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Impactos da mineração submarina, conheça

Impactos da mineração submarina, conheça

Para começar, há uma discussão no hemisfério norte que quase não chega ao Brasil. Trata-se dos impactos da mineração submarina prestes a começar em grande escala. A princípio, assuntos como este, que geram polêmica no exterior, estão nas primeiras páginas dos jornais mais influentes como o New York Times.

Fonte hidrotermal. Imagem,Mark Pernice.

Acima de tudo, em agosto de 2020 o NYT publicou artigo assinado por dois especialistas, Steven H.D. Haddock, cientista sênior do Monterey Bay Aquarium Research Institute; e C. Anela Choy, professor assistente da Scripps Institution of Oceanography.

‘Tesouro e agitação no mar profundo’

Este foi o título do artigo do Times tratando dos impactos da mineração submarina. Nele, os especialistas levantam algumas questões relacionadas ao iminente início de mais esta atividade no mar. Há muito o Mar Sem Fim comenta que este século provavelmente verá o fim da pesca industrial, e o início de uma atividade ainda mais prejudicial, a mineração.

O futuro chegou? Ilustração, https://www.offshore-energy.biz/.

Apesar dos alertas da comunidade científica, até hoje não se conseguiu controlar a pesca industrial. E é de fato algo difícil que envolve várias questões: dos empregos em muitos países, à alimentação em outros tantos. Para não falar na dificuldade de controlar uma atividade que ocorre, sobretudo, num espaço correspondente a cerca de 70% da superfície do planeta.

‘Operações de mineração submarina exploram estratégias para saquear esse tesouro’

O título está entre aspas porque a frase consta do artigo em referência. Os autores explicam que ‘explorações de mineração cobrindo mais de 500.000 milhas quadradas foram aprovadas pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (International Seabed Authority), que regulamenta a mineração em águas internacionais’.

Ilustração, Wikimedia Commons.

Antes de mais nada, por que tanto temor? Porque se nem a pesca tem controle eficaz, em outras palavras, imagine o que pode acontecer com os “campos de nódulos metálicos e imponentes chaminés hidrotérmicas que acumulam metais preciosos e valorizados, estimados em bilhões a até trilhões de dólares.”

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Trilhões de dólares, este é o grande perigo. Segundo os autores, agora estes campos e chaminés  “estão lá para serem tomados, e as operações de mineração ao redor do mundo frequentemente exploram estratégias para saquear esse tesouro, afirmando que a mineração no fundo do mar é mais sustentável e menos prejudicial do que fazê-lo em terra.”

O que existe no fundo do mar

Enquanto isso, como se sabe, conhecemos mais o espaço sideral que o fundo dos oceanos. Fontes das mais qualificadas dizem que até hoje o ser humano explorou algo em torno de 5% do assoalho marinho. Mas, mesmo assim, sabe-se o que “o fundo do mar não é um deserto estéril e sem vida, como se pensava.”

O mapa das minas. Ilustração, https://www.iucn.org/.

“A exploração nas últimas décadas revelou corais com milhares de anos, além de micróbios que podem tratar câncer e doenças infecciosas e campos de fontes hidrotermais de proporções monumentais, a partir dos quais criaturas vivas convertem enxofre e metano em energia, oferecendo um vislumbre das origens da vida na Terra.”

Os autores alertam: “Mas, como nós e nossos colegas observamos recentemente na revista Proceedings of the National Academy of Science, os impactos da mineração submarina serão pronunciados e debilitantes  não apenas no fundo do mar. Mas também em toda a coluna de água profunda que se estende por cerca de 600 pés abaixo da superfície até o fundo, onde ocorre a extração.”

A formação dos minerais submarinos: até 14 milhões de anos!

Acima de tudo, “os minerais procurados se formam e se acumulam de forma extremamente lenta no fundo do oceano, com taxas de crescimento de apenas alguns milímetros por milhão de anos.”

Portanto, “um nódulo do tamanho de uma bola de tênis no fundo do mar e consistindo em grande parte de valiosos metais de terras raras pode ter mais de 14 milhões de anos.”

Não, não são pedaços de carvão. Eles são pepitas de manganês de ferro. Imagem,https://daily.jstor.org/.

Em primeiro lugar, “embora o ecossistema possa se recuperar até certo ponto depois de cem anos, os recursos minerais nunca serão substituídos. A mineração, portanto,  atende aos consumidores atuais, mas deixa as consequências ambientais para seus filhos e netos.”

Mas quem se importa com as futuras gerações? Até o advento da pandemia nem mesmo o aquecimento global, apesar dos incêndios mundo afora, era levado a sério. Foi preciso Joe Biden assumir a presidência nos Estados Unidos para a comunidade mundial finalmente encarar de frente o que é considerado o maior problema da humanidade.

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‘O que falta na avaliação dos impactos da mineração submarina’

“Criticamente, o que falta nas avaliações dos impactos da mineração submarina é o efeito sobre o próprio oceano. O mar não é apenas o fundo do mar sozinho, mas também o que está acima dele: cerca de 13.000 pés de água em média, mais do que o dobro da profundidade do ponto mais profundo do Grand Canyon e incluindo mais de 90 por cento dos habitats que sustentam a vida do planeta.”

Da medo só de ver: estas são algumas das ‘maquininhas’ que farão a operação submarina. Imagem, https://chinadialogueocean.net/.

Em outras palavras, “mais de 90 por cento dos habitats que sustentam a vida do planeta.” O assunto é sério, e já é discutido no Brasil na academia. Mas o tema ainda não ganhou repercussão fora dela.

Pequena contribuição do Mar Sem Fim

Temos feito nossa parte repercutindo. Recentemente entrevistamos o oceanógrafo da USP Alexander Turra, e já faz tempo que mostramos que o Brasil está prestes a conseguir autorização da ISAAutoridade Internacional dos Fundos Marinhos – para iniciar operações na Elevação do Rio Grande.

Trata-se de uma imensa cadeia montanhosa que submergiu há cerca de 40 milhões de anos. A Elevação é a maior cadeia submersa da margem continental brasileira. Fica ao largo do Rio Grande do Sul. Tem sido intensamente estudada nos últimos anos. A finalidade é tornar viável a exploração de suas riquezas minerais.

Como será feita a exploração submarina

“Quando um nódulo é arrancado e aspirado do fundo do mar, por exemplo, ele é bombeado para um navio de superfície por meio de um oleoduto. Os minerais são removidos e, em seguida, o fluido lamacento, sedoso e enriquecido com toxinas é bombeado de volta ao mar como o que é chamado de “pluma de desidratação”.

Ilustração, https://www.researchgate.net/.

“Partículas mais pesadas irão afundar no fundo do mar, mas devem passar por milhares de metros de água intermediária antes de se assentarem. Além disso, o lodo fino irá derivar e fluir por milhas e meses nas correntes oceânicas. É assustadoramente claro que o impacto dessa nuvem flutuante nos ecossistemas de águas abertas será severo, variado e em escala global.”

Mineração submarina e a relação com o clima na Terra

NYT: “Décadas de ciências do fundo do mar nos ensinaram que os organismos nas águas profundas têm adaptações que os tornam especialmente suscetíveis a esses impactos da mineração. Do mesmo modo, muitos deles se alimentam de pequenas partículas que descem da superfície, como se fossem um globo de neve gigante.”

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Os protestos já começaram. Imagem, STUFF.

“Esses filtros alimentadores, contudo, não se limitam a vermes e caracóis, mas também incluem a lula-vampiro e cadeias gelatinosas de 30 pés de comprimento chamadas salpas (parte do subfilo tunicata) da família dos tunicados que filtram o plâncton. Este processo de consumir partículas contribui para o fluxo de carbono da atmosfera para os sedimentos profundos do oceano, ajudando a regular o clima da Terra.”

A exploração submarina pode voltar em forma de alimentos tóxicos

Assim como já se sabe que hoje comemos parte do que descartamos de forma errada, por exemplo, microplástico que são encontrados em peixes, frutos do mar, e até no sal de cozinha, os autores alertam que o mesmo pode acontecer com a mineração submarina.

“Vimos que a rede alimentar é complexa e interconectada, ligando-se, em última análise, a pescarias comerciais no valor de bilhões de dólares. Em outras palavras, quaisquer toxinas no meio ambiente ou na dieta desses peixes irão parar em nossos pratos.”

Além disso, “como resultado da mineração, os animais que já viviam perto de seus limites fisiológicos comeriam um bocado de sujeira venenosa no café da manhã, respirando através das guelras entupidas e estreitando os olhos em meio à névoa lamacenta para se comunicar.”

Ficção ou realidade? Imagem, http://dsmobserver.com/.

“Com base nas taxas de descarga previstas, um único navio de mineração irá liberar entre dois milhões e 3,5 milhões de pés cúbicos de efluentes todos os dias, o suficiente para encher uma frota de caminhões-tanque de 15 milhas de comprimento.”

Nesse ínterim, ” imagine esse processo funcionando continuamente por 30 anos – o tempo de vida de um arrendamento de mineração. Ao mesmo tempo, essas plumas de sedimentos não respeitarão os limites bem definidos por uma licença.”

“Quem lucra com a atividade de mineração submarina”

NYT: “As empresas e agências governamentais que lucram com as atividades de mineração estão localizadas nos Estados Unidos, Canadá, Europa e Ásia. Eles estão geográfica, política e economicamente fora das pequenas nações insulares que sofrerão o impacto das consequências.”

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‘O deslumbrante tesouro da biodiversidade oceânica’

Os autores encerram suas considerações com a parágrafo abaixo.

“Historicamente, o fundo do mar foi considerado remoto e em grande parte desprovido de vida, e com uma capacidade inesgotável de absorver nossa poluição. Na realidade, esses ecossistemas de águas profundas são frágeis, diversos e conectados a nós. As operações de mineração devem reduzir seu impacto em todo o oceano e não apenas no fundo do mar. O deslumbrante tesouro da biodiversidade oceânica também tem um valor insondável.”

Assista ao vídeo animação e saiba como sofrerá ‘o deslumbrante tesouro da biodiversidade oceânica’

Ilustração de abertura: https://www.researchgate.net/.

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