Algumas questões da COP 26 (nada otimistas)

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Algumas questões da COP 26 (nada otimistas)

Nestes últimos dias surgiram fatos novos que abalaram a confiança nos bons resultados de mais esta cúpula do clima. Elas costumam ser plurais em declarações, mas singulares em fatos concretos. Esta, pela urgência, parecia diferente. Algumas questões da COP 26.

Ilustração mostra emissões de fábricas
Ilustração, site da ONU.

Estados Unidos, segundo país emissor não assina protocolo do carvão

Desde que assumiu a presidência Joe Biden se concentrou nas questões do clima, trazendo o país de volta ao Acordo de Paris e estimulando que outros países fossem mais audaciosos em suas metas. No início, esta posição gerou grande otimismo para a COP 26 e seus objetivos.

Imagem de desmatamento
Do site da ONU.

Muito deste otimismo naufragou esta semana quando um pacto para acabar com a produção de carvão e fortalecer a transição energética para fontes renováveis não foi assinado pelos Estados Unidos. Como se sabe, o carvão é o grande vilão entre os vilões combustíveis fósseis.

O pacto teve a adesão de 48 países, entre eles Chile, Polônia, Reino Unido, Alemanha, e França. Mas os EUA, que são também o segundo maior emissor, ficou de fora. China, maior fonte de emissões, também ficou fora do acordo junto com a Índia. O Brasil também não aderiu.

A ideia dos 48 participantes é fazer o processo de transição até 2030 em nações com economia desenvolvida, e até 2040 nas nações em desenvolvimento.

Como prêmio de consolação a mídia anunciou com destaque que ‘A China e os EUA concordaram em aumentar a cooperação climática na próxima década, em um anúncio surpresa na cúpula do clima COP 26 em Glasgow’.

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Segundo a BBC, ‘O documento afirma que ambos os lados irão “relembrar seu firme compromisso de trabalhar juntos” para atingir a meta de temperatura de 1,5° C estabelecida no Acordo de Paris’.

Sei…

Havia uma certa esperança de banir o carvão nesta cúpula. Havia…

‘A conferência do clima é exibição de vigarice, hipocrisia e arrogância de país rico’

Certo parece estar o jornalista J. R. Guzzo que, em sua coluna no Estado de S. Paulo (7/11) cujo título reproduzimos acima, escreveu: “A mais recente COP – já estamos na 26.ª, e o “planeta” continua entupido de carvão – deixou claro, mais uma vez, como as grandes potências econômicas realmente se comportam em matéria de agressões maciças ao meio ambiente.”

E concluiu: “Na hora de substituir as palavras por atos, onde estão os grandes desta Terra? Todos somem.”

Algumas questões da COP 26: a maior ‘delegação é a da indústria dos combustíveis fósseis’

Segundo a BBC ‘ativistas liderados pela Global Witness avaliaram a lista de participantes publicada pela ONU no início desta reunião’.

Imagem e enchente
Imagem do site da ONU.

‘Eles descobriram que 503 pessoas ligadas aos interesses dos combustíveis fósseis foram credenciadas para a cúpula do clima’.

‘Diz-se que esses delegados fazem lobby pelas indústrias de petróleo e gás, e os ativistas dizem que eles deveriam ser proibidos’.

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Murray Worthy, da Global Witness, disse à BBC: “A indústria de combustíveis fósseis passou décadas negando e atrasando uma ação real sobre a crise climática, e é por isso que este é um problema tão grande.”

Aproveitamos para lembrar que a indústria do petróleo copiou a fraude da indústria do tabaco que, mesmo sabendo, negava o câncer na década de 50. A indústria dos combustíveis gostou. E  fraudou documentos para negar que os combustíveis fósseis fossem um dos responsáveis pelo aquecimento global.

Muito do negacionismo atual é inspirado nestas duas colossais fraudes mundiais. Agora descobrimos que ‘a maior delegação’ é de lobistas dos combustíveis fósseis, um péssimo sinal.

infográfico mostra tamanho das delegações na COP 26

Boris Johnson volta à COP para ‘encorajar negociações’

O temor do fracasso é tão grande que o Independent revela que ‘Boris Johnson está voltando à cúpula para tentar dar o pontapé inicial nas negociações problemáticas, em meio a um novo aviso de que estão em vias de fracassar’.

‘O primeiro-ministro deveria retornar a Glasgow no final da semana – mas agora vai viajar, de trem, na quarta-feira (10/11) para encorajar “ações ambiciosas” para conter a emergência climática’.

É mais um sinal emblemático de que as coisas não correm bem.

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‘Cop 26: mundo no caminho para aquecimento desastroso de mais de 2,4 C, diz relatório-chave’

Esta foi a manchete do Guardian de 9 de novembro. O texto confirma a nossa impressão: ‘O mundo está a caminho de níveis desastrosos de aquecimento global muito além dos limites do acordo climático de Paris, apesar de uma enxurrada de promessas de redução de carbono dos governos na cúpula da ONU’.

Ilustração da ONU sobre aquecimento global
Ilustração da própria ONU alerta para o aquecimento em mais um relatório.’Um mundo de promessas climáticas ainda não cumpridas’.

Os aumentos de temperatura chegarão a 2,4ºC até o final deste século, com base nas metas de curto prazo que os países estabeleceram, de acordo com uma pesquisa publicada em Glasgow na terça-feira’.

‘Nesse nível, o clima extremo generalizado – aumento do nível do mar, seca, inundações, ondas de calor e tempestades mais violentas – causaria devastação em todo o globo’.

‘A estimativa está em forte contraste com as previsões otimistas publicadas na semana passada, que sugeriam que o aquecimento poderia ser mantido em 1.9C ou 1.8C, graças aos compromissos anunciados nas negociações.’

imagem de foca em rede de pesca
E ainda temos uma pandemia de plástico para combater. Imagem do site da ONU.

Algumas questões da COP 26: o vício em combustíveis fósseis

António Guterrez, secretário-geral da ONU tentou ajudar. Ele disse na segunda-feira, 8 de novembro, que nosso vício em combustíveis fósseis está levando a humanidade ao limite“, e pediu ações concretas.

Ilustração de avião
Ilustração do site da ONU.

O grande abacaxi, como bem definiu o thehill.com, ‘é que o mundo continua a usar muitos combustíveis fósseis sem fim à vista. E estamos administrando a maior parte da economia global em um sistema baseado em…combustíveis fósseis’.

O Brasil na COP 26, o bobo da corte?

Conforme comentamos no primeiro post sobre o tema, o Brasil se mostrou mais flexível. Mas foi pouco para mudar a imagem de pária. Segundo Sérgio Margulis, ex-economista do Banco Mundial para o Meio Ambiente, ‘o Brasil virou bobo da corte em questão climática’.

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Imagem de tweter

A minuta do acordo da COP 26

Nesta quarta-feira o New York Times mostrou a minuta do acordo que já está pronta, e que os países usarão como modelo para um acordo global sobre ações mais fortes contra o aquecimento global. E não é nada do que esperávamos.

Imagem da COP 26
Foto usada pelo New York Times com a legenda: Delegados e membros da mídia assistiram ao primeiro-ministro Boris Johnson fazer seu discurso de abertura na semana passada. Imagem, Kieran Dodds para o New York Times.

O NYT diz que ‘grandes obstáculos permanecem na conferência, que está programada para terminar na sexta-feira.’

‘Revisitem e fortaleçam seus planos’

‘O rascunho pede aos países que “revisitem e fortaleçam” seus planos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento do planeta’.

‘E pede aos países ricos que “aumentem urgentemente sua provisão de financiamento climático” para ajudar as nações em desenvolvimento a se adaptarem ao aquecimento global’.

Quem paga a conta?

O NYT põe o dedo na ferida: ‘agora, cerca de 200 nações precisam acertar os detalhes e chegar a um acordo sobre quem paga a conta’.

‘Por tradição, um acordo final exige que todas as partes assinem. Se algum país objetar, as negociações podem causar um impasse. E cada país traz seu próprio conjunto de interesses freqüentemente conflitantes’.

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As diferenças entre os países

Pequenos Estados insulares, que enfrentam uma ameaça iminente da elevação dos mares, querem que todos os países reduzam as emissões o mais rápido possível’.

‘Os produtores de petróleo como a Arábia Saudita e a Rússia não estão ansiosos para eliminar rapidamente os combustíveis fósseis. E grandes países em desenvolvimento como a Índia estão esperando por mais ajuda para mudar para uma energia mais limpa’.

Objetivos da COP 26

‘Um dos principais objetivos da conferência do clima é um pacto global para manter o aumento médio da temperatura global em 1,5 graus Celsius, em comparação com os níveis pré-industriais. Além desse limite, dizem os cientistas, a probabilidade de ondas de calor mortais, secas, incêndios florestais, inundações e colapso da biodiversidade aumenta drasticamente’.

Imagem de praga de gafanhotos
Prepare-se para mais pragas. Imagem do site da ONU.

Até agora, diz o NYT, ‘o planeta já aqueceu 1,1 graus Celsius’.

A ver se conseguirão ao menos assinar este documento. Argh, sobrou um gosto amargo na boca…

Ilustração de abertura: ONU

Fontes: https://www.bbc.com/news/science-environment-59199484; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,mesmo-sem-brasil-china-e-eua-pacto-para-acabar-com-producao-de-carvao-e-importante-para-o-clima,70003889801; https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,os-apostolos-do-carvao,70003891552; https://www.independent.co.uk/climate-change/news/cop26-glasgow-news-greta-thunberg-b1954128.html; https://www.theguardian.com/environment/2021/nov/09/cop26-sets-course-for-disastrous-heating-of-more-than-24c-says-key-report; https://thehill.com/opinion/energy-environment/580252-to-be-optimistic-or-pessimistic-the-good-and-bad-of-cop26; https://www.nytimes.com/2021/11/10/climate/cop26-nyt-climate-newsletter.html; https://www.unep.org/about-un-environment; https://www.bbc.com/news/science-environment-59238869;

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Comentários

3 COMENTÁRIOS

  1. Eu sei que irá gerar um sem número de críticas a mim, mas, no meu entender, o problema do aquecimento global, fome, miséria, até quem sabe as guerras, não são problemas primários. O grande problema e, diria até o único problema e que dá origem a todos os outros, é o excesso de gente no mundo. Continuamos crescendo a taxas extremamente altas. Nenhuma solução para o aquecimento global será definitiva enquanto não falarmos mais responsavelmente sobre controle populacional. E, por favor, não me venham com ideias extremistas. Controle populacional passa pela educação no lar/escola, passa por conscientização da sociedade como um todo. De nada adiantará esforços para diminuirmos a produção de gás carbônico se cada ano que passa aumentarmos o número de bocas para alimentar, transportar, vestir, aquecer, refrigerar, reciclar dejetos, etc, etc, etc. Já se faz necessário há muito (desde quando ultrapassamos o 5 bilhões de seres humanos) discutirmos senão uma redução, no mínimo uma estabilização da quantidade de pessoas neste planeta que não aguenta mais tanta gente e suas necessidades.

  2. Deveria ser mais incentivada a instalação de aquecedores solares, já que os chuveiros consomem bastante energia. São relativamente baratos, de manutenção simples, podem até ser construídos a partir de instruções de internet. Quase não tenho visto divulgação. Silvia Vasconcellos, bióloga e ambientalista em Jundiaí, SP.

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