Acidificação do oceano está à beira da transgressão

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Acidificação do oceano está à beira da transgressão

Os oceanos absorvem cerca de 25% do dióxido de carbono (CO2) emitido na atmosfera da queima de combustíveis fósseis e outras atividades relacionadas ao homem. Quando a água do mar absorve CO2, resulta na redução do pH do oceano. Este processo é chamado de acidificação do oceano, que tem efeitos potencialmente devastadores sobre o ecossistema e os seres humanos. A acidificação não só causa danos aos ecossistemas marinhos, mas também afeta a subsistência de milhões de pescadores e ameaça espécies que fornecem proteínas para mais de 3,3 bilhões de pessoas. Entretanto, a acidificação dos oceanos está à beira da transgressão e pode exceder os limites de segurança em questão de anos, revelou o Mongabay.

Ilustração acidificação dos oceanos
Ilustração, Agência Atômica Internacional – IAEA.

Primeiro teste da saúde planetária emite alerta vermelho

A civilização industrial está prestes a ultrapassar uma sétima fronteira planetária, e poderá já tê-la ultrapassado, segundo os cientistas que elaboraram o último relatório sobre o estado dos sistemas de suporte de vida no mundo, revelou o Guardian.

“A acidificação dos oceanos está aproximando-se de um limiar crítico”, em especial nas regiões de maior latitude, afirma o último relatório sobre as fronteiras planetárias. “A acidificação crescente representa uma ameaça cada vez maior para os ecossistemas marinhos”.

Os oceanos enfrentam a “tripla ameaça” do calor extremo, da perda de oxigênio e da acidificação. O relatório, do Instituto de Investigação do Impacto Climático de Potsdam (PIK), diz o Guardian, baseia-se em anos de investigação que demonstram a existência de nove sistemas e processos – as fronteiras planetárias – que contribuem para a estabilidade das funções de suporte de vida do planeta.

Em um briefing descrevendo as descobertas, Levke Caesar, físico da PIK e co-autor do relatório, disse que havia duas razões pelas quais os níveis de acidificação dos oceanos eram preocupantes.

“Uma delas é que o indicador da acidificação dos oceanos, que é o atual estado de saturação da aragonita (mineral, uma das formas cristalinas do carbonato de cálcio, também  encontrado em conchas, e grande número de moluscos e de corais), apesar de ainda se encontrar no espaço operacional seguro, está aproximando-se do limiar da transgressão do limite de segurança”, disse Caesar.

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O que é acidez e pH?

O International Atomic Energy Agency explica de maneira fácil. ‘O pH é a medida da acidez ou da basicidade de uma solução líquida. O pH de uma solução representa a concentração de íons de hidrogênio e íons hidroxila  em uma escala de 0 a 14. A água pura tem um pH de 7 e é neutra – nem ácida nem básica – com concentrações iguais de íons de hidrogênio e íons hidroxila.  Uma solução com pH inferior a 7 é ácida, enquanto uma solução com pH superior a 7 é básica. A escala de pH é logarítmica, portanto, uma diminuição de uma unidade de pH é um aumento de dez vezes na acidez.

O oceano é um pouco básico. Antes da Revolução Industrial dos séculos XVIII a XIX, o pH médio do oceano era de cerca de 8,2. Hoje, o pH médio do oceano é de 8,1. Isso significa que o oceano hoje é cerca de 30% mais ácido do que nos tempos pré-industriais. Em 2100, o pH do oceano pode diminuir para cerca de 7,8, tornando o oceano 150% mais ácido e afetando metade de toda a vida marinha, de acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

A acidificação não é problema novo

Já em 2014 este site alertava que ‘diariamente 22 milhões de toneladas de dióxido de carbono, CO2, se misturam com a água dos oceanos‘. A quantidade de dióxido de carbono que emitimos, dizem os cientistas, comparando com o início da revolução industrial, deve dobrar até o fim deste século. Ou seja, em 2999 serão 44 milhões de toneladas ao dia, se não mudarmos nossos hábitos.

O problema começou a se agravar em 1980, segundo a Agência Atômica Internacional, ‘desde o final da década de 1980, 95% das águas superficiais do oceano aberto tornaram-se mais ácidas’.

Mas, ao que parece, vamos ultrapassar o ponto de não retorno antes disso. Uma das consequências é que a crescente acidificação dos oceanos pode dizimar a vida marinha numa escala que não ocorria há milhões de anos.

Saiba como muitos organismos marinhos ‘constroem seus esqueletos’

Centenas de organismos marinhos constroem conchas, espécies de armaduras que servem de proteção natural, entre elas certos tipos de algas, os corais, os camarões, as lagostas, caranguejos, um sem-número de outras espécies.

Os pesquisadores explicam que mais CO2 na atmosfera significa que estes organismos consumirão mais energia para criar sua proteção natural. O esforço extra pode resultar em menos energia para conseguirem seu alimento, ou para o ciclo da reprodução.” E finaliza: “a velocidade da acidificação pode fazer com que muitos destes seres não tenham tempo para se adaptarem.”

Os corais em processo acelerado de branqueamento

A maior colônia de corais do mundo, a Grande Barreira de Corais da Austrália, com idade avaliada em 500 mil anos, sofreu sérios eventos de branqueamento em 2002, 2016, 2017, 2020 e agora em 2024. A perda massiva de corais está em andamento no mundo inteiro. No Brasil não foi diferente. O Nordeste abriga a maior faixa de corais do País, com cerca de 3 mil quilômetros. E o branqueamento está feio este ano.

O que mais preocupa os pesquisadores, entretanto, é a rapidez da perda de biodiversidade do planeta. Eventos que antes levavam eras para acontecer, hoje acontecem no espaço de uma vida humana. Vamos lembrar que o planeta tem cerca de 4 bilhões de anos, e que o Homo sapiens surgiu há apenas 250 mil anos.

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E mesmo assim, veja o quanto já conseguimos comprometer!

Acidificação é mais violenta nos polos

Levke Caesar, físico climático do PIK, ainda revelou que “existem vários novos estudos publicados nos últimos anos que indicam que mesmo estas condições atuais podem já ser problemáticas para uma variedade de organismos marinhos, sugerindo a necessidade de reavaliar quais os níveis que podem ser considerados seguros”.

E concluiu, ‘a acidificação dos oceanos está agravando-se a nível global, sendo os efeitos mais pronunciados no Oceano Austral e no Ártico’, como se eles já não tivessem problemas suficientes, dizemos nós.

Para saber mais, assista ao vídeo

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