Joe Biden, meio ambiente e possíveis mudanças internas
A eleição de Joe Biden muda o cenário. Para os que não se conformam com a visão equivocada de Bolsonaro, é a melhor notícia dos últimos tempos. Por sua teimosia, ele agora está isolado. Sozinho em sua ignorância mortal. E não duvide, o descaso ambiental vai mudar. Biden cancelou o oleoduto, suspenso por Obama mas liberado por Trump, que levaria petróleo do Canadá até o Texas. No plano externo, decidiu-se pela volta dos Estados Unidos ao Acordo de Paris. E o melhor: Biden se comprometeu a proteger 30% das terras e mar territorial norte-americanos até 2030, engrossando o coro dos que defendem esta proteção há tempos. Post de opinião: Joe Biden, meio ambiente e possíveis mudanças internas.
Joe Biden, meio ambiente e luta climática
A luta contra a mudança climática, que no Brasil não é levada a sério desde antes deste governo assumir, e que o chanceler considera um ‘complô comunista’, será um dos pilares do governo Biden. “Um grito por sobrevivência vem do próprio planeta”, afirmou em discurso de posse.
Joe Biden prometeu em comunicado “ouvir a ciência” para “melhorar a saúde pública e proteger o meio ambiente; garantir o acesso a ar e água limpos; reduzir as emissões de gases de efeito estufa; reforçar a resiliência aos impactos das alterações climáticas;” entre outras.
A primeira mudança no Brasil atinge em cheio a ala ideológica formada pelos filhos numerados, além de Ernesto Araújo, e Ricardo Salles. Passados dois anos de governo, são os que sobraram.
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Outros, como Abraham Weintraub que paralisou o ministério da Educação e fez troça com nosso maior parceiro comercial, forçaram Bolsonaro a demiti-los depois de tantos desaforos (Lembrando que o atual ministro da Educação é o quarto em dois anos).
Os poucos que acreditavam na ciência, como os dois primeiros ministros da Saúde, também saíram pela incompatibilidade com o chefe e sua ‘peculiar’ visão de mundo. Como todos sabem, foi escolhido alguém que ‘obedece ordens’.
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Discute-se hoje se Ernesto Araújo conseguirá manter-se no cargo. E já há nomes especulados pela mídia para, possivelmente, ocuparem seu lugar.
Apesar da troca, os analistas não esperam mudanças na política externa que nos colocou na posição de pária. Araújo não fez se não seguir as ordens do chefe. Mas será mais uma derrota para a ala ideológica.
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Quanto ao ‘ministro’ do Meio Ambiente, a teimosia presidencial ainda o mantém no cargo. Até quando? O ‘ministro’, mais um negacionista do primeiro escalão, perdeu a credibilidade nos fóruns internacionais. Ernesto Araújo nunca teve.
Quem representará o País nas reuniões de cúpula internacionais?
Joe Biden, meio ambiente e a primeira mudança: o ambientalismo ganhará força
É praticamente unânime entre os analistas que este site respeita. Sérgio Amaral, embaixador e conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais – CEBRI, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, diz que ‘a centralidade da aliança transatlântica (entre os EUA e União Europeia), fortalecerá as pressões de grupos ambientalistas, de ambos os lados do Atlântico, sobre parlamentares e opinião pública, consumidores e investidores, para a adoção de sanções econômicas contra o Brasil, no caso de o governo não adotar medidas concretas e quantificáveis no combate ao desmatamento na Amazônia’.
Para o mesmo jornal escreveu Rubens Barbosa, embaixador e presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior – IRICE, dizendo que ‘os EUA voltarão a dar prioridade aos organismos multilaterais, com o retorno à Organização Mundial de Saúde, o fortalecimento da OMC e adesão ao Acordo de Paris’.
Quem será nosso interlocutor?
O número ‘UM’ do Brasil nos organismos multilaterais seria o chanceler. E, nos assuntos ambientais, o ‘ministro’ do Meio Ambiente. Antes da eleição de Biden eram tolerados com repulsa. E agora, serão recebidos?
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Temos dúvida.
Araújo também agrediu publicamente o maior parceiro comercial do Brasil, a China. E perdeu a interlocução com o país. Agora, quando precisamos de insumos para as vacinas, quem articula é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ou Tarcísio Freitas, da Infraestrutura. Pra que serve o chanceler?
A Folha de S. Paulo (22/1), na matéria Apesar de sinal verde indiano, Bolsonaro faz cobranças a Ernesto e já avalia saída honrosa, mostra que nos bastidores já se procura um substituto. O jornal diz que ‘Bolsonaro não quer passar a impressão de uma demissão. Por isso, preferiu esperar um pouco mais’.
Eliane Cantanhêde, no Estado (21/1), foi na mesma linha: “Bolsonaro não tem alternativa. Ou dá um cavalo de pau na política externa e muda Araújo e sua turma ou vai ter muito problema com a era Biden’.
Portanto, parece questão de tempo para Bolsonaro ficar ainda mais só, com sua ‘ala ideológica’ restrita aos filhos com problemas na Justiça.
É outro ponto positivo da eleição norte-americana.
Segunda mudança: o ‘ministro’ do Meio Ambiente ‘balança’
Ele já se indispôs de tal forma que, mesmo internamente, perdeu o controle da Amazônia para o vice-presidente. E o respeito entre os pares. Se esta perda de prestígio ainda é tolerada, e ele permanece ‘ministro’, os fóruns internacionais não terão a mesma comiseração.
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Neste 2021 acontecerá a COP 26, próxima reunião de cúpula no Reino Unido, Glasgow, possivelmente em novembro, a depender da pandemia.
Mesmo que a teimosia de Bolsonaro o mantenha no cargo, o ‘ministro’ não tem mais o respeito da comunidade internacional. Ele quase pôs fim à COP 25 que mudou para Madri angariando antipatia mundial.
A segunda grande mudança provocada pela eleição de Biden é o enfraquecimento do ‘ministro’ do Meio Ambiente. E quanto mais fraco, melhor para o meio ambiente.
A Amazônia na era Biden sinaliza a terceira mudança: a leniência com as ‘multas do Ibama’ tende a diminuir
Ele mandou um duro e claro recado durante o debate com Trump. Ao mesmo tempo em que prometeu US$ 20 bilhões para combater a devastação deliberadamente provocada, não deixou dúvidas sobre retaliações em caso de reincidência.
O ‘ministro’ foi ‘eficiente.’ Em 2019, primeiro ano de governo, a área desmatada na Amazônia atingiu o nível mais alto desde 2008, quase 30% a mais que em 2018. Não poderia ser diferente, as multas ambientais caíram 34% neste ano.
No segundo, o desmatamento aumentou 34%. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, cerca de 9,2 mil quilômetros quadrados foram desmatados. Como no ano anterior, as multas do Ibama continuam na gaveta e nada das audiências de conciliação acontecerem.
Biden na presidência
Com Biden na presidência da maior economia do planeta, apostamos que em 2021 a taxa de desmatamento vai diminuir. Em 27 de janeiro Joe Biden se comprometeu a proteger 30% das terras e mar territorial norte-americanos. Esta tendência mundial ganhará força. Não há alternativa. Ou Bolsonaro repensa sua política ambiental, ou o Brasil fica só nesta economia globalizada.
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É muito provável que até meados deste ano a pandemia esteja controlada nos Estados Unidos. Então, Biden terá mais tempo para se dedicar às questões ambientais. E não foi só Biden a prometer retaliação em caso de reincidência.
No Fórum Econômico de Davos, em 2019, investidores foram duros com a questão mais relegada pela atual administração. Fato confirmado pelo ministro Paulo Guedes em declaração ao Globo News ‘as preocupações ambientais podem atingir, ainda que indiretamente, os investimentos no Brasil’.
Mais importante que o reconhecimento do ministro da Economia foi o Relatório Global de Riscos, produzido pelo Fórum Econômico Mundial. O relatório afirmava que, pela primeira vez, todos os “principais riscos de longo prazo em relação à probabilidade são ambientais.”
Na mosca! No ano seguinte explodiu a pandemia. O mundo, assustado, repensa sua atuação ambiental. A tendência é ainda mais pressão internacional contra quem despreza um meio ambiente saudável.
Isso é positivo para nós. A leniência com as multas do Ibama deve diminuir.
Quarta mudança, o negacionismo perde força
Será um alívio. Já explicamos como nasceu o negacionismo com as mentiras das indústrias do tabaco e do petróleo que financiavam ‘cientistas’ inescrupulosos, ainda no século passado.
Com a ascensão do Pinóquio Trump, e seu ventríloquo no Brasil, o negacionismo ganhou força. Dividiu ambos os países através das redes sociais. Foram tantas as mentiras que Trump foi expulso delas, e Bolsonaro, advertido.
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Com o negacionismo desmoralizado, diminui a polarização.
Quinta mudança: ‘o Brasil está sozinho’, pressão contra Bolsonaro aumenta
Bolsonaro apostou no errado. E perdeu. O embaixador Sérgio Amaral (O Estado de S. Paulo, 25/1) reforça: ‘Não é o mundo que está contra o Brasil, é o Brasil que está contra o mundo. Precisamos fazer uma avaliação dos custos que esta política está trazendo. O Brasil está sozinho.”
Esta avaliação dos custos que esta política está trazendo já está sendo feita pelos agentes econômicos, estrangeiros e nacionais. Quando o assunto não é pandemia na imprensa é o ‘novo’ conceito econômico dela derivada que ganha as manchetes, conhecido pela sigla ESG ou Environmental, Social and Governance (Boa Governança Ambiental Social).
É o lado bom da pandemia se mostrando.
Na política o cenário se deteriora
Não apenas o Brasil está sozinho. Do mesmo modo está Bolsonaro. Como lembrou O Estado de S. Paulo em editorial de 22/1, sob o título Pedidos de impeachment, ‘a pandemia do novo coronavírus significou, para Jair Bolsonaro, uma multiplicação do número de pedidos de impeachment’.
‘Desde 2019, 61 denúncias contra Jair Bolsonaro a respeito de crimes de responsabilidade foram protocoladas na Câmara dos Deputados. Desse total, 54 foram apresentadas depois de março de 2020, quando começou a pandemia no País’.
Apesar de não acreditarmos no impeachment neste momento, aos poucos até seus aliados, pressionados, passam a agir. É o caso de Augusto Aras, escolhido pelo chefe para a Procuradoria Geral da União.
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Em 23/1 Aras pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito contra o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para apurar se houve omissão na crise provocada pela falta de oxigênio para pacientes com covid-19 em Manaus.
Precisamos lembrar que Pazuello ‘obedece ordens’?
É mais uma novidade bem-vinda. Continuando nesta toada, o presidente tende a perder apoio entre seus pares, sem falar nos índices de popularidade que diminuem a cada omissão. O cenário de terror em Manaus não será esquecido tão cedo.
A perda de apoio popular é o que falta para o impeachment ser avaliado pelo Congresso. Não falta muito para acontecer com Bolsonaro.
Imagem de abertura: AP Photo/Evan Vucci.
Fontes: https://www.dw.com/pt-br/biden-cancela-pol%C3%AAmico-oleoduto-que-atravessaria-os-eua/a-56299496; https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,pedidos-de-impeachment,70003589989; https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/01/apesar-de-receber-vacinas-da-india-bolsonaro-faz-cobrancas-a-ernesto-e-ja-avalia-saida-honrosa.shtml; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,analise-impacto-economico-do-governo-biden-no-brasil,70003587243; https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,analise-para-que-serve-um-chanceler,70003588766; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,analise-o-fator-biden,70003587230; https://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/nao-e-o-mundo-que-esta-contra-o-brasil-e-o-brasil-que-esta-contra-o-mundo-diz-sergio-amaral/; https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,pedidos-de-impeachment,70003589989.