Mar Brasil, de Frederico Brandini, lançamento da 2ª edição

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Mar Brasil, de Frederico Brandini, lançamento da segunda edição

Você sabia que a baleia foi a primeira commodity do comércio global? Frederico Brandini, oceanógrafo e ex-diretor do Instituto de Oceanografia da USP, IO-USP, explica em seu livro que foi para a segunda edição (Faccioli Editorial).

A carne destes animais era salgada para consumo; a banha era usada na fritura e conservação de alimentos; as barbatanas bucais eram usadas em armação de vestidos e espartilhos; os intestinos davam o âmbar, o principal fixador de perfumes; toda a iluminação pública e doméstica nas capitais e vilas da Europa era feita à base de óleo de mamíferos marinhos, bem como a lubrificação de ferramentas e máquinas da Revolução Industrial.

Uma exceção em se tratando de um cientista: linguagem fácil, coloquial

Os oceanos são fundamentais para o sistema climático global e para a saúde planetária. Eles absorvem 25% de todas as emissões de dióxido de carbono (CO2), capturam 90% do calor adicional gerado pelas emissões de gases de efeito estufa,  produzem parte do oxigênio que respiramos, e ainda nos dão proteínas indispensáveis para nosso desenvolvimento. Atualmente, três bilhões de pessoas dependem deles para sobreviver.

Apesar disso, no Brasil há pouco livros de especialistas escritos para leitores não especializados.  Este é o caso de Mar Brasil, de Frederico Brandini, um livro que, além de ensinar, é prazeroso de ler, fácil de compreender, e repleto de alertas sobre nosso modo insustentável de viver.

Brandini se esmerou para passar seu conhecimento em linguagem simples nas crônicas que escrevia para o site O Eco, lançado pelo jornalista Marcos Sá Corrêa e que redundaram neste livro. Dividido em sete capítulos, a obra expõe a experiência, a paixão e a vocação para ensinar da criança que se apaixonou pelo mar aos oito anos de idade, quando ganhou do pai uma canoa de três metros de comprimento feita pelos mestres caiçaras de Ubatuba.

Os mergulhos impressionaram. Brandini estudou biologia e hoje é oceanógrafo

Cerca de 70% da população brasileira vive perto do mar, e, direta ou indiretamente, utiliza seus recursos de diversas formas. A pesca artesanal, esportiva e industrial, o turismo e os recursos minerais incluindo petróleo, transporte naval, obras oceânicas e construções ao longo da orla marítima, representam uma fração significativa do PIB Nacional.

Segundo Brandini, a ignorância de políticos, empresários e educadores, é um dos piores problemas

Desde os tempos universitários venho acompanhando de perto o impacto negativo que o desenvolvimento socioeconômico dos últimos 30 anos provocou, e ainda provoca, em nosso mar. A total falta de reconhecimento por parte de quase todas as esferas da administração pública, dos políticos, empresários e educadores sobre a importância do mar para sociedade brasileira ameaça a integridade física e biológica dos ecossistemas marinhos.

Brandini sabe que a sociedade ainda não reconhece a importância do maior ecossistema do planeta, aquele que permitiu que a vida florescesse, numa espécie de ‘autismo da sociedade em relação à importância do mar na nossa história, na economia, etc’ como ele diz. Para ele, o Ministério da Educação deveria incluir no currículo, desde o ensino básico, muito mais temas marinhos.

Os primeiros invasores datam do período da descoberta

Com 300 páginas, fotos de Marcelo Skaf, e textos explicativos de Juliana Gonçalves, todos oceanógrafos, o livro recorda o início da degradação do Litoral, ainda no século 16

começou a invasão de espécies exóticas agarradas ao casco das caravelas. Assim que sentiam o decréscimo da salinidade na costa brasileira, lançavam suas larvas invasoras contaminando a teia alimentar local. Hoje fazem parte da paisagem submarina de nosso litoral.

Histórico da devastação da Mata Atlântica

Em seguida, explica, como começou a devastação da Mata Atlântica e, mais recentemente, as margens dos rios que deságuam no mar. Com a expansão urbana e industrial, veio a poluição. Nossas baías estão ameaçadas pela expansão urbana. Manguezais, fundamentais para inúmeras espécies de peixes e crustáceos, são devastados no Nordeste pela carcinicultura, a criação de camarões em cativeiro.

Não adianta alertar os maricultores, na maioria industriais, sobre o que aconteceu no Equador que cometeu o erro de devastar seus manguezais para substituí-los por fazendas de camarão. Como nas monoculturas o desequilíbrio ambiental trouxe doenças que devastaram grande parte da produção, além de prejudicar a pesca artesanal.

(Se você quer saber como é a carcinicultura no Nordeste, assista este programa)

E assim, numa linguagem simples, de um contador de histórias, Brandini explica o impacto do homem sobre a biodiversidade marinha; fala das populações tradicionais; de clima e circulação oceânica; da energia do mar; e ainda conservação e educação ambiental.

O Canadá dá subsídios para o pescador NÃO pescar

Ensinando que nossas águas temperadas são pobres em biomassa pesqueira, Brandini indaga:

de que adianta subsidiar o pescador com óleo diesel e construção de barcos de pesca se a quantidade de peixes não é suficiente para todos os que pescam?

E condena os “programas governamentais paternalistas”

envolvem subsídios, não são auto-sustentáveis e não geram autonomia. O Canadá dá subsídios ao pescador não para pescar, mas para montar uma padaria, uma oficina especializada, bolsa de estudos para os filhos, etc.

O livro é gostoso de ler e ainda ensina

O recado das crônicas é claro: não podemos continuar ignorando os problemas causados pela ocupação do litoral, a poluição, a devastação de ecossistemas. É preciso mais seriedade, uma agenda de longo prazo, planejamento, entre outros.

O livro é ilustrado com fotos deslumbrantes de Marcelo Skaf.

Mar Brasil, de Frederico Brandini, imagem submarina de uma arraia
Mar Brasil, de Frederico Brandini. Foto: Marcelo Skaf

Tubarões: ‘a indústria da pesca apontou o dedão para baixo e condenou-o à morte’

Entre as milhares de espécies que habitam os oceanos, as mais importantes são os predadores do topo da cadeia alimentar. No entanto, um pouco por desconhecimento, e outro tanto por comodismo, poucas pessoas se incomodam com extermínio a que estão passando estes animais que começaram a colonizar os oceanos antes da primeira árvore surgir no planeta Terra, 400 milhões de anos atrás.

A indústria da  pesca apontou o dedão para baixo e condenou-o à morte enquanto governos e opinião pública fecham os olhos
Fred ainda demonstra que continuamos tão bárbaros quanto na Idade da Pedra ao permitirmos a morte de milhões de focas bebês…
…por bordoadas na cabeça e esfolamento vivo em nome da produção
de casacos de pele para as peruas do Hemisfério Norte

Como iniciativas de sucesso, ele elogia o Tamar e ressalta a importância dos ‘capitães de areia dos tempos modernos’  que tiram das praias toneladas de lixo. E assim, ao longo dos capítulos escritos em linguagem simples, de um contador de histórias, Brandini mostra o impacto do homem sobre a biodiversidade marinha.

Saiba mais sobre o autor

Frederico Brandini
Frederico Brandini.

Graduado em Ciências Biológicas pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (1976), Mestre em Oceanografia Biológica pela Tokyo University of Fisheries (1981) e Doutor em Oceanografia Biologica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (1986). Pós-Doutorado no Instituto Alfred-Wegener (Alemanha) como bolsista da Fundação Humboldt (1991-1992). Foi Professor Assistente-Adjunto-Associado do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (1981-2008), da qual recebeu o título de Professor Emérito (2009). Atualmente é Professor Titular do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

O Mar Adriático, de tão quente, está ficando tropical?

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