Engenharia dos oceanos pode minimizar o aquecimento global?

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Engenharia dos oceanos pode minimizar o aquecimento global?

Desde o Acordo de Paris, em 2015, muitos especialistas já diziam que a maioria dos países não conseguiria atingir suas metas de redução de emissão de gases de efeito estufa. Naquela época, os eventos extremos ainda não tinham saído das entranhas da Terra, cheios de ira pelos maus tratos, e provocado tanta destruição como nestes últimos dois a três anos. Em 2017, publicamos o post “Brasil e metas do Acordo de Paris: longe de serem atingidas”. Nele, mostramos que o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030. Na mesma matéria, falávamos da ajuda que poderia ser a regulamentação dos créditos de carbono.

coral doente
As altas temperaturas e a acidez estão matando os corais. Imagem, USA Environmental Proctetion Agency.

Contudo, hoje não temos a regulamentação, por omissão do governo federal. E, apenas pelos incêndios dos dois últimos anos, também sabemos que não vamos atingir nossas metas. E não estamos sozinhos, a maioria dos grandes emissores já sabe que não vai cumprir suas metas. Como o problema é generalizado,  cada vez mais se fala em retirar dióxido de carbono da atmosfera através da engenharia dos oceanos.

O que é engenharia dos oceanos?

A engenharia dos oceanos representa um campo de estudo avançado dentro da tecnologia marinha, englobando áreas como engenharia marítima, engenharia offshore e tecnologia eletrônica marítima. Muitas organizações contratam engenheiros para analisar o ambiente oceânico e compreender seu impacto nas estruturas marinhas. Ademais, é crucial investigar também o efeito inverso, um aspecto central dessa disciplina.

A definição acima, retirada do Marine Insight, sugere que o foco atual de muitos especialistas se concentra em “estudar as estruturas naturais marinhas para amenizar os impactos do aquecimento global”. Em outras palavras, a pesquisa busca maneiras de potencializar o papel dos oceanos como sumidouros naturais de gases de efeito estufa, explorando como esses ecossistemas podem contribuir ainda mais na mitigação das mudanças climáticas.

Essa não é a única área do conhecimento que busca mitigar o aquecimento global por meio de métodos inovadores, muitas vezes “fabricados” e ainda não testados. Em nosso post sobre geoengenharia, abordamos diversas iniciativas que seguem essa linha. Destacamos duas ações que têm como objetivo “clarear” grandes áreas do planeta, permitindo que essas superfícies reflitam a luz solar de volta ao espaço. Essas abordagens visam reduzir a quantidade de calor retido na atmosfera e, assim, combater os efeitos das mudanças climáticas.

A primeira envolve o clareamento de nuvens sobre os oceanos, onde navios injetariam pequenas gotículas de água do mar nas nuvens. A segunda prevê a injeção de aerossóis na estratosfera, utilizando aviões de alta altitude, balões ou dirigíveis para pulverizar as partículas. Não precisamos mais ler livros ou assistir filmes de ficção científica, ela se mostra presente em nosso dia a dia.

Algumas apostas da engenharia dos oceanos

Antes de tudo, é importante destacar que tanto a engenharia dos oceanos quanto a geoengenharia são áreas novas, complexas e controversas.

Enquanto alguns apoiam essas iniciativas com entusiasmo, outras pessoas levantam críticas sobre os possíveis problemas que podem surgir, comparando-as a um poderoso novo medicamento cuja eficácia e efeitos colaterais ainda não se compreendem totalmente.

O New York Times  apresenta mais uma dessas abordagens. A matéria começa contextualizando o leitor sobre a capacidade dos oceanos de reter gás carbônico. “Desde a era industrial, os oceanos absorveram naturalmente cerca de um terço das 1,7 trilhões de toneladas de dióxido de carbono que os humanos liberaram na atmosfera, principalmente pela queima de carvão, gás e petróleo. Ao acelerar esse processo, os cientistas acreditam que seria possível armazenar ainda mais carbono nas profundezas aquáticas.”

Máquina projetada para retardar o aquecimento global

Como fazer isso? O jornal explica que uma empresa da Nova Escócia está desenvolvendo uma máquina projetada para ajudar a retardar o aquecimento global. Ela promete transformar rios e oceanos da Terra em esponjas gigantes que absorvem dióxido de carbono do ar.

De acordo com o Times, a máquina deve ser ativada ainda este ano. Ela funcionará ao moer calcário dentro de um alto silo verde e liberar o pó no West River Pictou, criando uma pluma de calcário que se dissolverá em poucos minutos.

Os cientistas afirmam que o efeito pode ser significativo. Os rios contêm dióxido de carbono que continuamente escapa para a atmosfera, onde contribui para o aquecimento do planeta. No entanto, a adição de calcário converte parte desse dióxido de carbono em uma molécula estável, que permanece submersa e se desloca para o mar, onde deve ficar retida por milhares de anos.

Aumento artificial da alcalinidade dos oceanos

Com a absorção contínua de gases de efeito estufa, os oceanos se tornaram mais ácidos. Nesse contexto, uma ideia que tem ganhado apoio na corrente predominante é a conhecida como aumento da alcalinidade. Essa abordagem envolve a adição de calcário, óxido de magnésio ou outras substâncias alcalinas aos rios e oceanos. A ideia é alterar sua química para permitir uma maior absorção de dióxido de carbono.

O objetivo é reduzir os custos associados a essa prática, tornando-a viável para empresas e governos, que poderiam compensar suas emissões armazenando carbono no mar. Essa estratégia busca criar um equilíbrio entre as emissões e a capacidade de captura de carbono dos ecossistemas aquáticos, contribuindo assim para a mitigação das mudanças climáticas.

25 milhões de dólares para a CarbonRun

Em setembro, o Times informou que a Frontier anunciou um investimento de 25 milhões de dólares à CarbonRun para adicionar calcário a vários rios, com o objetivo de remover 55.442 toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. Esse total equivale às emissões anuais de cerca de 13.000 automóveis. Cientistas estimam que métodos semelhantes aplicados nos oceanos poderiam remover bilhões de toneladas de CO2 por ano. Embora isso não seja suficiente para resfriar o planeta por si só, seria um avanço significativo, especialmente se as sociedades também reduzirem suas emissões.

O jornal ressalta que a empresa já demonstrou a capacidade de remover carbono de rios. No entanto, a questão permanece: como realizar essa tarefa no alto-mar, um espaço vasto e caótico? Além disso, o Times aponta que a implementação em grande escala exigiria a escavação de bilhões de toneladas de rochas e seu transporte ao redor do mundo, levantando desafios logísticos e ambientais consideráveis.

Porém, brincar com a química dos oceanos também acarreta riscos desconhecidos. Alguns grupos ambientalistas receiam que mesmo as primeiras experiências com estas técnicas possam ameaçar os peixes e outros seres aquáticos. Ao mesmo tempo, cientistas dizem que é imperativo que se façam experiências para que os benefícios e perigos da tecnologia sejam totalmente compreendidos.

Técnica para combater a chuva ácida nos anos 70 e 80 foi a inspiração

Segundo o New York Times,  esta é a técnica inventada há muito tempo para lidar com um problema ambiental diferente: a chuva ácida. Nos anos 70 e 80, a poluição industrial tornou as chuvas mais ácidas, o que envenenou lagos e riachos em todo o mundo. Alguns dos países mais afetados, incluindo Noruega, Suécia e Canadá, começaram a adicionar calcário aos seus cursos de água para restaurar o equilíbrio do pH e ajudar as populações de peixes a recuperar. Funcionou.

Para o Times, a parte mais difícil é extrair e transportar o calcário a baixo custo: A CarbonRun precisa de cerca de duas toneladas de rocha por cada tonelada de carbono que remove. Jaime Palter, oceanógrafo da Universidade de Rhode Island ouvido pelo jornal também expôs dúvidas:

“Atualmente, o maior obstáculo ao aumento da alcalinidade oceânica é provar que funciona.”

Um coisa é certa: enquanto a temperatura continuar a subir, fruto da incapacidade do clube de Paris, então viveremos cada vez mais intensamente a ficção científica. Quem sabe alguma delas possa de fato ajudar.

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