Incêndios no Pantanal em 2021 podem ser novo recorde
A seca persiste no Centro-Oeste, mas isto não é novidade. Cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres (Cemaden) alertaram desde 2020 que o Pantanal vive a pior seca em 60 anos. Por isso, no ano passado alertamos sobre a possibilidade dos incêndios em 2021 superarem os de 2020 quando houve recorde de destruição no bioma. Faltando ainda quatro meses para encerrar o ano, o fogo já consumiu 261 mil hectares, valor maior que a média histórica para o período de janeiro até 21 de agosto. Incêndios no Pantanal em 2021 podem ser novo recorde.
Incêndios no Pantanal e Amazônia em 2021
Nada de novo no front. Com a política ambiental suicida de Bolsonaro, e o aquecimento global, era mais que esperada a repetição dos horrores que assistimos em 2020.
Além da seca reforçada pelo aquecimento global, e a destruição de partes consideráveis da floresta Amazônica responsável pelas chuvas na região, nossos órgãos ambientais estão no ‘osso’, com equipes mínimas e moral baixo. Não poderia ser diferente.
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Depois de desmontar o Ibama e o ICMBio, e ser duramente pressionado interna e externamente, o governo recorre ao Exército mais uma vez para frear a perda florestal.
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Desta vez a mobilização ganhou o nome de Operação Samaúma, quando o vice-presidente, responsável pelo Conselho da Amazônia prometeu uma redução de 12% no desmatamento (em comparação ao ano passado).
Promessa que, antes do ano acabar, já se mostra cada vez mais difícil de ser cumprida. E, num momento de crise econômica aguda com quase 15 milhões de desempregados, inflação descontrolada, e muita gente passando fome, o governo vai gastar milhões numa operação que era parte da rotina do Ibama até o advento Ricardo Salles detonar a autarquia.
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Incêndios no Pantanal em 2021 já equivalem aos de 2020
De acordo com a Folha de S. Paulo, ‘desde o início do ano até 21 de agosto a maior planície alagável do mundo já havia perdido 261.000 hectares para o fogo, o equivalente a dois municípios do Rio de Janeiro’.
O jornal teve como fonte dados do laboratório de Meteorologia (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Importante ressaltar que ainda não entramos em setembro, historicamente o mês com mais focos de incêndio.
A Folha explica que ‘diferentemente de 2020, quando os grandes incêndios se alastraram primeiro pelo Pantanal de Mato Grosso, neste ano a região mais crítica é o sul do Pantanal de Mato Grosso do Sul’.
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‘No domingo’, prossegue, ‘o fogo chegou bem próximo da área urbana de Bela Vista, cidade fronteiriça com o Paraguai, origem do fogo. Um paiol de munição do Exército teve que ser esvaziado por precaução’.
A tragédia de 2020
Em 2020 um terço do Pantanal foi devastado. E as chuvas deste ano não foram suficientes para recuperar os rios da região. A Amazônia, que antes garantia esta chuva, hoje já não tem tanta força.
A Folha destaca que ‘em 20 de agosto o rio Paraguai, o mais importante do Pantanal, atingiu 0,44 metro em Cáceres (MT), o nível mais baixo registrado no local. No mesmo dia de 2020, era de 0,70 metro. O nível médio para o período é 1,49 metro’.
No mesmo dia em que a Folha publicou a matéria sobre o Pantanal, O Estado de S. Paulo destacava levantamento do MapBiomas que mostra que em 30 anos 15,7% da superfície de água do Brasil desapareceu.
‘De 1985 até 2020, o Pantanal perdeu assombrosos 74% da superfície de água, segundo levantamento do MapBiomas’.
Portanto, é bom irmos nos acostumando a esta nova realidade. A água, até pouco tempo atrás abundante no País, passa a ser mais escassa.
Segundo o relatório, ‘todos os biomas brasileiros foram afetados e suas perdas mensuradas em pesquisa inédita do MapBiomas…’
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‘Das 12 regiões hidrográficas, oito revelam hoje os efeitos do desmatamento, da mudança climática, e da destruição de mananciais, refletido na crise hídrica que afeta o meio ambiente e a geração de energia elétrica’.
‘Neste ritmo vamos chegar a um quarto (25%) da redução da superfície de água do Brasil antes de 2050’, afirmou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.
A ajuda das demonizadas ONGs para combater o fogo no Pantanal
A matéria da Folha dá conta sobre uma iniciativa financiada por doações de pessoas físicas que formou dezenas de brigadistas.
‘A ONG Instituto SOS Pantanal já capacitou 305 pessoas, espalhadas por 18 comunidades e 21 fazendas. A área de abrangência das 24 brigadas rurais é de 400 mil hectares. Oito destas brigadas entraram em ação nos últimos dias’.
Aí está mais uma ação importante das entidades igualmente demonizadas pelo governo desde a fase de campanha, provando mais uma vez o equívoco do governo ao generalizar. O trabalho da SOS Pantanal é fundamental num momento de dupla crise como a que vivemos: ambiental e econômica.
Segundo a Folha, cerca de 70% do orçamento (para a capacitação) veio por meio de 22 mil doações de pessoas físicas, com média de R$ 50 per capita. Houve também ajuda de empresas e, recentemente, o projeto obteve mais recursos por meio da venda de obras doadas por artistas. O custo do treinamento e compra de equipamentos para as brigadas comunitárias ficou em cerca de R$ 800 mil.’
Imagem de abertura: Gustavo Foguerôa/SOS Pantanal
Fontes: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2021/08/incendios-no-pantanal-alcancam-ritmo-da-destruicao-recorde-de-2020.shtml?origin=folha; https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2021-08/operacao-samauma-ja-aplicou-r-57-milhoes-em-multas-ambientais; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,levantamento-mostra-que-pais-perde-16-da-superficie-de-agua-em-30-anos,70003818428.