiversidade marinha. É muito triste perceber que costumes arraigados persistem, apesar de toda informação disseminada mundo afora pelas redes sociais.
Peixe-serra no Brasil
Pesquisamos para saber a situação do peixe-serra no Brasil, mas trata-se de tarefa das mais difíceis. Desde o governo Dilma o Brasil não conta com estatísticas da pesca, portanto não se sabe o que se pesca, e em qual quantidade.
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O que conseguimos saber é que este parente dos tubarões contava três espécies no Brasil. Duas delas, acredita-se, que ainda existam: Pristis pristis e o Pristis pectinata. Uma terceira, P. pectinata, foi extinta no país.
A matéria mais recente que encontramos sobre a espécie é de 2019, do site ecobiogeo.com: ‘Na Bahia existem relatos históricos da ocorrência do Pristis pristis, alguns inclusive com a guarda da “serra” do peixe por parte do pescador, do registro de Peixes-serra no estuário do Rio Paraguaçu, estuário do rio Subaé, do Inhambupe, Pojuca e Jaguaribe. Porém, nenhum exemplar é visto ou capturado desde meados da década de 1970′.
Na Amazônia
E mais: ‘No Brasil, atualmente, alguns exemplares de Pristis pristis ainda são encontrados no Norte do país, especialmente na costa oriental da Amazônia, onde apesar de ter a sua captura proibida desde 2004 pela Instrução Normativa IN.05/2004 do Ministério do Meio Ambiente (MMA), e cujo comércio já está proibido mundialmente desde 2013, é capturado ilegalmente por pequenas embarcações que utilizam redes-de-deriva, e vendem a carne em postas ou filetada como sendo de outras espécies de tubarões e raias, a fim de burlar a legislação’.
Imagem de abertura: National Geographic, Peter Kyne.
Fontes: http://ecobiogeo.com/blog/2019/10/17/dia-internacional-do-peixe-serra/; https://www.nationalgeographic.com/animals/article/searching-for-last-remaining-sawfish; https://advances.sciencemag.org/content/7/7/eabb6026; http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2015/06/pescadores-capturam-peixe-serra-de-quase-500-kg-em-alcantara-ma.html.
Estão aparecendo em São Luís com muita frequência e sendo mortos esse ano. Talvez haja algum fator para explicar. Alguns vídeos flagrando a espécie embaixo da Ponte Bandeira Tribuzzi, na foz do Rio Anil, foram compartilhados com comemorações. As pessoas acham que se trata de uma espécie de tubarão perigosa.