Navio do período elisabetano é encontrado
O acaso favoreceu o encontro de uma raridade. Um navio do período elisabetano, isto é, do século 16, enterrado em uma pedreira de Kent, sul da Inglaterra, a cerca de 300 metros da costa. Os arqueólogos não têm certeza se o navio naufragou em sua localização atual, quando o promontório do Canal da Mancha e sua pedreira podem ter sido submersos pelo oceano. É igualmente possível que se trate simplesmente de um abandono no lago da pedreira quando já não era mais útil. Entretanto, é a primeira vez que um navio inglês deste período é encontrado em boas condições. Ou seja, ele pode ser a chave para um maior conhecimento das técnicas navais do período de colonização do Novo Mundo.
Construção entre 1558 e 1580
O encontro empolgou os arqueólogos marinhos. Um deles, Andrea Hamel, do Wessex Archaeology, declarou em comunicado: “Encontrar um navio do final do século 16 preservado no sedimento foi uma descoberta inesperada, mas muito bem-vinda. Ele tem potencial de nos dizer muito sobre um período em que temos poucas evidências sobreviventes da construção naval, mas ainda assim foi um período de grandes mudanças na construção e na navegação.”
Os últimos anos têm sido pródigos em encontros do tipo. Seja sem querer, como neste caso, seja pelos notáveis avanços da arqueologia submarina, como o navio da frota de Vasco da Gama (segunda viagem à Índia, 1502-1503) encontrado próximo à ilha de Al Hallaniyah, na costa de Omã.
Contudo, o navio de Gama estava quase totalmente destruído. Identificaram-no através de objetos de metal em meio aos destroços. Enquanto isso, o navio elisabetano está em condições de revelar muito sobre as técnicas do período.
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‘Percebendo que era algo importante, os funcionários alertaram o Kent County Council que, por sua vez, contatou a Historic England para investigar a descoberta.’
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Para saber a datação das madeiras utilizou-se a técnica dendrocronológica, ou seja, baseada nos anéis de crescimento das árvores.
Período crucial na história marítima da Inglaterra
O século 16 foi um período crucial na longa e vitoriosa história marítima da Inglaterra. Pode-se dizer que ele começou a se forjar durante a segunda viagem de circum-navegação do mundo (1577-80), realizada pelo queridinho da rainha, Sir Francis Drake.
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Como se sabe, a partir deste ponto a Inglaterra passou a liderar as técnicas navais e de navegação, tornando-se a maior potência mundial, posto em que permaneceu até o advento da Segunda Guerra Mundial.
Até o momento, informa o arkeonews.net, ‘Foram recuperadas mais de 100 madeiras do casco do navio, confirmando que era feito de carvalho inglês.’
Época de transição da construção naval inglesa
A nova descoberta é importante, especialmente porque revela um período de transição. Segundo o livescience.com, ‘De acordo com os pesquisadores da Wessex Archaeology, a estimativa de data coloca o navio durante um período de transição na construção naval no norte da Europa, quando a construção tradicional de “clínquer” de pranchas sobrepostas do casco (estilo de construção naval Viking) foi substituída pela construção mais forte, porém mais pesada, de “carvel” desenvolvida no Mediterrâneo, que usava pranchas de casco niveladas pregadas a uma estrutura interna.’
Um raro achado que pode preencher um vazio da história ocidental
O livescience.com mostra a sorte do acaso: A madeira apodrece rapidamente tanto no ar quanto na água. Ela geralmente dura apenas alguns anos, a menos que seja protegida por uma camada anaeróbica de sedimentos. Isto é, uma camada que a protege do oxigênio. Isso significa que os destroços de poucos navios antigos sobreviveram. Contudo, neste caso as madeiras do casco podem ter sido cobertas por uma camada anaeróbica de lodo sob o fundo do lago da pedreira.
“Os restos deste navio são realmente significativos. Eles nos ajudam a entender não apenas o navio em si, mas o cenário mais amplo da construção naval e do comércio neste período dinâmico”, disse Antony Firth, do patrimônio marinho da Historic England.
Usando varredura a laser e fotografias digitais, os arqueólogos documentam o que restou do navio. Porém, quando a análise for concluída, as madeiras serão cuidadosamente enterradas no lago para que continuem protegidas pela camada de lodo.
E, possivelmente, os historiadores elucidarão um dos períodos mais importantes da história para a compreensão da atualidade. Fascinante é pouco, mas extraordinário, não é demais para qualificar este achado.
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