Alterações climáticas impulsionam conflitos e crimes de guerra?
Quando se começou a falar nas alterações climáticas, surgiram previsões de que ‘no futuro haveria guerras em razão do fenômeno’ ou que haveria ‘milhares de refugiados do clima’. O Mar Sem Fim fez uma curadoria sobre ambas as previsões, em razão do avanço e descontrole do clima mundo afora. Assim, entre outros, encontramos o artigo ‘How Climate Change Drives Conflict and War Crimes Around the Globe (Como as mudanças climáticas impulsionam conflitos e crimes de guerra em todo o mundo), de outubro de 2023, no www.insideclimatenews.org. Sobre os refugiados do clima, descobrimos que na maior economia do mundo, a dos Estados Unidos, mais de 3 milhões de pessoas perderam suas casas devido a desastres climáticos em 2022. Qual será a cifra mundial? É o que procuramos responder.
Tribunal Penal Internacional
Segundo o artigo do www.insideclimatenews.org, de autoria de Katie Surma, os defensores dos direitos humanos querem que o Tribunal Penal Internacional comece a recolher provas sobre a forma como as condições meteorológicas extremas, o calor, a seca e as inundações amplificadas pelo aquecimento impulsionam conflitos armados, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.
Enquanto secas, inundações e condições climáticas extremas estão amplificando conflitos violentos em todo o mundo, a guerra devastou ecossistemas. Além disso, colocou em perigo o acesso a recursos vitais e deixou legados tóxicos que adoecem populações civis.
Na bacia do Lago Chade, a seca e as condições extremas colocaram as comunidades dependentes da agricultura em situações econômicas precárias. Isso significa o aumento da probabilidade de os jovens serem recrutados para grupos militantes como o Boko Haram.
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Por último, no Afeganistão, quatro décadas de guerra quase constantes dizimaram a paisagem do país. Pior que isso, desencadearam conflitos sobre os direitos à terra, à água e a outros recursos naturais. Enquanto isso, a poluição causada por operações militares adoeceu as populações civis devastadas pela guerra.
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“As alterações climáticas e a degradação ecológica devem receber a devida consideração jurídica como os multiplicadores de ameaças à paz e à segurança internacionais que são”, afirmou Richard J. Rogers, diretor executivo do Conselho Climático com sede nos Países Baixos. Ele é um dos signatários de uma carta aberta ao Tribunal Penal Internacional.
Você sabe qual foi o primeiro conflito mundial em razão do clima?
A carta aberta destacou a violência de longa data na região sudanesa de Darfur, que o antigo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, caracterizou em 2007 como o primeiro conflito mundial devido às alterações climáticas.
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Tundra do Ártico emite mais carbono do que absorveVanuatu leva falha global em emissões à HaiaO plâncton ‘não sobreviverá às mudanças do clima’Os combates começaram em 2003, quando as forças governamentais sudanesas e as milícias aliadas entraram em confronto com grupos rebeldes na região de Darfur. Isso levou o Conselho de Segurança da ONU a encaminhar o seu primeiro caso para o Tribunal Penal Internacional.
Portanto, para a mais importante organização mundial, a ONU, já tivemos a primeira guerra em razão do clima. Vamos, agora, verificar como está o problema dos refugiados do clima.
Refugiados do clima
Se os Estados Unidos tiveram três milhões de habitantes deslocados em 2022, o Brasil está bem à frente. Só em 2011, a catástrofe na região serrana do Rio de Janeiro matou mil pessoas e deixou 30 mil desabrigados!
Em 2022, ocorreu uma nova tragédia em Petrópolis, com mais 4 mil desabrigados e 235 mortos. Neste ano, a tragédia do carnaval em São Sebastião deixou 65 mortos e mais de 3 mil desabrigados.
Levantamento produzido pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra que, apenas nos primeiros três meses de 2022, quase oito milhões de brasileiros foram afetados por catástrofes ambientais.
6,4 milhões de pessoas tiveram que se deslocar no Brasil desde o ano 2000
Outro dado, do Instituto Igarapé, mostra que os desastres naturais deslocaram 6,4 milhões de brasileiros desde 2000, ao mesmo tempo em que a política de prevenção de desastres naturais definha no país.
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Mas, e no mundo?
‘Alterações do clima são a crise que define nosso tempo’
A afirmação acima é da ONU que destaca que desde inundações catastróficas no Paquistão, na República Democrática do Congo e em partes do Sahel, até à seca e ao sofrimento implacáveis no Afeganistão, em Madagáscar e no Chifre de África, milhões de pessoas tiveram que se deslocar só em 2022 devido às mudanças climáticas.
Essas mudanças estão afetando cada vez mais a vida de pessoas em todo o mundo, levando ao deslocamento de populações e a uma série de consequências humanitárias.
Matéria do Los Angeles Times (dezembro de 2023) mostra que em países como a índia, o Quênia e o Iêmen, as disputas sobre a água provocaram derramamento de sangue. E na fronteira Irã-Afeganistão, um conflito centrado na água do rio Helmand resultou em confrontos mortais entre as forças dos dois países.
Sim, as mudanças climáticas estão causando um aumento na intensidade e frequência de fenômenos meteorológicos extremos, como chuvas intensas, secas prolongadas, desertificação, degradação ambiental, aumento do nível do mar e ciclones.
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Esses eventos levam ao deslocamento de uma média de mais de 20 milhões de pessoas todos os anos em seus próprios países. O impacto das mudanças climáticas na vida das pessoas e nas condições ambientais é uma preocupação global e exige ações urgentes para mitigar seus efeitos e proteger as comunidades afetadas.
20 milhões de pessoas por ano são obrigadas e se deslocarem
Em média, 20 milhões de pessoas por anos obrigadas e se deslocarem! E conclui a ONU: Algumas pessoas são forçadas a atravessar fronteiras no contexto das alterações climáticas e das catástrofes e podem, em algumas circunstâncias, necessitar de proteção internacional. A legislação em matéria de refugiados e de direitos humanos tem, portanto, um papel importante a desempenhar nesta área.
Enquanto no Brasil a política de prevenção de desastres naturais definha, Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados alerta: “Precisamos investir agora na preparação para mitigar futuras necessidades de proteção e evitar mais deslocamentos causados pelo clima. Esperar que o desastre aconteça não é uma opção.”
Infelizmente, é só o começo. A ONU calcula que até 2050 sejam 1.2 bilhões de pessoas os refugiados do clima.
Assista ao vídeo da ONU para saber mais
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