A incrível viagem da areia: como ela se forma e chega à praia
A areia da praia pode ser fina e macia, ou áspera e grossa. As cores também variam: em ilhas tropicais, a areia costuma ser branca como neve; no Havaí, pode ser branca, preta, esverdeada ou até vermelha. Mas, na maior parte do planeta, as praias têm tonalidades de marrom ou bege. O que explica essas diferenças? Por que algumas praias são suaves aos pés e outras parecem lixa? E afinal, de onde vem a areia que cobre a orla? O Mar Sem Fim foi atrás dessas respostas — e a jornada da areia é muito mais fascinante do que parece.
Areia da praia, você sabe de onde vem e como é formada?
Para começar, a areia de cada praia é única, como uma impressão digital. Segundo o site do Woods Hole Oceanographic Institution, a composição da areia reflete as características do ambiente ao redor.


A maioria das praias recebe sua areia a partir da erosão de rochas continentais. Ao longo do tempo, fatores como chuva, vento, gelo, calor, frio e até a ação de plantas e animais vão quebrando essas rochas em fragmentos cada vez menores, até formarem os grãos de areia que conhecemos.
Cada praia é única
O cientista Jeff Williams, do Centro de Ciências de Woods Hole do Serviço Geológico dos EUA, explica que a areia é resultado direto da quebra e decomposição das rochas ao longo de centenas de milhares, ou mesmo milhões de anos.
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Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaEsse processo começa com grandes blocos de rocha que, aos poucos, se fragmentam em pedaços menores. A água que escorre pelas rachaduras ajuda a corroer e desgastar o material, dando início à longa jornada que forma a areia.

Em regiões frias, onde a água pode congelar, o processo de fragmentação das rochas se intensifica. Ao congelar, a água se expande e força as fissuras a se abrirem ainda mais.
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Com o tempo, essas rachaduras aumentam, os pedaços se soltam, e as rochas vão se decompondo em fragmentos menores — até se transformarem em seixos e, por fim, em grãos de areia.
Mas a areia não é apenas o resultado de um processo geológico. As praias também são ecossistemas. Ali, sob a superfície, vivem diversos organismos marinhos enterrados, invisíveis a olho nu, mas essenciais para a vida costeira.
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Além do clima e da ação da água doce, o movimento das ondas e das marés também tem papel fundamental na formação da areia. Quando o mar agita pedras, seixos e grãos, eles se chocam uns contra os outros. Esse atrito constante desgasta e arredonda os fragmentos, deixando os grãos menores e mais suaves. Quanto mais arredondados, mais macia é a sensação da areia ao toque.
O cientista Jeff Williams explica que nem todos os minerais reagem da mesma forma nesse processo. Alguns se decompõem com facilidade, enquanto outros, como quartzo, feldspato e hornblenda, são mais resistentes. Justamente por isso, são esses os minerais que mais frequentemente permanecem — e, em sua forma triturada, compõem grande parte das areias do mundo.

Segundo Williams, “provavelmente a composição mais comum da areia de praia é quartzo com algum feldspato”.
A NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA) complementa: o processo pode começar a milhares de quilômetros do oceano, com rochas sendo transportadas lentamente por rios e riachos. Ao longo do caminho, elas se quebram continuamente. Quando finalmente chegam ao mar, passam por ainda mais erosão com o movimento constante das ondas. É assim que, ao fim da jornada, acabam nas praias.
As cores da areia
A coloração da areia varia de acordo com os minerais que a compõem. Quando o quartzo se mistura com óxido de ferro, o resultado é uma tonalidade marrom clara. Já o feldspato tem uma coloração bronzeada. Juntos, esses minerais definem o tom da areia em muitas praias pelo mundo.

Em regiões vulcânicas, a areia tem outra origem: vem diretamente da rocha vulcânica. É o que explica a variedade de cores nas praias do Havaí. As praias vermelhas são formadas por rochas vulcânicas ricas em ferro. As verdes indicam alta presença de olivina, um mineral também de origem vulcânica. Já as praias de areia preta são feitas de obsidiana, o chamado vidro vulcânico.

Quando a lava entra em contato com a água, resfria e endurece rapidamente, estilhaçando-se em fragmentos de obsidiana. Com o tempo, as ondas desgastam esses pedaços, até que eles se transformem em grãos de areia.
Um pouco da areia vem do oceano
Segundo o site do Woods Hole Oceanographic Institution, parte da areia encontrada nas praias também tem origem marinha. Conchas e estruturas duras de organismos do oceano são levadas pelas ondas até a costa. O impacto das ondas fragmenta esse material até que ele atinja o tamanho de grãos de areia.
Em regiões tropicais com recifes de coral, essa é muitas vezes a principal fonte de areia. Além disso, há a contribuição de organismos microscópicos chamados foraminíferos. São seres unicelulares que constroem conchas de carbonato de cálcio, o mesmo material presente nas conchas maiores e nos esqueletos de corais.

Quando esses organismos morrem, suas minúsculas conchas permanecem no fundo do mar — e, com o tempo, se somam à composição da areia.
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Os perigos à vista
As praias não são apenas ecossistemas valiosos — são também espaços de lazer e parte essencial da paisagem costeira. No entanto, enfrentam hoje dois grandes inimigos: a mineração de areia e o avanço do mar provocado pelo aquecimento global.
A extração predatória retira grandes volumes de areia, desestabilizando as áreas costeiras e alterando o equilíbrio natural. Já a elevação do nível do mar ameaça engolir faixas inteiras de praia, agravando a erosão e colocando em risco comunidades litorâneas em todo o mundo.
Assista para saber mais
Imagem de abertura: arquivo MSF










Excelente artigo! Faltou citar ainda duas outras origens da areia de algumas praias: nas Bahamas, uma areia branquíssima é composta de oolitos, que são como minúsculas pérolas produzidas pela deposição de cálcio em condições muito especiais sobre quaisquer grãos microscópicos de sujeira; em muitas praias de areias brancas no Sudeste Asiático a areia é composta por poeira expelida pelo sistema digestivo de peixes-papagaio, que trituram fragmentos de corais duros (corais com esqueletos de carbonato de cálcio) com seus dentes potentes para aproveitar o material orgânico do coral. O carbonato de cálcio é expelido como uma poeira fina que se deposita no fundo dos recifes de corais e é levado pelas ondas até as praias.
Muito bom. O Mar sem Fim é um portal de aprendizado sobre o mar, suas belezas, mistérios, barcos, perigos e sobre as relações do homem com essa parte da natureza, fascinante e bela
Discordo do leitor acima, sr. Vanderlei Ligero, pois achei a a matéria muito legal, aliás como a maioria das que vocêss fazem. Continuem assim.
Parabéns pelo belo trabalho, repleto de boa informação e imagens. Muito legal, Mar Sem Fim. (Vocês têm Instagram? Façam uma página 😊!)
PELO JEITO O PESSOAL ESTÁ COM DIFICULDADE PAERA PRODUZIR AS MATÉRIAS POIS ESSA NÃO VI ANTES. ESPERO QEU TENHAM FORÇA E ESTRUTURA PARA CONTINUAR FAZENDO O BOM TRABALHO QUE FAZEM.
Muito legal esses conteúdos que falam/divulgam as geociências de forma simples para entender a beleza natural das nossas paisagens das praias e mares. Acrescento mais um perigo às nossas praias, a devastação das margens próximas para construções de casas, condomínios, resorts, etc. Essa prática retira a proteção natural das matas ciliares, facilitando e acelerando a erosão costeira e ameaça todo o bioma local (terrestres e marinhos), além das próprias construções humanas, é claro.