Crise dos corais no mundo: o pior está por vir

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Crise dos corais no mundo: o pior está por vir

O branqueamento de corais começou no Brasil e colocou a maior barreira do mundo, a Grande Barreira de Corais da Austrália, sob severo estresse ao atingir mais de 70% dos corais. Segundo os especialistas,  o evento deve provocar as primeiras mortes significativas de corais da região. Ao mesmo tempo, a NOAA alerta para ‘o pior evento de branqueamento da história’. Agora, em 15 de abril, o New York Times publicou a matéria A maior crise global de corais de todos os tempos ocorrerá dentro de semanas, dizem os cientistas. Trata-se da maior ameaça à vida marinha dos últimos tempos.  O programa ambiental da ONU assim se refere aos corais: “Estas cidades submarinas dinâmicas suportam até 800 espécies diferentes de corais duros e abrigam mais de 25% de toda a vida marinha.”

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Imagem, australian Marine Conservation Society.

O pior está por vir

Os recifes de coral do mundo estão no meio de um evento global de branqueamento causado por temperaturas extraordinárias dos oceanos, anunciou a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional. Este é  o quarto evento global registrado. Espera-se que afete mais recifes do que qualquer outro.

Segundo a Rede Global de Monitorização de Recifes de Corais, os recifes de coral ocorrem em mais de 100 países e territórios e, embora cubram apenas 0,2% do fundo do mar, apoiam pelo menos 25% das espécies marinhas. Mas tem mais: promovem a proteção costeira, o bem-estar, a alimentação e a segurança econômica de centenas de milhões de pessoas.

Valor dos bens e serviços fornecidos pelos recifes de coral: US$ 2,7 trilhões por ano

O valor dos bens e serviços fornecidos pelos recifes de coral é estimado em US$ 2,7 trilhões por ano. Só o turismo fatura US$ 36 bilhões. No entanto, eles estão entre os ecossistemas mais vulneráveis do planeta devido a pressões antrópicas. Isso inclui a ameaça global das mudanças climáticas e acidificação dos oceanos, além de impactos locais da poluição terrestre, como a entrada de nutrientes e sedimentos da agricultura, poluição,  sobrepesca e práticas de pesca destrutivas.

Outras dados econômicos relacionados estão no Relatório Econômico dos Recifes de Coral do PNUMA. O relatório concluiu que o turismo, o desenvolvimento costeiro e a pesca comercial que dependem dos recifes de coral fornecem anualmente US$ 6,2 bilhões em valor na Mesoamérica (fica dentro do Mar do Caribe e chega às costas do México, Belize, Guatemala e Honduras), e US$ 13,9 bilhões em valor no Triângulo dos Corais. Se os recifes continuarem a declinar durante a próxima década, seu valor anual cairá 50% na Mesoamérica e 16% no Triângulo de Coral. Entretanto, estes recifes poderiam render US$ 8,7 bilhões anuais na Mesoamérica e US$ 16,5 bilhões anuais no Triângulo de Coral se forem revitalizados até 2030.

Integridade e a resiliência dos ecossistemas de recifes

Manter a integridade e a resiliência dos ecossistemas de recifes de corais é essencial para o bem-estar das comunidades costeiras em todo o mundo. Além disso, são parte crítica da solução para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no âmbito da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.

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Crise dos corais no mundo
Espetacular, e triste imagem de trecho da Grande Barreira de Corais, de autoria de Chris Jones/Great Barrier Reef Marine Park Authority.

Enquanto isso, o New York Times trata das baixas. ‘A morte substancial de corais foi confirmada em toda a Flórida e nas Caraíbas,  mas os cientistas dizem que é demasiado cedo para estimar qual será a extensão da mortalidade global.

Derek Manzello, coordenador do programa Coral Reef Watch da NOAA, disse ao jornal que atualmente, mais de 54% da área de coral do mundo sofreu estresse térmico de nível de branqueamento no ano passado, e esse número está aumentando cerca de 1% por semana.

Ele acrescentou que dentro de uma semana, ou duas, “este provavelmente será o evento de branqueamento global mais extenso já registrado”.

Os quatro eventos de branqueamento

Segundo o jornal, cada um dos três eventos anteriores de branqueamento global foi pior que o anterior. Durante o primeiro, em 1998, 20% das áreas de recifes do mundo sofreram stress térmico ao nível do branqueamento. Em 2010, era de 35%. O terceiro durou de 2014 a 2017 e afetou 56% dos recifes.

E qual o motivo do agravamento desde o primeiro evento? Simples, em vez de diminuir a queima de combustíveis fósseis, o mundo não para de aumentá-los.

Ove Hoegh-Guldberg, professor de estudos marinhos da Universidade de Queensland, que publicou as primeiras previsões sobre como o aquecimento global seria catastrófico falou ao Times. “Às vezes fico deprimido, porque a sensação é: ‘Meu Deus, isso está acontecendo. Agora chegamos no ponto em que estamos no filme-catástrofe”.

A confirmação mais recente de branqueamento generalizado, que motivou o anúncio da NOAA, veio do Oceano Índico Ocidental, incluindo Tanzânia, Quênia, Maurício, Seicheles e ao largo da costa ocidental da Indonésia.

Por fim, o relatório do PNUMA Projeções para o branqueamento futuro dos corais lançado em 2020 prevê que, ‘até 2034 ocorra branqueamento severo anualmente, ponto em que a recuperação se torna inconcebível, a menos que os corais possam se adaptar a temperaturas mais altas’.

Acidificação da água dos oceanos também contribui

A acidificação das águas dos oceanos, outra consequência da queima de combustíveis fósseis, também contribui para o problema. Para se ter ideia de nossa capacidade, a plataforma Ocean & Climate informa que a “acidificação dos oceanos” é definida pela diminuição do pH, que é a unidade de medida da acidez de um líquido. A acidificação aumentou 26% desde o início da Revolução Industrial (1800). Contudo, certos modelos de previsão preveem um aumento de 150% na acidez até 2100. A atual taxa de acidificação dos oceanos é dez vezes mais rápida do que alguma vez foi em qualquer outro período durante os 55 milhões de anos anteriores.

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Futuro incerto, aumento de 1,5ºC, 2ºC, ou 2,5ºC na temperatura global?

O pior é que não temos nenhum sinal positivo no final do túnel. Ninguém sabe exatamente até quanto a mais a temperatura vai subir. O que se sabe é que a cada dia que passa mais os cientistas tornam-se céticos quanto ao Acordo de Paris que prevê um aumento de apenas 1,5ºC.

Hoegh-Guldberg, que estuda o impacto das alterações climáticas nos recifes de coral há mais de três décadas, foi autor de um relatório de 2018 do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas que concluiu que o mundo perderia a grande maioria dos seus recifes de coral com 1,5º Celsius de aquecimento e praticamente todos com mais 2ºC. Contudo, diz o New York Times, as atuais promessas das nações colocam a Terra no caminho certo para cerca de 2,5ºC até 2100. Ainda assim, ele não perdeu a esperança.

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