Araucárias, símbolo do Paraná ameaçadas de extinção
Em 2016 a araucária, árvore símbolo do Paraná, entrou na lista das espécies ameaçadas de extinção da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) e da Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção do Ibama. No passado o Paraná teve até 8 milhões de hectares forrados de florestas com araucárias, Araucaria angustifolia, espécie de beleza vegetal singular que faz parte da paisagem nacional. Ao longo do tempo as florestas com araucárias do Estado perderam até 97% da área original. Agora, em 2020, 4 mil sobreviventes serão derrubadas para dar passagem a novas torres de transmissão de energia. Araucárias, símbolo do Paraná ameaçadas de extinção.
Justiça do Paraná impede corte de árvores
Este post foi publicado originalmente em 15 de setembro de 2020. Menos de um mês depois, em 7 de outubro, o site da Tribuna do Paraná publicou a matéria Justiça impede que empresa de transmissão derrube 4 mil araucárias no Paraná. Portanto, os protestos não foram em vão.
Os motivos foram irregularidades nas licenças e estudos de impacto ambiental. Segundo a Tribuna, o licenciamento ‘foi fatiado’, e a juíza concluiu que a divisão do projeto foi indevida.
“O Ibama deveria ter sido formalmente ouvido no processo administrativo conduzido pelo IAT e as autorizações para supressão da vegetação jamais poderiam ter sido concedidas.”
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Araucárias, símbolo do Paraná ameaçadas de extinção
Ambientalistas do Estado dizem que a obra, a cargo da francesa Engie vencedora de leilão da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) de 2017, teve irregularidades no licenciamento ambiental. De acordo com o site Observatório de Justiça e Conservação, a floresta com araucárias já ocupou 40% do território do Paraná. Mas, “as áreas que hoje concentram remanescentes em bom estado não ultrapassam a marca de 0,8%.”
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Com isso, e novos cortes, o problema para a regeneração passa a ser genético.
A área total que está sendo derrubada equivale a mais de 220 campos de futebol de vegetação nativa, justamente onde ficam as 4 mil árvores. O projeto das novas linhas de transmissão inclui 1.000 km que cortarão 24 municípios, e ainda passa pela Escarpa Devoniana, cartão-postal do Estado e Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana.
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O que se perde
Difícil dizer o que é mais importante desta ‘área protegida’, se a beleza natural, as cachoeiras, cânions, nascentes, sítios arqueológicos, ou a fauna e a flora. Ambientalistas estão preocupados com mais este empreendimento de grande porte viabilizado sem que medidas básicas de mitigação de impactos tenham sido tomadas, deteriorando ainda mais o pouco que resta da Floresta com Araucária e dos Campos Naturais a ela associada.
Segundo o Plano de Manejo da APA “a dinâmica ambiental no uso da terra, vem ocasionando processos de degradação, como a queima do campo, a implantação de pastagem artificial em substituição aos campos naturais, o reflorestamento com espécies exóticas, a agricultura inadequada, a exploração mineral, a especulação imobiliária e o turismo desordenado.”
Para coroar, agora teremos menos 4 mil árvores. De acordo com Clóvis Borges, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), “adicionalmente a estas ameaças mais pontuais, graças a iniciativas de políticos paranaenses, a floresta com araucária continua sendo visada para exploração de madeira com valor econômico.”
Pois é, não basta a nova linha de transmissão, segundo Clóvis, ainda há desmiolados que exploram comercialmente o que deveria ser protegido, cultuado, e admirado.
A Floresta com araucária
O site do MMA explica a espécie: “A Floresta com Araucárias, chamada cientificamente de Floresta Ombrófila Mista, é uma das Fitofisionomias Florestais que compõem o bioma Mata Atlântica.”
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“Ocupava cerca de 200.000 Km dos estados do Sul e Sudeste do Brasil, principalmente nos planaltos, regiões onde predomina o clima subtropical.”
Florestas com Araucárias
“Originalmente Florestas com Araucárias ocupavam cerca da 40% do território do Paraná, 30% de Santa Catarina e 25% do Rio Grande do Sul. Também ocorria em maciços descontínuos, nas partes mais elevadas das Serras do Mar, Paranapiacaba, Bocaina e Mantiqueira, no sudeste e nordeste de São Paulo, noroeste do Rio de Janeiro e Sul de Minas Gerais e no leste da Província de Misiones (Argentina).”
Árvore centenária
“A araucária chega a viver até 700 anos, alcançando diâmetro de dois metros e altura de até 50 metros. No sub-bosque da floresta ocorre uma complexa e grande variedade de espécies, como a canela sassafrás, a imbuia, a erva-mate e o xaxim, algumas das quais endêmicas.”
100 milhões de araucárias derrubadas
Ainda segundo o site do MMA, “A qualidade da madeira, leve e sem falhas, fez com que a araucária fosse intensamente explorada, principalmente a partir do início do século XX. Calcula-se que entre 1930 e 1990, cerca de 100 milhões de pinheiros tenham sido derrubados. Nas décadas de 1950 e 1960, a madeira de araucária figurou no topo da lista das exportações brasileiras. Atualmente, a Floresta com Araucárias está à beira da extinção.”
Fazer isso na década de 50 e 60 do século passado foi uma tolice, continuar agora é estupidez!
Araucárias, símbolo do Paraná ameaçadas de extinção
Por reclamações quanto ao processo de licenciamento das linhas de transmissão, por volta de agosto o Ibama chegou a parar o corte de árvores depois que o MP do Paraná pediu esclarecimentos à autarquia. Houve um lapso de esperança mas, pouco depois, o projeto seguiu em frente.
A denúncia ao MP foi feita pelo OJC (Observatório Justiça e Conservação) que apontou falta de transparência e incoerências nos planos da Engie com auxílio de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná. Segundo eles, ‘não foram levados em consideração vários impactos’.
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Trepar em árvores, um exemplo da década de 70
Não adiantou. A previsão é que a obra esteja pronta dentro de um ano. Muito provavelmente, seu filho caro leitor, conhecerá estas centenárias árvores via fotografias. Ou isso, ou fazer como um jovem certa vez, muitas anos atrás, lá pelos idos da década de 70. O rapaz subiu na copa de uma árvore antiga de seu bairro que estava para ser derrubada.
Houve um barulhão na imprensa, aquilo era inédito. E foram entrevistar o que seria na época o ministro do Meio Ambiente, naquele tempo Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema) no Ministério do Interior, o secretário era ninguém menos que Paulo Nogueira Neto, titã do ambientalismo brasileiro. Ao ser inquirido sobre o ato respondeu: “se fosse jovem como ele trepava na árvore também.”
Pensem nisto paranaenses. E saibam que, se precisarem, vou aí; subir nelas não subo são muito altas, mas me amarro a um dos troncos junto com vocês.
Nossa pegada é pesada, e extinção é para sempre. Só a união nos redime. Vamos nesta?
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Imagem de abertura: Lineu Filho / Tribuna do Paraná
Fontes: https://br.noticias.yahoo.com/amea%C3%A7adas-extin%C3%A7%C3%A3o-4-000-arauc%C3%A1rias-161900817.html; https://apremavi.org.br/mata-atlantica/paisagens-da-mata/floresta-com-araucarias/?gclid=CjwKCAjwzIH7BRAbEiwAoDxxTqKhmp3hFb8PPy_6D2Q8TP34xbAJvZxxp1yeGg1uj2YFjVZfDxPnlRoCvxQQAvD_BwE; https://www.justicaeco.com.br/; https://www.mma.gov.br/estruturas/202/_arquivos/folder_consulta02.pdf; https://www.tribunapr.com.br/noticias/parana/derrubada-de-4-000-araucarias-no-pr-por-projeto-de-energia-e-suspensa-pela-justica/?utm_source=facebook&utm_medium=midia-social&utm_campaign=tribuna&fbclid=IwAR1J8X69QnPO3OXkz91fnk4HbHAri17dtrTVHiA5O8woGLadVV0bnMxdBJQ.
E eu estava ficando triste com o desaparecimento das araucárias, pois pinhões são umas delícias das festas juninas.
Moro em Campo Largo – Pr, há mais de 20 anos produzi as mudas e plantei mais de 15.000 araucárias, algumas já produzindo pinhões, em um terreno ao lado da escarpa devoniana. É fascinante ver o desenvolvimento das árvores.
Parabéns por sua iniciativa de preservar uma das mais belas espécies de árvores do mundo! Estou tentando fazer alguma coisa em escala muito menor aqui em SP, com alguns pinhões que já brotaram e estão num “bercário vegetal” no meu quintal.
Bosques de Araucárias lembram capítulos da infância do grande poeta Pablo Neruda no Chile.
É uma tristeza saber que no passado a cidade de São Paulo tinha muitas araucárias. Tantas, que essas árvores deram nome a um famoso bairro (Pinheiros). Hoje são uma raridade na área urbana, só são vistas basicamente em parques como Ibirapuera e Aclimação, em alguns poucos exemplares. E a Prefeitura não gosta de plantar nos canteiros das ruas e avenidas porque “dá trabalho para limpar os pinhões no chão” (isso nunca foi problema em Curitiba. De se lamentar muito.
Não sabia disto mas acho que há margem de negociação com a Engie. Se, exemplo, a empresas plantasse 40.0000 árvores em locais escolhidos pelo pessoal do meio ambiente o negócio seria ótimo para as gerações futuras.so não garanto que as nossas autoridades estão preocupadas com o futuro…
Como se não bastasse a destruição já antiga, as pessoas ainda elegem figuras como Ratinho, João Dória e Bolsonaro.
O meio ambiente brasileiro está com os dias contados.
Tenho várias na minha propriedade e dizer que estão em extinção é um exagero proposital. Ela nascem com facilidade e após 20 anos estãcom 20 metros de altura. Porém, tirar araucárias pra passar fios de alta tensão , é uma ignorância.
“Em 2016 a araucária, árvore símbolo do Paraná, entrou na lista das espécies ameaçadas de extinção da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza) e da Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção do Ibama.”
Nem estando na abertura do texto as pessoas compreendem? ‘Exagero proposital’ de quem, do Ibama, da IUCN, ambos?
Francamente…
Temos que fazer pressão na França divulgando o fato. Ao mostrar que a empresa européia esta fazendo o desmate a repercussão na Europa será enorme e a empresa pode buscar alternativas. Pelo menos tentamos salvar parte dessas 4000 sobreviventes…
Obrigado por levantar esse assunto.
Moro em Piedade- SP. Alto da Serra de Paranapiacaba. Aqui temos muitas árvores que chamamos de Araucária. Não sei se são da mesma espécie, mas sabemos que nascem com muita facilidade. Onde caem as pinhas sempre saem novas árvores. Por isso surpreende saber que possam estar em extinção já que, supostamente, o replantio seria simples. Na zona rural há dois mitos em torno da árvore. Primeiro de que secam o solo. Segundo de que por serem pinheiros seu corte é liberado, assim como o eucalipto. Isso leva a uma prática de extirpação das árvores que surgem.
Excelente vídeo e matéria, parabéns