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Criação de tilápias na Amazônia: ideia de jerico

Criação de tilápias na Amazônia: ideia de jerico

No passado recente houve quem tentasse. Foi na época do Lulopetismo Um. Certa feita, em 2008, Lula decidiu que chegara a hora de promover uma reforma aquária (sic) no País criando tilápias ou Saint Peter (Tilápia vermelha do origem israelense).

Entre as providências de Lula, além de criar um inútil Ministério da Pesca, estava a criação de tilápias.

A ideia do ‘pai dos pobres’  visava a dobrar a produção de pescado e gerar mais de 1 milhão de empregos, por meio da construção de novos terminais marítimos. Ao anunciar o megalômano projeto, arrotou pérolas:

chega de estupidez: aquela imensidão do Lago de Itaipu, agora que nós começamos a criar pacu, mesmo assim nos proibiram de colocar lá a tilápia.

Apresentando a tilápia. Imagem, https://engepesca.com.br/.

O presidente-pescador, resgata a ideia de criação de tilápias de Lula da Silva

A reforma aquária de Lula  mereceu comentários deste site. Uma vez resgatada por Bolsonaro, atual pescador no Palácio do Planalto, nos sentimos na obrigação de, da mesma forma, comentar mais esta ação em post de opinião.

O jornal O Estado de S. Paulo estava atento e publicou: Bolsonaro quer criar tilápia em Itaipu, mas peixe pode acabar com espécies nativas, em 10/12/2020, de autoria de André Borges.

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“O plano do governo Jair Bolsonaro de transformar as represas de 73 hidrelétricas do País em grandes criadouros artificiais de peixe, a maioria deles para tilápia, um peixe exótico que tem suas origens na África e no Oriente Médio, fez acender um alerta entre ambientalistas e cientistas que estudam o tema.”

“O maior receio é de que o peixe, que hoje está presente em boa parte das bacias hidrográficas do País, acabe comprometendo outras espécies nativas que ainda resistem nos maiores rios brasileiros, apesar destes terem sido barrados pelas usinas.”

Governo que refuta a ciência e alarmes de especialistas

“O governo refuta cada um dos riscos colocados pelos especialistas e afirma que possui estudos técnicos suficientes para demonstrar que a tilápia não é uma ameaça, que não se adapta às profundidades comuns aos grandes reservatórios e que não é um predador de nenhuma espécie brasileira.”

“Das 73 barragens selecionadas, 60 preveem a criação de tilápia. Outros 13 reservatórios – dos quais seis estão na Amazônia – seriam usados para criação de peixe nativo, ou seja, de uma espécie natural daquele rio.”

A criação em gaiolas. Imagem, Google.

O presidente aprendeu a confundir e mentir com seu ídolo, o inquilino despejado da Casa Branca. E jamais ouviu especialistas.

Mas consultou, mais uma vez, o secretário de Pesca, Jorge Seif Jr., cuja empresa familiar de pesca é campeã em multas por não respeitar o defeso, ou a proibição de pescar espécies ameaçadas de extinção, entre outras.

O Estado confirma: “Na terça-feira, 8, Bolsonaro e Jorge Seif Júnior, secretário nacional de pesca e aquicultura do Ministério da Agricultura, foram às redes sociais para afirmar que o governo está próximo de viabilizar o cultivo da tilápia no lago de Itaipu, hidrelétrica binacional que forma um reservatório de 1.350 quilômetros quadrados, na fronteira com o Paraguai.”

André Borges explica como: “A ideia, basicamente, consiste em lançar gaiolas em trechos dos reservatórios, estruturas conhecidas como “tanque-rede”, que ficam amarradas em boias. Dentro desses caixotes submersos, o peixe é criado desde a sua fase inicial de alevino até o momento de abate.”

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A opinião de especialistas sobre a criação de tilápias

OESP: “Pesquisador do tema há 45 anos, Miguel Petrelli Júnior, professor do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Universidade Federal do Pará afirma que, na realidade, há uma série de riscos atrelados à criação em rios, mesmo que represados.”

“Apesar de a tilápia não ser predadora, tampouco carnívora, é um peixe onívoro que se alimenta do que encontra pela frente. Como é de fácil adaptação e de rápida reprodução, acaba dominando a maior parte dos ambientes. Em uma situação de escape desse peixe, essa consequência é clara, diz Petrelli Júnior.”

E disse mais: “Em geral, os produtores colocam essas gaiolas nos braços do reservatório, que são as partes mais sensíveis. Com os dejetos do peixe, aumenta o volume de material orgânico, ampliando a formação de algas, roubando o oxigênio dos demais. Há clara deterioração do espaço ocupado.”

O fenômeno a que se refere o especialista chama-se eutrofização. Mas o presidente parece não conhecê-lo. Assim como nunca deve ter ouvido falar nos problemas mundiais da introdução de espécies invasivas como a tilápia.

Para o National Wildlife Federation, “Espécies invasoras estão entre as principais ameaças à vida selvagem nativa. Aproximadamente 42 por cento das espécies ameaçadas ou em perigo estão em risco devido a espécies invasoras.”

Ao lado do desaparecimento de habitats, é o principal fator na perda de biodiversidade no planeta.

Alvo nº9 das metas de Aichi

As espécies invasivas podem levar a mudanças na estrutura e composição dos ecossistemas que afetam negativamente os serviços ecossistêmicos, a economia humana e o bem-estar. Para minimizar os impactos elas fazem parte do alvo nº9 das metas de Aichi, estão na cláusula 15 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

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O www.smithsonianmag.com, diz que são de ”US$ 40 bilhões anuais somente nos Estados Unidos, em termos do dano que causam as espécies invasivas nas plantações e florestas.

Mas Bolsonaro desconsidera seja o que for vindo da ONU, ou de qualquer instituição científica como o Smithsonian Institution. Que fazer?

Problemas já provocados pela criação de tilápias

André Borges cobriu todos os aspectos da nova ameaça: “por se adaptar facilmente a qualquer local, mas consumir a maior parte de seus nutrientes. A tilápia chegou ao Brasil na década de 1950, para aumentar a piscicultura na região Nordeste, levar mais proteína.”

“Foi quando ela começou a descer e se espalhou pelo Brasil inteiro. A verdade é que se perdeu o controle, não se consegue mais erradicar”, avalia Petrelli Júnior, que nesta semana foi eleito um dos 100 mil pesquisadores mais influentes do mundo.”

Governo contesta

AB: “O governo contesta cada uma dessas afirmações e defende a criação da tilápia nos reservatórios, uma proposta que já foi tentada por diversas administrações, inclusive nos tempos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que pouco avançou.”

Ibama ficou de fora da ideia de jerico

Em uma segunda matéria publicada em 14 de dezembro, André nos da conta que o “governo repassou à Secretaria de Pesca o poder de emitir autorizações para produtores de peixes criarem espécies exóticas e nativas nas áreas das barragens, não sendo mais necessário consultar a Agência Nacional de Águas ou mesmo o Ibama.”

Óbvio. Ninguém do Ibama assinaria. Só mesmo o secretário da pesca. Ele até que anda ativo ultimamente, pena que sempre atrás de ideias de jerico. Retomar as estatísticas da pesca no Brasil, nem pensar, hein secretário?

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Para o leitor saber, o Brasil não produz estatísticas desde o desgoverno Dilma. Somos um dos três únicos países a não contar com elas. Mianmar e Indonésia são os outros que, entretanto, já prometeram à ONU a retomada.

Como bem disse Herton Escobar, ‘fazendo uma analogia com o setor agrícola, é como se o Ministério da Agricultura não soubesse informar quanto o Brasil produziu de carne e soja nos últimos anos’.

Quando Lula disse que mesmo assim nos proibiram de colocar lá a tilápia o ‘nos proibiram’, leia-se Ibama. Naquela época o Ibama ainda tinha quadros técnicos em sua equipe. Alguém foi lá e soprou o porquê.

Mas hoje não existe mais Ibama. Existe uma autarquia amputada pelo ‘ministro’ fiel à política ambiental do presidente. É neste pandemônio que vivemos.

Este é o presidente

E exemplos do problema não faltam na Terrinha. O mexilhão-dourado, um molusco invasivo que entrou no Brasil pelo extremo Sul, em 1998 no lago Guaíba, incrustado no casco de um navio que vinha da Ásia.

Segundo a bióloga Maria Cristina Mansur, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),

em pouco mais de dois anos o mexilhão alterou a paisagem no lago Guaíba diminuindo a flora ripária (plantas das margens), sufocando a fauna bentônica (organismos dos corpos aquáticos) e transformando nossas praias arenosas e as margens vegetadas por juncos, em amontoados de conchas enegrecidas…

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Chegando de carona nestas plagas, o mexilhão-dourado espalhou-se por diversas bacias do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. A proliferação foi tamanha que atualmente as turbinas de Itaipu têm que ser paradas uma vez ao ano para que técnicos retirem a imensa quantidade que se incrusta em suas pás.

Mas o  presidente ignora.

Não sabe, tampouco, que o molusco já contaminou o rio São Francisco e avança para a bacia Amazônica.

Imagem de abertura: https://br.pinterest.com/

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