O primeiro mergulho. 22/1/13.

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Ontem descemos em terra para a primeira reunião entre brasileiros, chilenos e russos, com objetivo de coordenar os trabalhos de recuperação do barco.

O chefe da base russa emprestou a barcaça deles para apoio aos mergulhadores. Hoje ela deve vir até o Felinto Perry para receber o container de equipamentos.

Em seguida será fundeada ao lado do naufrágio para servir como plataforma de apoio aos mergulhadores.

A baia Fildes da popa do Felinto Perry.
A baia Fildes da popa do Felinto Perry.

Temos pouco tempo. Oleg, o chefe da base, cedeu o equipamento somente até o dia 31/1. Como o clima anda muito ruim, atípico, com ventos fortíssimos quase todos os dias, e muita cerração, fico preocupado. Com ventania não se pode mergulhar. E quando a neblina aperta muito, as operações do Felinto Perry são suspensas por ordem do comandante. O pior é que as condições mudam a cada cinco minutos.  Impressionante.

 

Ela chega de repente.
Ela chega de repente.

Agora mesmo tornou a acontecer. Estava tudo pronto para os mergulhadores saírem para trabalhar esta manhã, quando a neblina desceu de forma abrupta e violenta. Do convés superior não se enxergava a popa do navio. Imediatamente a operação foi suspensa.

Todos estão apreensivos. Os cinegrafistas, don Francisco, eu, Plínio, o comandante Luiz Filipe e seus oficiais. Há uma certa tensão no ar, o que não é nada bom. Estamos apenas começando a temporada antártica…daí pra “desandar o molho” é um passo.

Trabalhar sob pressão, sem harmonia, é a pior coisa que existe. Vamos ter que nos esforçar.

Durante a navegação de Punta Arenas para cá eu estava preocupado com duas coisas: como eu reagiria ao voltar à cena do naufrágio, e como seria para alimentar o site.

Preparando o bote.
Preparando o bote.

Quanto ao documentário, não tenho dúvidas, ficará ótimo. Editor e cinegrafista são excelentes profissionais. Criativos, rápidos, engajados. Estão adorando a experiência, a viagem e as descobertas de cada dia. E ambos tem jogo de cintura. Quando alguma coisa dá errado resolvem de outra forma em poucos minutos. Estou tranqüilo quanto a eles.

Mergulhadores quase prontos.
Mergulhadores quase prontos.

Restava responder às minhas dúvidas pessoais.

Ontem, quando desci em terra, a carga emocional veio de vez. Senti um enorme peso. Um baque. E não foi pela perda material. Mas pelo trabalho que estou dando. O aparato é gigantesco: um enorme navio com cem tripulantes. Equipamentos caríssimos, a necessária ajuda de outros países, sem a qual nada se faz.

Provoquei uma mobilização sem precedentes no lugar mais hostil ao ser humano: a Antártica.

Saindo para  o Mar Sem Fim.
Saindo para o Mar Sem Fim.

Se existe algo que me preocupa e amola, é saber que estou dando trabalho a outros. Detesto a ideia que um ato meu, ainda que involuntário, provocou este quiprocó internacional.

No momento meu  maior problema é lidar com esta realidade, sem deixar que a angústia,  e a tensão, prejudiquem o trabalho ou a moral de meus companheiros.

A balsa russa.
A balsa russa.

A questão de alimentar o site está resolvida. O Capitão de Fildes, Marcelo Juan Villegas, abriu as portas da capitania para que eu possa usar o seu computador pessoal sempre que necessário.

Conteiner colocado.
Conteiner colocado.

Neste momento, 14hs35, escrevo estas últimas linhas da sala de almoço da Capitania. Acabamos de desembarcar na praia. Lá fora faz um frio de rachar. E chove.

Don Francisco conversa com Oleg,chefe da base russa. Do lado esquerdo dele, Ruslan Eliseev.
Don Francisco conversa com Oleg,chefe da base russa. Do lado esquerdo dele, Ruslan Eliseev.
Comentários

10 COMENTÁRIOS

  1. Neste momento, estão todos curtindo poder de te ajudar, aliás não têm muito o que fazer por aí, além de lerem gráficos e observação, relaxe amigo amigo e boa sorte!

  2. Não se preocupe em achar que esta dando trabalho. Com toda a certeza todos estão empenhados com o máximo prazer em resgatar um ícone do espirito aventureiro de nosso pais.
    Parabéns e sucesso a todos,vibrações positivas sempre.
    Antonio Carlos

  3. Grande João

    Todos sabemos que voce é o mais chateado com o acontecido e que nada disso foi sequer cogitado.
    Mas vamos lá, foco aí na operação, energia que tudo dará certo.
    Ficarão os aprendizados e muitas lições.
    Desejo sucesso e que seu exemplo sirva pra muitos pois sabemos do seu cuidado e carinho com os ambientes marinhos

    Um forte abraço

    Fabricio Gandini
    Oceanógrafo
    Instituto Maramar
    Brasil

    • Oi, Fabrício, obrigado pela mensagem. Vindo de vc, que lida com o meio ambiente, tem ainda mais valor.
      Valeu, amigo, até breve.
      E não esqueça do nosso programa no rio….esqueci o nome! Como é possível? Bem, vc sabe do que falo.
      abraços

  4. Oi, João. Sou jornalista e mandei algumas perguntar por mensagem no seu Facebook e no contato aqui do site. O senhor pode respondê-las? Ou, se preferir, combinamos um bate-papo pelo skype ou telefone. Poderia ser em qualquer horário de sua preferência.

    Obrigada.

    Abs,

  5. Estou acompanhando com interesse esta operação. Sem dúvida é um trabalho danado que o Mar Sem Fim está dando aos outros. Como brasileiro eu espero que de contra-partida a toda esta mobilização seja a sua contínua contribuição científica para o melhor conhecimento de nossa costa e de nossos mares, como um vigilante incansável da melhoria de nosso ambiente. Que Deus os proteja nesta missão. Abraços.

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